Transcrição da Homilia do 2º Domingo da Quaresma
Jesus traz consigo um grande segredo... Que vai sendo revelado aos poucos.
Depois que os Apóstolos pregaram o Evangelho, depois que a Igreja cresceu no mundo e chegou até aos nossos dias, depois da ressurreição de Jesus e tudo mais, nós sabemos - desde o nosso catecismo - que Jesus é verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Verdadeiro homem porque é nascido da Virgem Maria e verdadeiro Deus porque Filho eterno do Pai, segunda Pessoa da Trindade.
Mas não pensem que Jesus chegou, se aproximou dos Apóstolos e logo se identificou desta maneira, até porque seria absolutamente inaceitável para eles. Jesus foi revelando aos poucos quem Ele era e a revelação total se dá na ressurreição, nas aparições posteriores à ressurreição. Hoje, contudo, neste passo do Evangelho que está um pouco antes de sua paixão e morte, Jesus mostra algo de identidade oculta aos três discípulos, Pedro Tiago e João que Ele conduz consigo ao cume da montanha.
A Transfiguração, a metamorfose luminosa de Cristo, é a manifestação do que Ele tinha dentro de Si. Todos viam a sua humanidade, mas nesse dia os Apóstolos viram, como que por um buraco de fechadura, um pouco da sua Glória Divina, sua Divindade.
A Igreja coloca esse Evangelho na Quaresma para convidar-nos a uma metamorfose luminosa, a uma transfiguração. Devemos deixar que a luz de Deus em nós brilhe. Jesus tem essa luz como própria por ser Deus com o Pai e o Espírito Santo; nós a temos como colocada em nós, no dia do nosso Batismo. Jesus é como o sol e as estrelas, que têm luz própria. Nós devemos refletir essa luz como a lua faz e os outros planetas também, pois é preciso que o mundo veja a Luz de Cristo em nós.
Eu trago para vocês o exemplo de um santo da Igreja Ortodoxa Russa, que ilustra muito bem esta nossa meditação, para vocês entenderem que a transfiguração não é só de Jesus, mas também nossa; ou seja, nós precisamos nos transfigurar por Cristo, com Cristo e em Cristo.
Trata-se de um santo que viveu no século XVIII, S. Serafim de Sarov.
Brevemente alguns traços biográficos.
Aos dezoito anos o jovem Prócoro – que nome! – entrou no mosteiro. Sua vocação se manifestara muito cedo, desde a sua infância, tendo ele sido curado de uma doença grave por intercessão de Nossa Senhora. No mosteiro, notabilizou-se por sua austeridade. Para ter uma idéia, Serafim, nome que recebeu depois na vida religiosa, jejuava da seguinte maneira: durante a semana, comia uma única vez e bem pouco.E na sexta feira não comia nada em honra da paixão de Cristo. Gostava muito do nome que lhe fora dado, Serafim, porque significa “de fogo” ou “ardente”, “inflamado”, ”flamejante.” Cabia-lhe muito bem o nome porque ele era muito ardoroso na oração; agradava-lhe a imagem do fogo. Dentro de algum tempo, mais adiante, ordenado sacerdote, procurou retirar-se num eremitério na floresta. Vivia isolado, vinha ao mosteiro rezar, fazer algum trabalho, comer, e voltava ao bosque. Alguns curiosos se aproximavam: de longe uma monja observou Serafim, certa vez, dando de comer na mão a um urso da floresta. Há numerosos relatos de animais que o visitavam, como lobos e outros, e estavam pacificamente junto a ele. A monja relatou que, naquela ocasião, ficou muito impressionada com o rosto de Serafim que, segundo ela, estava radiante, iluminado como o rosto de um anjo.
Também nos Atos dos Apóstolos, a história de Santo Estevão, nos informa que este discípulo de Jesus, conduzido ao tribunal e acusado de rejeitar a lei de Moisés, deu o testemunho de Cristo o que lhe valeu o martírio (foi apedrejado), mas, enquanto ele falava ao conselho, ao tribunal judaico, o seu rosto parecia o rosto de um anjo, diz o texto dos Atos - temos também aqui uma espécie de transfiguração.
Voltemos a São Serafim: ele recebia as pessoas que vinham procurá-lo em busca de conselho espiritual, de consolo e saudava cada pessoa dizendo: “minha alegria!” e um conselho muito frequente nos seus lábios era: “adquire a paz e muitos se salvarão ao teu redor.
Achamos que é preciso fazer muita coisa para salvar os outros. Se nós buscássemos o caminho da paz, quer dizer o caminho da fidelidade a Deus, da santificação pessoal, isso transbordaria de nós e já estaria ajudando as pessoas a se salvarem ao redor de nós. Não é preciso fazer muita coisa, mas é preciso ser muita coisa, porque o fazer sem o ser é estéril. Então, se queres salvar muitos ao teu redor, muito bem, adquire a paz, busca a paz que é Deus mesmo, e muitos se salvarão em torno de ti.
Tudo isso para chegar ao ponto que nos interessa:
Certa vez um discípulo de Serafim, também de nome estranho (esses russos!) Motovilov, conversava com o seu pai espiritual, no eremitério da floresta, e o tema da conversa era o Espírito Santo. Serafim dizia ao discípulo que é o Espírito Santo em nós que nos dá a capacidade de fazer o bem e principalmente nos dá a capacidade de orar.
Hoje a transfiguração é narrada por Mateus, mas a narração segundo Lucas traz um detalhe não registrado por Mateus (nem por marcos): quando Jesus se transfigurou diante dos seus discípulos ele estava em oração. Lucas lembra de dizê-lo. E S. Serafim dirá que o Espírito Santo em nós é que nos torna capazes de orar de nos transfigurar interiormente. O discípulo perguntou a ele: “como eu vou saber se o Espírito Santo está ou não está comigo de fato?” Serafim tentava explicar citando exemplo da Bíblia e da vida dos santos, mas o discípulo era meio limitado, digamos assim, e nada entendia. A um certo ponto, o santo quase que perde a paciência, põe as mãos nos ombros do rapaz, sacode-o e diz: nós dois aqui por exemplo, nós dois agora: nós estamos no Espírito Santo . A essa palavras os olhos de Motovilov se abriram como que para uma outra realidade, ou se quiserem, percebeu uma dimensão oculta dessa realidade que nós vivemos, que normalmente não enxergamos. Seus olhos se abriram e viu o rosto de Serafim fulgurar como o sol, tanto que teve dificuldade de fixá-lo por muito tempo, como o sol ao meio dia. Ao mesmo tempo sentiu uma alegria, uma paz que jamais sentira em toda sua vida; embora estivesse muito frio (nevava; pensem no inverno da Rússia) ele sentia calor como se estivesse no verão e também sentia em torno de si uma fragrância, um perfume que não era dessa terra. Ficou assustado com a experiência, entrou numa realidade diferente, enxergou o que normalmente nós não enxergamos e Serafim, então, para tranquilizá-lo, disse: “não temas, tu não poderias ver-me assim se também não estivesses mergulhado no Espírito Santo”.
Existe, portanto, meus irmãos, uma dimensão oculta aos nossos olhos que Deus pode nos fazer ver, como fez ver a esse rapaz, como fez ver a Pedro, Tiago e João ou nos pode fazer pelo menos intuir, sem ver tão claramente.
