Transcrição da Homilia (extraordinária) do 32º domingo do Tempo Comum
Celebramos hoje a multidão que vestida de branco e de pé diante do trono do cordeiro, trás nas mãos as palmas da vitória, pois que tendo passado pela grande tribulação lavaram suas vestes no sangue do cordeiro. São os santos conhecidos e anônimos, aqueles que alimentando-se da visão gloriosa da face do Senhor, são por essa luz transfigurados; a essa porção da Igreja que já habita o Céu, chamamos de Igreja Triunfante.
Há poucos dias, lembrávamos nossos falecidos e por eles oferecíamos preces e o santo sacrifício da Missa. Aqueles que partiram desta vida já totalmente purificados, entram na visão da face, mas os que embora morrendo na graça divina tiverem necessidade de alguma purificação devem esperar até que esteja concluída, são a Igreja Padecente que pode benefeciar-se da oração dos vivos; o estado de purificação passiva em que se encontram é o purgatório.
E nós aqui na terra constituímos o povo em marcha para o Céu que milita sobre o estandarte da cruz contra as forças das trevas e a serviço do Reino, somos a Igreja Militante, ajudados pelas preces da Igreja Triunfante, por seus exemplos buscamos chegar aonde chegaram, passando por onde passaram.
E por onde passaram? Pela grande tribulação.
Por onde passaram? Pela pobreza de espírito, pela aflição, pela mansidão, pela fome e sede de justiça, pela prática da misericórdia, pela pureza de coração, pela promoção da paz, pela perseguição por causa da justiça, pelas injúrias e perseguições por causa de Cristo.
Diz a Escritura que todos somos chamados à santidade: sede santos porque eu sou santo, diz o Senhor e o apóstolo Paulo frequentemente chama santos os simplesmente cristãos a quem endereça às suas cartas.
Santo em sua origem significa separado, aqui no caso, separado para Deus para seu serviço; é sinônimo de consagrado.
A santidade se diz então em dois sentidos: designa a consagração objetiva de uma coisa ou pessoa a Deus (esse é o primeiro sentido), é sinônimo de sacralidade. Nesse sentido todo batizado é santo, ou seja, consagrado ao Senhor, mas santidade (diz-se também num segundo sentido) designa a correspondência da vida, do procedimento à consagração do próprio ser.
Esta é a santidade subjetiva para a qual devemos tender, fazendo com que nosso agir corresponda ao nosso ser.
O que é o pecado senão a falta de correspondência entre o que somos e o que fazemos. É o contraste entre a santidade objetiva do nosso estado de filhos de Deus e nosso procedimento.
Devemos, pois buscar essa correspondência segundo a frase do grande papa São Leão Magno: cristão torna-te aquilo que és.
O caminho para isso não é fazer coisas extraordinárias, mas fazer extraordinariamente bem, coisas simples, ordinárias. Elevar a rotina a serviço de amor à glória de Deus ; é torná-la extraordinária pela fé, no amor; torná-la extraordinária pela nossa comunhão com Cristo.
Nossa união com Ele iniciada no Batismo, alimentada na Eucaristia é que dá valores de salvação eterna aos menores atos cumpridos por amor a Deus, na fé. E vamos, pois ao caminho que Deus nos deu sempre em comunhão com o Senhor Jesus. Façamos de toda nossa vida um serviço à sua glória. Ofereçamos ao Pai, por meio dele todas as coisas e, sobretudo aproximemo-nos com frequência da fonte da misericórdia o coração de Cristo aberto na cruz donde jorra para nós uma torrente de salvação: o sangue do cordeiro.
Sim, aproximemo-nos para sermos purificados, alvejados pelo sangue de Cristo, na oração, na leitura e escuta devota da palavra, na digna recepção da Eucaristia e, sobretudo no sacramento da penitência, instituído por Jesus, para restituir ao esplendor batismal, a veste de nossas almas manchadas pelo pecado.
Assim, caminhando em tudo por Cristo, com Cristo e em Cristo daremos ao pai toda honra e toda a glória e chegaremos a ser plenamente o que já começamos a ser: cristão torna-te aquilo que és.
Redigida pelo padre Sergio Muniz em 21/11/2010
LITURGIA DA PALAVRA
Primeira Leitura: Livro do Apocalipse de São João (Ap 7,2-4.9-14)
Salmo: [23(24)]
Segunda Leitura: Primeira carta de São João (1 Jo 3,1-3)
Evangelho: Mateus ( Mt 5,1-12a)
terça-feira, 30 de novembro de 2010
segunda-feira, 15 de novembro de 2010
Homilia do 33º domingo do Tempo Comum
Transcrição da Homilia do 33º domingo do Tempo Comum
Não ficará pedra sobre pedra!
O que Jesus disse do templo de Jerusalém (que, aliás, foi destruído pelos romanos aproximadamente quarenta anos depois de sua morte e ressurreição, ou seja, no ano setenta), o que Jesus disse do templo nós podemos aplicar a este universo que nós vemos diante de nós.
Não ficará pedra sobre pedra, tudo será transformado, tudo será modificado. A Bíblia não dá detalhes do que virá, mas fala de novos céus e nova terra: não ficará pedra sobre pedra e algumas das pedras que ocupam o topo estarão por baixo e algumas das pedras que ocupam os alicerces estarão no topo, porque Deus vai julgar a terra inteira – com justiça julgará.
O templo que foi derrubado pelos romanos durante uma revolta dos israelitas que já não aguentavam mais o domínio dos romanos, o templo é a imagem do universo, a casa de Deus e dos homens. O templo era uma espécie de resumo simbólico do céu e da terra. Este mundo com suas galáxias, com seus espaços infinitos, é o grande templo que será transformado, modificado.
A Primeira Leitura fala desse dia que os profetas chamavam “o dia do Senhor”. Dizia Malaquias: eis que virá o dia do Senhor, abrasador como fornalha em que todos os soberbos e ímpios serão como palha.
O apóstolo Paulo falando do mesmo assunto, numa de suas cartas disse que: o dia do Senhor será como um fogo e esse fogo provará as nossas obras.
Há quem construa com palha, há quem construa com madeira, há quem construa com pedras, há que construa com ouro e prata. E o fogo provará a obra e a pessoa de cada um.
Quem deve temer? Aquele que constrói com palha. Quem são esses (Malaquias diz nessa leitura que nós ouvimos): os soberbos e os ímpios. A soberba, o orgulho é a raiz de todo pecado e fonte da impiedade que é a oposição a Deus e aos seus caminhos. Esse dia há de queimá-los.
Mas e os amigos de Deus, qual deve ser a nossa expectativa (supondo que sejamos nós amigos de Deus)? Para vós que temeis meu nome nascerá o sol da justiça trazendo salvação em suas asas.
O dia do Senhor, o dia da grande reviravolta, o dia em que o triunfo do bem será manifestado definitivamente, inquestionavelmente. O dia em que o triunfo de Cristo será claro.
Por enquanto esse triunfo, mesmo sendo um fato: Jesus é o vencedor da morte, do pecado, é o vencedor do demônio, é o vencedor das trevas. Então mesmo sendo um fato, esse triunfo ele ainda não brilha com total evidência para que nós possamos ter o mérito da fé.
Que mérito haveria em acreditar naquilo que é evidente; nós acreditamos e temos boas razões para acreditar, mas acreditamos em algo que não se manifestou na sua totalidade porque a vida desse mundo ou é uma escuridão ou é uma penumbra. Há luz só diante da face de Deus. Quem anda longe de Deus, anda na escuridão, quem anda na fé tem uma luz, mas é uma luz limitada suficiente para o próximo passo e para o passo depois dele. Quem anda na fé anda na penumbra, mas tem luz para evitar os buracos e os obstáculos. Essa luz da fé, como digo, ainda não é a luz da evidência total para termos o mérito da visão a Deus, o mérito da fé.
O Evangelho diz que no dia do Senhor, no dia da renovação universal, coisas pavorosas e grandes sinais no céu vão acontecer. Mas ninguém fique com medo, se é amigo de Deus não tema porque o sol da justiça brilhará para você.
