domingo, 4 de março de 2012

Transcrição da Homilia do 23º Domingo do Tempo Comum



Transcrição da Homilia do 23º Domingo do Tempo Comum
Amados irmãos e irmãs aparece hoje claramente nas Leituras o tema da correção fraterna. Nós somos responsáveis uns pelos outros diante de Deus. De certa maneira não é a mesma coisa a responsabilidade da mãe pelo seu filho e dessa mesma pessoa, a mesma mãe com uma colega de trabalho. São níveis diferentes de responsabilidade, tipos diferentes, mas há alguma responsabilidade de todos para com todos diante de Deus; isto significa que teremos que nos interessar uns pelos outros não só me interessar pelo bem imediato, material, terreno como comida, saúde, educação – todas essas coisas são óbvias, necessárias, mas também pelo bem supremo do outro que é a salvação. Devemos querer o bem maior para as pessoas em nossa volta e o bem maior é a comunhão com Deus, a salvação.
É por isso que o profeta Ezequiel ouviu de Deus aquelas palavras que nós também ouvimos agora na Primeira Leitura: Quanto a ti eu te coloquei com vigília para o meu povo, Israel. Quando ouvires alguma palavra de minha boca deves adverti-los em meu nome, se eu disser ao ímpio que ele vai morrer em conseqüência do seu pecado e tu não falares então ele vai morrer, mas tu terás culpa, terás parte de responsabilidade neste fato, mas se tu disseres ao...E o ímpio não se corrigir e morrer em consequência do seu pecado, tu pelo menos não carregarás esta culpa. Ele morrerá, mas tu salvarás tua vida.
Então mesmo que a correção feita a outrem não tenha o efeito esperado, em princípio ela deve ser feita, mesmo que a pessoa não queira ouvir a voz de Deus, em princípio nós devemos admoestá-lo. Digo em princípio porque o próprio Jesus em certa ocasião disse: Não jogueis pérolas aos porcos nem o que é santo aos cães para não acontecer que eles se voltem contra vós e vos despedacem porque um cão bravo ou um porco irritado não vão saber distinguir uma pérola de uma pedra que alguém joga para agredir. Então não vamos desperdiçar as pérolas com que não as souber reconhecer- Jesus nos diz também isso.
Então há casos em que entendemos normalmente, devemos manifestar a correção, mas há caso em que a inutilidade da coisa é patente; nestes casos mais vale duplicar a oração e silenciar enquanto não for possível falar, mas buscando a oportunidade. Enquanto essa oportunidade não aparece, vamos ganhando o coração da pessoa pela oração e pelo testemunho, pelo exemplo, até que seja possível um dia a palavra; o importante é não cruzarmos os braços diante de quem precisa da nossa ajuda, da nossa correção dentro da Igreja na sua milenar didática condensou o seu ensinamento em fórmulas muito sucintas para ajudar-nos e quando se estuda o catecismo se aprende que são sete as obras de misericórdia corporais e sete as espirituais. Sem citá-las todas vou dar alguns exemplos; obras de misericórdia corporal: alimentar os famintos, vestir os nus, visitar os doentes e os prisioneiros, enterrar os indigentes e assim por diante. Obras de misericórdia espiritual, por exemplo: consolar os aflitos, ensinar os que erram, corrigir os que erram, e é justamente desta obra de misericórdia espiritual que Jesus, na liturgia nos fala no dia de hoje. Não cale uma palavra de correção que pode salvar, que pode tirara da ruína, mas se for certo ou quase certo que ela será rejeitada, tales o efeito seja contrário pode acontecer, a gente redobra oração, se esforça mais o testemunho e espera o momento de falar. Porque há várias maneiras de falar; as palavras são apenas uma das maneiras. Posso falar de muitas outras maneiras- quando não é possível de uma maneira, é possível de outra.
A Carta aos Romanos no trecho de hoje nos fala, nos relembra alguns mandamentos para dizer que o amor ao próximo resume, condensa, traz em si todas as exigências: que ama, não vai matar, não vai roubar, não vai adulterar, não vai cobiçar o que não é seu, não vai mentir e assim por diante. Quando eu minto, quando eu adultero etc. Quando eu roubo é porque eu não amei ou não amei como devia então o amor ao próximo equivale a todas essas exigências, trás todas essas exigências dentro de si; é por isso que Ele diz que o amor é o cumprimento perfeito da lei não no sentido de que eu não preciso me preocupar de hoje em diante... Não, não existe esta dicotomia, é o contrário. Justamente porque amo então não mato, não roubo, não adúltero, não engano e assim por diante. Justamente porque o amor é que trás essas exigências e sem amor não é possível cumpri-las – ele é o motor, é o coração de tudo isso; o amor é coisa acima de tudo e como decorrência dele o amor ao próximo.