Lembro de um rapaz...Foi muito longe daqui (eu estava estudando fora nessa época), quando fui a um santuário, onde havia uma casa de formação para seminaristas, de uma certa ordem religiosa. Vi entre os seminaristas, um rapaz que era muito, muito feio, um dos mais feios que já vi em minha vida. Contudo quando ele sorria, misteriosamente, não sei explicar como, ficava mais bonito que todos os outros. Como é possível uma coisa dessas? Uma beleza diferente, superior, de outra ordem, que contrasta com uma feiúra palpável, evidente, quase como se Deus o tivesse feito feio só para sublinhar a beleza daquele sorriso que era o transbordamento de uma vida interior.
“Busca a paz e muitos se salvarão ao teu redor”: isso é transfiguração, isso é o que Deus quer de nós.
Vivemos uma época em que todo mundo, cada vez mais, quer ficar mais bonito a todo custo e sofre quando não consegue se enquadrar nos padrões de beleza impostos pelo mundo; quando se torna uma obsessão perder dois ou três centímetros ou ganhar dois ou três centímetros, mas não se dá a mínima atenção à alma, que fica feia, obscurecida, opaca incapaz de transparecer ou refletir a luz de Cristo.
Se nós pudéssemos ver o outro lado – o que às vezes é dado aos santos –, se nós pudéssemos ver com os olhos de Pedro, Tiago e João, nós veríamos dois fenômenos diante de nós: a transfiguração de alguns e a desfiguração de não poucos.
O que é que os olhos de Deus vêem em nós, afinal?
Examinar a própria consciência; estamos na Quaresma. Precisamos tentar enxergar-nos à luz de Deus, com os olhos de Deus. Isso significa trabalhar para tirar tudo àquilo que impede a luz de Deus fulgurar em nós. Um espelho embaçado, um espelho descascado não reflete bem a figura que se coloca diante Dele.
Devemos ser espelhos da luz de Cristo. Mas como está o espelho?
Que essa palavra de vida, que hoje ouvimos, e que esta Eucaristia nos ajudem a entrar em nosso coração e fazer guerra, com ajuda de Deus, aos obstáculos que nos impedem de refletir a sua luz para o mundo. E guiados pelo espírito Santo prossigamos esta santa celebração pedindo-lhe que nos transfigura por cristo, com Cristo e em Cristo.
Proferida e revisada pelo padre Sérgio Muniz em 20 de março de 2011.
Liturgia da Palavra:
Primeira Leitura: Livro do Gênesis (Gn 12,1-4a)
Salmo: [Sl 32(33)]
Segunda Leitura: segunda Carta de São Paulo a Timóteo (2Tm 18b-10)
Evangelho: Mateus (Mt 17,1-9)
Nota: Esta e outras Homilias anteriores no blog: www.verbumvitae.com
sexta-feira, 25 de março de 2011
quarta-feira, 16 de março de 2011
Transcrição da Homilia do 1º Domingo da Quaresma
Amados em Cristo,
A Liturgia deste início da Quaresma, primeiro domingo, nos coloca diante de um contraste que recapitula toda história espiritual da humanidade; é o contraste entre os primeiros pais do gênero humano e Jesus ou, para ficarmos com uma dupla, Adão e Cristo, entendendo por Adão os primeiros pais da humanidade. Este contraste é muito belo porque mostra como Jesus veio para desfazer a confusão e o mal criados pelo pecado do homem.
Vejamos: a desobediência dos primeiros pais aparece sob a figura do comer - nós sabemos que Gênesis tem uma linguagem simbólica, e isso é muito importante (e até numa outra ocasião poderíamos discorrer sobre isso), mas apresenta fatos realmente acontecidos, embora revestidos com uma linguagem poética. Houve uma desobediência nos primórdios da humanidade que fez decair ser humano e afetou toda humanidade. Nós herdamos a cicatriz do primeiro pecado. Qual Foi a desobediência? Jamais vamos saber exatamente (materialmente) em que consistiu.
O fruto da árvore proibida é uma figura enigmática; só sabemos que houve uma desobediência, mas é interessante que esta desobediência apareça sob a forma do comer, porque no Evangelho aparece Jesus, contrário de Adão, Jesus obediente ao Pai Celeste, e sua obediência aparece na forma do não-comer e aí começa o contraste. O comer dos primeiros pais precipitou o gênero humano na tragédia, na morte, no pecado, na desgraça. O não-comer de Jesus marca o início de sua missão redentora.
O primeiro pai da humanidade, no Jardim do Éden, dá ouvidos ao demônio e come o que lhe fora proibido e assim saiu do Jardim e foi parar no deserto; é uma imagem: transformou o Jardim, sinal de abundância, tranquilidade, felicidade e paz, num deserto. Desertificou o Jardim no qual fora colocado. Deus lhe dirá: tu trabalharás a terra, ela te produzirá espinhos, comerás o pão com o suor do teu rosto – já não é mais o jardim do Éden. Adão, por sua desobediência transforma o Éden num deserto; a vida do homem agora é um deserto: fome, sede, cansaço, desânimo, fadiga de todo tipo...
Não é por acaso que Jesus escolhe o deserto. No deserto, não mais no jardim, Ele também trava um combate com satanás, Defronta-se com a antiga serpente, mas agora o Homem é que o vence. Não come do que lhe era lícito comer. Jesus foi rigoroso no seu propósito, pois não tinha chegado à hora determinada para o fim do jejum. Renuncia até ao que lhe era lícito. E assim, com a sua obediência além de toda justiça, começa a reconduzir a humanidade do deserto ao Jardim.
Nós estamos caminhando do deserto para o Jardim do Éden. A vida cristã é um seguir a Cristo na sua luta contra satanás, é um conquistar a liberdade em Cristo, sair do deserto levados por Cristo e ser reintroduzidos no paraíso.
Paulo no-lo resumia tudo isso dizendo: como a falta de um só acarretou a condenação para todos os homens (a miséria da humanidade tem lá a sua raiz) assim o ato de justiça de um só (ele se refere à cruz de Jesus) trouxe para todos os homens a justificação que dá a vida. Jesus é o novo Adão, pai de uma humanidade renovada em seu próprio sangue.
Jesus mergulha no nosso deserto, nas nossas tentações, nas nossas dores, nas nossas necessidades, mesmo físicas, para lutar conosco. Ele não nos deixa a sós no deserto. Ele sabe que não podemos vencer o adversário que vencera Adão no princípio. A humanidade está sob o poder do maligno e não poderia vencer, a não ser com a ajuda do Alto; Jesus vem justamente nos ajudar nesta luta.
A Quaresma, entendida assim, inspirada nos quarenta dias de jejum de Jesus no deserto, é uma participação na luta de Cristo ou, se quiserem, é uma participação de Cristo na nossa luta também, e esta batalha contra o mal se dá no coração, no deserto do coração e da consciência de cada um.
E já que eu e você, cada um de nós somos chamados a participar, desçamos à prática, para não ficarmos pairando nas nuvens de uma bela reflexão sem efeitos para a vida...
Na Quaresma devemos parar, se possível hoje que é o primeiro domingo (se já não o fez desde a Quarta Feira de Cinzas) e examinar o próprio coração tentando identificar os pontos mais críticos de nossa vida diante de Deus, as dificuldades maiores que temos para ser fiéis a Deus ou se quiserem, as tentações mais frequentes ou que mais frequentemente nos derrubam. Quais são?