Qual a razão de todos os textos nos profetas e no Evangelho e no livro do Apocalipse que é um livro difícil (cuidado não vai ler de qualquer maneira porque há muita simbologia ali)? Qual a razão desta linguagem comum quando se fala da conclusão da história do mundo e do homem? Qual o sentido dessa convulsão universal? Coisas e pavorosas e grandes sinais no céu etc.
A razão já disse aqui, mas vou repetir, a razão é que toda arrumação depende de uma desarrumação prévia. Você quer reformar uma sala, você tem que quebrar e tirar muita coisa. Você quer reformar uma casa inteira, a bagunça vai ser maior, o barulho vai ser maior, a poirada vai ser maior, o entulho vai ser muito mais volumoso. Quanto maior é a reforma que se quer fazer tanto maior a bagunça que a precede. O barulho, a chateação, a despesa, não é assim?
Eis que existe um universo a restaurar então imaginem o tamanho desta bagunça que terá que preceder a restauração universal; é uma lei natural.
Se você vai fazer um almoço comum durante a semana, você suja algumas panelas e alguns pratos. Se você vai fazer um almoço de festa para a família num domingo ou numa data especial, haja prato, haja panela e daqui a pouco, mais a diante no Natal quem vai fazer uma ceia então já prepare a dor de cabeça e o trabalho e o cansaço.
Assim também a festa da reinauguração do universo que decaiu, que se carcomeu por causa do pecado; a festa da reinauguração da criação será precedida por uma grande confusão como qualquer festa, causa uma grande confusão, por exemplo, na sua cozinha e na sua agenda. Coisas inesperadas acontecem quando se está preparando um grande evento, nós sabemos disso.
Portanto é a mesma coisa.
Para nós, os amigos de Deus isso tudo é motivo de esperança e alegria. Não temos que temer (a não ser que estejamos dentre os soberbos e os ímpios) e é por isso que desde já temos que trabalhar dentro de nós a grande revolução.
Jesus diz que antes que estas coisas aconteçam, vão acontecer revoltas e levantes e guerras e revoluções e a história da humanidade está cheia dessas coisas e elas ainda não acabaram. Por quê? Essas revoluções, esses levantes, essas revoltas até, revoltas da própria natureza.
Acontece que o mundo, desde o pecado original em diante começou a descer a ladeira como uma avalanche, uma espécie de avalanche de pedras ou de neve, descendo de uma montanha altíssima. Assim a humanidade começou a se precipitar nos abismos para longe de Deus.
Jesus Cristo veio ao mundo e com a força da sua vinda e da sua morte e da sua ressurreição, Jesus imprimiu um movimento contrário a essa avalanche, de baixo para cima, poderosíssimo movimento, não só para detê-la, mas para levar tudo ao lugar de onde não devia ter saído. Imaginem quando essas duas forças, a que desce da montanha e a que vem de baixo se chocam, qual o resultado? E é por isso que a história está em convulsão.
E é por isso que no dizer de Paulo: a criação inteira sofre e geme dores de parto até que se manifeste a glória dos filhos de Deus. É por isso que a criação inteira anseia, diz o apóstolo, por esse dia: vai ser libertada de todos os males. Mas enquanto isso está em processo, enquanto as avalanches, as duas forças de baixo e de cima estão se encontrando, acontecem às revoluções.
Não são necessariamente ruins. É a lei da história redimida por Cristo. No meio dessas revoluções muitos cristãos fiéis a Jesus são levados a julgamento diante dos reis e governadores; são os mártires, os que são os que são perseguidos por causa da fé, ainda hoje. Basta folhear as páginas da história que nós vamos encontrar isto, até hoje. Por exemplo, ainda em culpa, perseguição religiosa está sonhando em começar a terminar; na China comunista idem. Nós temos a possibilidade de vir à missa perto de casa; na China muitos católicos têm que ir a missa escondidos caminham quilômetros para não serem descobertos e seguidos; ninguém fala isso por causa do grande mercado consumidor que é a China e grande poderio militar. As potências econômicas calam essas coisas.
Falam-se em direitos humanos para defender aborto e outras coisas, pervertendo o sentido das palavras, mas não se fala em direitos humanos nessas questões porque envolve a religião católica, perseguida.
Eles vos odiarão por causa de meu nome, matarão alguns de vós, mas não perdereis um fio de cabelo de vossa cabeça.
Ué! Alguém perde a cabeça inteira e Jesus vem dizer que não perdereis um fio de cabelo da vossa cabeça? Veja João Batista, por exemplo, vejam tantos mártires como são Paulo Apóstolo que perderam a cabeça, longe de um fio, todos os fios da barba e da cabeça. Não é uma contradição isto?
Não!
Qual o sentido? Não perdeis significa: não terá sido em vão. Não será sem recompensa condigna, a vitória chegará para esses que o mundo desprezou, para esses que foram odiados ou incompreendidos por causa de Cristo.
Se na sua família, ou no seu trabalho a avalanche está descendo e você representa a força de Cristo que tenta colocar as coisas para cima, vai haver choque e você vai ser incompreendido, necessariamente, talvez perseguido, talvez julgado.
Quem sabe alguém tem que dar a vida por Cristo.
Se nesse mundo nós representamos a força da restauração que é à força da salvação, da ressurreição, a força do mal que vem de cima para baixo vai se chocar conosco e vai haver guerra e vai haver revolução. E essa é a mais importante das revoluções: permanecei firmes, porque permanecendo firmes é que ireis conquistar a vossa vida.
E o que falar da revolução dentro de nós, que se chama conversão? Dentro de nós também há uma avalanche que desce impiedosa para arrasar tudo. Nós sentimos o peso dos sentimentos desregrados, do desnorteamento de nossos sentimentos, das nossas idéias, pensamentos, ações, inclinações. Uma avalanche que quer esmagar tudo, mas unidos a Jesus Cristo e alimentados pela Eucaristia e por essa palavra de vida, nós temos força para empurrar tudo de volta. É preciso estar disposto para a luta, para a grande revolução, mas a força vem de Cristo, é por isto que estamos aqui, é para isto que estamos aqui, para aurir desta força e poder aproveitá-la na grande revolução que nos espera, mal coloquemos o pé fora desta porta.
Proferida pelo padre Sérgio Muniz – Botafogo em 14/11/2010
Não ficará pedra sobre pedra!
O que Jesus disse do templo de Jerusalém (que, aliás, foi destruído pelos romanos aproximadamente quarenta anos depois de sua morte e ressurreição, ou seja, no ano setenta), o que Jesus disse do templo nós podemos aplicar a este universo que nós vemos diante de nós.
Não ficará pedra sobre pedra, tudo será transformado, tudo será modificado. A Bíblia não dá detalhes do que virá, mas fala de novos céus e nova terra: não ficará pedra sobre pedra e algumas das pedras que ocupam o topo estarão por baixo e algumas das pedras que ocupam os alicerces estarão no topo, porque Deus vai julgar a terra inteira – com justiça julgará.
O templo que foi derrubado pelos romanos durante uma revolta dos israelitas que já não aguentavam mais o domínio dos romanos, o templo é a imagem do universo, a casa de Deus e dos homens. O templo era uma espécie de resumo simbólico do céu e da terra. Este mundo com suas galáxias, com seus espaços infinitos, é o grande templo que será transformado, modificado.
A Primeira Leitura fala desse dia que os profetas chamavam “o dia do Senhor”. Dizia Malaquias: eis que virá o dia do Senhor, abrasador como fornalha em que todos os soberbos e ímpios serão como palha.
O apóstolo Paulo falando do mesmo assunto, numa de suas cartas disse que: o dia do Senhor será como um fogo e esse fogo provará as nossas obras.
Há quem construa com palha, há quem construa com madeira, há quem construa com pedras, há que construa com ouro e prata. E o fogo provará a obra e a pessoa de cada um.
Quem deve temer? Aquele que constrói com palha. Quem são esses (Malaquias diz nessa leitura que nós ouvimos): os soberbos e os ímpios. A soberba, o orgulho é a raiz de todo pecado e fonte da impiedade que é a oposição a Deus e aos seus caminhos. Esse dia há de queimá-los.
