sexta-feira, 9 de março de 2012

Transcrição da Homilia do 26º Domingo do Tempo Comum






Transcrição da Homilia do 26º Domingo do Tempo Comum
Meus amados irmãos é uma alegria imensa voltarmos à casa do Senhor no domingo, sobretudo tendo-a tão bela, tão adornada, sobretudo numa presença de todos que aqui estão, mais do que incenso, mais do que as luzes, mais do que flores e ornatos, nós somos o ornato da casa de Deus, mais do que estas paredes, nós somos a Igreja de Deus.
Jesus no Evangelho de hoje nos coloca diante de um paradoxo. Mas para entender como é grande o paradoxo é preciso imaginar, ou melhor, conhecer quem eram os publicanos, os cobradores de impostos, (as prostitutas nós já sabemos o que são), mas os cobradores de impostos são colocados ao lado delas nessa palavra que Jesus nos dirige hoje e quem são os mestres da lei, os sacerdotes... do povo.
Os publicanos ou cobradores de impostos eram considerados pecadores públicos da mesma gravidade das prostitutas. Por quê? Não era pela desonestidade, mesmo que fossem honestos eram considerados ainda da mesma forma. É porque o povo israelita, o povo judeu, com razão, se considerava o povo escolhido de Deus - é o povo do Antigo Testamento - são os descendentes de Abraão e tinha orgulho, alegria por essa sua identidade, mas na época Jesus eles estavam sobre a autoridade do Império Romano e os romanos não acreditavam no Deus de Israel e não o cultuavam, muito pelo contrário, eles tinham seus deuses, eram pagãos. Os judeus no orgulho de pertencerem ao Deus único e o de conhecer, chamavam os pagãos de cães e era um vergonha para eles, era uma tristeza muito grande e ser dominados por um imperador pagão - pagar impostos - não é só por causa do dinheiro mas por causa do significado de pagar impostos. Pagar impostos é reconhecer a soberania daquele a quem se paga o imposto, a autoridade. Então quando um israelita, quando um membro do povo judeu se tornava funcionário do Império Romano e cobraram impostos dos seus irmãos israelitas para o imperador de Roma ele era considerado um traidor, civil e religioso, um pecador público, ele se estava se prostituindo, daí está no mesmo nível das prostitutas e nós sabemos que Jesus se aproximava destes pecadores públicos para convertê-los e conseguia bons resultados com eles. Por exemplo, nos conhecemos São Mateus evangelista que nos escreve este relato, ele próprio fora cobrador de impostos. Jesus passa, foi dia 21 o dia de São Mateus agora, Jesus passa e o chama enquanto ele está no seu trabalho execrável de cobrar impostos, Jesus chama e ele o segue.
Muito bem! Esses eram os cobradores de impostos que era colocado lado a lado com as prostitutas e agora quem são os sacerdotes – os sacerdotes a gente sabe- trata-se dos sacerdotes do Antigo Testamento do templo de Jerusalém. Os anciãos do povo eram pessoas respeitáveis que detinham o governo, cargos públicos enfim, o poder do povo e eram pessoas geralmente muito religiosas. Ora, interessante que Jesus diga aos mais religiosos, sacerdotes e anciãos, o povo, que as prostitutas e os cobradores de impostos correm o risco de passar na frente deles, podem passar na frente deles não por serem, ou não por terem sido prostitutas e cobradores de impostos (Seja bem claro que isso não é virtude), mas porque mais facilmente ouviram e acataram a palavra do Deus misericordioso que chama à conversão.
Disse Jesus que João Batista pregava a conversão vocês não o ouviram, não o consideraram, mas muitos pecadores graves, ouviram e se converteram. Reconheceram a voz de Deus e por isso vos precederão no reino dos Céus porque muitas vezes eles têm mais possibilidade para as coisas de Deus do que alguém que sempre esteve ali em casa e nunca andou dando voltas mundo a fora, longe de Deus.
De fato a experiência mostra que os convertidos, verdadeiramente convertidos, aqueles que tiveram um passado pecaminoso, longe de Deus, quando se convertem, quando a voltam a Deus, são muito fervorosos e muito sérios e muito até radicais no bom sentido da palavra naquilo que fazem. Já os que sempre estiveram aí tendem a se escorar nisso como se fosse uma garantia de salvação, mas não é garantia de salvação porque nós ouvimos na Primeira Leitura, Deus falou através do Profeta Ezequiel “que quando o justo se desvia da justiça e pratica o mal e morre é por causa do mal praticado que ele morre”. Aqui temos duas mortes – quando o justo se devia da justiça e morre, ele morre, ou seja, quando ele se desvia da justiça ele não alcança a salvação. Se morre na injustiça, no pecado voluntário, grave, obstinado, ele não se salva. Nós pensamos que o juízo de Deus é como uma balança no qual se coloca de um lado as coisas boas que nós fizemos e no outro lado as coisas ruins e vai pesando para que lado pender ganha no juízo, mas não é assim.
Nós permaneceremos pela eternidade no estado em que formos encontrados quando a morte chegar e se formos encontrados na rebelião contra Deus, o afastamento voluntário consciente então o que foi feito antes de bom não será considerado é isso que diz o profeta ao passo que alguém que viveu sua vida no pecado quando ele passa observar o direito e a justiça conservará a própria vida. Arrepender-se dos seus pecados viverá, não morrerá. Ora quem é quem não morre? Todo mundo morre. Então viverá, não morrerá não pode se referir à morte física porque morrer fisicamente todo mundo morre. Viverá e não morrerá: salvar-se-á, portanto é importante estar pronto a cada momento porque como diz Jesus: Não sabeis o dia nem à hora em que virá o Filho do Homem.
Não é a toa que a Igreja através, geralmente das nossas mães nos ensinou desde a infância mais tenra a repetir com os lábios e coração aquelas palavras da Ave Maria: rogai por nós agora e na hora da nossa morte.
  • Rogai por nós agora para que sejamos fiéis a Cristo para que Dele não nos separemos.
  • Rogai por nós agora para que em caso nos separemos Dele possamos voltar imediatamente e de todo coração.
  • Rogai por nós agora para que permaneçamos em Cristo.
  • Rogai por nós na nossa morte para que sejamos achados em Cristo naquele momento, para que não sejamos surpreendidos do nosso pecado.
  • Rogai por nós na nossa morte porque será o momento decisivo, a última queda de braço com o sofrimento, com o medo, com a tentação e para que sejamos firmes então e vençamos essa última luta e entremos decididamente na vida eterna.
Esse é o motivo pelo o qual Jesus veio a nós. São Paulo longamente nos dizia: tende os mesmo sentimentos de Cristo Jesus Ele que existe em condição divina não se apegou a sua igualdade com Deus, mas esvaziou-se fazendo-se escravo, tornado-se igual aos homens encontrar o aspecto humano, desceu mais, humilhou-se a si mesmo fazendo se o limite até a morte de cruz. Desceu ao mais profundo. Veio do mais alto e desceu ao mais profundo. Por isso, Deus o exaltou acima de tudo. Ele tem nome, acima de todo nome para que ao seu nome, se dobre todo joelho no Céu, na terra e mesmo no inferno e que toda língua proclame “Jesus é o Senhor” para a glória do Pai e se nossos joelhos, nosso coração se dobra diante Dele aqui e agora Ele certamente nos conservará consigo e unidos assim certamente nos protegerá agora e na hora de nossa morte; isso é importante viver em contínua atitude de conversão.
Uma pessoa que diariamente ou quase diariamente faz seu exame de consciência e reconhece seus pecados com sinceridade, pede a Deus perdão por eles com sinceridade, busca o sacramento da confissão habitualmente, empenha-se em mudar e melhorar transformar... a sua vida. A pessoa que não se acostuma, não se emprega, não se rende ao pecado embora às vezes talvez recaia, mas nunca cruza os braços – está sempre lutando. A pessoa que perde para estar com Ele agora e na hora de sua morte, essa pessoa não será surpreendida, não será abandonada por isso a cada instante busquemos a nossa conversão porque nisso está à garantia da nossa salvação.
Deus, mais que vitórias imediatas nos pede luta. A vitória cabe a Ele nos dar. A luta cabe a nós.
Então façamos esta parte que está aí e o Senhor cuidará dos que nos é impossível. Façamos o nosso pouco e aguardemos o muito de Deus.
E terminando gostaria de assinalar aquela idéia que está tão belamente expressa na oração inicial de hoje: Deus prefere mostrar o seu poder através do perdão e da misericórdia.
Ele que é todo poderoso nos poderia responder de muitas maneiras, fazendo coisas diferentes, operando efeitos especiais, poderia mostrar o seu poder e a sua grandeza esmagando os pecadores e assim por diante. Mas Ele prefere mostrar o seu poder no perdão e na misericórdia porque a obra do perdão de Deus e da sua misericórdia não se limita a cobrir o pecado do pecador e não mais olhar para ele. A obra de Deus é muito maior. Ele restaura na santidade o pecador, Ele transforma objetivamente aquele coração. Ele limpa objetivamente aquela alma e por isso esta é uma grande demonstração do poder de Deus.
Só aquele que cria pode recriar e é isso que Ele faz.
Estamos aqui a cada domingo para sermos recriados por Deus. Recriados pela palavra que criou o mundo; recriados pela Eucaristia que é o próprio Jesus: tomai e comei, tomai e bebei, sou Eu mesmo entregue pela vossa salvação e dele jamais nos separemos e busquemos dia a dia a nossa conversão pedindo sempre: Senhor tenha piedade de mim agora e na hora de minha morte, mas Jesus faze por mim agora e na hora de minha morte. Amem.
Proferida pelo padre Sérgio Muniz em 25 de setembro de 2011
Primeira Leitura: Livro do Profeta Ezequiel (Ez 18,25-28)
Salmo: [Sl 24,4bc-5.6-7.8-9]
Segunda Leitura: Carta de São Paulo aos Filipenses (Fl 2,1-11)
Evangelho: (Mt 21,28-32)
Nota: Esta e outras Homilias anteriores no blog: www.verbumvitae.com