Sugiro que nós identifiquemos duas ou três; um é pouco demais; três está no limite; quatro começamos a perder a objetividade. Fiquemos entre dois e três itens. Identifique os pontos principais, as dificuldades principais, peça ao Espírito Santo ajuda para as identificar. Depois, então, de identificadas essas coisas, você vai traçar um plano de ação para a Quaresma, sabendo que esse é um tempo em que Deus concede graças abundantes, especiais para quem quer mudar, para quem quer se converter. Devemos aproveitar.
O seu plano de ação deve incluir algum tipo de jejum, ou seja, de renúncia, de alimento ou outra coisa, ou as duas, bem como um modo de intensificar sua oração ou de redescobrir a oração diária (porque tem gente que vem domingo, graças a Deus, e só. Mas ninguém come só no domingo, ninguém toma banho só no domingo... Portanto também deve-se praticar a oração todo dia porque é o alimento da alma). Como intensificar a sua vida de oração? Faça um plano: que jejum, que renúncia vou praticar e como vou melhorar (ou retomar) a minha vida de oração diária? Um tempo para Deus, um deserto com Jesus diante do Pai Celeste. Você tem que ter esse deserto, no seu quarto, na sua casa, pouco importa, um espaço de silêncio e oração diante de Deus.
Assim, com essas coisas tão simples que estão ao alcance de todos – não escolha coisa muito difícil. Não vá se propor três horas de oração por dia e jejum de vinte e quatro horas a pão e água, porque você faz num dia, no dia seguinte já não faz mais. Seja mais modesto, pois até aí o orgulho nos persegue, achamos que “somos demais”. Fazemos um projeto de abalar o Vaticano, mas, depois, nada acontece. Portanto, “menos”. Melhor pouco com constância do que muito heroísmo inconseqüente. Fazendo estas coisas tão simples, Deus responderá preenchendo nosso coração, nossa vida com as graças de conversão de que tanto necessitamos.
As renúncias, por exemplo, jejum de alimento ou de outra coisa (jejum de novela, jejum de palavras excessivas que levam à fofoca e a maledicências, jejum de tantas coisas inúteis embora não necessariamente negativas; jejum também do alimento) vão nos dar um distanciamento daquelas coisas que até agora me dominaram, ajudando-me a me libertar delas e, a partir do jejum, da renúncia, eu vou aderir mais a Deus e vou me tornar mais independente dessas coisas. Daqui a pouco, não é a comida que me dominará mais, mas eu dominarei a comida. Olha que beleza! Eu é que vou mandar, não é ela que vai me mandar em mim. Não é o sexo que vai mandar em mim, eu vou mandar nele; não é a língua que vai mandar em mim, mas eu vou mandar nela e assim por diante.
Renúncias para adquirir liberdade, liberdade para fazer o bem servindo a Deus. Isso é Quaresma. E o Senhor nos ajuda dando as graças necessárias para isso.
Então concluindo eu queria sublinhar, já que falamos de contrastes e paralelos, o mais belo contraste, a meu ver, no contexto da celebração de hoje. No princípio Deus colocou um limite ao homem: não tocar, não tomar, não comer; agora, depois de Jesus ter realizado a redenção em nosso favor derrotando a antiga serpente, Ele nos dá justamente uma ordem diametralmente oposta, sinal de que tudo está mudado: Tomai, comei este é meu Corpo dado por vós.
Proferida pelo padre Sérgio Muniz e 13/3/2011.
Liturgia da Palavra:
Primeira Leitura: Livro do Gênesis (Gn 2,7-9; 3,1-7)
Salmo: [Sl 50(51)]
Segunda Leitura: Carta de São Paulo aos Romanos: (Rm 5,12-19)
Evangelho: Mateus (Mt4, 1-11)
Nota: Esta e outras Homilias anteriores no blog: www.verbumvitae.com
Amados em Cristo,
A Liturgia deste início da Quaresma, primeiro domingo, nos coloca diante de um contraste que recapitula toda história espiritual da humanidade; é o contraste entre os primeiros pais do gênero humano e Jesus ou, para ficarmos com uma dupla, Adão e Cristo, entendendo por Adão os primeiros pais da humanidade. Este contraste é muito belo porque mostra como Jesus veio para desfazer a confusão e o mal criados pelo pecado do homem.
Vejamos: a desobediência dos primeiros pais aparece sob a figura do comer - nós sabemos que Gênesis tem uma linguagem simbólica, e isso é muito importante (e até numa outra ocasião poderíamos discorrer sobre isso), mas apresenta fatos realmente acontecidos, embora revestidos com uma linguagem poética. Houve uma desobediência nos primórdios da humanidade que fez decair ser humano e afetou toda humanidade. Nós herdamos a cicatriz do primeiro pecado. Qual Foi a desobediência? Jamais vamos saber exatamente (materialmente) em que consistiu.
O fruto da árvore proibida é uma figura enigmática; só sabemos que houve uma desobediência, mas é interessante que esta desobediência apareça sob a forma do comer, porque no Evangelho aparece Jesus, contrário de Adão, Jesus obediente ao Pai Celeste, e sua obediência aparece na forma do não-comer e aí começa o contraste. O comer dos primeiros pais precipitou o gênero humano na tragédia, na morte, no pecado, na desgraça. O não-comer de Jesus marca o início de sua missão redentora.
O primeiro pai da humanidade, no Jardim do Éden, dá ouvidos ao demônio e come o que lhe fora proibido e assim saiu do Jardim e foi parar no deserto; é uma imagem: transformou o Jardim, sinal de abundância, tranquilidade, felicidade e paz, num deserto. Desertificou o Jardim no qual fora colocado. Deus lhe dirá: tu trabalharás a terra, ela te produzirá espinhos, comerás o pão com o suor do teu rosto – já não é mais o jardim do Éden. Adão, por sua desobediência transforma o Éden num deserto; a vida do homem agora é um deserto: fome, sede, cansaço, desânimo, fadiga de todo tipo...
Não é por acaso que Jesus escolhe o deserto. No deserto, não mais no jardim, Ele também trava um combate com satanás, Defronta-se com a antiga serpente, mas agora o Homem é que o vence. Não come do que lhe era lícito comer. Jesus foi rigoroso no seu propósito, pois não tinha chegado à hora determinada para o fim do jejum. Renuncia até ao que lhe era lícito. E assim, com a sua obediência além de toda justiça, começa a reconduzir a humanidade do deserto ao Jardim.
Nós estamos caminhando do deserto para o Jardim do Éden. A vida cristã é um seguir a Cristo na sua luta contra satanás, é um conquistar a liberdade em Cristo, sair do deserto levados por Cristo e ser reintroduzidos no paraíso.
Paulo no-lo resumia tudo isso dizendo: como a falta de um só acarretou a condenação para todos os homens (a miséria da humanidade tem lá a sua raiz) assim o ato de justiça de um só (ele se refere à cruz de Jesus) trouxe para todos os homens a justificação que dá a vida. Jesus é o novo Adão, pai de uma humanidade renovada em seu próprio sangue.
Jesus mergulha no nosso deserto, nas nossas tentações, nas nossas dores, nas nossas necessidades, mesmo físicas, para lutar conosco. Ele não nos deixa a sós no deserto. Ele sabe que não podemos vencer o adversário que vencera Adão no princípio. A humanidade está sob o poder do maligno e não poderia vencer, a não ser com a ajuda do Alto; Jesus vem justamente nos ajudar nesta luta.
