terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Edição da Homilia do 7º Domingo da Páscoa


Edição da Homilia do 7º Domingo da Páscoa
Que Ele abra o vosso coração à sua luz para que saibais qual a riqueza da glória que está na vossa herança, nos céus, a riqueza da glória que está na vossa herança com os santos. E nos perguntamos: que significam essas palavras de São Paulo na Segunda Leitura da hoje? Qual seria essa riqueza de glória que nos está destinada? Qual seria essa riqueza tão misteriosa que o faz pedir a Deus que abra o nosso coração para que nós possamos conhecê-la?
A resposta nos é dada pela festa de hoje. Se olharmos para Jesus Cristo, que sobe aos Céus, ressuscitado, levando consigo a nossa humanidade – Ele está ressuscitado, Ele saiu vivo do sepulcro com o seu próprio corpo glorificado e sobe aos Céus levando tudo aquilo que Ele foi aqui na terra, tudo o que Ele recebeu nascendo da Virgem Maria. Ele vem até nós, Deus, Segunda Pessoa da Trindade, Filho Eterno, faz-se homem no seio da Virgem Maria e volta à glória do Pai, carregando consigo essa humanidade. Ele não a deixa por aqui.
Um de nós mora na Trindade, um de nós pertence à Trindade – um homem no seio da Trindade Santa, embora seja também, é claro, filho de Deus. Ele tem a mesma divindade do Pai, sempre teve, mas agora também tem a nossa humanidade. Nossa carne reina no trono de Deus.
Daí nós tiramos duas considerações importantes. A primeira é que o corpo é uma coisa nobre, importante também do ponto de vista da religião.
O cristianismo não é uma religião de salvação meramente espiritual. É claro que a alma é a parte mais importante e a salvação diz respeito em primeiro lugar à alma, mas também ao corpo porque a salvação é para o homem inteiro. E vendo Jesus ressuscitado dos mortos, nós lembramos aquilo que dizia o apóstolo Paulo na Primeira Carta aos Coríntios: Primeiro Cristo, depois os que pertencem a Cristo, ressuscitarão por ocasião da sua vinda. Portanto, Cristo é primícia de uma grande colheita. Ele antecipa na sua carne o que acontecerá na carne dos seus fiéis. E nós diremos: “creio na ressurreição da carne e na vida eterna”.
Um de nós na Trindade, dizíamos, então a carne também é chamada a viver na glória celeste. Por isso não podemos tratar o corpo como se não importasse, por isso a religião tem a ver também com o corpo, com a corporeidade humana. Por exemplo: para não ficarmos flutuando nas afirmações genéricas, vamos descer ao concreto - existem dois mandamentos que dizem respeito ao corpo. “Não matarás” – isso implica a obrigação de cuidar da própria vida, da própria saúde e também de não colocar em risco nem a vida nem a saúde alheia, dentre outras coisas. Depois, “não pecar contra a castidade”. Esse mandamento nos obriga a respeitar o corpo e a sexualidade humana como coisa sagrada e não como artigo de mercado ou como carne de açougue que é como estão tratando já há muito tempo, a sexualidade humana. Deveria ser vista e tratada como coisa sublime e sagrada. Não se trata uma coisa sagrada de qualquer maneira, não se usa coisa sagrada de qualquer maneira. Então, são coisas que dizem respeito ao corpo. A religião tem a ver com o corpo também, porque o corpo também é chamado à gloria celeste.
E agora, uma segunda consideração é que esse processo de ressurreição, de glorificação, já começou em nós a partir do momento em que recebemos o Espírito Santo. Aí se abre o horizonte para a festa do domingo que vem.
