quinta-feira, 8 de março de 2012

Transcrição da Homilia do 25º Domingo do Tempo Comum


Transcrição da Homilia do 25º Domingo do Tempo Comum
Amados irmãos em Cristo.
Esta Liturgia, com sempre, nos traz grandes riquezas e sempre é uma surpresa descobrir algo que não tínhamos visto antes. Deus nos presenteia com a sua infinita sabedoria.
Hoje o profeta Isaias dizia: “procurai o senhor enquanto se pode encontrá-lo, chamai por Ele enquanto está perto”, isto significa que poderá chegar um dia em que será difícil invocá-lo, poderá chegar um dia em que Ele parecerá não estar por perto, embora esteja, mas parecerá não estar por perto. É preciso aproveitar o dia de hoje, não perder um segundo, aproveitá-lo em prol daquilo que mais interessa: a nossa salvação. Todos os demais assuntos podem esperar, todos os demais assuntos são secundários diante de nossa eterna salvação. A nossa eternidade depende desse curto espaço de tempo que passamos sobre a terra.
Procurai o Senhor enquanto se pode encontrar, chamai por Ele enquanto está perto”. O amanhã é uma hipótese e mesmo que essa hipótese se realize, como será este dia que nós chamamos de amanhã? Não sabemos por isso buscai o Senhor enquanto se pode encontrar e invocar enquanto está perto.
Não há que se esperar. Alguns invocam o Senhor mais tarde e chamam por Ele mais tarde e se aproximam Dele mais tarde e Ele demonstra misericórdia para com esses também. Mas aqueles que tem a graça de mais tarde, depois de um tempo de afastamento de Deus, sejam meses, anos, décadas, não sei, aquele que agrada depois de afastado de Deus, chamá-lo, invocá-lo e tê-lo perto, olhando para traz, invariavelmente, ele lamenta não ter invocado o Senhor antes, não tê-lo chamado antes, não ter se aproximado Dele muito antes. Se pudesse voltar atrás ele invocaria antes do que fez; se entregaria a Deus antes do que se entregou. Só que não pode voltar atrás.
A conversão, portanto é para já, é um assunto do dia a dia, do aqui e do agora e a conversão começa na cabeça, na mentalidade. A conversão não começa com os atos. Ninguém passa a agir diferente se não começar a pensar diferente. A conversão é um assunto primordialmente da cabeça, da mentalidade.
Sobre isso Deus nos diz, através de Isaias: “Meus pensamentos não são os vossos pensamentos e vossos caminhos não são os Meus caminhos, pois assim como o Céu esta acima da terra – e tanto ele mais sobe e pode subir- então é uma distância infinita – “assim com o Céu está acima da terra, assim os Meus caminhos acima dos vossos e os Meus pensamentos distantes dos vossos,” diz o Senhor.
Deus nos convida a subir infinitamente acima dos nossos pobres caminhos e dos nossos míseros pensamentos. Os Caminhos de Deus, os pensamentos de Deus são tão elevados para nós que às vezes parece virar tudo pelo avesso. Mas eu costumo o dizer que: quando Deus vira as coisas do avesso na verdade está colocando do lado certo. É que elas estavam do avesso e nós não sabíamos. Pensamos que Ele está virando pelo avesso quando na verdade Ele está corrigindo. Aquilo que nós pensávamos ser o lado direito é que era o avesso, mas estávamos tão acostumados ao lado errado que quando Ele coloca do lado certo parece que está pelo avesso. E assim são os caminhos e os pensamentos de Deus.
Por exemplo. Ouvindo a parábola de Jesus nesse Evangelho, nós temos o impulso de dizer: eu faria diferente. Afinal de contas coloque-se no lugar desses trabalhadores que foram contratados às nove da manhã ou ao meio dia ou às três da tarde e quando entram na fila para receber primeiro, os primeiros da fila são os que chegaram depois e depois têm eles a surpresa: todo mundo recebe uma diária. Quando chega na vez deles esperam receber mais, “eu trabalhei mais”, se ele deu uma diária a quem não mereceu uma diária então eu que trabalhei o dia todo devo consegui-lo, mas todo mundo ganhou a mesma coisa.