Mas e os amigos de Deus, qual deve ser a nossa expectativa (supondo que sejamos nós amigos de Deus)? Para vós que temeis meu nome nascerá o sol da justiça trazendo salvação em suas asas.
O dia do Senhor, o dia da grande reviravolta, o dia em que o triunfo do bem será manifestado definitivamente, inquestionavelmente. O dia em que o triunfo de Cristo será claro.
Por enquanto esse triunfo, mesmo sendo um fato: Jesus é o vencedor da morte, do pecado, é o vencedor do demônio, é o vencedor das trevas. Então mesmo sendo um fato, esse triunfo ele ainda não brilha com total evidência para que nós possamos ter o mérito da fé.
Que mérito haveria em acreditar naquilo que é evidente; nós acreditamos e temos boas razões para acreditar, mas acreditamos em algo que não se manifestou na sua totalidade porque a vida desse mundo ou é uma escuridão ou é uma penumbra. Há luz só diante da face de Deus. Quem anda longe de Deus, anda na escuridão, quem anda na fé tem uma luz, mas é uma luz limitada suficiente para o próximo passo e para o passo depois dele. Quem anda na fé anda na penumbra, mas tem luz para evitar os buracos e os obstáculos. Essa luz da fé, como digo, ainda não é a luz da evidência total para termos o mérito da visão a Deus, o mérito da fé.
O Evangelho diz que no dia do Senhor, no dia da renovação universal, coisas pavorosas e grandes sinais no céu vão acontecer. Mas ninguém fique com medo, se é amigo de Deus não tema porque o sol da justiça brilhará para você.
Qual a razão de todos os textos nos profetas e no Evangelho e no livro do Apocalipse que é um livro difícil (cuidado não vai ler de qualquer maneira porque há muita simbologia ali)? Qual a razão desta linguagem comum quando se fala da conclusão da história do mundo e do homem? Qual o sentido dessa convulsão universal? Coisas e pavorosas e grandes sinais no céu etc.
A razão já disse aqui, mas vou repetir, a razão é que toda arrumação depende de uma desarrumação prévia. Você quer reformar uma sala, você tem que quebrar e tirar muita coisa. Você quer reformar uma casa inteira, a bagunça vai ser maior, o barulho vai ser maior, a poirada vai ser maior, o entulho vai ser muito mais volumoso. Quanto maior é a reforma que se quer fazer tanto maior a bagunça que a precede. O barulho, a chateação, a despesa, não é assim?
Eis que existe um universo a restaurar então imaginem o tamanho desta bagunça que terá que preceder a restauração universal; é uma lei natural.
Se você vai fazer um almoço comum durante a semana, você suja algumas panelas e alguns pratos. Se você vai fazer um almoço de festa para a família num domingo ou numa data especial, haja prato, haja panela e daqui a pouco, mais a diante no Natal quem vai fazer uma ceia então já prepare a dor de cabeça e o trabalho e o cansaço.
Assim também a festa da reinauguração do universo que decaiu, que se carcomeu por causa do pecado; a festa da reinauguração da criação será precedida por uma grande confusão como qualquer festa, causa uma grande confusão, por exemplo, na sua cozinha e na sua agenda. Coisas inesperadas acontecem quando se está preparando um grande evento, nós sabemos disso.
Portanto é a mesma coisa.
Para nós, os amigos de Deus isso tudo é motivo de esperança e alegria. Não temos que temer (a não ser que estejamos dentre os soberbos e os ímpios) e é por isso que desde já temos que trabalhar dentro de nós a grande revolução.
Jesus diz que antes que estas coisas aconteçam, vão acontecer revoltas e levantes e guerras e revoluções e a história da humanidade está cheia dessas coisas e elas ainda não acabaram. Por quê? Essas revoluções, esses levantes, essas revoltas até, revoltas da própria natureza.
Acontece que o mundo, desde o pecado original em diante começou a descer a ladeira como uma avalanche, uma espécie de avalanche de pedras ou de neve, descendo de uma montanha altíssima. Assim a humanidade começou a se precipitar nos abismos para longe de Deus.
Jesus Cristo veio ao mundo e com a força da sua vinda e da sua morte e da sua ressurreição, Jesus imprimiu um movimento contrário a essa avalanche, de baixo para cima, poderosíssimo movimento, não só para detê-la, mas para levar tudo ao lugar de onde não devia ter saído. Imaginem quando essas duas forças, a que desce da montanha e a que vem de baixo se chocam, qual o resultado? E é por isso que a história está em convulsão.
E é por isso que no dizer de Paulo: a criação inteira sofre e geme dores de parto até que se manifeste a glória dos filhos de Deus. É por isso que a criação inteira anseia, diz o apóstolo, por esse dia: vai ser libertada de todos os males. Mas enquanto isso está em processo, enquanto as avalanches, as duas forças de baixo e de cima estão se encontrando, acontecem às revoluções.
Não são necessariamente ruins. É a lei da história redimida por Cristo. No meio dessas revoluções muitos cristãos fiéis a Jesus são levados a julgamento diante dos reis e governadores; são os mártires, os que são os que são perseguidos por causa da fé, ainda hoje. Basta folhear as páginas da história que nós vamos encontrar isto, até hoje. Por exemplo, ainda em culpa, perseguição religiosa está sonhando em começar a terminar; na China comunista idem. Nós temos a possibilidade de vir à missa perto de casa; na China muitos católicos têm que ir a missa escondidos caminham quilômetros para não serem descobertos e seguidos; ninguém fala isso por causa do grande mercado consumidor que é a China e grande poderio militar. As potências econômicas calam essas coisas.
Falam-se em direitos humanos para defender aborto e outras coisas, pervertendo o sentido das palavras, mas não se fala em direitos humanos nessas questões porque envolve a religião católica, perseguida.
Eles vos odiarão por causa de meu nome, matarão alguns de vós, mas não perdereis um fio de cabelo de vossa cabeça.
Ué! Alguém perde a cabeça inteira e Jesus vem dizer que não perdereis um fio de cabelo da vossa cabeça? Veja João Batista, por exemplo, vejam tantos mártires como são Paulo Apóstolo que perderam a cabeça, longe de um fio, todos os fios da barba e da cabeça. Não é uma contradição isto?
Não!
Qual o sentido? Não perdeis significa: não terá sido em vão. Não será sem recompensa condigna, a vitória chegará para esses que o mundo desprezou, para esses que foram odiados ou incompreendidos por causa de Cristo.
Se na sua família, ou no seu trabalho a avalanche está descendo e você representa a força de Cristo que tenta colocar as coisas para cima, vai haver choque e você vai ser incompreendido, necessariamente, talvez perseguido, talvez julgado.
Quem sabe alguém tem que dar a vida por Cristo.
Se nesse mundo nós representamos a força da restauração que é à força da salvação, da ressurreição, a força do mal que vem de cima para baixo vai se chocar conosco e vai haver guerra e vai haver revolução. E essa é a mais importante das revoluções: permanecei firmes, porque permanecendo firmes é que ireis conquistar a vossa vida.
E o que falar da revolução dentro de nós, que se chama conversão? Dentro de nós também há uma avalanche que desce impiedosa para arrasar tudo. Nós sentimos o peso dos sentimentos desregrados, do desnorteamento de nossos sentimentos, das nossas idéias, pensamentos, ações, inclinações. Uma avalanche que quer esmagar tudo, mas unidos a Jesus Cristo e alimentados pela Eucaristia e por essa palavra de vida, nós temos força para empurrar tudo de volta. É preciso estar disposto para a luta, para a grande revolução, mas a força vem de Cristo, é por isto que estamos aqui, é para isto que estamos aqui, para aurir desta força e poder aproveitá-la na grande revolução que nos espera, mal coloquemos o pé fora desta porta.
Proferida pelo padre Sérgio Muniz – Botafogo em 14/11/2010
sábado, 13 de novembro de 2010
Transcrição da homilia do 30º domingo do Tempo Comum
Ouvimos que “Jesus contou esta parábola para os que confiavam na própria justiça”, ou seja, nas próprias virtudes, no próprio merecimento e desprezavam os demais.