A oração inicial de hoje começava dizendo: Ó Deus eterno e todo poderoso a ascensão do vosso Filho já é nossa vitória. Por quê? Ele abre caminho para nós, Ele mesmo diz: vou preparar para vós um lugar. E Ele antecipa a nossa glória. Ele é um de nós, ou seja, carne da nossa carne. Já na glória de Deus estamos representados. A vida do Cristo ressuscitado já começou a operar dentro de nós. Vejam o que Ele diz aos discípulos: João batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo dentro de poucos dias. Então, os apóstolos, depois da ascensão de Jesus, ficaram esperando. E no décimo dia, a contar da ascensão de Jesus, receberam o Espírito Santo. Será a festa do Espírito Santo, Pentecostes, na próxima semana. E recebendo o Espírito Santo, eles recebem, através deste Dom, tudo o que é de Jesus. Então, a ressurreição de Jesus passa a operar em nós. A morte de Jesus também passa a operar em nós. Nós passamos a possuir a vida divina dele, também. Somos feitos uma só coisa com Cristo pelo dom do Espírito Santo e assim se constitui a Igreja: é o povo unido a Cristo no poder do Espírito Santo. Nós somos os seus membros e Ele é a nossa cabeça.
Fomos batizados no Espírito Santo e agora, então, a vitória Dele não é só dele, é nossa também. Dentro de nós, de um modo misterioso, mas muito real, vai operando morte e ressurreição. E se nós não atrapalharmos demais e, quem sabe, conseguimos ajudar um pouquinho, essa morte irá dando fim às coisas que nos afastam de Deus e fazendo crescer tudo àquilo que é de Cristo, tudo aquilo que é de Deus, também em nós.
O objetivo pelo qual nós recebemos o Espírito Santo também está claro na liturgia de hoje: o Cristo sobe aos céus, mas não nos deixa órfãos e diz: Recebereis o poder do Espírito Santo para serdes minhas testemunhas aqui e em todos os confins da terra. E o Evangelho chegou até nós graças a isto. É a força que move a Igreja ao longo dos séculos, apesar de todas as dificuldades.
Sereis minhas testemunhas – para ser testemunha de Cristo é preciso uma força do alto. É por isso que Ele nos deu esta força, o Espírito Santo.
No Evangelho, Ele diz a mesma coisa de uma maneira parecida, mas não exatamente com as mesmas palavras. Diz: ide e fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os e ensinando-lhes a observar tudo o que Eu vos mandei.
Eis aí, o mundo está cheio de pessoas que foram batizadas, mas poucos são os que se preocupam em tentar observar o que Ele mandou. Qual é o nosso papel de nós, testemunhas do Cristo ressuscitado? Ajudar essas pessoas que estão bem perto de nós a descobrir a identidade cristã que elas receberam, mas é como se não existisse. Temos que mostrar o que é isto, temos que viver isto, espelhando Cristo para elas. Isso é ser testemunhas de Jesus – ajudar os que foram batizados a serem discípulos, porque há batizados que não são discípulos, nem querem ser e nem se preocupam em ser. Talvez nem nós mesmos não nos preocupemos tanto assim – deveríamos nos preocupar em ser como Jesus quer, em fazer o que Ele mandou e assim seremos o Evangelho para os outros. Evangelho aberto para que os outros vejam.
Ele nos promete a sua assistência, Ele diz: Eis que estarei convosco até o fim dos tempos. Então, Ele não nos abandona. Esta missão é grandiosa, mas está ao alcance de cada um, na sua medida, nos seus limites. A sua missão, Deus lhe deu naquele círculo de pessoas, naquele espaço, naquele tempo que é o seu tempo, que é o seu espaço, seu círculo de pessoas. Ali, você pode e deve ser Cristo, reflexo de Cristo. Isso se dá, porque você conta com a assistência do Espírito Santo.
Nessa Semana, que prepara a festa de Pentecostes, vamos intensificar a nossa oração pedindo o reavivamento desta chama celeste em nós. Que o Senhor acenda com vigor ou reacenda ou faça crescer a chama do seu Santo Espírito em nossos corações para podermos iluminar, inflamar também o mundo à nossa volta. E nesta Eucaristia, Jesus cumpre o que prometera através do Seu Espírito. Através da Hóstia consagrada, Ele permanece conosco todos os dias até o fim do mundo.
Proferida pelo padre Sérgio Muniz em 5 de junho de 2011.
Primeira Leitura: Atos dos Apóstolos (At 1,1-11)
Salmo: [Sl 46(47)]
Segunda Leitura: Carta de São Paulo aos Efésios (Ef 1,17-23)
Evangelho: (Mt 28,16-20)
Nota:Esta e outras Homilias anteriores no blog: www.verbumvitae.com

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