A Quaresma, entendida assim, inspirada nos quarenta dias de jejum de Jesus no deserto, é uma participação na luta de Cristo ou, se quiserem, é uma participação de Cristo na nossa luta também, e esta batalha contra o mal se dá no coração, no deserto do coração e da consciência de cada um.
E já que eu e você, cada um de nós somos chamados a participar, desçamos à prática, para não ficarmos pairando nas nuvens de uma bela reflexão sem efeitos para a vida...
Na Quaresma devemos parar, se possível hoje que é o primeiro domingo (se já não o fez desde a Quarta Feira de Cinzas) e examinar o próprio coração tentando identificar os pontos mais críticos de nossa vida diante de Deus, as dificuldades maiores que temos para ser fiéis a Deus ou se quiserem, as tentações mais frequentes ou que mais frequentemente nos derrubam. Quais são?
Sugiro que nós identifiquemos duas ou três; um é pouco demais; três está no limite; quatro começamos a perder a objetividade. Fiquemos entre dois e três itens. Identifique os pontos principais, as dificuldades principais, peça ao Espírito Santo ajuda para as identificar. Depois, então, de identificadas essas coisas, você vai traçar um plano de ação para a Quaresma, sabendo que esse é um tempo em que Deus concede graças abundantes, especiais para quem quer mudar, para quem quer se converter. Devemos aproveitar.
O seu plano de ação deve incluir algum tipo de jejum, ou seja, de renúncia, de alimento ou outra coisa, ou as duas, bem como um modo de intensificar sua oração ou de redescobrir a oração diária (porque tem gente que vem domingo, graças a Deus, e só. Mas ninguém come só no domingo, ninguém toma banho só no domingo... Portanto também deve-se praticar a oração todo dia porque é o alimento da alma). Como intensificar a sua vida de oração? Faça um plano: que jejum, que renúncia vou praticar e como vou melhorar (ou retomar) a minha vida de oração diária? Um tempo para Deus, um deserto com Jesus diante do Pai Celeste. Você tem que ter esse deserto, no seu quarto, na sua casa, pouco importa, um espaço de silêncio e oração diante de Deus.
Assim, com essas coisas tão simples que estão ao alcance de todos – não escolha coisa muito difícil. Não vá se propor três horas de oração por dia e jejum de vinte e quatro horas a pão e água, porque você faz num dia, no dia seguinte já não faz mais. Seja mais modesto, pois até aí o orgulho nos persegue, achamos que “somos demais”. Fazemos um projeto de abalar o Vaticano, mas, depois, nada acontece. Portanto, “menos”. Melhor pouco com constância do que muito heroísmo inconseqüente. Fazendo estas coisas tão simples, Deus responderá preenchendo nosso coração, nossa vida com as graças de conversão de que tanto necessitamos.
As renúncias, por exemplo, jejum de alimento ou de outra coisa (jejum de novela, jejum de palavras excessivas que levam à fofoca e a maledicências, jejum de tantas coisas inúteis embora não necessariamente negativas; jejum também do alimento) vão nos dar um distanciamento daquelas coisas que até agora me dominaram, ajudando-me a me libertar delas e, a partir do jejum, da renúncia, eu vou aderir mais a Deus e vou me tornar mais independente dessas coisas. Daqui a pouco, não é a comida que me dominará mais, mas eu dominarei a comida. Olha que beleza! Eu é que vou mandar, não é ela que vai me mandar em mim. Não é o sexo que vai mandar em mim, eu vou mandar nele; não é a língua que vai mandar em mim, mas eu vou mandar nela e assim por diante.
Renúncias para adquirir liberdade, liberdade para fazer o bem servindo a Deus. Isso é Quaresma. E o Senhor nos ajuda dando as graças necessárias para isso.
Então concluindo eu queria sublinhar, já que falamos de contrastes e paralelos, o mais belo contraste, a meu ver, no contexto da celebração de hoje. No princípio Deus colocou um limite ao homem: não tocar, não tomar, não comer; agora, depois de Jesus ter realizado a redenção em nosso favor derrotando a antiga serpente, Ele nos dá justamente uma ordem diametralmente oposta, sinal de que tudo está mudado: Tomai, comei este é meu Corpo dado por vós.
Proferida pelo padre Sérgio Muniz e 13/3/2011.
Liturgia da Palavra:
Primeira Leitura: Livro do Gênesis (Gn 2,7-9; 3,1-7)
Salmo: [Sl 50(51)]
Segunda Leitura: Carta de São Paulo aos Romanos: (Rm 5,12-19)
Evangelho: Mateus (Mt4, 1-11)
Nota: Esta e outras Homilias anteriores no blog: www.verbumvitae.com
Homilia do 9º Domingo do Tempo Comum
Homilia do 9º Domingo do Tempo Comum
Aos nossos habituais leitores advertimos que o texto que segue, na verdade, foi composto para substituir a homilia original, apresentando brevemente as principais idéias, visto que a gravação se perdeu.
Jesus afirma que quem ouve sua palavra e a põe em prática é como quem constrói sobre a rocha; e quem a ouve e não a põe em prática, é como quem constrói sobre a areia. Em ambos os casos vem à tempestade, a chuva, os ventos, as enchentes. Mas no primeiro caso a casa resiste e no segundo “grande é sua ruína”.
Notemos, primeiro que não está em questão aquele que, sem culpa própria, ignora o Evangelho. Nos dois casos é pré-requisito ter ouvido a Palavra.
Notemos ainda que as intempéries, símbolo das dificuldades e sofrimentos, se abatem indistintamente sobre os que constroem sua vida (=casa) sobre o Evangelho e os que não o fazem. Servir a Cristo e segui-lo, portanto, não é garantia de isenção dos problemas que afetam toda a humanidade. Estamos longe daquela religiosidade tosca e primitiva segundo a qual os males só se abatem sobre os maus e os amigos de Deus estariam isentos dos mesmos.
Contudo, a grande diferença é o resultado final: quem constrói sobre a rocha resiste. Passa a tempestade e ele continua de pé, vitorioso.
A rocha é um símbolo bíblico tradicional para a imutabilidade (=fidelidade) divina no meio da mutabilidade de todas as coisas. Esta mutabilidade é representada pela areia. Só Deus é Rocha firme, como cantam tantos Salmos, inabalável no meio das vagas do mar bravio da história ou no meio das dunas mutáveis deste mundo.
Construir sobre qualquer coisa, pessoa ou afeto que não seja Deus mesmo, é construir sobre areia movediça ou sobre as ondas. E quando estes frágeis fundamentos caem, cai toda a construção de uma vida; cai sobre a cabeça de seu construtor...
É, no fundo, a mesma temática da leitura do Dt (Deuteronômio), temática, aliás, igualmente clássica na S. Escritura – os dois caminhos: “Eis que ponho diante de vós a bênção e a maldição. A bênção se obedecerdes aos mandamentos do Senhor vosso Deus (...) a maldição, se desobedecerdes...”. No entanto, a forma sob a qual o Evangelho nos apresentava esta temática tem um grande mérito: o de evidenciar que bênção e maldição não são acrescentadas por Deus ab extrínseco (de fora), como retribuição, recompensa ou castigo. Não. Se a casa permanece de pé ou se ela cai, não é porque Deus a sustente artificialmente ou a derrube; mas é em conseqüência da escolha de quem construiu de um modo ou de outro. Bênção e maldição são frutos já contidos respectivamente nas sementes da obediência e da desobediência.