quinta-feira, 8 de março de 2012

Transcrição da Homilia do 25º Domingo do Tempo Comum


Transcrição da Homilia do 25º Domingo do Tempo Comum
Amados irmãos em Cristo.
Esta Liturgia, com sempre, nos traz grandes riquezas e sempre é uma surpresa descobrir algo que não tínhamos visto antes. Deus nos presenteia com a sua infinita sabedoria.
Hoje o profeta Isaias dizia: “procurai o senhor enquanto se pode encontrá-lo, chamai por Ele enquanto está perto”, isto significa que poderá chegar um dia em que será difícil invocá-lo, poderá chegar um dia em que Ele parecerá não estar por perto, embora esteja, mas parecerá não estar por perto. É preciso aproveitar o dia de hoje, não perder um segundo, aproveitá-lo em prol daquilo que mais interessa: a nossa salvação. Todos os demais assuntos podem esperar, todos os demais assuntos são secundários diante de nossa eterna salvação. A nossa eternidade depende desse curto espaço de tempo que passamos sobre a terra.
Procurai o Senhor enquanto se pode encontrar, chamai por Ele enquanto está perto”. O amanhã é uma hipótese e mesmo que essa hipótese se realize, como será este dia que nós chamamos de amanhã? Não sabemos por isso buscai o Senhor enquanto se pode encontrar e invocar enquanto está perto.
Não há que se esperar. Alguns invocam o Senhor mais tarde e chamam por Ele mais tarde e se aproximam Dele mais tarde e Ele demonstra misericórdia para com esses também. Mas aqueles que tem a graça de mais tarde, depois de um tempo de afastamento de Deus, sejam meses, anos, décadas, não sei, aquele que agrada depois de afastado de Deus, chamá-lo, invocá-lo e tê-lo perto, olhando para traz, invariavelmente, ele lamenta não ter invocado o Senhor antes, não tê-lo chamado antes, não ter se aproximado Dele muito antes. Se pudesse voltar atrás ele invocaria antes do que fez; se entregaria a Deus antes do que se entregou. Só que não pode voltar atrás.
A conversão, portanto é para já, é um assunto do dia a dia, do aqui e do agora e a conversão começa na cabeça, na mentalidade. A conversão não começa com os atos. Ninguém passa a agir diferente se não começar a pensar diferente. A conversão é um assunto primordialmente da cabeça, da mentalidade.
Sobre isso Deus nos diz, através de Isaias: “Meus pensamentos não são os vossos pensamentos e vossos caminhos não são os Meus caminhos, pois assim como o Céu esta acima da terra – e tanto ele mais sobe e pode subir- então é uma distância infinita – “assim com o Céu está acima da terra, assim os Meus caminhos acima dos vossos e os Meus pensamentos distantes dos vossos,” diz o Senhor.
Deus nos convida a subir infinitamente acima dos nossos pobres caminhos e dos nossos míseros pensamentos. Os Caminhos de Deus, os pensamentos de Deus são tão elevados para nós que às vezes parece virar tudo pelo avesso. Mas eu costumo o dizer que: quando Deus vira as coisas do avesso na verdade está colocando do lado certo. É que elas estavam do avesso e nós não sabíamos. Pensamos que Ele está virando pelo avesso quando na verdade Ele está corrigindo. Aquilo que nós pensávamos ser o lado direito é que era o avesso, mas estávamos tão acostumados ao lado errado que quando Ele coloca do lado certo parece que está pelo avesso. E assim são os caminhos e os pensamentos de Deus.
Por exemplo. Ouvindo a parábola de Jesus nesse Evangelho, nós temos o impulso de dizer: eu faria diferente. Afinal de contas coloque-se no lugar desses trabalhadores que foram contratados às nove da manhã ou ao meio dia ou às três da tarde e quando entram na fila para receber primeiro, os primeiros da fila são os que chegaram depois e depois têm eles a surpresa: todo mundo recebe uma diária. Quando chega na vez deles esperam receber mais, “eu trabalhei mais”, se ele deu uma diária a quem não mereceu uma diária então eu que trabalhei o dia todo devo consegui-lo, mas todo mundo ganhou a mesma coisa.
Ele não fez injustiça para com os que trabalharam o dia todo porque o combinado foi uma diária, ele não deu menos o que o combinado, agora ele tem a liberdade de dar mais a quem ele quer, fazer o que ele quer com o que lhe pertence; ninguém pode negar isto. Se eu dou um presente a alguém ninguém tem o direito de ficar com ciúme porque eu faço o que eu quero com o que me pertence.
Deus não foi injusto ao dar a mesma recompensa aos que chegaram depois. O Céu é o mesmo para os que se arrependeram no leito de morte, para os que o serviram a vida inteira, mas as vezes acontece que a gente pensa: eu mereço mais, Deus me deve mais. Por exemplo, imaginem aqui esses meninos pequenos já servindo o altar, tanta gente aqui, jovens também, tantos de vocês adultos, idosos que já servem a Deus tanto tempo porque haveriam de receber a mesma recompensa de um pecador recém convertido? Um ladrão, um assassino, assim por diante, um adúltero. Por quê? Bom, mas esse raciocínio é muito pequeno. Vejamos por que:
A pessoa que foi contratada depois, por exemplo, aquele que foi contratado meio dia ou aquele que foi contratado no final do dia, na última hora passou um tempo grande esperando lá na praça sem que ninguém o chamasse. Durante esse tempo ele estava angustiado e amargurado porque ele dependia daquela diária para ter o que comer com sua mulher e seus filhos no dia seguinte - uma moedinha de prata era a diária no tempo de Jesus (o pagamento de um diarista) então ele sem aquele trabalho, no dia seguinte provavelmente ele não teria com o que passar. Aqueles que foram contratados primeiro não sofreram esta angustia, pelo contrário deram graças a Deus porque no dia seguinte já estava garantido o seu sustento.