Jesus nos fala ao semelhante, aos olhos da Primeira Leitura, dizendo aos seus discípulos se alguém pecar contra ti, fala com ele em particular primeiro, a sós, depois se não funcionar fala com mais alguém por perto que possa ajudar e testemunhar; se não funcionar então leva a instância superior, eles levam a Igreja. A Igreja em casa, quem é a autoridade da igreja em casa? Os pais. Um irmão adverte outro irmão, conversa, deve fazê-lo. Se não convencê-lo, se não conseguir então chame mais um amigo ou chama alguém e converse. Não deu certo? Então leva a Igreja. Então vai falar com o pai, com a mãe para poder ajudar o irmão e se não for possível vai a Igreja mesmo e vai falar com o padre, olha meu irmão precisa de ajuda e eu não consegui... A Igreja... Numa comunidade, aqui, por exemplo... Os outros da paróquia, não conseguindo vai ao sacerdote depois de tentar...
Para dizer que o nosso próximo e numa escala maior a Igreja mesma são instâncias representativas de Deus para nós. Deus se manifesta através destas instâncias para nós.
Jesus termina apontando para esse poder que a comunidade tem de ajudar as pessoas as pessoas a caminhar. É muito difícil caminhar na senda do Senhor sem o apoio de uma comunidade, do irmão que corrija o passo, ou de outros que me corrijam também. Muito difícil sem uma autoridade clara e um ensinamento claro. Isso falta ao mundo e faltando orientação clara as pessoas se sentem inseguras e se perdem. A comunidade tem pelo menos esse poder profético e nós também participamos desse poder profético de ajudar os outros e fazer-los ouvir o que Deus quer que ouçam. Ajuda a enxergar o que Deus quer seja enxergado, mas a comunidade Igreja também tem poder de ligar e desligar. Portanto aquele que não quiser ouvir a Igreja considere-o como se fosse um pagão ou um publicano porque foi ele desligado e o que a Igreja liga na terra é ligado no Céu e o que ela desliga na terra, é desligado no Céu.
Há casos graves em que o direito canônico, direito da Igreja, prevê a excomunhão. O que é excomunhão? Excomunhão é uma pena medicinal até que a pessoa se toca e volta atrás que consiste em retirar a pessoa da comunhão dos demais, ou seja, nós somos membros de um corpo- a excomunhão seria como garrotear, (sabe aquela tira de borracha que se usa para tirar sangue e evitar o envenenamento da cobra). O garrote é alguma coisa que você aperta em torno de um membro, de um braço, por exemplo, de uma perna para prender a circulação. A excomunhão é como um garrote em um membro, já o sangue do corpo não vai para ele, nem o dele vai para o corpo, mas não pode ficar por muito tempo senão gangrena. A excomunhão, em casos raros e muito sérios é aplicada com a intenção de que a pessoa se toque e se reerga e volte arrependida à comunhão da Igreja, mas existem formas não declaradas ou não explícita de excomunhão. Na verdade, as excomunhões menores do que aqui, coloquemos entre aspas, mas não precisa ser uma divisão, uma separação; quando eu peco, eu estou me separando dentro de certa medida do corpo da Igreja. Respeitar o corpo é uma coisa séria, bem consciente e voluntária eu realmente me auto excomungo por assim dizer, por assim dizer (é um modo de falar); me coloco à margem, me fora. Enquanto houver o erro... Só Deus, a todos vocês mesmo que não saibam onde está... Eu os afeto de alguma maneira porque nós somos um corpo, o corpo vivo em que a falta circula de membro a membro. Então a minha ação espiritual, a ação espiritual de cada um de vocês... e aqui nós temos responsabilidade uns pelos outros. Aí então a necessidade e a legitimidade da correção fraterna. Comece pelas pessoas mais próximas, se puder, não negue uma palavra que pode salvar; se não puder tem a oração, o exemplo que abre o coração a uma palavra oportuna, o quanto antes.
Peçamos ao Senhor todos, a graça de nossa sincera conversão e que Jesus na Eucaristia seja nossa força para que sejamos profetas e anunciar a vontade de Deus... Nos de coragem de sermos profetas na escola, no trabalho, na família, enfim lá onde Jesus nos colocou com uma missão.
Proferida pelo padre Sérgio Muniz em 04/11/2011
Primeira Leitura: Livro da Profecia de Ezequiel (Ez 33,7-9)
Salmo: [Sl 94(95)]
Segunda Leitura: Carta de São Paulo aos Romanos (Rm 13,8-10)
Evangelho: (Mt 18,15-20)
Nota: Esta e outras Homilias anteriores no blog: www.verbumvitae.com

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