Ele não fez injustiça para com os que trabalharam o dia todo porque o combinado foi uma diária, ele não deu menos o que o combinado, agora ele tem a liberdade de dar mais a quem ele quer, fazer o que ele quer com o que lhe pertence; ninguém pode negar isto. Se eu dou um presente a alguém ninguém tem o direito de ficar com ciúme porque eu faço o que eu quero com o que me pertence.
Deus não foi injusto ao dar a mesma recompensa aos que chegaram depois. O Céu é o mesmo para os que se arrependeram no leito de morte, para os que o serviram a vida inteira, mas as vezes acontece que a gente pensa: eu mereço mais, Deus me deve mais. Por exemplo, imaginem aqui esses meninos pequenos já servindo o altar, tanta gente aqui, jovens também, tantos de vocês adultos, idosos que já servem a Deus tanto tempo porque haveriam de receber a mesma recompensa de um pecador recém convertido? Um ladrão, um assassino, assim por diante, um adúltero. Por quê? Bom, mas esse raciocínio é muito pequeno. Vejamos por que:
A pessoa que foi contratada depois, por exemplo, aquele que foi contratado meio dia ou aquele que foi contratado no final do dia, na última hora passou um tempo grande esperando lá na praça sem que ninguém o chamasse. Durante esse tempo ele estava angustiado e amargurado porque ele dependia daquela diária para ter o que comer com sua mulher e seus filhos no dia seguinte - uma moedinha de prata era a diária no tempo de Jesus (o pagamento de um diarista) então ele sem aquele trabalho, no dia seguinte provavelmente ele não teria com o que passar. Aqueles que foram contratados primeiro não sofreram esta angustia, pelo contrário deram graças a Deus porque no dia seguinte já estava garantido o seu sustento.
Passemos do exemplo a realidade: aquelas pessoas que se converteram depois de décadas de afastamento de Deus ou quem sabe no leito de morte, como disse no início, se pudessem voltar a trás, fariam tudo diferente e tem uma santa inveja daqueles que sempre viveram junto de Deus. Mas os que sempre vieram junto de Deus às vezes são mal agradecidos por não reconhecer que receberam uma grande graça, a graça de terem sido chamados desde cedo, a graça de servir a Deus desde o início, a graça de serem poupados de tantas feridas e tantas cicatrizes que o mundo impõe àqueles que não estão junto de Deus.
Quem serve a Deus desde o começo, desde a infância, desde a juventude é agraciado, foi poupado, foi preservado. Não conheceu o pior. Não tem determinadas cicatrizes que embora curadas, embora fechadas lembram a ferida que existiu, toda vez que a gente olha para ela. Então, às vezes uma tentação para o que estão junto de Deus, sobretudo jovens. Dizem: ah! Eu vivo numa redoma, eu não conheço nada, os meus amigos fazem de tudo e assim por diante: é uma grande tentação, grande tentação, sobretudo para os que desde cedo estão na Igreja; olha! Aqui as crianças, os jovens e peço em nome de Deus, não se deixem levar por essa tentação, pelo contrário observem aqueles que se converteram dos seus caminhos, dos seus erros e se tiverem oportunidade perguntem: escuta! Foi bom para você viver longe de Deus esse tempo todo? E ouçam bem a resposta que eles darão: se eu pudesse, eu faria tudo diferente.
Por isso devemos acostumar-nos ao modo de pensar de Deus que não é o nosso. Devemos converte a nossa mente a mente de Deus. Quando nós nos acostumamos ao modo de pensar divino, nós chegamos a uma santa indiferença. Todo mundo sabe o que é indiferença, mas nem sempre a indiferença é santa. A indiferença normalmente é: “não estou nem aí”, isso pode ser muito ruim, mas existe uma santa indiferença, querem ver? Paulo dizia na Segunda Leitura o seguinte: “irmãos, Cristo será glorificado no meu corpo, seja pela minha vida, seja pela minha morte”, ou seja, quer vivo, quer morto “Ele será glorificado em mim, pois para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro” e agora ele está dividido e ele disse “não sei o que escolher sinto-me atraído para o dois lados”. Não sei o que escolher porque eu cheguei à indiferença, a santa indiferença. Viver é bom porque vivendo eu sirvo a Cristo e aos irmãos. Morrer é bom porque eu estarei eternamente com Ele, é meu prêmio, a minha alegria eterna. Estou dividido, que Ele decida, Ele sabe o que é melhor, eu não sei.