Mas, finalmente, para que nem o fiel, que constrói sua vida sobre o Evangelho, se ensoberbeça atribuindo a si o mérito de sua própria fidelidade e salvação, vale recordar o que nos dizia o Apóstolo: “Somos justificados gratuitamente, pela graça de Deus, em virtude da redenção em Cristo Jesus”, cabendo, pois, a Jesus, antes que a nós, o mérito de nossa “virtude” e fidelidade.
Liturgia da Palavra
Primeira Leitura: Livro do Deuteronômio (Dt 11,18-28.32
Salmo: {Sl 30(31)]
Segunda Leitura: Carta de São Paulo aos Romanos: (Rm 3,21-25ª.28)
Evangelho: João ((Jo 15,5)
Redigida pelo padre Sérgio Muniz em 6/3/2011.
Nota: Esta e outras Homilias anteriores no blog: www.verbumvitae.com
Aos nossos habituais leitores advertimos que o texto que segue, na verdade, foi composto para substituir a homilia original, apresentando brevemente as principais idéias, visto que a gravação se perdeu.
Jesus afirma que quem ouve sua palavra e a põe em prática é como quem constrói sobre a rocha; e quem a ouve e não a põe em prática, é como quem constrói sobre a areia. Em ambos os casos vem à tempestade, a chuva, os ventos, as enchentes. Mas no primeiro caso a casa resiste e no segundo “grande é sua ruína”.
Notemos, primeiro que não está em questão aquele que, sem culpa própria, ignora o Evangelho. Nos dois casos é pré-requisito ter ouvido a Palavra.
Notemos ainda que as intempéries, símbolo das dificuldades e sofrimentos, se abatem indistintamente sobre os que constroem sua vida (=casa) sobre o Evangelho e os que não o fazem. Servir a Cristo e segui-lo, portanto, não é garantia de isenção dos problemas que afetam toda a humanidade. Estamos longe daquela religiosidade tosca e primitiva segundo a qual os males só se abatem sobre os maus e os amigos de Deus estariam isentos dos mesmos.
Contudo, a grande diferença é o resultado final: quem constrói sobre a rocha resiste. Passa a tempestade e ele continua de pé, vitorioso.
A rocha é um símbolo bíblico tradicional para a imutabilidade (=fidelidade) divina no meio da mutabilidade de todas as coisas. Esta mutabilidade é representada pela areia. Só Deus é Rocha firme, como cantam tantos Salmos, inabalável no meio das vagas do mar bravio da história ou no meio das dunas mutáveis deste mundo.
Construir sobre qualquer coisa, pessoa ou afeto que não seja Deus mesmo, é construir sobre areia movediça ou sobre as ondas. E quando estes frágeis fundamentos caem, cai toda a construção de uma vida; cai sobre a cabeça de seu construtor...
É, no fundo, a mesma temática da leitura do Dt (Deuteronômio), temática, aliás, igualmente clássica na S. Escritura – os dois caminhos: “Eis que ponho diante de vós a bênção e a maldição. A bênção se obedecerdes aos mandamentos do Senhor vosso Deus (...) a maldição, se desobedecerdes...”. No entanto, a forma sob a qual o Evangelho nos apresentava esta temática tem um grande mérito: o de evidenciar que bênção e maldição não são acrescentadas por Deus ab extrínseco (de fora), como retribuição, recompensa ou castigo. Não. Se a casa permanece de pé ou se ela cai, não é porque Deus a sustente artificialmente ou a derrube; mas é em conseqüência da escolha de quem construiu de um modo ou de outro. Bênção e maldição são frutos já contidos respectivamente nas sementes da obediência e da desobediência.
Mas, finalmente, para que nem o fiel, que constrói sua vida sobre o Evangelho, se ensoberbeça atribuindo a si o mérito de sua própria fidelidade e salvação, vale recordar o que nos dizia o Apóstolo: “Somos justificados gratuitamente, pela graça de Deus, em virtude da redenção em Cristo Jesus”, cabendo, pois, a Jesus, antes que a nós, o mérito de nossa “virtude” e fidelidade.
Liturgia da Palavra
Primeira Leitura: Livro do Deuteronômio (Dt 11,18-28.32
Salmo: {Sl 30(31)]
Segunda Leitura: Carta de São Paulo aos Romanos: (Rm 3,21-25ª.28)
Evangelho: João ((Jo 15,5)
Redigida pelo padre Sérgio Muniz em 6/3/2011.
Nota: Esta e outras Homilias anteriores no blog: www.verbumvitae.com
sábado, 5 de março de 2011
Transcrição da Homilia do 7º Domingo do Tempo Comum
Continuamos acompanhando neste domingo a sequência do Sermão da Montanha. Jesus continua a sua comparação da Lei Nova, que Ele traz, com a Lei Antiga que Moisés dera ao povo. A nova Lei não nega aquela Lei antiga, mas a leva a sua plenitude.
Hoje, na Liturgia, ressoa como eixo de tudo aquelas palavras do Livro do Levítico: Sede santos porque Eu, o Senhor vosso Deus, sou Santo. Aparece uma obrigação geral de santidade para o povo de Deus, do Antigo, mas também do Novo Testamento. Aqui já devemos nos prevenir contra uma mentalidade muito difusa que é de defender-se, eximir-se de tal exigência: ‘eu não sou santo nem quero ser, muitos dizem, como se essa atitude fosse uma grande virtude. Muito bem, eu não sou santo, mas quero ser. Essa é a atitude e devo ter porque Deus assim o quer. Obrigação geral: não é para os padres apenas, nem só para o Papa, nem só para as monjas: é para todo o povo de Deus.
Já São Paulo nos lembrava: vós sois o templo de Deus e o Espírito Santo, o Espírito de Deus habita em vós. Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá. Isso significa que nós, corpo e alma, somos de Deus, somos templo da glória divina e é por isso que em nosso ser por inteiro, corpo e alma, devemos buscar viver a vontade de Deus em todas as coisas. A santidade é isso, é viver como Deus quer. Viver a minha missão, a minha vocação, o meu dia-a-dia, as coisas normais de cada dia, da melhor maneira possível para a glória de Deus e com a ajuda d’Ele, claro. Não é nada diferente disso! Portanto não tens desculpas porque está a teu alcance. Sede santos porque o Senhor vosso Deus, sou santo.
A palavra santo significa, na sua origem mais remota, separado (já falamos disso antes). Deus é santo porque ele é separado das outras coisas, ou seja, Deus não se confunde com a natureza, com o cosmos, Deus não se confunde com a luz, com a energia cósmica... Não! Deus não se confunde com nada do que Ele criou e a criação, sejam as plantas, os animais, os homens, não são parte de Deus como alguns se metem a dizer por aí.