Merecimento... podíamos pensar um pouco sobre isso hoje. Às vezes as pessoas dizem com uma certa ingenuidade – imaginando que seja um grande ato de humildade: “Meu Deus, se eu merecer me dê... se eu merecer, Deus me dará”.
Retire isso da sua oração, pelo amor de Deus, corte essa parte...
“Se eu merecer”? Nós merecemos bem pouco, para não dizer abaixo de nada. Não temos mérito, propriamente dito, diante de Deus. Nós já vamos entender porquê. Existe, sim, um mérito secundário diante de Deus, um mérito por modo de falar, mas se formos usar a linguagem no sentido estrito, não temos mérito diante de Deus.
Podemos ter demérito, isso sim. Também vamos entender porquê. O nosso mérito é relativo, não absoluto; é secundário, como dizia, e a razão é que todo o bem que nós podemos fazer, só o podemos fazer porque Deus nos dá a graça de fazer.
Quem lhe deu a inteligência para entender o que é bom e distinguir o bem do mal, foi Deus; quem lhe deu uma índole inclinada para o bem (esperando que seja o nosso caso) foi Deus; quem lhe deu o desejo do bem quem colocou isso no seu coração, foi Deus; quem lhe deu forças para realizar algum bem; quem lhe deu meios materiais ou espirituais para realizar algum bem, foi Deus; quem lhe deu a inspiração para fazer o bem, foi Deus.
Onde está o mérito? Existe um pequeno mérito, para não dizer que não existe, o qual, no entanto, é secundário. E consiste nisso: eu aceitei tudo isso da mão de Deus e Lhe disse sim. Mas até o meu sim a Deus quando Ele me inspira, me dá forças, me dá entendimento para fazer o bem, até o meu sim a Deus, minha correspondência, também é graça, ou seja, é ajudado pela mão de Deus. Sem essa ajuda da mão de Deus nem esse sim, eu poderia dar. Portanto existe um mérito muito relativo, secundário, derivado da graça de Deus.
Com a culpa é diferente... A culpa é nossa mesmo, não de Deus. O mérito é de Deus em nós, mas a culpa é só nossa. O que, que eu tenho de próprio? O que, que eu tenho de mim mesmo? Não tenho de mim mesmo a minha inteligência porque a recebi gratuitamente, não tenho de mim mesmo as minhas forças físicas e espirituais, não tenho de mim mesmo os meus sentimentos bons, pois tudo isso é dom de Deus, tudo que há de bom em mim é dom de Deus. Então eu não sou origem de nada do que tenho de bom.
O que é que tenho de meu, só meu? Meu pecado. Isso não vem de Deus, só isso não vem de Deus.
Por isso erra aquele que confia na própria justiça ou nos próprios méritos, pois está se escorando numa coisa que não é sua, mas de Deus.
E temos que confiar então na bondade de Deus, não na nossa, porque até a nossa deriva da d’Ele. Se existir alguma bondade, ela deriva de Deus. Deus me fará o bem porque não porque eu sou bom, mas porque Ele é bom. Apesar disso, é claro que eu devo procurar corresponder da melhor maneira possível, não há dúvidas.
Também não vamos cair no extremo: “se é assim... vamos pecar”. Absolutamente! É uma questão de bom senso, evidentemente. Pois se o mérito humano é derivado, secundário, o demérito, ou seja, a culpa é toda nossa. Quando ela existe, é só nossa.
Isto é um convite à humildade e a humildade também é muito mal entendida, como muitas palavras são mal entendidas a começar de “amor”. O amor é um dos conceitos mais mal entendidos da atualidade e não sei quando vai voltar a ser melhor entendido.
A tudo chamam de amor. Até o contrário de amor é chamado de amor muitas vezes. E há muitas outras palavras mal entendidas, como “liberdade”, “justiça”, “misericórdia” etc. e uma delas é “humildade”. Pensam que humildade seja aquela coisa melosa de virar a cabeça de lado e falar frouxo ou depreciar as próprias qualidades ou então de se achar abaixo do que fato se é, ou esconder as próprias qualidades e assim por diante.
Isso não é humildade.
A humildade é sinônimo do reconhecimento da verdade a respeito de nós mesmos. Seria uma boa definição. A humildade é a verdade que reconheço a respeito de mim; é a adequação da imagem que eu tenho de mim mesmo à realidade, ou seja, àquilo que Deus vê, porque nós temos a tendência a ter uma imagem de nós mesmos muito superior (ou muito inferior, o que também é um problema) ao que de fato somos na realidade.
É preciso regular esta imagem que tenho de mim, pois todo mundo tem uma imagem de si, todo mundo se vê de alguma maneira. É preciso regulá-la para que ela chegue o mais perto possível da realidade, que normalmente está muito longe do que eu penso de mim e também o que os outros pensam de mim. A realidade é o que Deus vê, e que Deus pensa de mim, essa é a realidade. Eu devo procurar chegar perto disso... e nisso consiste a humildade.
Trata-se de procurar ter uma visão objetiva, real não fantasiosa de si mesmo. É verdade que essa visão realista sobre si mesmo geralmente chega mais perto da oração do publicano: Senhor, tem piedade de mim porque sou pecador do que da oração do fariseu: obrigado, Senhor, porque sou melhor que todo mundo.
Quando nós começamos a ter uma visão realista sobre o que de fato somos, sem máscaras, sem véus, ‘dando o nome aos bois’ que habitam o pasto do nosso coração, aí nós acabamos , como se diz, ‘’baixando a bola, inevitavelmente. Isso é bom, mas não se realiza de modo artificial. Deve ser uma conseqüência natural do autoconhecimento.
A humildade vai se exercer de duas maneiras principalmente:
Primeiro, no reconhecimento das próprias qualidades, sim! E, segundo, no reconhecimento dos próprios pecados.
Reconhecimento das próprias qualidades: já dissemos que humildade não é fingir que eu não sei fazer o que faço bem, não é fingir que sou um zero à esquerda, porque na verdade não sou, visto que todos temos qualidades.
Eu devo reconhecer as qualidades que há em mim, não devo escondê-las. Devo colocar a serviço dos outros, mas – aqui está coisa importante – não devo atribuir a mim mesmo a glória por essas qualidades. Não devo agir como se fosse eu o dono ou responsável pela existência delas, mas, ao reconhecer essas qualidades que há em mim e ao colocá-las ao serviço do próximo, portanto ao deixá-las aparecer (porque elas existem para aparecer, para ajudar os outros), atribuir a Deus a glória por aquelas capacidades. Se alguém fala bem, se alguém cozinha bem, se alguém é um excelente administrador, se alguém canta bem e assim por diante, não deve se orgulhar disto, não deve subir sobre este pedestal, porque essa glória não lhe pertence, pertence a Deus. Quando alguém elogiar: mas que beleza, como você faz bem isso ou aquilo... Bom... Sorria, agradeça com simplicidade, e no seu coração diga: “Senhor este louvor que eu recebi não é meu é teu, a Ti eu dou a glória, nesse momento. Eu remeto a Ti isso que agora recebi”; ou, no dizer do Salmo 114: não a nós Senhor, não a nós, ó, Senhor; ao vosso nome, porém, seja a glória. Como diz aquele provérbio árabe que já citei algumas vezes e vou citar de novo: “com elogio se faz a mesma coisa que se faz com o perfume: a gente cheira, mas não engole”. Porque o elogio é para Deus, não para você. Se engolir, já viu... não vai fazer bem...
E quanto ao reconhecimento dos próprios pecados? Notemos que, no início da Missa, a Igreja nos dirige um convite: reconheçamos nossos pecados para participarmos dignamente desta Eucaristia. Ora reconhecer os próprios pecados é condição necessária, absolutamente necessária para receber a salvação.