Para que alguém chegue à indiferença diante da opção vida ou morte convenhamos é preciso que passe por muitas outras indiferenças- a indiferença em relação a ter mais dinheiro ou não ter mais dinheiro, a indiferença em morar aqui ou morar ali, a indiferença em relação a estar bem agora ou não estar e assim por diante até chegar à indiferença em relação à vida e morte. É o ponto auge da santa indiferença, mas é uma indiferença sábia porque Quem sabe tudo e Quem pode tudo e Quem ama infinitamente e que tem tudo nas mãos é Ele, então tudo deixo que Ele resolva. Faço o meu possível, faço o meu melhor, mas eu tenho meus limites e quando chego ao meu limite é hora de deixar nas mãos Dele, sem inquietude. “Viver para mim é Cristo, morre é lucro”. Temos que chegar a isso.
Essa indiferença nos dá um olhar divino sobre as coisas, sobre o sofrimento, sobre a provação, sobre as dificuldades, sobre a alegria - um olhar divino que relativiza tudo e coloca tudo no seu devido lugar, um olhar que não se abala porque está ancorado em Deus.
Esse mês de setembro eu quero concluir com dois pensamentos:
· O mês de setembro é dedicado no Brasil, pela Igreja Católica a recordar aos fiéis católicos que a Bíblia não é um enfeite da sua estante. Pode ser também, mas não é só isso, nem principalmente isso. A Bíblia é alimento cotidiano. Porque que eu digo isso? Porque para chegar ter o pensamento de Deus, para incorporar o pensamento de Deus é preciso conhecer o que Deus diz: abrir a Bíblia é Deus que fala. Então sem isso não damos o primeiro passo. O mês de setembro foi escolhido porque São Jerônimo se celebra no último dia de setembro, dia trinta e esse grande doutor da Igreja, com esse título, foi um grande tradutor da Bíblia e conhecedor da Bíblia também e uma frase dele nos acompanha e é a seguinte: “desconhecer as Escrituras é desconhecer a Cristo”.
Então não conheço a Jesus enquanto não conheço a sua palavra. Por isso queria convidar a vocês a abrirem a Bíblia todo o dia. Sugiro que o que sugeri a todo mundo esse ano. Adotei um método de não passear demais então fico num ponto: estou sugerindo a todo mundo esse ano, quem ainda não leu, leia o Livro dos Atos dos Apóstolos – comece e termine. Se quiser outra sugestão venha falar que a gente indica, mas não fique um dia sem a palavra de Deus para que seus pensamentos se convertam ao pensamento de Deus, seu olhar se torne como olhar se torne como o olhar de Deus. Essa é a primeira coisa.
E a segunda coisa da nossa conclusão é:
· Que essa Eucaristia que vamos receber nos sirva para termos força de viver em Cristo e morrer em Cristo. Essa Eucaristia é força de Cristo, Aquele que passou pela morte e venceu e se nós temos em nós Aquele que passou pela morte e venceu não temos medo nem da morte, nem da vida. Se nós temos em nós Aquele que passou pela morte e venceu, nós temos a santa indiferença daquele que não se abala com nada porque sabe-se nas mãos de Deus o Todo Poderoso e que nos ama. Peçamos essa força e na Eucaristia nós podemos obtê-la. Que Ele nos abençoe todas as intenções que hoje foram apresentadas sejam conduzidas ao Pai Celeste por meio de Jesus Cristo com nosso louvor e a nossa oração.
Proferida pelo padre Sérgio Muniz em 18 de setembro de 2011
Primeira Leitura: Livro do Profeta Isaias (Is 55,6-9)
Salmo: [Sl 144(145)]
Segunda Leitura: Carta de São Paulo aos Filipenses (Fl 1,20c-24. 27a)
Evangelho: (Mt 20,1-16a)
Nota: Esta e outras Homilias anteriores no blog: www.verbumvitae.com

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