Passemos do exemplo a realidade: aquelas pessoas que se converteram depois de décadas de afastamento de Deus ou quem sabe no leito de morte, como disse no início, se pudessem voltar a trás, fariam tudo diferente e tem uma santa inveja daqueles que sempre viveram junto de Deus. Mas os que sempre vieram junto de Deus às vezes são mal agradecidos por não reconhecer que receberam uma grande graça, a graça de terem sido chamados desde cedo, a graça de servir a Deus desde o início, a graça de serem poupados de tantas feridas e tantas cicatrizes que o mundo impõe àqueles que não estão junto de Deus.
Quem serve a Deus desde o começo, desde a infância, desde a juventude é agraciado, foi poupado, foi preservado. Não conheceu o pior. Não tem determinadas cicatrizes que embora curadas, embora fechadas lembram a ferida que existiu, toda vez que a gente olha para ela. Então, às vezes uma tentação para o que estão junto de Deus, sobretudo jovens. Dizem: ah! Eu vivo numa redoma, eu não conheço nada, os meus amigos fazem de tudo e assim por diante: é uma grande tentação, grande tentação, sobretudo para os que desde cedo estão na Igreja; olha! Aqui as crianças, os jovens e peço em nome de Deus, não se deixem levar por essa tentação, pelo contrário observem aqueles que se converteram dos seus caminhos, dos seus erros e se tiverem oportunidade perguntem: escuta! Foi bom para você viver longe de Deus esse tempo todo? E ouçam bem a resposta que eles darão: se eu pudesse, eu faria tudo diferente.
Por isso devemos acostumar-nos ao modo de pensar de Deus que não é o nosso. Devemos converte a nossa mente a mente de Deus. Quando nós nos acostumamos ao modo de pensar divino, nós chegamos a uma santa indiferença. Todo mundo sabe o que é indiferença, mas nem sempre a indiferença é santa. A indiferença normalmente é: “não estou nem aí”, isso pode ser muito ruim, mas existe uma santa indiferença, querem ver? Paulo dizia na Segunda Leitura o seguinte: “irmãos, Cristo será glorificado no meu corpo, seja pela minha vida, seja pela minha morte”, ou seja, quer vivo, quer morto “Ele será glorificado em mim, pois para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro” e agora ele está dividido e ele disse “não sei o que escolher sinto-me atraído para o dois lados”. Não sei o que escolher porque eu cheguei à indiferença, a santa indiferença. Viver é bom porque vivendo eu sirvo a Cristo e aos irmãos. Morrer é bom porque eu estarei eternamente com Ele, é meu prêmio, a minha alegria eterna. Estou dividido, que Ele decida, Ele sabe o que é melhor, eu não sei.
Para que alguém chegue à indiferença diante da opção vida ou morte convenhamos é preciso que passe por muitas outras indiferenças- a indiferença em relação a ter mais dinheiro ou não ter mais dinheiro, a indiferença em morar aqui ou morar ali, a indiferença em relação a estar bem agora ou não estar e assim por diante até chegar à indiferença em relação à vida e morte. É o ponto auge da santa indiferença, mas é uma indiferença sábia porque Quem sabe tudo e Quem pode tudo e Quem ama infinitamente e que tem tudo nas mãos é Ele, então tudo deixo que Ele resolva. Faço o meu possível, faço o meu melhor, mas eu tenho meus limites e quando chego ao meu limite é hora de deixar nas mãos Dele, sem inquietude. “Viver para mim é Cristo, morre é lucro”. Temos que chegar a isso.
Essa indiferença nos dá um olhar divino sobre as coisas, sobre o sofrimento, sobre a provação, sobre as dificuldades, sobre a alegria - um olhar divino que relativiza tudo e coloca tudo no seu devido lugar, um olhar que não se abala porque está ancorado em Deus.
Esse mês de setembro eu quero concluir com dois pensamentos:
· O mês de setembro é dedicado no Brasil, pela Igreja Católica a recordar aos fiéis católicos que a Bíblia não é um enfeite da sua estante. Pode ser também, mas não é só isso, nem principalmente isso. A Bíblia é alimento cotidiano. Porque que eu digo isso? Porque para chegar ter o pensamento de Deus, para incorporar o pensamento de Deus é preciso conhecer o que Deus diz: abrir a Bíblia é Deus que fala. Então sem isso não damos o primeiro passo. O mês de setembro foi escolhido porque São Jerônimo se celebra no último dia de setembro, dia trinta e esse grande doutor da Igreja, com esse título, foi um grande tradutor da Bíblia e conhecedor da Bíblia também e uma frase dele nos acompanha e é a seguinte: “desconhecer as Escrituras é desconhecer a Cristo”.
Então não conheço a Jesus enquanto não conheço a sua palavra. Por isso queria convidar a vocês a abrirem a Bíblia todo o dia. Sugiro que o que sugeri a todo mundo esse ano. Adotei um método de não passear demais então fico num ponto: estou sugerindo a todo mundo esse ano, quem ainda não leu, leia o Livro dos Atos dos Apóstolos – comece e termine. Se quiser outra sugestão venha falar que a gente indica, mas não fique um dia sem a palavra de Deus para que seus pensamentos se convertam ao pensamento de Deus, seu olhar se torne como olhar se torne como o olhar de Deus. Essa é a primeira coisa.
E a segunda coisa da nossa conclusão é:
· Que essa Eucaristia que vamos receber nos sirva para termos força de viver em Cristo e morrer em Cristo. Essa Eucaristia é força de Cristo, Aquele que passou pela morte e venceu e se nós temos em nós Aquele que passou pela morte e venceu não temos medo nem da morte, nem da vida. Se nós temos em nós Aquele que passou pela morte e venceu, nós temos a santa indiferença daquele que não se abala com nada porque sabe-se nas mãos de Deus o Todo Poderoso e que nos ama. Peçamos essa força e na Eucaristia nós podemos obtê-la. Que Ele nos abençoe todas as intenções que hoje foram apresentadas sejam conduzidas ao Pai Celeste por meio de Jesus Cristo com nosso louvor e a nossa oração.
Proferida pelo padre Sérgio Muniz em 18 de setembro de 2011
Primeira Leitura: Livro do Profeta Isaias (Is 55,6-9)
Salmo: [Sl 144(145)]
Segunda Leitura: Carta de São Paulo aos Filipenses (Fl 1,20c-24. 27a)
Evangelho: (Mt 20,1-16a)
Nota: Esta e outras Homilias anteriores no blog: www.verbumvitae.com