Deus não tem partes, Deus é totalmente uno e é simples, não é composto de partes. Eu não sou parte de Deus, você também não. Nós somos criaturas e o universo que nós vemos é criatura; Ele é o Criador. Ele é distinto, portanto separado, embora esteja presente em tudo o que Ele fez. Ele não se confunde com nada com que fez, está muito acima, infinitamente acima de todo o resto. Portanto, é santo, é o totalmente Outro, distinto, separado. É separado, sobretudo, de todos outros deuses (e isso para Israel tinha uma importância muito grande) porque Ele não é como os deuses dos egípcios, por exemplo, de onde eles tinham vindo após quatrocentos anos, muitos dos quais de escravidão no Egito. Deus não é como os deuses do Egito, da Babilônia ou de Canaã. Ele é diferente, é separado deles. Os deuses dos pagãos brigam entre si, vingam-se uns dos outros, têm inúmeras fraquezas, casam-se, geram filhos, têm intrigas como numa novela.
Deus não é assim. Deus é o diferente e por isso o povo de Deus deve ser diferente, distinto, separado, não pode ser igual ao demais, aos adoradores daqueles outros deuses. Quem olha alguém que pertence ao povo de Israel deve poder dizer: “esse aqui é diferente, ele é distinto, ele é separado, ele pertence a Deus, a um Deus diferente” e quem olha um cristão hoje deve dizer a mesma coisa.
Portanto eu, que pertenço a Deus, não posso pensar como todo mundo, eu não posso agir ou reagir como todo mundo, dizer as mesmas coisas, sem pensar no que estou dizendo. Não posso simplesmente seguir tudo aquilo que se move, não posso me guiar pela massa porque eu sou separado, fui separado – santificado – pelo Batismo para pertencer a Deus.
Deus, para isso, deu ao povo de Israel uma Lei a ser seguida, de modo que eles fossem um povo diferente dos outros povos e se identificassem com o seu Deus, um Deus que não comete o homicídio – portanto não matarás –; um Deus que não mente – portanto não mentirás –; um Deus que não trai – portanto não cometerás adultério – e assim por diante. Serás como teu Deus, na medida do teu possível, é claro. Melhor: na medida da graça que Ele te dá para fazeres a sua vontade.
Aqui me vem uma imagem, que já evoquei certa vez, mas é importante. Tais imagens ajudam a captar e absorver melhor a idéia central que o Evangelho nos quer passar: a imagem do lírio.
Nós compramos lírios em vasinhos cultivados em floriculturas, em lugares de cultivo intensivo de flores. Mas o lírio na natureza, espontaneamente, nasce preferencialmente em lugares pantanosos. O pântano é mais ou menos como o mangue que é uma realidade mais conhecida nossa; mangue é um pântano de água salgada, litorâneo. Mas imagina um mangue de água doce, num lago; é um pântano. Essa região aqui de Botafogo, chegando até a Lagoa e arredores, era uma região pantanosa nós primórdios da colonização. Até hoje nossa igreja tem problemas com a água que brota quando chove, do subsolo. Aqui em baixo desse chão é tudo oco; temos três galerias (essa rachadura no chão aí tem uma história... Um dia eu conto para quem não sabe) e a água ela tende a subir quando chove, alagando o terreno ai em baixo, pantanoso. Na Voluntários da Pátria passa um rio debaixo da rua...
O pântano é uma realidade lamacenta e... Fedorenta! É como o mangue: aquele cheiro, não é só o lixo da poluição. É natural dele porque vem de matéria orgânica em decomposição, pois é um lugar que a natureza usa para reciclar espontaneamente os seus dejetos e refugos.
Então imagina um lugar malcheiroso, lamacento, sombrio e, no meio desse pântano, crescendo exuberante, um lírio. Lírio, e existem de várias cores – eu prefiro o lírio branco; mas existem lírios muito bonitos, cor de rosa, laranja, vermelhos até, enfim. Escolha o seu lírio. Veja: ele este desabrochando no pântano. Abrindo a sua corola e as suas pétalas... É espantosa a distinção, o contraste entre a beleza fulgurante do lírio, suponhamos, do lírio branco, e a lama do pântano. E o contraste não pára por aí, porque nós sabemos por experiência como essa flor é perfumada. Há também o contraste entre o perfume do lírio e o fedor do pântano.
De onde vem que possa brotar uma tal maravilha de cor, de fulgor, de perfume, num lugar desses? Vem de Deus. Se isto é possível, no pântano, isso é possível na minha vida e na tua vida também.
Bem vindos ao pântano, nós vivemos nele! Deus está dizendo que tu podes e deves ser um lírio. Ele está disposto a fazer esse milagre. Cheirar com o cheiro do pântano, estar enlameado com a lama do pântano, é mais fácil, mais cômodo, mais “natural”, diriam alguns... Mas não é uma grande meta para a nossa vida. E aí entra a Lei do Senhor apontando caminhos para sermos diferentes, isto é, sermos santos no meio do pântano. Hoje, por exemplo, aparece a relação com o próximo: Não tenhas ódio ou rancor, repreende o teu irmão para não seres cúmplice do pecado dele. Não busques vingança, ama o teu próximo como a ti mesmo.
No Evangelho nós temos um eco deste ensinamento quando Jesus, com outras palavras, diz mais ou menos as mesmas coisas: sede perfeitos como o vosso pai Celeste é perfeito. Mas é um pouco diferente: lá, sede santos, sede separados porque Eu o Senhor sou separado, mas aqui a coisa é colocada de modo um tanto mais difícil. Jesus aperta o parafuso: sede perfeitos como o vosso Pai Celeste é perfeito. Ora, Jesus, assim também não dá! De fato. Porque, então Ele falou desse jeito? Porque, se Ele nos propusesse outro modelo: “sê perfeita como a tua vizinha”... Da para chegar, se é que já não chegou e ultrapassou em algum aspecto, pelo menos; “sê perfeito como teu chefe”, ah, ah... Essa é fácil! Já estou além dele, quem sabe... Cada um tem de si uma idéia, geralmente um pouco inflacionada. Mas pode ser verdade. Sê perfeito como, digamos, como irmã Dulce... É mais difícil, mas é possível. E mesmo alguém não tendo chegado lá pode achar que já chegou e vai dizer: Já está bom! Mas se Jesus diz: sede perfeitos como o Pai Celeste, aí então ninguém vai poder jamais cruzar os braços e dizer: “Já está bom assim, eu já cheguei”.
Jesus propõe o que está sempre além, de modo que não paremos de caminhar rumo à perfeição, de modo a não acharmos nunca que já está bom, para que não tenhamos aquela atitude comodista ao examinar a nossa consciência: “eu não mato, eu não roubo, não faço mal a ninguém” – refrão triste na boca e na mente dos católicos, que lhes impede uma verdadeira conversão, como se todo o mal do mundo fosse matar ou roubar. E não se sabe também o que estão querendo dizer quando dizem “não faço mal a ninguém”, porque a gente faz muito mal a si e aos outros, mas não se dá conta. Essa atitude impede a verdadeira conversão, impede uma boa confissão dos próprios pecados e assim por diante.
E como é que o Pai Celeste é perfeito? Ele faz chover sobre os justos e os injustos. Já viu a chuva cair só em cima de quem é fiel a Deus? E não cair em cima do outro? Só vai cair no campo ou na terra de quem é amigo de Deus? E no vizinho a chuva não cai? Pelo contrário: a chuva sobre todos, justos e injustos. E o sol? Brilha só para os amigos de Deus? Não! Também para os inimigos de Deus, para os que combatem a Deus brilha o sol; os bens que Deus criou são para todos. Então nós devemos copiar a atitude de Deus, nós devemos fazer o sol do perdão brilhar sobre justos e injustos e a chuva da nossa oração cair sobre bons e maus e assim sereis filhos do vosso Pai que está nos céus.