Jesus disse: eu não vim para os justos, mas para os pecadores. O médico veio para o doente não para quem tem saúde. O doente que nunca admite a própria doença, este não vai ao médico, não se trata, não fica curado. Será ele o grande prejudicado. Se eu não vejo pecado em mim, não foi para mim que Jesus veio ou, no dizer da primeira carta de São João (capítulo I, versículo 10): se dizemos que não temos pecado, fazemos de Deus um mentiroso. Claro... se Deus diz que temos pecado e nós dizemos que não temos, dizemos que Ele está mentindo. Fazemos dele um mentiroso. E isso é grave!
E que dizer de alguém que chega para confessar – Ih... é tão freqüente! – e diz assim: “padre eu não confesso há um ano, ou há dois anos, há dez anos, mas eu não sei o que vou dizer, porque nesse tempo todo eu não matei, eu não roubei, não fiz mal a ninguém”.
Meus queridos, os mandamentos são dez, e em cada um dos dez nós podemos pecar por pensamentos, palavras, atos e omissões. Já temos aí quarenta modalidades, para começar a conversa... Então nós somos muito superficiais; a Bíblia diz que o justo peca sete vezes ao dia; o justo, o santo, o amigo de Deus, por inadvertência, às vezes, por fraqueza, por nervosismo, por ignorância, nem sempre por maldade, peca sete vezes ao dia...
Faria tão bem se nós começássemos a incorporar no nosso hábito espiritual, um exame de consciência diário, bem feito, de noite, antes de pegar no sono, mas não assim ‘nas últimas’, porque você dorme antes de terminar. Um exame de consciência bem feito de como foi aquele dia diante de Deus; o que não foi bem e poderia ter sido melhor, o que fiz ou deixei de fazer, o que era necessário ser feito e assim por diante. Pedir perdão sinceramente ao Senhor, fazer como o publicano ao terminar o dia porque aqui está: reconhecer os próprios pecados, olhar, olhar dentro do coração, procurar, identificar e admitir, olha que trabalho, olhar atentamente, procurar, identificar... ao achar, dar-lhe o nome: isso é isso... admitir. Senhor tem piedade de mim porque sou um pecador, quero mudar, amanhã vou fazer diferente, ajuda-me com tua graça. Cada dia! E quem faz isso todo dia não vai chegar depois de um ano, dois anos para dizer: “não sei o que dizer”, na hora de se confessar. Pelo contrário: vai sentir necessidade de se confessar mais frequentemente.
Esses meninos que ajudam à Missa aqui estão habituados a se confessar uma vez por mês em média e eu tenho a relação com os nomes e a freqüência à Confissão; é condição para permanecer no grupo. Eles sempre têm o que dizer. Quanto a vocês, eu não sei...
Preciso fazer esse trabalho: olhar, enxergar, dar nome e admitir e dizer diante de Deus: Senhor tem piedade de mim porque sou pecador porque esse é o caminho da salvação e não há outro: o reconhecimento da própria miséria. A recompensa por tudo isso está dita na profecia de hoje (Primeira Leitura) onde ouvimos a oração do humilde penetra as nuvens. Se não houver humildade, ela pára antes de chegar no trono de Deus ou, dependendo do peso do orgulho, nem sobe...
Proferida pelo padre Sérgio Muniz em 24/10/2010
Leituras da semana:
Primeira leitura: Livro do Eclesiástico (Eclo 35,15b-17. 20-22a)
Salmo: [Sl 33(34)]
Segunda Leitura: Segunda carta de São Paulo a Timóteo (2Tm 4,6-8. 16-18)
Evangelho: (Lc18, 9-14)
Ouvimos que “Jesus contou esta parábola para os que confiavam na própria justiça”, ou seja, nas próprias virtudes, no próprio merecimento e desprezavam os demais.
Merecimento... podíamos pensar um pouco sobre isso hoje. Às vezes as pessoas dizem com uma certa ingenuidade – imaginando que seja um grande ato de humildade: “Meu Deus, se eu merecer me dê... se eu merecer, Deus me dará”.
Retire isso da sua oração, pelo amor de Deus, corte essa parte...
“Se eu merecer”? Nós merecemos bem pouco, para não dizer abaixo de nada. Não temos mérito, propriamente dito, diante de Deus. Nós já vamos entender porquê. Existe, sim, um mérito secundário diante de Deus, um mérito por modo de falar, mas se formos usar a linguagem no sentido estrito, não temos mérito diante de Deus.
Podemos ter demérito, isso sim. Também vamos entender porquê. O nosso mérito é relativo, não absoluto; é secundário, como dizia, e a razão é que todo o bem que nós podemos fazer, só o podemos fazer porque Deus nos dá a graça de fazer.
Quem lhe deu a inteligência para entender o que é bom e distinguir o bem do mal, foi Deus; quem lhe deu uma índole inclinada para o bem (esperando que seja o nosso caso) foi Deus; quem lhe deu o desejo do bem quem colocou isso no seu coração, foi Deus; quem lhe deu forças para realizar algum bem; quem lhe deu meios materiais ou espirituais para realizar algum bem, foi Deus; quem lhe deu a inspiração para fazer o bem, foi Deus.
Onde está o mérito? Existe um pequeno mérito, para não dizer que não existe, o qual, no entanto, é secundário. E consiste nisso: eu aceitei tudo isso da mão de Deus e Lhe disse sim. Mas até o meu sim a Deus quando Ele me inspira, me dá forças, me dá entendimento para fazer o bem, até o meu sim a Deus, minha correspondência, também é graça, ou seja, é ajudado pela mão de Deus. Sem essa ajuda da mão de Deus nem esse sim, eu poderia dar. Portanto existe um mérito muito relativo, secundário, derivado da graça de Deus.
Com a culpa é diferente... A culpa é nossa mesmo, não de Deus. O mérito é de Deus em nós, mas a culpa é só nossa. O que, que eu tenho de próprio? O que, que eu tenho de mim mesmo? Não tenho de mim mesmo a minha inteligência porque a recebi gratuitamente, não tenho de mim mesmo as minhas forças físicas e espirituais, não tenho de mim mesmo os meus sentimentos bons, pois tudo isso é dom de Deus, tudo que há de bom em mim é dom de Deus. Então eu não sou origem de nada do que tenho de bom.
O que é que tenho de meu, só meu? Meu pecado. Isso não vem de Deus, só isso não vem de Deus.
Por isso erra aquele que confia na própria justiça ou nos próprios méritos, pois está se escorando numa coisa que não é sua, mas de Deus.
E temos que confiar então na bondade de Deus, não na nossa, porque até a nossa deriva da d’Ele. Se existir alguma bondade, ela deriva de Deus. Deus me fará o bem porque não porque eu sou bom, mas porque Ele é bom. Apesar disso, é claro que eu devo procurar corresponder da melhor maneira possível, não há dúvidas.
Também não vamos cair no extremo: “se é assim... vamos pecar”. Absolutamente! É uma questão de bom senso, evidentemente. Pois se o mérito humano é derivado, secundário, o demérito, ou seja, a culpa é toda nossa. Quando ela existe, é só nossa.
Isto é um convite à humildade e a humildade também é muito mal entendida, como muitas palavras são mal entendidas a começar de “amor”. O amor é um dos conceitos mais mal entendidos da atualidade e não sei quando vai voltar a ser melhor entendido.
A tudo chamam de amor. Até o contrário de amor é chamado de amor muitas vezes. E há muitas outras palavras mal entendidas, como “liberdade”, “justiça”, “misericórdia” etc. e uma delas é “humildade”. Pensam que humildade seja aquela coisa melosa de virar a cabeça de lado e falar frouxo ou depreciar as próprias qualidades ou então de se achar abaixo do que fato se é, ou esconder as próprias qualidades e assim por diante.
Isso não é humildade.
A humildade é sinônimo do reconhecimento da verdade a respeito de nós mesmos. Seria uma boa definição. A humildade é a verdade que reconheço a respeito de mim; é a adequação da imagem que eu tenho de mim mesmo à realidade, ou seja, àquilo que Deus vê, porque nós temos a tendência a ter uma imagem de nós mesmos muito superior (ou muito inferior, o que também é um problema) ao que de fato somos na realidade.