terça-feira, 6 de março de 2012

Transcrição da Homilia do 24º Domingo do Tempo Comum




Transcrição da Homilia do 24º Domingo do Tempo Comum
Amados irmãos, queridas irmãs nesta parábola que já nos é bem conhecida nos surpreendeu alguns detalhes porque a palavra de Deus é inesgotável na sua novidade. Não sei se repararam, mas existe uma desproporção muito grande entre os dois devedores – um devia uma quantidade enorme de dinheiro (o Evangelho no seu texto original fala de muitos talentos de prata, aquelas moedas de prata bem pesadas) e a quantidade transportada para os dias de hoje, com as nossas mediadas é uma quantidade absurda de dinheiro realmente que ninguém podia pagar e outro deve ao colega apenas algumas moedas, alguns denários que eram moedinhas pequenas de cobre. Existe uma desproporção muito grande entre as duas dívidas, portanto: uma enorme e outra bem pequena só que existe também uma semelhança entre as duas dívidas, ou melhor, entre os dois devedores porque em ambos os casos eles não podiam pagar.
De que me importa se a minha dívida é consideravelmente menor do que a sua, suponhamos, se eu também não posso pagar? E se você tivesse uma dívida maior que a minha e não pudesse pagar e eu uma dívida enorme e não pudesse pagar, minha situação seria pior que a sua. Então o que torna mais dramática nossa situação não é o tamanho da dívida, mas o fato que ela é impagável, pequena ou grande ou que seja. Neste ponto de vista estamos todos na mesma condição. O assassino, o ladrão, a prostituta, claro que são pecados objetivamente muito graves e piores do que aqueles que nós habitualmente nós cometemos, porém há uma semelhança: ninguém pode pagar nem o que deve mais, nem o que deve menos.
Ninguém pode pagar os benefícios que recebe de Deus, a começar da própria vida e de tudo o que é necessário para chegar à salvação eterna que Ele nos dá. Ninguém pode pagar o benefício de Deus. Ninguém pode agradecer dignamente, dar-lhe alguma coisa nem que esteja à altura. E como se não bastasse ainda temos a dívida dos nossos pecados porque a gente costuma considerar esse pecado, aquele outro como “pecadinhos”; às vezes exagerando no diminutivo porque de fato do ponto de vista de Deus não há um “pecadinho” a ser alegado, todo pecado, por menor que nos pareça, ele tem uma dimensão infinita. Por quê? Porque ele ofende uma Majestade infinita e ofende um Amor infinito então ele ganha proporções infinitas e nesse sentido todo mundo está no mesmo barco e ninguém pode contar vantagem – eu sou menos pecador que você; por um ponto de vista pode ser verdade, mas por outro não adianta nada porque ninguém paga. Também não é motivo então para agente se entregar ao pecado, evidentemente.
E quem foi que nos pagou a dívida, impagável, quem foi que compensou a nossa desobediência, o nosso desamor? Foi Jesus Cristo. Ele ofereceu por nós até a última gota de sangue, o amor e a obediência que nós não podíamos devolver a Deus. Não podíamos compensar o que tínhamos tirado. Na cruz a sua existência de valor infinito, como filho de Deus feito homem na sua vida, na cruz assume a obediência até as últimas consequências, na cruz o seu amor, até a última gota de sangue, o seu dom total. Aliás, por falar em dom total vem em mente a palavra perdão – perdão é justamente isso, é o dom total, é a raspa do tacho, é virar do avesso para dar até a última gota. Etimologicamente, perdão é “per” é algo extremo por excelência, total: “per”. “Dom” é o dom por excelência. O dom até a última gota – esse é o perdão, é foi o que Jesus fez por nós. E quando nós participamos da Santa Missa nós recebemos como nosso alimento, quer dizer, como se não bastasse esse “dom total” até a morte de cruz Ele ainda inventa um coisa: a Eucaristia, e se deixa como nosso alimento. Esse é o “dom” por excelência. Diante disso quem recebe isso, não pode se negar a dar muito menos a seu próximo.
O que os outros nos devem, as ofensas que os outros que nos tenham feito são certamente muito menores do que as ofensas que nós fazemos a Deus. Porque eu sou um ser finito, a minha dignidade é grande, mas é finita, portanto quem ofende faz uma ofensa finita, limitada, mas a minha ofensa a Deus mesmo que me parece muito fraquinha ela ganha dimensões infinita, já explicamos por que. Então finito é sempre muito menor que o infinito. Qualquer ofensa que alguém me faça é limitada, é finita. Se Deus me perdoa a ofensa infinita então como é que eu não vou perdoar uma ofensa finita que meu próximo me faz.
Jesus coloca o perdão, nosso ao outro como condição de recebermos o perdão divino e Ele nos deixou uma armadilha, armadilha santa, foi muito engenhoso da parte de Jesus para nos obrigar a trilhar o caminho do perdão. A armadilha está no “Pai Nosso”: perdoai-nos, O! Pai assim como nós perdoamos. Estamos pedindo a Deus que faça conosco exatamente o que nós fazemos com os outros e Jesus mandou dizer assim na oração. Evidentemente nós temos muitas dificuldades e quanto mais se vive mais essas dificuldades tendem a se acumular com tias e tais pessoas, com tais e tais acontecimentos etc.
Jesus não é ingênuo e nem é um tirano para exigir de nós o impossível, mas Ele exige todo o possível e nos ajuda com a sua graça. O que eu quero dizer com isso? Os sentimentos que perturbam nosso coração como mágoas e outros semelhantes, esses sentimentos normalmente não estão sobre o nosso domínio, nós não podemos criar a mágoa e não podemos eliminá-la por um decreto da nossa vontade. Então não está em nós, mas nós podemos e isso depende de nós, nós podemos alimentá-la ou não. Essa mágoa é como um bichinho que muita gente cria como bichinho de estimação. Alimenta, dá comidinha para ele; ele vai crescendo, vai se tornando um monstro que vai devorarando o coração e alma da pessoa e fazendo muito mal à mente, a alma e ao corpo, inclusive. Nós devemos tirar comida desse bichinho, matá-lo de fome, não alimentá-lo deixá-lo morrer de inanição, de fome e sede para que ele não nos devore e não nos afaste totalmente de Deus porque conforme dizia a Primeira Leitura é um contra-senso eu buscar a cura; se alguém guarda a raiva, diz o Eclesiástico, como pedir a Deus a cura. Ora, a cura muitas vezes não acontece porque o coração está envenenado, a cura física de muitos males físicos tem origem, e os médicos sabem disso em situações de ânimo complicadas por rancores, com tristezas profundas que são alimentadas etc. Então porque Há uma unidade misteriosa de corpo e alma e às vezes as coisas se compenetram e uma coisa influencia na outra. Isso é comprovado por várias patologias. Então a pessoa não pode pedir a Deus a cura do seu coração, dos seus sentimentos, da sua alma e até, às vezes, do seu corpo já que alimenta a raiz desses males; é um contra-senso e a leitura continua dizendo: se ele é mortal e guarda rancor que vai alcançar o perdão? Se Deus, o infinitamente digno, O infimamente amoroso, o infinitamente majestoso se inclina e perdoa. Quem sou eu mísero pó e cinza para não fazer o mesmo? Sou eu mais do que Deus por acaso? Então atrás da recusa do perdão pode existir a soberba; eu me coloco numa posição que no final das contas é uma posição mais alta que a posição de Deus porque Ele pode como eu não posso perdoar? Será que a minha dignidade é maior que a Dele? Nesta Leitura também, no versículo seis diz-se que: nós devemos lembrar-nos do nosso fim e deixar de odiar lembra-te do teu fim e deixa de odiar. Pensa na destruição e na morte, persevera nos mandamentos. Então pensar no que nos espera adiante. Se eu tivesse que entregar hoje, daqui a pouco a minha vida a Deus quereria eu ir com o coração sufocado, atulhado de mágoas e de rancores como talvez esteja agora; se eu tivesse que entregar a minha alma hoje como eu gostaria que estivesse meu coração? Será que esses pecados de rancor e de mágoa não seria um peso que dificultaria pelo menos em chegar ao Céu tão cedo? Então pensemos no que nos espera, o juízo de Deus e quem quiser alcançar a misericórdia, faça misericórdia. Ah! Padre, mas eu não consigo porque é um sentimento que supera as minhas forças, eu não domino, já falamos sobre isso. Você não é culpado pelo que sente ou que deixa de sentir, nós só somos culpados pelo que aceitamos; que eu sinta mágoa, não é pecado, que eu alimente voluntariamente e a transforme em rancor ou que eu aprofunde isso voluntariamente, aí sim, aí começa o pecado. Ninguém é obrigado, da noite para o dia deixar de sentir o que sente, mas somos obrigados, da noite para o dia a dar um passo no sentido fazer o possível. Jesus nos indicou o caminho: orai por todos que vos perseguem, abençoai os que nos amaldiçoam (esta no capitulo cinco ou seis de São Mateus).
Então eu posso a começar a rezar por essas pessoas. Ah! Mas o meu coração não acompanha essa oração; eu vou me sentir muito hipócrita se eu fizer isso porque eu não estou sentindo como é que eu vou falar uma coisa que eu não sinto? Esta observação provem de uma mentalidade decadente da Pós Modernidade; só é autêntico aquilo que é espontâneo e estou sentindo. Não! Eu não estou sendo hipócrita, eu estou obedecendo a Jesus. Ele mandou? Eu faço. Mas eu não estou sentindo. Eu não disse que é para sentir, disse que é para obedecer – orai por todos os que vos perseguem, abençoai os que vos amaldiçoam foi isso que - Ele mandou, eu faço! Sentir ou não sentir vem depois como graça de Deus – é Deus quem vai curar o que você está sentindo. Vai substituir por outra coisa quando acontece no momento certo em resposta a sua proximidade, a sua obediência. Comece, violente o que você está sentindo, faça o contrário do que está sentindo. Nós temos que aprender a fazer o contrário do que nós sentimos. Isso é sério porque o mundo de hoje nos ensina a fazer o que nós sentimos e a não fazer nada se não aquilo que estamos sentindo. É a tirania dos sentimentos sobre a razão. Mas o sentimento pode transformar nossa vida num caos se ele toma à dianteira. Nós temos que nos guiar pela razão, iluminada pela fé. Nós somos fiéis a Deus. Experimente, eu não aconselho a ninguém, supondo que você um dia da sua vida, por exemplo, hoje ou amanhã se deixar guiar unicamente pelos seus impulsos e sentimentos, sem freios, sem rédeas num dia você transformaria sua vida num caos. É preciso saber dizer não a si mesmo, muitas vezes por um motivo maior e a razão e a fé nos conduzem a isso.
Então pensemos no nosso fim, comecemos a rezar por aqueles que nos ofenderam, nos fizeram mal. Não frustremos essa experiência.
Façamos o que pudermos: pisemos no nosso orgulho, na nossa vontade de revidar. Lembremo-nos o que Jesus fez por nós. Se Ele fosse nos tratar como merecíamos, ai de nós.
Diz o Salmo: Senhor se nos tratásseis conforme nossas faltas ninguém subsistiria ninguém. Não estaríamos aqui.
Agradeçamos a Deus desta forma, rezando por aqueles que são difíceis para nós.
E agora então vamos fazer um minuto, um minutinho só de silêncio para colocar em prática o que Jesus pediu, sabendo que na Eucaristia que vamos receber se renova o perdão, o dom total de Deus, em Cristo. Que esse alimento milagroso da Eucaristia nos ajude a superar tudo isso e faça de nós novas criaturas, então nesse instante oremos por aqueles nos feriram, nos perseguiram, nos fizeram mal. Peçamos que o Senhor os abençoe, purifique seus corações converta-os se necessário – também tire de nossos corações todo obstáculo para recebermos Sua graça.
Primeira Leitura: Livro do Eclesiástico (Eclo 27,33-28,9)
Salmo: [Sl 102(103)]
Segunda Leitura: Carta de São Paulo aos Romanos (Rm 14,7-9)
Evangelho: (Mt 18,21-35)
Nota: Esta e outras Homilias anteriores no blog: www.verbumvitae.com

