Transcrição da Homilia do 26º Domingo do Tempo Comum
Meus amados irmãos é uma alegria imensa voltarmos à casa do Senhor no domingo, sobretudo tendo-a tão bela, tão adornada, sobretudo numa presença de todos que aqui estão, mais do que incenso, mais do que as luzes, mais do que flores e ornatos, nós somos o ornato da casa de Deus, mais do que estas paredes, nós somos a Igreja de Deus.
Jesus no Evangelho de hoje nos coloca diante de um paradoxo. Mas para entender como é grande o paradoxo é preciso imaginar, ou melhor, conhecer quem eram os publicanos, os cobradores de impostos, (as prostitutas nós já sabemos o que são), mas os cobradores de impostos são colocados ao lado delas nessa palavra que Jesus nos dirige hoje e quem são os mestres da lei, os sacerdotes... do povo.
Os publicanos ou cobradores de impostos eram considerados pecadores públicos da mesma gravidade das prostitutas. Por quê? Não era pela desonestidade, mesmo que fossem honestos eram considerados ainda da mesma forma. É porque o povo israelita, o povo judeu, com razão, se considerava o povo escolhido de Deus - é o povo do Antigo Testamento - são os descendentes de Abraão e tinha orgulho, alegria por essa sua identidade, mas na época Jesus eles estavam sobre a autoridade do Império Romano e os romanos não acreditavam no Deus de Israel e não o cultuavam, muito pelo contrário, eles tinham seus deuses, eram pagãos. Os judeus no orgulho de pertencerem ao Deus único e o de conhecer, chamavam os pagãos de cães e era um vergonha para eles, era uma tristeza muito grande e ser dominados por um imperador pagão - pagar impostos - não é só por causa do dinheiro mas por causa do significado de pagar impostos. Pagar impostos é reconhecer a soberania daquele a quem se paga o imposto, a autoridade. Então quando um israelita, quando um membro do povo judeu se tornava funcionário do Império Romano e cobraram impostos dos seus irmãos israelitas para o imperador de Roma ele era considerado um traidor, civil e religioso, um pecador público, ele se estava se prostituindo, daí está no mesmo nível das prostitutas e nós sabemos que Jesus se aproximava destes pecadores públicos para convertê-los e conseguia bons resultados com eles. Por exemplo, nos conhecemos São Mateus evangelista que nos escreve este relato, ele próprio fora cobrador de impostos. Jesus passa, foi dia 21 o dia de São Mateus agora, Jesus passa e o chama enquanto ele está no seu trabalho execrável de cobrar impostos, Jesus chama e ele o segue.
Muito bem! Esses eram os cobradores de impostos que era colocado lado a lado com as prostitutas e agora quem são os sacerdotes – os sacerdotes a gente sabe- trata-se dos sacerdotes do Antigo Testamento do templo de Jerusalém. Os anciãos do povo eram pessoas respeitáveis que detinham o governo, cargos públicos enfim, o poder do povo e eram pessoas geralmente muito religiosas. Ora, interessante que Jesus diga aos mais religiosos, sacerdotes e anciãos, o povo, que as prostitutas e os cobradores de impostos correm o risco de passar na frente deles, podem passar na frente deles não por serem, ou não por terem sido prostitutas e cobradores de impostos (Seja bem claro que isso não é virtude), mas porque mais facilmente ouviram e acataram a palavra do Deus misericordioso que chama à conversão.
Disse Jesus que João Batista pregava a conversão vocês não o ouviram, não o consideraram, mas muitos pecadores graves, ouviram e se converteram. Reconheceram a voz de Deus e por isso vos precederão no reino dos Céus porque muitas vezes eles têm mais possibilidade para as coisas de Deus do que alguém que sempre esteve ali em casa e nunca andou dando voltas mundo a fora, longe de Deus.
De fato a experiência mostra que os convertidos, verdadeiramente convertidos, aqueles que tiveram um passado pecaminoso, longe de Deus, quando se convertem, quando a voltam a Deus, são muito fervorosos e muito sérios e muito até radicais no bom sentido da palavra naquilo que fazem. Já os que sempre estiveram aí tendem a se escorar nisso como se fosse uma garantia de salvação, mas não é garantia de salvação porque nós ouvimos na Primeira Leitura, Deus falou através do Profeta Ezequiel “que quando o justo se desvia da justiça e pratica o mal e morre é por causa do mal praticado que ele morre”. Aqui temos duas mortes – quando o justo se devia da justiça e morre, ele morre, ou seja, quando ele se desvia da justiça ele não alcança a salvação. Se morre na injustiça, no pecado voluntário, grave, obstinado, ele não se salva. Nós pensamos que o juízo de Deus é como uma balança no qual se coloca de um lado as coisas boas que nós fizemos e no outro lado as coisas ruins e vai pesando para que lado pender ganha no juízo, mas não é assim.