É preciso regular esta imagem que tenho de mim, pois todo mundo tem uma imagem de si, todo mundo se vê de alguma maneira. É preciso regulá-la para que ela chegue o mais perto possível da realidade, que normalmente está muito longe do que eu penso de mim e também o que os outros pensam de mim. A realidade é o que Deus vê, e que Deus pensa de mim, essa é a realidade. Eu devo procurar chegar perto disso... e nisso consiste a humildade.
Trata-se de procurar ter uma visão objetiva, real não fantasiosa de si mesmo. É verdade que essa visão realista sobre si mesmo geralmente chega mais perto da oração do publicano: Senhor, tem piedade de mim porque sou pecador do que da oração do fariseu: obrigado, Senhor, porque sou melhor que todo mundo.
Quando nós começamos a ter uma visão realista sobre o que de fato somos, sem máscaras, sem véus, ‘dando o nome aos bois’ que habitam o pasto do nosso coração, aí nós acabamos , como se diz, ‘’baixando a bola, inevitavelmente. Isso é bom, mas não se realiza de modo artificial. Deve ser uma conseqüência natural do autoconhecimento.
A humildade vai se exercer de duas maneiras principalmente:
Primeiro, no reconhecimento das próprias qualidades, sim! E, segundo, no reconhecimento dos próprios pecados.
Reconhecimento das próprias qualidades: já dissemos que humildade não é fingir que eu não sei fazer o que faço bem, não é fingir que sou um zero à esquerda, porque na verdade não sou, visto que todos temos qualidades.
Eu devo reconhecer as qualidades que há em mim, não devo escondê-las. Devo colocar a serviço dos outros, mas – aqui está coisa importante – não devo atribuir a mim mesmo a glória por essas qualidades. Não devo agir como se fosse eu o dono ou responsável pela existência delas, mas, ao reconhecer essas qualidades que há em mim e ao colocá-las ao serviço do próximo, portanto ao deixá-las aparecer (porque elas existem para aparecer, para ajudar os outros), atribuir a Deus a glória por aquelas capacidades. Se alguém fala bem, se alguém cozinha bem, se alguém é um excelente administrador, se alguém canta bem e assim por diante, não deve se orgulhar disto, não deve subir sobre este pedestal, porque essa glória não lhe pertence, pertence a Deus. Quando alguém elogiar: mas que beleza, como você faz bem isso ou aquilo... Bom... Sorria, agradeça com simplicidade, e no seu coração diga: “Senhor este louvor que eu recebi não é meu é teu, a Ti eu dou a glória, nesse momento. Eu remeto a Ti isso que agora recebi”; ou, no dizer do Salmo 114: não a nós Senhor, não a nós, ó, Senhor; ao vosso nome, porém, seja a glória. Como diz aquele provérbio árabe que já citei algumas vezes e vou citar de novo: “com elogio se faz a mesma coisa que se faz com o perfume: a gente cheira, mas não engole”. Porque o elogio é para Deus, não para você. Se engolir, já viu... não vai fazer bem...
E quanto ao reconhecimento dos próprios pecados? Notemos que, no início da Missa, a Igreja nos dirige um convite: reconheçamos nossos pecados para participarmos dignamente desta Eucaristia. Ora reconhecer os próprios pecados é condição necessária, absolutamente necessária para receber a salvação.
Jesus disse: eu não vim para os justos, mas para os pecadores. O médico veio para o doente não para quem tem saúde. O doente que nunca admite a própria doença, este não vai ao médico, não se trata, não fica curado. Será ele o grande prejudicado. Se eu não vejo pecado em mim, não foi para mim que Jesus veio ou, no dizer da primeira carta de São João (capítulo I, versículo 10): se dizemos que não temos pecado, fazemos de Deus um mentiroso. Claro... se Deus diz que temos pecado e nós dizemos que não temos, dizemos que Ele está mentindo. Fazemos dele um mentiroso. E isso é grave!
E que dizer de alguém que chega para confessar – Ih... é tão freqüente! – e diz assim: “padre eu não confesso há um ano, ou há dois anos, há dez anos, mas eu não sei o que vou dizer, porque nesse tempo todo eu não matei, eu não roubei, não fiz mal a ninguém”.
Meus queridos, os mandamentos são dez, e em cada um dos dez nós podemos pecar por pensamentos, palavras, atos e omissões. Já temos aí quarenta modalidades, para começar a conversa... Então nós somos muito superficiais; a Bíblia diz que o justo peca sete vezes ao dia; o justo, o santo, o amigo de Deus, por inadvertência, às vezes, por fraqueza, por nervosismo, por ignorância, nem sempre por maldade, peca sete vezes ao dia...
Faria tão bem se nós começássemos a incorporar no nosso hábito espiritual, um exame de consciência diário, bem feito, de noite, antes de pegar no sono, mas não assim ‘nas últimas’, porque você dorme antes de terminar. Um exame de consciência bem feito de como foi aquele dia diante de Deus; o que não foi bem e poderia ter sido melhor, o que fiz ou deixei de fazer, o que era necessário ser feito e assim por diante. Pedir perdão sinceramente ao Senhor, fazer como o publicano ao terminar o dia porque aqui está: reconhecer os próprios pecados, olhar, olhar dentro do coração, procurar, identificar e admitir, olha que trabalho, olhar atentamente, procurar, identificar... ao achar, dar-lhe o nome: isso é isso... admitir. Senhor tem piedade de mim porque sou um pecador, quero mudar, amanhã vou fazer diferente, ajuda-me com tua graça. Cada dia! E quem faz isso todo dia não vai chegar depois de um ano, dois anos para dizer: “não sei o que dizer”, na hora de se confessar. Pelo contrário: vai sentir necessidade de se confessar mais frequentemente.
Esses meninos que ajudam à Missa aqui estão habituados a se confessar uma vez por mês em média e eu tenho a relação com os nomes e a freqüência à Confissão; é condição para permanecer no grupo. Eles sempre têm o que dizer. Quanto a vocês, eu não sei...
Preciso fazer esse trabalho: olhar, enxergar, dar nome e admitir e dizer diante de Deus: Senhor tem piedade de mim porque sou pecador porque esse é o caminho da salvação e não há outro: o reconhecimento da própria miséria. A recompensa por tudo isso está dita na profecia de hoje (Primeira Leitura) onde ouvimos a oração do humilde penetra as nuvens. Se não houver humildade, ela pára antes de chegar no trono de Deus ou, dependendo do peso do orgulho, nem sobe...
Proferida pelo padre Sérgio Muniz em 24/10/2010
Leituras da semana:
Primeira leitura: Livro do Eclesiástico (Eclo 35,15b-17. 20-22a)
Salmo: [Sl 33(34)]
Segunda Leitura: Segunda carta de São Paulo a Timóteo (2Tm 4,6-8. 16-18)
Evangelho: (Lc18, 9-14)
terça-feira, 9 de novembro de 2010
Transcrição da homilia do 31º domingo do Tempo Comum
A liturgia de hoje nos trás uma das páginas mais, poderia dizer, bem humoradas do Evangelho onde vemos o pobre Zaqueu subindo a árvore para ver Jesus Cristo que passa, devido à multidão e a sua baixa estatura.
Mas, antes de enfocarmos o Evangelho, que é o coração sempre da liturgia da palavra, gostaria de passear com vocês um pouquinho pela Primeira Leitura onde se coloca em contraste a grandeza de Deus e a nossa pequenez e a surpreendentemente atitude ou digamos assim, o sentimento de Deus diante da nossa insignificância. Nós diante da grandeza de Deus, da sua majestade infinita (se bem considerarmos essa grandeza e essa majestade), nos sentiremos não só pequenos, mas de certa maneira fascinados e atemorizados, como quem vê, por exemplo, um grande vulcão em erupção ou um maremoto ou o mar com sua grandeza e suas ondas batendo sobre as pedras. Esse sentimento de grandiosidade que ao mesmo tempo fascina, eleva e atrai. Mas ao mesmo tempo em que fascina, eleva e atrai, também atemoriza e às vezes aterroriza a criatura tão pequena e isto falando de fenômenos naturais, portanto coisas visíveis deste mundo, que dirá a grandeza de Deus que tem nas suas mãos o universo, as Galáxias e tudo mais.