domingo, 4 de março de 2012

Transcrição da Homilia do 23º Domingo do Tempo Comum



Transcrição da Homilia do 23º Domingo do Tempo Comum
Amados irmãos e irmãs aparece hoje claramente nas Leituras o tema da correção fraterna. Nós somos responsáveis uns pelos outros diante de Deus. De certa maneira não é a mesma coisa a responsabilidade da mãe pelo seu filho e dessa mesma pessoa, a mesma mãe com uma colega de trabalho. São níveis diferentes de responsabilidade, tipos diferentes, mas há alguma responsabilidade de todos para com todos diante de Deus; isto significa que teremos que nos interessar uns pelos outros não só me interessar pelo bem imediato, material, terreno como comida, saúde, educação – todas essas coisas são óbvias, necessárias, mas também pelo bem supremo do outro que é a salvação. Devemos querer o bem maior para as pessoas em nossa volta e o bem maior é a comunhão com Deus, a salvação.
É por isso que o profeta Ezequiel ouviu de Deus aquelas palavras que nós também ouvimos agora na Primeira Leitura: Quanto a ti eu te coloquei com vigília para o meu povo, Israel. Quando ouvires alguma palavra de minha boca deves adverti-los em meu nome, se eu disser ao ímpio que ele vai morrer em conseqüência do seu pecado e tu não falares então ele vai morrer, mas tu terás culpa, terás parte de responsabilidade neste fato, mas se tu disseres ao...E o ímpio não se corrigir e morrer em consequência do seu pecado, tu pelo menos não carregarás esta culpa. Ele morrerá, mas tu salvarás tua vida.
Então mesmo que a correção feita a outrem não tenha o efeito esperado, em princípio ela deve ser feita, mesmo que a pessoa não queira ouvir a voz de Deus, em princípio nós devemos admoestá-lo. Digo em princípio porque o próprio Jesus em certa ocasião disse: Não jogueis pérolas aos porcos nem o que é santo aos cães para não acontecer que eles se voltem contra vós e vos despedacem porque um cão bravo ou um porco irritado não vão saber distinguir uma pérola de uma pedra que alguém joga para agredir. Então não vamos desperdiçar as pérolas com que não as souber reconhecer- Jesus nos diz também isso.
Então há casos em que entendemos normalmente, devemos manifestar a correção, mas há caso em que a inutilidade da coisa é patente; nestes casos mais vale duplicar a oração e silenciar enquanto não for possível falar, mas buscando a oportunidade. Enquanto essa oportunidade não aparece, vamos ganhando o coração da pessoa pela oração e pelo testemunho, pelo exemplo, até que seja possível um dia a palavra; o importante é não cruzarmos os braços diante de quem precisa da nossa ajuda, da nossa correção dentro da Igreja na sua milenar didática condensou o seu ensinamento em fórmulas muito sucintas para ajudar-nos e quando se estuda o catecismo se aprende que são sete as obras de misericórdia corporais e sete as espirituais. Sem citá-las todas vou dar alguns exemplos; obras de misericórdia corporal: alimentar os famintos, vestir os nus, visitar os doentes e os prisioneiros, enterrar os indigentes e assim por diante. Obras de misericórdia espiritual, por exemplo: consolar os aflitos, ensinar os que erram, corrigir os que erram, e é justamente desta obra de misericórdia espiritual que Jesus, na liturgia nos fala no dia de hoje. Não cale uma palavra de correção que pode salvar, que pode tirara da ruína, mas se for certo ou quase certo que ela será rejeitada, tales o efeito seja contrário pode acontecer, a gente redobra oração, se esforça mais o testemunho e espera o momento de falar. Porque há várias maneiras de falar; as palavras são apenas uma das maneiras. Posso falar de muitas outras maneiras- quando não é possível de uma maneira, é possível de outra.
A Carta aos Romanos no trecho de hoje nos fala, nos relembra alguns mandamentos para dizer que o amor ao próximo resume, condensa, traz em si todas as exigências: que ama, não vai matar, não vai roubar, não vai adulterar, não vai cobiçar o que não é seu, não vai mentir e assim por diante. Quando eu minto, quando eu adultero etc. Quando eu roubo é porque eu não amei ou não amei como devia então o amor ao próximo equivale a todas essas exigências, trás todas essas exigências dentro de si; é por isso que Ele diz que o amor é o cumprimento perfeito da lei não no sentido de que eu não preciso me preocupar de hoje em diante... Não, não existe esta dicotomia, é o contrário. Justamente porque amo então não mato, não roubo, não adúltero, não engano e assim por diante. Justamente porque o amor é que trás essas exigências e sem amor não é possível cumpri-las – ele é o motor, é o coração de tudo isso; o amor é coisa acima de tudo e como decorrência dele o amor ao próximo.
Jesus nos fala ao semelhante, aos olhos da Primeira Leitura, dizendo aos seus discípulos se alguém pecar contra ti, fala com ele em particular primeiro, a sós, depois se não funcionar fala com mais alguém por perto que possa ajudar e testemunhar; se não funcionar então leva a instância superior, eles levam a Igreja. A Igreja em casa, quem é a autoridade da igreja em casa? Os pais. Um irmão adverte outro irmão, conversa, deve fazê-lo. Se não convencê-lo, se não conseguir então chame mais um amigo ou chama alguém e converse. Não deu certo? Então leva a Igreja. Então vai falar com o pai, com a mãe para poder ajudar o irmão e se não for possível vai a Igreja mesmo e vai falar com o padre, olha meu irmão precisa de ajuda e eu não consegui... A Igreja... Numa comunidade, aqui, por exemplo... Os outros da paróquia, não conseguindo vai ao sacerdote depois de tentar...
Para dizer que o nosso próximo e numa escala maior a Igreja mesma são instâncias representativas de Deus para nós. Deus se manifesta através destas instâncias para nós.
Jesus termina apontando para esse poder que a comunidade tem de ajudar as pessoas as pessoas a caminhar. É muito difícil caminhar na senda do Senhor sem o apoio de uma comunidade, do irmão que corrija o passo, ou de outros que me corrijam também. Muito difícil sem uma autoridade clara e um ensinamento claro. Isso falta ao mundo e faltando orientação clara as pessoas se sentem inseguras e se perdem. A comunidade tem pelo menos esse poder profético e nós também participamos desse poder profético de ajudar os outros e fazer-los ouvir o que Deus quer que ouçam. Ajuda a enxergar o que Deus quer seja enxergado, mas a comunidade Igreja também tem poder de ligar e desligar. Portanto aquele que não quiser ouvir a Igreja considere-o como se fosse um pagão ou um publicano porque foi ele desligado e o que a Igreja liga na terra é ligado no Céu e o que ela desliga na terra, é desligado no Céu.
Há casos graves em que o direito canônico, direito da Igreja, prevê a excomunhão. O que é excomunhão? Excomunhão é uma pena medicinal até que a pessoa se toca e volta atrás que consiste em retirar a pessoa da comunhão dos demais, ou seja, nós somos membros de um corpo- a excomunhão seria como garrotear, (sabe aquela tira de borracha que se usa para tirar sangue e evitar o envenenamento da cobra). O garrote é alguma coisa que você aperta em torno de um membro, de um braço, por exemplo, de uma perna para prender a circulação. A excomunhão é como um garrote em um membro, já o sangue do corpo não vai para ele, nem o dele vai para o corpo, mas não pode ficar por muito tempo senão gangrena. A excomunhão, em casos raros e muito sérios é aplicada com a intenção de que a pessoa se toque e se reerga e volte arrependida à comunhão da Igreja, mas existem formas não declaradas ou não explícita de excomunhão. Na verdade, as excomunhões menores do que aqui, coloquemos entre aspas, mas não precisa ser uma divisão, uma separação; quando eu peco, eu estou me separando dentro de certa medida do corpo da Igreja. Respeitar o corpo é uma coisa séria, bem consciente e voluntária eu realmente me auto excomungo por assim dizer, por assim dizer (é um modo de falar); me coloco à margem, me fora. Enquanto houver o erro... Só Deus, a todos vocês mesmo que não saibam onde está... Eu os afeto de alguma maneira porque nós somos um corpo, o corpo vivo em que a falta circula de membro a membro. Então a minha ação espiritual, a ação espiritual de cada um de vocês... e aqui nós temos responsabilidade uns pelos outros. Aí então a necessidade e a legitimidade da correção fraterna. Comece pelas pessoas mais próximas, se puder, não negue uma palavra que pode salvar; se não puder tem a oração, o exemplo que abre o coração a uma palavra oportuna, o quanto antes.
Peçamos ao Senhor todos, a graça de nossa sincera conversão e que Jesus na Eucaristia seja nossa força para que sejamos profetas e anunciar a vontade de Deus... Nos de coragem de sermos profetas na escola, no trabalho, na família, enfim lá onde Jesus nos colocou com uma missão.
Proferida pelo padre Sérgio Muniz em 04/11/2011
Primeira Leitura: Livro da Profecia de Ezequiel (Ez 33,7-9)
Salmo: [Sl 94(95)]
Segunda Leitura: Carta de São Paulo aos Romanos (Rm 13,8-10)
Evangelho: (Mt 18,15-20)
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sábado, 14 de janeiro de 2012

Transcrição da Homilia do 22º Domingo do Tempo Comum – Dia Nacional do Catequista