Eu queria terminar esta reflexão de hoje fazendo, nesse momento, um breve instante de oração, obedecendo ao que Jesus acaba de nos mandar: amai vossos inimigos, rezai por aqueles vos perseguem; porque nós ouvimos essas coisas muito bonitas, mas depois chegamos em casa, a vida é outra, e ninguém se lembra de mais nada até o domingo que vem...
Vamos fazer agora o que Jesus mandou. Entremos no nosso próprio coração, se possível fechemos os olhos e pensemos um pouco nas pessoas que nos ofenderam, nas pessoas que nos são desagradáveis, aqueles que são inimigos, naqueles que nos fizeram mal, nos perseguiram, nos perseguem; aquelas pessoas a quem temos dificuldade de perdoar, estejam vivas ou mortas, presentes ou distantes de nós... Digamos os nomes dessas pessoas diante de Deus...
E agora peçamos a Deus que purifique o nosso coração de todo o rancor, de toda a mágoa; que nos ajude a perdoar verdadeiramente e, mais uma vez dizendo o nome dessas pessoas, peçamos que Deus tenha misericórdia delas e toque os seus corações.
Senhor nosso Deus, Pai Celeste misericordioso, nós vos damos graças porque nos tornastes dignos, apesar dos nossos pecados, de estarmos aqui na vossa presença. Nós Vos suplicamos Senhor, por todos aqueles que apresentamos diante de Vós neste momento. Curai as feridas dos nossos corações e dos corações deles em relação a nós. Derramai sobre todos, as torrentes da vossa misericórdia; dai-nos a graça de agir como Vós, fazendo brilhar o sol do perdão e derramando a chuva da oração sobre aqueles que nos fizeram mal, para que possamos ser dignos filhos vossos, ó Pai Celeste, e participar dignamente da mesa desta Eucaristia, por Cristo nosso Senhor, Amem.
Proferida e revisada pelo padre Sérgio Muniz em 20 de fevereiro de 2011.
Liturgia da Palavra
Primeira Leitura: Livro do Levitíco: (Lv 17,1-2.17-18)
Salmo: [Sl 102(103)]
Segunda Leitura: Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios (1Cor 3,16-21)
Evangelho: Mateus (Mt 5,38-48)
Nota: Esta e outras Homilias anteriores no blog: www.verbumvitae.com
Continuamos acompanhando neste domingo a sequência do Sermão da Montanha. Jesus continua a sua comparação da Lei Nova, que Ele traz, com a Lei Antiga que Moisés dera ao povo. A nova Lei não nega aquela Lei antiga, mas a leva a sua plenitude.
Hoje, na Liturgia, ressoa como eixo de tudo aquelas palavras do Livro do Levítico: Sede santos porque Eu, o Senhor vosso Deus, sou Santo. Aparece uma obrigação geral de santidade para o povo de Deus, do Antigo, mas também do Novo Testamento. Aqui já devemos nos prevenir contra uma mentalidade muito difusa que é de defender-se, eximir-se de tal exigência: ‘eu não sou santo nem quero ser, muitos dizem, como se essa atitude fosse uma grande virtude. Muito bem, eu não sou santo, mas quero ser. Essa é a atitude e devo ter porque Deus assim o quer. Obrigação geral: não é para os padres apenas, nem só para o Papa, nem só para as monjas: é para todo o povo de Deus.
Já São Paulo nos lembrava: vós sois o templo de Deus e o Espírito Santo, o Espírito de Deus habita em vós. Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá. Isso significa que nós, corpo e alma, somos de Deus, somos templo da glória divina e é por isso que em nosso ser por inteiro, corpo e alma, devemos buscar viver a vontade de Deus em todas as coisas. A santidade é isso, é viver como Deus quer. Viver a minha missão, a minha vocação, o meu dia-a-dia, as coisas normais de cada dia, da melhor maneira possível para a glória de Deus e com a ajuda d’Ele, claro. Não é nada diferente disso! Portanto não tens desculpas porque está a teu alcance. Sede santos porque o Senhor vosso Deus, sou santo.
A palavra santo significa, na sua origem mais remota, separado (já falamos disso antes). Deus é santo porque ele é separado das outras coisas, ou seja, Deus não se confunde com a natureza, com o cosmos, Deus não se confunde com a luz, com a energia cósmica... Não! Deus não se confunde com nada do que Ele criou e a criação, sejam as plantas, os animais, os homens, não são parte de Deus como alguns se metem a dizer por aí.
Deus não tem partes, Deus é totalmente uno e é simples, não é composto de partes. Eu não sou parte de Deus, você também não. Nós somos criaturas e o universo que nós vemos é criatura; Ele é o Criador. Ele é distinto, portanto separado, embora esteja presente em tudo o que Ele fez. Ele não se confunde com nada com que fez, está muito acima, infinitamente acima de todo o resto. Portanto, é santo, é o totalmente Outro, distinto, separado. É separado, sobretudo, de todos outros deuses (e isso para Israel tinha uma importância muito grande) porque Ele não é como os deuses dos egípcios, por exemplo, de onde eles tinham vindo após quatrocentos anos, muitos dos quais de escravidão no Egito. Deus não é como os deuses do Egito, da Babilônia ou de Canaã. Ele é diferente, é separado deles. Os deuses dos pagãos brigam entre si, vingam-se uns dos outros, têm inúmeras fraquezas, casam-se, geram filhos, têm intrigas como numa novela.
Deus não é assim. Deus é o diferente e por isso o povo de Deus deve ser diferente, distinto, separado, não pode ser igual ao demais, aos adoradores daqueles outros deuses. Quem olha alguém que pertence ao povo de Israel deve poder dizer: “esse aqui é diferente, ele é distinto, ele é separado, ele pertence a Deus, a um Deus diferente” e quem olha um cristão hoje deve dizer a mesma coisa.
Portanto eu, que pertenço a Deus, não posso pensar como todo mundo, eu não posso agir ou reagir como todo mundo, dizer as mesmas coisas, sem pensar no que estou dizendo. Não posso simplesmente seguir tudo aquilo que se move, não posso me guiar pela massa porque eu sou separado, fui separado – santificado – pelo Batismo para pertencer a Deus.
Deus, para isso, deu ao povo de Israel uma Lei a ser seguida, de modo que eles fossem um povo diferente dos outros povos e se identificassem com o seu Deus, um Deus que não comete o homicídio – portanto não matarás –; um Deus que não mente – portanto não mentirás –; um Deus que não trai – portanto não cometerás adultério – e assim por diante. Serás como teu Deus, na medida do teu possível, é claro. Melhor: na medida da graça que Ele te dá para fazeres a sua vontade.
Aqui me vem uma imagem, que já evoquei certa vez, mas é importante. Tais imagens ajudam a captar e absorver melhor a idéia central que o Evangelho nos quer passar: a imagem do lírio.
