segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Transcrição da Homilia do 21º Domingo do Tempo Comum- Assunção de Nossa Senhora


Transcrição da Homilia do 21º Domingo do Tempo Comum- Assunção de Nossa Senhora
Bem, acontecem coisas quando se toma a palavra de Deus e o fogo é uma delas! Nós estamos aqui, numa Igreja muito bonita, mas que merece toda atenção e todo cuidado. Imaginem o turíbulo que eu achei, já arrebentou a corrente e a brasa caiu no chão, queimando o tapete. Quem dera também o fogo de Deus deixasse em nós a sua marca indelével, quem dera o fogo vindo do Céu deixasse em nós a marca de Cristo como fez em Maria Santíssima.
Hoje a Igreja celebra o grande milagre da Assunção de Nossa Senhora. Na verdade, é uma festa que tem a ver com a Ressurreição de Cristo e a nossa. Eu gostaria de percorrer com vocês um pouco o trajeto da história da humanidade em dois momentos. Inspiramo-nos para isso na Primeira Leitura de hoje.
O Apocalipse nos coloca diante de uma imagem: uma mulher gloriosa no céu, vestida com o sol, com os raios do sol. Na cabeça, uma coroa de estrelas e no seu pedestal, a lua. Eis, então a pergunta: quem pode ser essa mulher, afinal? A resposta é fácil, porque logo depois se diz que ela vai ter um filho, está grávida, prestes a dar à luz. E o filho que ela vai ter é aquele que rege as nações com cetro de ferro. O Salmo 2 diz que o Messias, o Salvador, quando chegasse ia reger as nações com cetro de ferro, símbolo de força inquestionável, incontestável. Portanto, ela é a mãe do Salvador, só pode ser Maria Santíssima. Está resolvido o problema da identidade da mulher do Apocalipse. Aparece, então, um dragão em peleja com a mulher cujo filho ele quer devorar, mas não consegue. Em seguida, tenta derrotar Jesus Cristo e consegue, inclusive, que seja crucificado. Só que Jesus vence a própria morte, Ele ressuscita! Jesus usa a morte que o demônio lhe infligira através dos homens, para vencer a própria morte. Ou seja, usa a morte para dar uma rasteira em satanás.
Então o demônio perdeu, não conseguiu devorar o filho da mulher. Agora, ele vai perseguir os outros descendentes da mulher e entrar em guerra contra eles.
Ora, eu dizia que isso é um resumo da história da humanidade porque, no Primeiro Livro da Bíblia, que é o Gênesis, já encontramos uma imagem muito semelhante, quando Deus diz à serpente (que é o demônio): colocarei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a descendência dela. Ela te esmagará a cabeça e tu tentarás ferir-lhe o calcanhar. Já nos primórdios da humanidade, é anunciada uma luta entre os descendentes da serpente e os descendentes da mulher. E nós sabemos que o descendente por excelência da mulher é Jesus Cristo. E a mulher por excelência é Maria. Daí a imagem de Nossa Senhora esmagando a cabeça de uma cobra, que é tão comum vermos em vários lugares. Mas a força de esmagar a serpente não é dela, é de Cristo nela. No último Livro da Bíblia, aparece novamente esta imagem, só que ampliada, não mais no paraíso terreno, mas no teatro celeste, na cena do céu. Essa cena é ampliada e projetada no céu. Agora, a mulher é gloriosa, e a serpente não é uma cobrinha, é um dragão imenso que arrasta a terça parte das estrelas, ou seja, são os outros anjos que arrasta com toda sua rebelião junto consigo, os anjos rebeldes, decaídos. E como não conseguiram derrotar Jesus, fazem guerra aos irmãos que Jesus conquistou para si e os filhos que Ele conquistou para o Pai Celeste.
Porém, a vitória já está dada, ou seja, é um jogo de cartas marcadas. Como Jesus venceu, todo aquele que adere a Ele vencerá também. Tem que passar pela luta, mas já sabe que conta com a vitória se permanecer unido a Ele. Portanto, é vantagem estar ao lado de Cristo.
Qual é o ponto de chegada? É a glória celeste. Mas a glória celeste não é só para a alma, é para o corpo também. Esta é a originalidade da fé Bíblica judaica e cristã. Originalidade que fala da ressurreição, porque, quando nós morremos, logo a alma comparece ao juízo de Deus. A alma é retribuída pelo que viveu neste mundo, é o juízo particular. Mas a Escritura nos fala de um juízo universal, onde a justiça e vitória de Deus vão ser manifestadas publicamente, universalmente. Nessa ocasião - continua a Escritura Sagrada - haverá a ressurreição dos mortos.