Transcrição da Homilia do 22º Domingo do Tempo Comum – Dia Nacional do Catequista
Nós estamos diante de um Evangelho que nos suscita curiosidade e espanto. Toda a vez que, lendo a Bíblia, nós acharmos alguma coisa estranha, é importante. Geralmente, as coisas que nos causam estranheza, escondem grandes tesouros, mais do que aquelas que nos parecem simples e evidentes. Nesse caso, Jesus, logo depois de ter elevado Pedro a chefe da Igreja, chefe dos apóstolos, praticamente na mesma página do Evangelho, chama-o de satanás. É o Evangelho de hoje.
O que será que deu em Jesus? Afinal de contas, Pedro é a “pedra” onde se edifica a Igreja, chefe dos demais apóstolos, garantia visível da unidade da Igreja ou é “um satanás”? As duas coisas, porque, no que diz respeito à sua pobre humanidade, ele poder ser “um satanás” (com artigo indefinido), mas no que diz respeito à escolha divina e à sua função como chefe dos apóstolos, ele é a “pedra”.
Exercendo a sua função dada por Jesus, ele tem a assistência do Espírito Santo para não deixar a Igreja errar nem ensinar o erro. Como homem, individualmente, ele pode errar e erra. Aqui, na mesma página do Evangelho, Jesus o chama das duas coisas. É preciso entender porque Jesus o chama dessa forma. A palavra “Satã” ou “Satanás”, do hebraico, significa “acusador”, não um acusador qualquer, mas um acusador cheio de malícia, intriguento, alguém que acusa sem haver motivo, ou exagerando os motivos da acusação. Satanás é assim. E, todo aquele que acusa desta forma, é um satanás. Às vezes, também nós nos vemos nesse papel, e Pedro teve o seu dia de satanás, que foi aquele.
Quem Pedro está acusando? Pedro está acusando nada menos o próprio Deus e acusando também a Jesus, querem ver? Jesus prenuncia a sua morte, o seu sofrimento em Jerusalém. Pedro chama Jesus e diz: Senhor, que isso não aconteça, que Deus não permita, ou, em outras palavras, “tira isso da cabeça, não vá para Jerusalém, que história é essa?”
Jesus, sem pudor nenhum, diz bem alto: vai para longe satanás, tu és uma pedra de tropeço. Por quê? Porque pensamos nas coisas dos homens, não nas de Deus.
Pedro está, implicitamente, corrigindo o plano de Deus. Pedro está melhorando, dando uma melhorada nos planos de Deus. Pedro está ensinando a Jesus como fazer. Não é verdade que, vez ou outra, nos pegamos na tentação de pensar: “se eu tivesse o poder que Deus tem, o mundo não estaria assim, eu faria melhor”? Será que essa tentação nunca bateu à porta? Não sei se já entrou, mas bater à porta, ela bate. Tentação é, portanto, querer corrigir os planos, os caminhos e a sabedoria misteriosa de Deus.
Nós não temos capacidade de entender tudo, porque a nossa mente é limitada, somos criaturas, mas deveríamos ter a capacidade de confiar, a ponto de dizer: Senhor, mesmo que eu não entenda, sei que está tudo em tuas mãos, e como diz o apóstolo Paulo: tudo concorre para o bem dos que amam a Deus. Tudo, seja o que for.
Com essa reação, Jesus corrige a pretensão de Pedro (saber melhor do que Deus, fazer melhor do que Deus), embora o pobre Pedro o tenha feito com a melhor das intenções como nós também o faríamos. Nós nos vemos nele.
O apóstolo Paulo, na Segunda Leitura, nos convida a mudar a nossa mentalidade. Passar do modo de pensar meramente humano para o modo do pensamento divino. É isto que Jesus também dizia: tu pensas apenas como homem, não tens o pensamento de Deus. Mas já que nós recebemos o Espírito Santo no batismo, já que somos instruídos pela palavra divina, nós podemos, sim, e devemos, deixar aos poucos o nosso modo de ver, e abraçar o modo como Deus vê. Assim diz o apóstolo: não vos conformeis ao mundo, mas transformai-vos, renovando a vossa maneira de pensar e de julgar.
Nós temos as nossas dificuldades, cada qual sabe onde lhe aperta o calo e temos os nossos pontos mais difíceis de conversão – nossos pecados predominantes, nossos defeitos, etc. Mas a conversão não começa agindo diferente. A conversão começa pensando diferente. É preciso primeiro converter a cabeça, o coração e depois os atos são consequência disso. Há quem, diante de certas exigências do Evangelho, diga: bom, mas isso não dá para mim ou isso eu não consigo. Pronto, é claro, é evidente que não vai conseguir. A partir desse momento está tudo fechado, nem se começa. É preciso partir da fé. Se Deus manda, Deus dá a capacidade. Se Deus manda, então eu posso e vou fazer, mesmo que Ele me mande caminhar sobre as águas, como mandou a Pedro, eu irei. Mesmo que Ele me mande fazer alguma coisa que pareça absurda, impossível, eu farei, confiando Nele. Eu começo e Ele termina. Tem que começar. Não hesite. Então comece mudando a cabeça, nunca dizer no coração, na mente: isso não dá, isso é impossível.
Da mesma forma que nós persistimos nos nossos defeitos predominantes, o mínimo que podemos fazer, é persistir no arrependimento e na vontade de fazer melhor. Isso já seria um caminho de salvação, se for feito de coração sincero e humilde. Fechar-se, dizendo “é impossível” ou “não dá para mim” isso realmente é o caminho contrário, é o caminho da perdição.
Quem quiser salvar a sua vida, deverá perdê-la, (quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la) e quem perder a sua vida por causa de mim vai encontrá-la.
Temos um exemplo disso no profeta Jeremias, na Primeira Leitura. Jeremias teve a experiência que todo profeta tem: de ser rejeitado porque falava coisas desagradáveis de vez em quando, coisas que as pessoas não queriam ouvir. Profeta serve para isso. E todos nós, pelo batismo, recebemos uma vocação profética, aliás: ser boca de Deus, ser sinal de Deus no meio do mundo. Então, quando o profeta anuncia o que Deus quer, ele diz assim: A palavra do Senhor tornou-se para mim fonte de vergonha e de chacota o dia inteiro. Ele sofria, era ridicularizado. Como consequência, ele diz: Não quero mais lembrar-me disso nem falar mais em nome Dele. Ele desiste de ser profeta, “não quero mais essa vida para mim”, desiste. Recusa-se a falar em nome do Senhor. Mas, Deus, no fundo do seu coração, vai lutar e vai insistir e veja o que o profeta diz: Senti então dentro de mim um fogo ardente a penetrar-me em todo o corpo, desfaleci sem forças para suportar. O fogo de Deus dentro dele era maior do que a sua resistência e ele não conseguiu não continuar profetizando.
Feliz Jeremias! Quem dera que todos nós tivéssemos a graça de um fogo abrasador assim, que nos impelisse e nos fizesse vencer as nossas resistências. Mas nem sempre Deus age dessa forma, nem sempre a sua graça assume essa forma impetuosa. É preciso que sejamos humildes e queiramos fazer o que Deus quer, ainda que seja para nós fonte de dificuldade (incompreensão, zombaria etc.)
Quantos de nós se encolhem, dizendo: “não vou mais profetizar, não vou mais falar em nome Dele, não vou mais dar testemunho Dele pelas minhas ações, porque todo mundo ri de mim, as pessoas me olham estranho, estou sozinho, de que adianta a verdade num mundo de mentiras, a honestidade num mundo de desonestidade, a pureza num mundo de impureza e assim por diante”.
No entanto, Jesus nos diz que é preciso ter a capacidade, a coragem de perder alguma coisa momentaneamente por Ele, ainda que fosse a própria vida, para poder reencontrá-la. Aquele que quiser poupar a própria vida, fugindo de todo incômodo, esse acabará perdendo a sua existência, a sua alma.
Que o Senhor nos ajude a não só entender, mas a incorporar todas essas coisas que hoje Ele nos diz e, que por essa Eucaristia, nos seja dada a coragem necessária para enfrentar a vida e o mundo como Jesus diz no Evangelho de João, aos seus discípulos cheios de medo: Coragem.Eu venci o mundo. E, João, numa de suas cartas, vai dizer: Esta é a força que vence o mundo, a nossa fé.
Primeira Leitura: Livro do Profeta Jeremias (Jr 20,7-9)
Salmo: [Sl 62(63)]
Segunda Leitura: Carta de São Paulo aos Romanos (Rm 12,1-2)
Evangelho: (Mt 16,21-27)
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segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Transcrição da Homilia do 21º Domingo do Tempo Comum- Assunção de Nossa Senhora