Nós compramos lírios em vasinhos cultivados em floriculturas, em lugares de cultivo intensivo de flores. Mas o lírio na natureza, espontaneamente, nasce preferencialmente em lugares pantanosos. O pântano é mais ou menos como o mangue que é uma realidade mais conhecida nossa; mangue é um pântano de água salgada, litorâneo. Mas imagina um mangue de água doce, num lago; é um pântano. Essa região aqui de Botafogo, chegando até a Lagoa e arredores, era uma região pantanosa nós primórdios da colonização. Até hoje nossa igreja tem problemas com a água que brota quando chove, do subsolo. Aqui em baixo desse chão é tudo oco; temos três galerias (essa rachadura no chão aí tem uma história... Um dia eu conto para quem não sabe) e a água ela tende a subir quando chove, alagando o terreno ai em baixo, pantanoso. Na Voluntários da Pátria passa um rio debaixo da rua...
O pântano é uma realidade lamacenta e... Fedorenta! É como o mangue: aquele cheiro, não é só o lixo da poluição. É natural dele porque vem de matéria orgânica em decomposição, pois é um lugar que a natureza usa para reciclar espontaneamente os seus dejetos e refugos.
Então imagina um lugar malcheiroso, lamacento, sombrio e, no meio desse pântano, crescendo exuberante, um lírio. Lírio, e existem de várias cores – eu prefiro o lírio branco; mas existem lírios muito bonitos, cor de rosa, laranja, vermelhos até, enfim. Escolha o seu lírio. Veja: ele este desabrochando no pântano. Abrindo a sua corola e as suas pétalas... É espantosa a distinção, o contraste entre a beleza fulgurante do lírio, suponhamos, do lírio branco, e a lama do pântano. E o contraste não pára por aí, porque nós sabemos por experiência como essa flor é perfumada. Há também o contraste entre o perfume do lírio e o fedor do pântano.
De onde vem que possa brotar uma tal maravilha de cor, de fulgor, de perfume, num lugar desses? Vem de Deus. Se isto é possível, no pântano, isso é possível na minha vida e na tua vida também.
Bem vindos ao pântano, nós vivemos nele! Deus está dizendo que tu podes e deves ser um lírio. Ele está disposto a fazer esse milagre. Cheirar com o cheiro do pântano, estar enlameado com a lama do pântano, é mais fácil, mais cômodo, mais “natural”, diriam alguns... Mas não é uma grande meta para a nossa vida. E aí entra a Lei do Senhor apontando caminhos para sermos diferentes, isto é, sermos santos no meio do pântano. Hoje, por exemplo, aparece a relação com o próximo: Não tenhas ódio ou rancor, repreende o teu irmão para não seres cúmplice do pecado dele. Não busques vingança, ama o teu próximo como a ti mesmo.
No Evangelho nós temos um eco deste ensinamento quando Jesus, com outras palavras, diz mais ou menos as mesmas coisas: sede perfeitos como o vosso pai Celeste é perfeito. Mas é um pouco diferente: lá, sede santos, sede separados porque Eu o Senhor sou separado, mas aqui a coisa é colocada de modo um tanto mais difícil. Jesus aperta o parafuso: sede perfeitos como o vosso Pai Celeste é perfeito. Ora, Jesus, assim também não dá! De fato. Porque, então Ele falou desse jeito? Porque, se Ele nos propusesse outro modelo: “sê perfeita como a tua vizinha”... Da para chegar, se é que já não chegou e ultrapassou em algum aspecto, pelo menos; “sê perfeito como teu chefe”, ah, ah... Essa é fácil! Já estou além dele, quem sabe... Cada um tem de si uma idéia, geralmente um pouco inflacionada. Mas pode ser verdade. Sê perfeito como, digamos, como irmã Dulce... É mais difícil, mas é possível. E mesmo alguém não tendo chegado lá pode achar que já chegou e vai dizer: Já está bom! Mas se Jesus diz: sede perfeitos como o Pai Celeste, aí então ninguém vai poder jamais cruzar os braços e dizer: “Já está bom assim, eu já cheguei”.
Jesus propõe o que está sempre além, de modo que não paremos de caminhar rumo à perfeição, de modo a não acharmos nunca que já está bom, para que não tenhamos aquela atitude comodista ao examinar a nossa consciência: “eu não mato, eu não roubo, não faço mal a ninguém” – refrão triste na boca e na mente dos católicos, que lhes impede uma verdadeira conversão, como se todo o mal do mundo fosse matar ou roubar. E não se sabe também o que estão querendo dizer quando dizem “não faço mal a ninguém”, porque a gente faz muito mal a si e aos outros, mas não se dá conta. Essa atitude impede a verdadeira conversão, impede uma boa confissão dos próprios pecados e assim por diante.
E como é que o Pai Celeste é perfeito? Ele faz chover sobre os justos e os injustos. Já viu a chuva cair só em cima de quem é fiel a Deus? E não cair em cima do outro? Só vai cair no campo ou na terra de quem é amigo de Deus? E no vizinho a chuva não cai? Pelo contrário: a chuva sobre todos, justos e injustos. E o sol? Brilha só para os amigos de Deus? Não! Também para os inimigos de Deus, para os que combatem a Deus brilha o sol; os bens que Deus criou são para todos. Então nós devemos copiar a atitude de Deus, nós devemos fazer o sol do perdão brilhar sobre justos e injustos e a chuva da nossa oração cair sobre bons e maus e assim sereis filhos do vosso Pai que está nos céus.
Eu queria terminar esta reflexão de hoje fazendo, nesse momento, um breve instante de oração, obedecendo ao que Jesus acaba de nos mandar: amai vossos inimigos, rezai por aqueles vos perseguem; porque nós ouvimos essas coisas muito bonitas, mas depois chegamos em casa, a vida é outra, e ninguém se lembra de mais nada até o domingo que vem...
Vamos fazer agora o que Jesus mandou. Entremos no nosso próprio coração, se possível fechemos os olhos e pensemos um pouco nas pessoas que nos ofenderam, nas pessoas que nos são desagradáveis, aqueles que são inimigos, naqueles que nos fizeram mal, nos perseguiram, nos perseguem; aquelas pessoas a quem temos dificuldade de perdoar, estejam vivas ou mortas, presentes ou distantes de nós... Digamos os nomes dessas pessoas diante de Deus...
E agora peçamos a Deus que purifique o nosso coração de todo o rancor, de toda a mágoa; que nos ajude a perdoar verdadeiramente e, mais uma vez dizendo o nome dessas pessoas, peçamos que Deus tenha misericórdia delas e toque os seus corações.
Senhor nosso Deus, Pai Celeste misericordioso, nós vos damos graças porque nos tornastes dignos, apesar dos nossos pecados, de estarmos aqui na vossa presença. Nós Vos suplicamos Senhor, por todos aqueles que apresentamos diante de Vós neste momento. Curai as feridas dos nossos corações e dos corações deles em relação a nós. Derramai sobre todos, as torrentes da vossa misericórdia; dai-nos a graça de agir como Vós, fazendo brilhar o sol do perdão e derramando a chuva da oração sobre aqueles que nos fizeram mal, para que possamos ser dignos filhos vossos, ó Pai Celeste, e participar dignamente da mesa desta Eucaristia, por Cristo nosso Senhor, Amem.
Proferida e revisada pelo padre Sérgio Muniz em 20 de fevereiro de 2011.
Liturgia da Palavra
Primeira Leitura: Livro do Levitíco: (Lv 17,1-2.17-18)
Salmo: [Sl 102(103)]
Segunda Leitura: Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios (1Cor 3,16-21)
Evangelho: Mateus (Mt 5,38-48)
Nota: Esta e outras Homilias anteriores no blog: www.verbumvitae.com
Assinar:
Comentários (Atom)