Não sabemos como será isso exatamente. Nós sabemos apenas uma coisa: a matéria será restaurada e será devolvida às almas às quais pertence. Cada um terá o que lhe é próprio, o corpo que lhe é próprio, mas transformado, modificado pelo poder de Deus. Depois de ressuscitado, Jesus aparecia e desaparecia. Ele podia ser reconhecido e às vezes não era reconhecido imediatamente. Comeu, para provar que era Ele aos discípulos, mas não precisava comer. Podia ser tocado e às vezes não. Atravessava paredes com as portas fechadas como no Cenáculo, estando as portas fechadas Jesus apareceu no meio deles e disse: A paz esteja convosco. É a matéria numa situação totalmente diversa daquela que nós conhecemos. Eu costumo dizer que é matéria livre, livre do tempo e do espaço, livre das leis da física, a matéria soberana. Nós não conhecemos isso pela nossa experiência, só pelo relato do Evangelho, mas essa é a glorificação da carne. São Paulo dizia na Segunda Leitura: primeiro Cristo e depois os que pertencem a Cristo. Então veio a morte por um homem, para todo gênero humano e vem a vida por um homem, Cristo, para todo o gênero humano. Jesus ressuscitou primeiro. Depois, os que pertencem a Ele por ocasião da sua vinda.
E a festa se inscreve nisto, neste quadro. Afinal, o que estamos celebrando com a Assunção da Virgem Maria? Estamos celebrando o fato de que a glorificação corpórea da Virgem Mãe de Jesus Cristo já ocorreu antecipadamente, antes da nossa. Pensando bem, não é um privilégio único dela porque nós também esperamos isto. O privilégio está na antecipação. Uma curiosidade, aliás, é que pouca gente sabe que esta é a festa mariana mais antiga que a Igreja celebra, desde os primeiríssimos séculos do cristianismo. No século quarto, há notícia escrita dessa festa. Considerando o ritmo da antiguidade, a notícia escrita no século quarto, com certeza, tradição oral, já é de época apostólica, bem anterior. Só em 1950, no entanto, o papa Pio XII declarou dogmaticamente esta verdade e assume como oficial da Igreja. É interessante notar que a festa já existia, já era celebrada liturgicamente desde os primeiros séculos e só recentemente, no século passado, foi declarada oficialmente como verdade de Fé, por uma necessidade. Que necessidade o papa viu para tornar essa verdade universalmente aceita pelos católicos e declará-la solenemente? A necessidade foi o estado em que o mundo estava depois da segunda guerra mundial. Foi um estrago causado no mundo. A humanidade ficou descrente de tudo, o ser humano foi desrespeitado e a partir disso, a Igreja quis dar uma resposta: pegou uma coisa que não existia e a colocou em primeira fila, dizendo: o homem deve ser respeitado não só na sua razão, não só no seu espírito, mas no seu corpo.
Na verdade é o que a lei de Deus já nos ensina: não matar, não pecar contra a castidade e assim por diante. É o respeito ao corpo, porque o corpo também está destinado à glória celeste, o respeito ao corpo como coisa santa, como casa de Deus.
Pois bem, meus irmãos, nós vamos agora celebrar a Eucaristia, receber Jesus na comunhão. Não se esqueçam que, ao recebê-lo, estamos recebendo o Cristo ressuscitado. Ou seja, recebendo o Cristo ressuscitado, estamos comendo ressurreição; estamos nos alimentando de ressurreição. Que Ele, portanto, nos ressuscite, e que nós colaboremos; que Ele nos ressuscite convertendo a nossa mente, o nosso coração. Que nos ressuscite dando vida nova à nossa vida, que nos ressuscite fazendo as coisas serem diferentes para melhor. Todos caminhando na mesma luta contra o dragão, contra a serpente, mas amparados por Jesus através de sua Mãe Santíssima, através da mulher que com seu “sim” esmaga a cabeça da serpente que gostaria que disséssemos “não” a Deus. O “sim” de Maria esmaga o “não” de satanás e nos ajuda a dizer “sim” também.
Que essa Eucaristia seja a força para a luta, para o caminho e contemos com a proteção da Virgem Mãe.
Proferida pelo padre Sérgio Muniz em 21 de agosto de 2011.
Primeira Leitura: Livro do Apocalipse de São João (Ap 11,19ª;12,1.3-6ª.10ab)
Salmo: [Sl 44(45)]
Segunda Leitura: Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios (1Cor 15,12-27a )
Evangelho: Lucas (Lc 1,39-56)
Nota: Esta e outras Homilias anteriores no blog: www.verbumvitae.com

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