Transcrição da Homilia do 21º Domingo do Tempo Comum- Assunção de Nossa Senhora
Bem, acontecem coisas quando se toma a palavra de Deus e o fogo é uma delas! Nós estamos aqui, numa Igreja muito bonita, mas que merece toda atenção e todo cuidado. Imaginem o turíbulo que eu achei, já arrebentou a corrente e a brasa caiu no chão, queimando o tapete. Quem dera também o fogo de Deus deixasse em nós a sua marca indelével, quem dera o fogo vindo do Céu deixasse em nós a marca de Cristo como fez em Maria Santíssima.
Hoje a Igreja celebra o grande milagre da Assunção de Nossa Senhora. Na verdade, é uma festa que tem a ver com a Ressurreição de Cristo e a nossa. Eu gostaria de percorrer com vocês um pouco o trajeto da história da humanidade em dois momentos. Inspiramo-nos para isso na Primeira Leitura de hoje.
O Apocalipse nos coloca diante de uma imagem: uma mulher gloriosa no céu, vestida com o sol, com os raios do sol. Na cabeça, uma coroa de estrelas e no seu pedestal, a lua. Eis, então a pergunta: quem pode ser essa mulher, afinal? A resposta é fácil, porque logo depois se diz que ela vai ter um filho, está grávida, prestes a dar à luz. E o filho que ela vai ter é aquele que rege as nações com cetro de ferro. O Salmo 2 diz que o Messias, o Salvador, quando chegasse ia reger as nações com cetro de ferro, símbolo de força inquestionável, incontestável. Portanto, ela é a mãe do Salvador, só pode ser Maria Santíssima. Está resolvido o problema da identidade da mulher do Apocalipse. Aparece, então, um dragão em peleja com a mulher cujo filho ele quer devorar, mas não consegue. Em seguida, tenta derrotar Jesus Cristo e consegue, inclusive, que seja crucificado. Só que Jesus vence a própria morte, Ele ressuscita! Jesus usa a morte que o demônio lhe infligira através dos homens, para vencer a própria morte. Ou seja, usa a morte para dar uma rasteira em satanás.
Então o demônio perdeu, não conseguiu devorar o filho da mulher. Agora, ele vai perseguir os outros descendentes da mulher e entrar em guerra contra eles.
Ora, eu dizia que isso é um resumo da história da humanidade porque, no Primeiro Livro da Bíblia, que é o Gênesis, já encontramos uma imagem muito semelhante, quando Deus diz à serpente (que é o demônio): colocarei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a descendência dela. Ela te esmagará a cabeça e tu tentarás ferir-lhe o calcanhar. Já nos primórdios da humanidade, é anunciada uma luta entre os descendentes da serpente e os descendentes da mulher. E nós sabemos que o descendente por excelência da mulher é Jesus Cristo. E a mulher por excelência é Maria. Daí a imagem de Nossa Senhora esmagando a cabeça de uma cobra, que é tão comum vermos em vários lugares. Mas a força de esmagar a serpente não é dela, é de Cristo nela. No último Livro da Bíblia, aparece novamente esta imagem, só que ampliada, não mais no paraíso terreno, mas no teatro celeste, na cena do céu. Essa cena é ampliada e projetada no céu. Agora, a mulher é gloriosa, e a serpente não é uma cobrinha, é um dragão imenso que arrasta a terça parte das estrelas, ou seja, são os outros anjos que arrasta com toda sua rebelião junto consigo, os anjos rebeldes, decaídos. E como não conseguiram derrotar Jesus, fazem guerra aos irmãos que Jesus conquistou para si e os filhos que Ele conquistou para o Pai Celeste.
Porém, a vitória já está dada, ou seja, é um jogo de cartas marcadas. Como Jesus venceu, todo aquele que adere a Ele vencerá também. Tem que passar pela luta, mas já sabe que conta com a vitória se permanecer unido a Ele. Portanto, é vantagem estar ao lado de Cristo.
Qual é o ponto de chegada? É a glória celeste. Mas a glória celeste não é só para a alma, é para o corpo também. Esta é a originalidade da fé Bíblica judaica e cristã. Originalidade que fala da ressurreição, porque, quando nós morremos, logo a alma comparece ao juízo de Deus. A alma é retribuída pelo que viveu neste mundo, é o juízo particular. Mas a Escritura nos fala de um juízo universal, onde a justiça e vitória de Deus vão ser manifestadas publicamente, universalmente. Nessa ocasião - continua a Escritura Sagrada - haverá a ressurreição dos mortos.
Não sabemos como será isso exatamente. Nós sabemos apenas uma coisa: a matéria será restaurada e será devolvida às almas às quais pertence. Cada um terá o que lhe é próprio, o corpo que lhe é próprio, mas transformado, modificado pelo poder de Deus. Depois de ressuscitado, Jesus aparecia e desaparecia. Ele podia ser reconhecido e às vezes não era reconhecido imediatamente. Comeu, para provar que era Ele aos discípulos, mas não precisava comer. Podia ser tocado e às vezes não. Atravessava paredes com as portas fechadas como no Cenáculo, estando as portas fechadas Jesus apareceu no meio deles e disse: A paz esteja convosco. É a matéria numa situação totalmente diversa daquela que nós conhecemos. Eu costumo dizer que é matéria livre, livre do tempo e do espaço, livre das leis da física, a matéria soberana. Nós não conhecemos isso pela nossa experiência, só pelo relato do Evangelho, mas essa é a glorificação da carne. São Paulo dizia na Segunda Leitura: primeiro Cristo e depois os que pertencem a Cristo. Então veio a morte por um homem, para todo gênero humano e vem a vida por um homem, Cristo, para todo o gênero humano. Jesus ressuscitou primeiro. Depois, os que pertencem a Ele por ocasião da sua vinda.
E a festa se inscreve nisto, neste quadro. Afinal, o que estamos celebrando com a Assunção da Virgem Maria? Estamos celebrando o fato de que a glorificação corpórea da Virgem Mãe de Jesus Cristo já ocorreu antecipadamente, antes da nossa. Pensando bem, não é um privilégio único dela porque nós também esperamos isto. O privilégio está na antecipação. Uma curiosidade, aliás, é que pouca gente sabe que esta é a festa mariana mais antiga que a Igreja celebra, desde os primeiríssimos séculos do cristianismo. No século quarto, há notícia escrita dessa festa. Considerando o ritmo da antiguidade, a notícia escrita no século quarto, com certeza, tradição oral, já é de época apostólica, bem anterior. Só em 1950, no entanto, o papa Pio XII declarou dogmaticamente esta verdade e assume como oficial da Igreja. É interessante notar que a festa já existia, já era celebrada liturgicamente desde os primeiros séculos e só recentemente, no século passado, foi declarada oficialmente como verdade de Fé, por uma necessidade. Que necessidade o papa viu para tornar essa verdade universalmente aceita pelos católicos e declará-la solenemente? A necessidade foi o estado em que o mundo estava depois da segunda guerra mundial. Foi um estrago causado no mundo. A humanidade ficou descrente de tudo, o ser humano foi desrespeitado e a partir disso, a Igreja quis dar uma resposta: pegou uma coisa que não existia e a colocou em primeira fila, dizendo: o homem deve ser respeitado não só na sua razão, não só no seu espírito, mas no seu corpo.
Na verdade é o que a lei de Deus já nos ensina: não matar, não pecar contra a castidade e assim por diante. É o respeito ao corpo, porque o corpo também está destinado à glória celeste, o respeito ao corpo como coisa santa, como casa de Deus.
Pois bem, meus irmãos, nós vamos agora celebrar a Eucaristia, receber Jesus na comunhão. Não se esqueçam que, ao recebê-lo, estamos recebendo o Cristo ressuscitado. Ou seja, recebendo o Cristo ressuscitado, estamos comendo ressurreição; estamos nos alimentando de ressurreição. Que Ele, portanto, nos ressuscite, e que nós colaboremos; que Ele nos ressuscite convertendo a nossa mente, o nosso coração. Que nos ressuscite dando vida nova à nossa vida, que nos ressuscite fazendo as coisas serem diferentes para melhor. Todos caminhando na mesma luta contra o dragão, contra a serpente, mas amparados por Jesus através de sua Mãe Santíssima, através da mulher que com seu “sim” esmaga a cabeça da serpente que gostaria que disséssemos “não” a Deus. O “sim” de Maria esmaga o “não” de satanás e nos ajuda a dizer “sim” também.
Que essa Eucaristia seja a força para a luta, para o caminho e contemos com a proteção da Virgem Mãe.
Proferida pelo padre Sérgio Muniz em 21 de agosto de 2011.
Primeira Leitura: Livro do Apocalipse de São João (Ap 11,19ª;12,1.3-6ª.10ab)
Salmo: [Sl 44(45)]
Segunda Leitura: Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios (1Cor 15,12-27a )
Evangelho: Lucas (Lc 1,39-56)
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Transcrição da Homilia do 13º Domingo do Tempo Comum