Nós permaneceremos pela eternidade no estado em que formos encontrados quando a morte chegar e se formos encontrados na rebelião contra Deus, o afastamento voluntário consciente então o que foi feito antes de bom não será considerado é isso que diz o profeta ao passo que alguém que viveu sua vida no pecado quando ele passa observar o direito e a justiça conservará a própria vida. Arrepender-se dos seus pecados viverá, não morrerá. Ora quem é quem não morre? Todo mundo morre. Então viverá, não morrerá não pode se referir à morte física porque morrer fisicamente todo mundo morre. Viverá e não morrerá: salvar-se-á, portanto é importante estar pronto a cada momento porque como diz Jesus: Não sabeis o dia nem à hora em que virá o Filho do Homem.
Não é a toa que a Igreja através, geralmente das nossas mães nos ensinou desde a infância mais tenra a repetir com os lábios e coração aquelas palavras da Ave Maria: rogai por nós agora e na hora da nossa morte.
- Rogai por nós agora para que sejamos fiéis a Cristo para que Dele não nos separemos.
- Rogai por nós agora para que em caso nos separemos Dele possamos voltar imediatamente e de todo coração.
- Rogai por nós agora para que permaneçamos em Cristo.
- Rogai por nós na nossa morte para que sejamos achados em Cristo naquele momento, para que não sejamos surpreendidos do nosso pecado.
- Rogai por nós na nossa morte porque será o momento decisivo, a última queda de braço com o sofrimento, com o medo, com a tentação e para que sejamos firmes então e vençamos essa última luta e entremos decididamente na vida eterna.
Esse é o motivo pelo o qual Jesus veio a nós. São Paulo longamente nos dizia: tende os mesmo sentimentos de Cristo Jesus Ele que existe em condição divina não se apegou a sua igualdade com Deus, mas esvaziou-se fazendo-se escravo, tornado-se igual aos homens encontrar o aspecto humano, desceu mais, humilhou-se a si mesmo fazendo se o limite até a morte de cruz. Desceu ao mais profundo. Veio do mais alto e desceu ao mais profundo. Por isso, Deus o exaltou acima de tudo. Ele tem nome, acima de todo nome para que ao seu nome, se dobre todo joelho no Céu, na terra e mesmo no inferno e que toda língua proclame “Jesus é o Senhor” para a glória do Pai e se nossos joelhos, nosso coração se dobra diante Dele aqui e agora Ele certamente nos conservará consigo e unidos assim certamente nos protegerá agora e na hora de nossa morte; isso é importante viver em contínua atitude de conversão.
Uma pessoa que diariamente ou quase diariamente faz seu exame de consciência e reconhece seus pecados com sinceridade, pede a Deus perdão por eles com sinceridade, busca o sacramento da confissão habitualmente, empenha-se em mudar e melhorar transformar... a sua vida. A pessoa que não se acostuma, não se emprega, não se rende ao pecado embora às vezes talvez recaia, mas nunca cruza os braços – está sempre lutando. A pessoa que perde para estar com Ele agora e na hora de sua morte, essa pessoa não será surpreendida, não será abandonada por isso a cada instante busquemos a nossa conversão porque nisso está à garantia da nossa salvação.
Deus, mais que vitórias imediatas nos pede luta. A vitória cabe a Ele nos dar. A luta cabe a nós.
Então façamos esta parte que está aí e o Senhor cuidará dos que nos é impossível. Façamos o nosso pouco e aguardemos o muito de Deus.
E terminando gostaria de assinalar aquela idéia que está tão belamente expressa na oração inicial de hoje: Deus prefere mostrar o seu poder através do perdão e da misericórdia.
Ele que é todo poderoso nos poderia responder de muitas maneiras, fazendo coisas diferentes, operando efeitos especiais, poderia mostrar o seu poder e a sua grandeza esmagando os pecadores e assim por diante. Mas Ele prefere mostrar o seu poder no perdão e na misericórdia porque a obra do perdão de Deus e da sua misericórdia não se limita a cobrir o pecado do pecador e não mais olhar para ele. A obra de Deus é muito maior. Ele restaura na santidade o pecador, Ele transforma objetivamente aquele coração. Ele limpa objetivamente aquela alma e por isso esta é uma grande demonstração do poder de Deus.
Só aquele que cria pode recriar e é isso que Ele faz.
Estamos aqui a cada domingo para sermos recriados por Deus. Recriados pela palavra que criou o mundo; recriados pela Eucaristia que é o próprio Jesus: tomai e comei, tomai e bebei, sou Eu mesmo entregue pela vossa salvação e dele jamais nos separemos e busquemos dia a dia a nossa conversão pedindo sempre: Senhor tenha piedade de mim agora e na hora de minha morte, mas Jesus faze por mim agora e na hora de minha morte. Amem.
Proferida pelo padre Sérgio Muniz em 25 de setembro de 2011
Primeira Leitura: Livro do Profeta Ezequiel (Ez 18,25-28)
Salmo: [Sl 24,4bc-5.6-7.8-9]
Segunda Leitura: Carta de São Paulo aos Filipenses (Fl 2,1-11)
Evangelho: (Mt 21,28-32)
Nota: Esta e outras Homilias anteriores no blog: www.verbumvitae.com