Se bem considerarmos, teremos esse sentimento de fascínio e temor. Esse e o sentimento que nos inspira o contraste entre a nossa pequenez e infinitude de Deus.
Mas do lado de Deus o que será que ele sente por nós diante desse contraste, da sua grandeza e da nossa insignificância? A Bíblia nos afirma que o sentimento de Deus é compaixão.
Eu estava pensando outro dia desses, e nós temos experiência parecidas com esta: por exemplo, uma criança que no jardim encontra uma joaninha comum e fica maravilhada com aquele inseto (normalmente as pessoas não têm boa relação com os insetos, é raro que alguém goste de insetos; às vezes acontece como as borboletas e a joaninha). As crianças gostam muito e tomam cuidado para não espantá-la para que não voe e também para não machucá-la; é uma pequena jóia viva que passeia sobre os dedos da criança e ela se maravilha com aquilo.
É mais ou menos muito de longe a atitude de Deus para conosco; nós somos a joaninha e Deus não se vale da sua grandeza e da sua força para nos oprimir, mas Ele se inclina sobre nós com carinho, com afeição, com maravilha até com compaixão.
Então a leitura dizia: Senhor o mundo inteiro é diante de Ti como um grão de areia na balança e aí a conseqüência podia ser: Deus esmagar o mundo e tratá-lo com dureza, mas não: de todos tens compaixão porque tudo podes.
Então a força de Deus, o poder infinito de Deus não lhe serve para se tornar um tirano, até porque, que graça existe em dominar sobre um grão de areia como um tirano. Que graça existe em pisar numa formiga? A graça está, e aí graça em todos os sentidos, está em pegar essa formiguinha e elevá-la a um nível insuspeitado, capaz então de estar face a face com Deus e dialogar com Ele, amá-lo. De todos tem compaixão porque tudo podes e vejam a diferença que existe, portanto entre o poder divino e os poderes humanos.
Nós quando temos um pouquinho de poder na mão já usamos aquilo para nos engrandecer e pisar no outro. Pode ser o último funcionário de uma repartição, aquele que é mandado por todos, aí quando chega alguém de fora precisando de alguma coisa ele se alegra e pode dizer, no balcão, pode dizer: NÃO àquela pessoa que ali vem; pode dificultar a vida de alguém então ele pode agora exercer “uma autoridade” sobre alguém, é incrível isso.
Então o papai grita com a mamãe, a mamãe grita com o filho mais velho, o mais velho bate no do meio, o do meio bate no mais novo, mas o mais novo não tem em quem bater bate no gato.
É assim, nós nos valemos das nossas pequenas e mesquinhas grandezas, do nosso pequeno e mesquinho poder para tiranizar, mas quando alguém é grande de fato, Ele não pisa em ninguém, Ele se inclina sobre o pequeno e o eleva, assim faz Deus. De todos tem compaixão porque tudo podes.
O tirano é a pessoa insegura, é a pessoa que não confia, nem acredita de fato no poder que tem, porque não tem poder nenhum (por isso ele é tirano). Deus não é assim. Como Ele tem segurança do seu poder absoluto Ele não usa para esmagar, mas para elevar.
Então aqui termino a leitura dizendo como conseqüência: corriges com carinho os que caem e os repreendes, lembrando-lhe seus pecados para que se afaste do mal e creiam em Ti.
E assim a Primeira Leitura já preparava, já anunciava o Evangelho: Zaqueu o publicano (só para lembrar o que era um publicano: era um cobrador de impostos considerado em Israel, um traidor do próprio povo, portanto também da própria religião, o judaísmo). Afinal de contas o cobrador de impostos cobrava impostos, ele era israelita, cobrava dos seus irmãos israelitas para o rei de Roma (ele era funcionário romano) considerado, portanto um traidor da nação e da fé judaica, um pecador público a serviço dos pagãos contra os seus, considerado um pecador público no mesmo nível, por exemplo, das prostitutas (era uma espécie de prostituição tirar dinheiro dos seus irmãos israelitas e entregar a Cesar).
Então Zaqueu, pecador público, rejeitado por todos, de baixa estatura e aqui a baixa estatura física é só um aspecto porque também podemos falar de uma baixa estatura moral provavelmente.
Vejam a reação dele quando Jesus vai a casa dele intocada, de arrepende de seus pecados e diz: vou dar metade de meus bens aos pobres e se defraudei alguém, portanto isso está nas possibilidades, se defraudei alguém, devolverei quatro vezes mais. Então ele tem na sua consciência alguma coisa. Portanto, de baixa estatura física, mas de baixa estatura moral.
Mesmo que nossa estatura não seja tão baixa, não posso eu, mas vocês quem sabe (nota: o Padre Sergio não é alto); mesmo tendo dois metros de altura às vezes moralmente nós temos baixa estatura e espiritualmente baixa estatura.
Mas Zaqueu mesmo de baixa estatura quer ver Jesus; Jesus vai passar e ele quer enxergar Jesus; ele sobe numa árvore. Imagine o ridículo deste homem que não é respeitado, ele é temido, o pessoal deve até falar piadas dele, porque sabe com é os tiranos sempre sofrem essas coisas. Mas a final de contas ele não está muito preocupado com que vão dizer por que já falam tudo dele mesmo, então mais uma coisa, menos uma, sobe na árvore e fica olhando Jesus que vai passar. Uma cena realmente hilária, cômica e Jesus acentuando o ridículo da situação, ao passar por baixo diz o nome dele: Zaqueu desce e aí todo mundo (certamente quem não viu acaba vendo a cena)e Zaqueu desce: eu quero ficar hoje na tua casa.
Nós, de nossa baixa estatura queremos também ver Jesus, e devemos subir de vez em quando a uma árvore.
Aqui estamos nós... o que estamos fazendo aqui a final de contas?
Subimos a árvore para ver Jesus. No domingo, em torno do altar, na casa do Senhor é a nossa subida a um lugar mais alto de onde podemos ver Jesus passar e não só: Jesus ao passar vem falar conosco e nos diz: quero ir contigo para tua casa hoje. Mas antes Ele diz: desce, desce do teu pedestal, desce do teu salto, desce do teu orgulho, da tua vaidade, desce da tua razão, porque não dá razão a mais ninguém, desce das tuas vaidades, das tuas mesquinharias, desce! Desce porque quem é grande não precisa buscar estes artifícios. Se precisas subir sobre os outros, se precisas subir sobre o pedestal que construístes, se precisas construir uma torre de Babel para te equiparar aos deuses e olhar de cima para baixo os homens, é porque não és grande, desce e eu te farei grande. Queres crescer, desce, desce eu quero ficar contigo hoje na tua casa.
Zaqueu desceu depressa e recebeu Jesus com alegria, diz o Evangelho.
Estamos esperando nós, desçamos depressa, recebamos Jesus com alegria é a prova de que realmente esse encontro foi um encontro verdadeiro, autêntico na vida de Zaqueu é que sem Jesus dizer nada, sem que Jesus o acusasse de coisa alguma e nem pedisse coisa alguma a ele, ele próprio diz: Senhor vou dar metade de meus bens aos pobres e se defraudei alguém vou pagar quatro vezes mais.
Um belo Evangelho para dia de eleições, aliás, mas pensemos também em nós mesmos porque pode ser que não tenhamos defraudado ninguém financeiramente ou pode ser que sim, mas nós defraudamos em primeiro lugar a Deus negando-lhe o amor que lhe devemos, a submissão que lhe devemos, a honra e a atenção que lhe devemos.
É uma injustiça negar a Deus o que Lhe pertence e nós o fazemos tantas vezes.
Como estará nossa oração diária, por exemplo? Como estará a nossa vida espiritual? Como estará o cumprimento das nossas obrigações familiares e de trabalho? E religiosas?
Estamos defraudando a Deus e talvez também ao próximo, negando ao próximo o que ele tem direito: a nossa atenção, o nosso interesse, a nossa palavra, a nossa escuta, o nosso perdão e assim por diante.