Transcrição da Homilia do 13º Domingo do Tempo Comum
Amados irmãos,
Olhando essas leituras, desponta um fio condutor muito interessante, que é a idéia da “hospitalidade”. Nós vimos na Primeira Leitura àquela senhora sunamita, que por não ser israelita, não era do povo de Deus, era pagã. Ela estava numa região fronteiriça com a terra de Israel e recebia o profeta Eliseu toda a vez que ele passava por lá. Recebia-o na qualidade de “homem de Deus” e assim o considerava, embora não fosse israelita, ela mesma. O profeta, comovido com a hospitalidade – ela manda até construir um quarto no andar de cima, um quarto de alvenaria, que era coisa de luxo, para o profeta – tocado pelo acolhimento, pela gentileza, pela veneração com que ela o tratava e sabendo que ela estava venerando não tanto a ele, Eliseu, mas a Deus na pessoa dele, pergunta ao seu servo: o que podemos fazer para recompensá-la? E é informado de que ela nunca teve filhos, deixa entender que ela tinha esse desejo e nunca fora realizado. Então o profeta lhe promete um filho para o próximo ano – daqui a um ano, neste tempo, estarás com um filho nos braços. E, em tudo isso, desponta o tema da hospitalidade exercida por causa de Deus, em nome Dele. O hóspede que chega, o profeta, é recebido em nome de Deus. Em nome de Deus, ele concede a recompensa. Essa recompensa vai ser um hóspede também no ventre daquela mulher. Esse hóspede ficará por nove meses dentro dela e depois alegrará a sua casa e a sua família. Portanto a hospitalidade é fecunda.
Jesus também fala da hospitalidade no Evangelho: Quem vos recebe, a mim recebe. Quem me recebe, recebe Aquele que me enviou. Quem recebe um profeta, por ser profeta, ganhará a recompensa de profeta. Que recebe um justo (ou seja, um santo), por ser justo receberá a recompensa de justo. Então, mesmo sem ser profeta, receberá recompensa de profeta. Mesmo sem ser justo, receberá a recompensa de justo. E se não houver profeta ou justo para ser recebido, que seja recebido pelo menos um desses pequeninos por ser meu discípulo: quem receber um desses pequeninos por ser meu discípulo, em verdade vos digo, não perderá a sua recompensa. Lembrando também as palavras de Jesus no evangelho de Mateus, mais para o capítulo 25: Tudo aquilo que fizerdes ao menor de meus irmãos, foi a mim que fizeste. Então, receber um discípulo do Senhor, é recebê-lo.
Vocês sabem que há milênios existe essa prática, a que vou me referir agora, desde as mais antigas civilizações até hoje – a prática de quando um chefe importante, um rei, um chefe de estado é convidado a alguma solenidade fora de seu país e que, por algum motivo, não pode ir, ele manda um representante. Esse representante, legado embaixador, é recebido com honras, com as honras devidas a quem o enviou. Se quem o enviou foi o rei, o embaixador é recebido com honras reais. Se é o presidente da república, as honras devidas ao presidente da república são prestadas ao seu embaixador. Se é o papa que envia um cardeal legado pontifício, esse cardeal é recebido como se fosse o próprio papa, e assim por diante. Mas o enviado (enviado, aliás, em grego se diz “apóstolo”, um parêntese importante), o enviado, ele sabe que não é para ele, não são para ele aqueles tiros de canhão e aquelas outras solenidades. Ele sabe que aquela homenagem é para quem o enviou.
E assim também quem recebe o apóstolo, o enviado de Jesus Cristo, então não perde a sua recompensa: quem vos recebe, a mim recebe, quem me recebe, recebe aquele que me enviou. E todos nós, de certa forma, somos apóstolos de Jesus Cristo, enviados Dele.
Jesus não se separa dos seus. Ele quer ser e é uma só coisa conosco. Quem mexe com você, mexe com Ele. Quem lhe faz o bem, faz o bem a Ele. Que lhe faz o mal, faz o mal a Ele. A raiz disto, a razão disto está na Segunda Leitura, o apóstolo Paulo diz: será que ignorais que nós fomos batizados, quer dizer, mergulhados em Jesus Cristo? Fomos sepultados com Ele pelo batismo na sua morte para que como Ele ressuscitou assim também nós levemos uma vida nova. Aqui, Paulo se refere ao mistério do batismo como sendo o mergulho. Nós fomos mergulhados em Cristo, nos tornamos uma só coisa com Ele. Participamos misteriosamente da força, da graça da sua morte e da sua ressurreição. Essa morte já começa a operar dentro de nós matando o que não presta. E essa ressurreição já começa a operar dentro de nós dando vida nova – desde que não atrapalhemos demais e se possível colaboremos um pouquinho.
Aqui também volta o tema da hospitalidade. Nós o recebemos em nós. E quando recebemos um hóspede, procuramos tratá-lo bem, a menos que não queiramos que ele fique ou que ele volte. E aí, então, cabe a cada um resolver se quer que Jesus fique ou que Jesus volte. Se por acaso eu o tratei mal, vamos resolver isso, convidando-o de novo para entrar e fazendo uma bela festa. Jesus diz que, quando um pecador se converte, existe festa no céu. Então, se eu o afastei de alguma maneira, que Ele retorne e eu vou fazer festa para ele. É o tema da hospitalidade, sempre: recebê-lo em nós para que um dia Ele nos receba também na sua casa, na eternidade.
E aqui, algumas outras palavras sobre o Evangelho, que não devem passar tão rapidamente assim:
Quem ama seu pai e a sua mãe mais que a mim, não é digno de mim; quem ama seu filho ou sua filha mais que a mim, não é digno de mim. Isto é extraordinário, para não dizer escandaloso. Nós sabemos por que frequentamos o catecismo e sabemos o “Creio em Deus Pai todo poderoso etc.” Sabemos que Jesus é o filho único de Deus, o eterno filho de Deus, a Segunda Pessoa da Trindade que se fez homem. Partindo daí é fácil ouvir essas palavras: quem ama seu pai e a sua mãe mais que a mim, não é digno de mim, mas pensemos no homem do Antigo Testamento, pensemos nos apóstolos que não foram ao catecismo e que ainda não conheciam o mistério da Santíssima Trindade; ouvir essas palavras era um escândalo porque na lei de DEUS, os mandamentos, só uma coisa vem antes do amor aos pais: É o amor a Deus. Como é que chega um homem qualquer – se é que é um homem qualquer, essa é a questão – e começa a dizer: você deve me amar mais do que a seus pais e a seus filhos porque senão você não é digno de mim”. É pretensão demais, a menos que ele seja o próprio Deus. Então, Jesus está fazendo uma revelação indireta da sua divindade ao dizer isto. Ele tem a mesma divindade do Pai que o enviou e, quem o acolhe, acolhe o Pai que o enviou. Assim como quem acolhe os que Ele envia está acolhendo a Ele.
Quem não toma a sua cruz e não me segue não é digno de mim, quem procura conservar a sua vida vai perdê-la e quem perde a sua vida por causa de mim, vai encontrá-la. O que é isto? Nós, às vezes, procuramos nos poupar e tomamos como critério o que nos agrada ou que nos desagrada. Se me agrado eu faço, vou atrás; se me desagrada eu rejeito. Bom, se puder juntar o útil ao agradável, como dizemos, é sempre bom, mas nem sempre é possível. Às vezes, o agradável não é apenas inútil, mas pode ser também nocivo. Às vezes, o desagradável pode ser necessário.
Outro dia desses (mais precisamente ontem), conversava eu com um jovem que perguntava-me o seguinte: mas padre, se a gente encontrar a felicidade em alguma coisa contrária à vontade de Deus, porque é que não pode fazer? Será que Deus não quer a nossa felicidade? A minha resposta foi a seguinte, e é a seguinte: cuidado com a noção de felicidade, você está com uma noção mitológica de felicidade na cabeça, uma noção utópica de felicidade. Nesse mundo é possível alguma felicidade. Não é possível nesse mundo uma felicidade sem sombras e sem lacunas. Não é possível. A dor faz parte desta vida desde o pecado original (e por causa dele, que estragou a humanidade). A dor faz parte desta vida. Podemos reduzi-la, diminuí-la, podemos eliminar os sofrimentos inúteis que nós mesmos provocamos quando nos afastamos de Deus, mas outros sofrimentos são inerentes à vida e servirão para o nosso crescimento e amadurecimento. Quem promete uma felicidade sem sombra nesta vida, está mentindo. E o autor dessa mentira, o primeiro, é satanás. E aí, as pessoas vão buscar essa felicidade sem sombra e sem defeito fazendo só o que lhes agrada. Imagina você fazendo só o que lhe agrada, na hora que tivesse vontade?! Ninguém estudaria, ninguém tomaria injeção, portanto muita gente morreria por causa disso e deixaria de comer porque não teria trabalho nem preparação. Enfim, ia ser um caos se nós tomássemos por critério fazer só o que nos agrada e rejeitar o que nos desagrada.
Quantas coisas importantes na vida alguém consegue construir baseado nesse pensamento? Nenhuma. Esse critério só gera confusão, caos. Então, o critério não deve ser o que me agrada, mas o que é bom, agrade ou não. Se puder agradar, ótimo. Se não, nós toleramos e levamos adiante, porque a felicidade possível neste mundo passa por renúncias, passa por lutas. Elas são ingredientes necessários dessa felicidade possível deste mundo. E vivendo assim, ou seja, aceitando perder a vida por causa de Jesus – porque quando eu renuncio ao meu orgulho, quando eu renuncio à minha ambição, quando renuncio a qualquer outra tentação que me opõe a Deus naquele momento, eu estou renunciando a mim mesmo, estou aceitando perder a minha vida, naquele momento, por causa de Jesus. Vivendo assim, eu ganharei a minha vida. Creia, eu reduzirei muito o sofrimento dessa vida e vou ter a felicidade perfeita, aí sim, junto de Deus. Esse é o caminho.
Quero terminar com uma frase de Paulo. Ele diz assim: Se foi só para essa vida que colocamos a nossa esperança em Cristo, somos os mais miseráveis de todos os homens.
Mas quero também (se me permitem o descaramento), completar o apóstolo, dizendo: mesmo que a recompensa plena esteja além, já aqui, teremos muitas alegrias, porque disse Jesus: Quem me segue vai ter já nessa vida cem vezes mais de tudo aquilo que deixou e na vida futura a recompensa eterna.
Proferida pelo padre Sérgio Muniz em 26 de junho de 2011
Primeira Leitura: Segundo Livro dos Reis (2Rs 4,8-11.14-16a)
Salmo [88(89)]
Segunda Leitura: Carta de São Paulo aos Romanos: (Rm 6,3-4.8-11)
Evangelho: Mateus (Mt 10,37-42)