Podemos estar defraudando até a nós mesmos, negando a nós mesmos aquilo de que temos tanta necessidade diante de Deus.
Há quanto tempo àquela confissão adiada e nunca realizada; há quanto tempo aquele passo, aquele primeiro passo que devemos dar para mudar alguma coisa e também sempre adiamos e assim por diante.
Se o nosso encontro com Jesus aqui, é o encontro autêntico, verdadeiro, se nós abrimos as portas da nossa casa, ou seja, do nosso coração para Ele entrar, se nós resolvemos de fato descer para encontrá-lo, então o sinal será dar o primeiro passo decididamente.
Será devolver, ou reparar aqueles que defraudamos, a Deus.
Reparar a minha omissão, a minha falta de atenção, a minha falta de amor, minha falta de obediência, repara as minhas faltas em relação ao próximo, repara as minhas faltas em relação a mim mesmo. Dar um passo decidido, portanto.
Não significa que vamos deixar de ser tentados, mesmo Zaqueu feito tudo aquilo, ele tenha tido dificuldades depois. A tentação da cobiça, da desonestidade não deixou de existir para ele. Ele terá sentido seu coração se inclinar ainda uma vez ou outra para o mal.
Mas o importante é que ele deu um passo decidido e nós? O que estamos esperando? Desçamos depressa, recebamos Jesus com alegria e demos decididamente o nosso primeiro passo.
Proferida pelo padre Sérgio Muniz- Botafogo
Leituras da semana:
Primeira Leitura: Livro da Sabedoria (Sb. 11,22-12.2)
Salmo [Sl 144(145)]
Segunda Leitura: Segunda Carta de São Paulo aos Tessalonicenses (2Tm1,11-2,2)
Evangelho: Lucas (Lc 19,1-10)
sábado, 6 de novembro de 2010
Transcrição da Homilia do 34º domingo do Tempo Comum
Transcrição da Homilia 34º domingo do Tempo Comum
Esta festa, solenidade “Cristo Rei”, conclui aquele trecho do nosso Calendário Litúrgico chamado Tempo Comum em que a igreja vinha se revestindo da cor verde (hoje muda para branco, dourado enfim), mas verde que é a cor dos campos, é a cor das colheitas, dos campos cultivados. Significa que durante o Tempo Comum nós observávamos, seguíamos os passos de Jesus que qual semeador, ia semeando a palavra, pelas coisas que dizia, pelas coisas que fazia, semeando a palavra que vai frutificar no reino de Deus.
O Tempo Comum acompanhou os passos da vida pública de Jesus, seus milagres, seus ditos, seus gestos e assim por diante e a festa de Cristo Rei é um apanhado de tudo isto dizendo: tudo o que Jesus fez e que ainda está fazendo por meio da sua igreja no mundo, que somos nós, tudo o que Ele fez e faz e fará vai concluir-se no seu reino universal.
Esse reino já está se implantando, ele começa nos nossos corações, nos corações daqueles que crêem e se expande a partir daí.
Nós temos na segunda Leitura de hoje alguns títulos dados a Jesus, são muito importantes, São Paulo nesta carta chama Jesus de várias coisas: em primeiro lugar ele diz que Jesus é a imagem do Deus invisível, depois primogênito de toda a criação depois primogênito dentre todos os mortos e cabeça da Igreja.
Vejamos brevemente estes títulos reais de Cristo.
Primeiro é a imagem do Deus invisível... primeiramente. Nós sabemos que Deus é eterno. Tem gente que pensa que eternidade é um negócio que não acaba. Não é só isso. Não! Eternidade é mais do que isso. Eternidade não é só ausência de um fim, mas também ausência de princípio. Sim! Por exemplo, a alma humana não tem fim, mas tem começo, Deus cria; o anjo não tem fim, mas tem começo; o tempo, de certa maneira não tem fim, mas teve um começo. E antes do tempo, o que havia? Eternidade sem princípio e Deus. Deus é o sem princípio e o sem fim. É o único existente sem ter começado. Quem precisa começar é a criatura. O Perfeito não começa, Ele simplesmente existe. É difícil para nós porque nós estamos mergulhados no tempo desde que nascemos e a nossa cabeça só funciona dentro desses parâmetros, mas o Perfeito existe sem precisara começar.
Deus no Antigo Testamento revela seu nome quando Moises pergunta e esse nome, é um nome estranho, mas que nos ajuda a entender isto; Deus diz: Meu nome é: Eu sou... simplesmente. Eu não era, eu não serei, simplesmente sou e vejam desde sempre portanto Deus tem diante de si um reflexo, um reflexo vivo da sua face gloriosa. Nosso reflexo no espelho não é vivo, não tem vida própria, não interage conosco, mas Deus desde sempre na sua eternidade está diante como quem está diante de um espelho, o espelho da sua própria sabedoria e esse espelho reflete a sua face. O reflexo de Deus é vivo ele se chama Filho, Filho a segunda pessoa da Trindade. O Pai e seu reflexo vivo é o Filho e o amor que há entre os dois é um amor vivo, é o Espírito Santo.
Então Ele é a imagem do Deus invisível porque ele é o reflexo do Pai, reflexo vivo do Pai que veio ao mundo, nasceu da Virgem Maria e se fez homem e agora Ele que era invisível também se tornou visível, portanto Ele é para nós a imagem do Deus invisível, porque Ele é o reflexo do Pai que assumiu a nossa carne, traduziu na carne aquilo que antes os olhos não podiam ver: imagem do Deus invisível.
Depois Ele é também chamado de Primogênito da Criação, por quê? Porque tudo que foi criado, todo esse universo maravilhoso que nós vemos e a parte mais maravilhosa ainda, que nós não vemos que é o mundo espiritual, dos anjos, da alma humana e as coisas ocultas desse universo material, toda essa maravilha é uma obra prima de Deus.
Mas para criar uma obra prima o artista se inspira em algo ou em alguém, se inspira para fazer a sua música ou a sua pintura ou a sua obra arquitetônica, seu monumento, o artista se inspira num grande amor, o artista se inspira numa paisagem deslumbrante, num por de sol quem sabe, o artista se inspira nas coisas que estão diante dele e que lhe tocam o coração e nos perguntemos o que foi que inspirou Deus a fazer tudo quanto fez? A criar essas maravilhas todas e você é uma delas, o que foi que inspirou o coração de Deus: aquele que Ele tinha diante desde sempre, o seu Filho.
Todo artista tem uma inspiração, tem um modelo, o modelo e inspiração do Pai Eterno para criar todas as coisas foi seu Filho, unigênito, eterno, a sua imagem viva.
Toda a criação é um poema do Pai dedicado ao Filho. É uma música, é uma escultura, um monumento do Pai dedicado ao Filho no abraço do Espírito Santo. Por isso é que São Paulo diz que todas as coisas foram feitas por meio Dele e para Ele.
Eu sou um presente do Pai ao seu Filho.
E, é Jesus quem diz, todo aquele que o Pai me dá, vem a mim e Eu não o lançarei fora.
Ele é também chamado Cabeça da Igreja, por quê? É o apóstolo Paulo quem diz também que a Igreja é como um corpo.
Nós não somos uma ONG, nós não somos um clube de simpatizantes de Jesus, nós não somos um grupo que se reúne porque pensa parecido e gosta da música do coral (até gostamos, está bonita hoje, muito boa). Mas não é isto, isto é pouco demais.
Nós somos um corpo vivo dos quais, um é membro do outro e todos somos membros de Cristo. Existe uma conexão verdadeira espiritual profunda entre nós; é um corpo vivo. O que eu faço de bem e de mal afeta aos demais. Eu posso oferecer a minha oração, meu sacrifício e tantas coisas por pessoas que eu não conheço, talvez só vá conhecer no céu. É um corpo onde um membro trabalha em favor de todos os outros e todos trabalham em favor daquele e quando um sofre todos sofrem o mesmo que não saiba. E Jesus é a cabeça desse corpo vivo. Ele é Rei desse corpo.
Ele também é primogênito dos mortos, porque foi o primeiro a ressuscitar gloriosamente e é dele que virá também a nossa ressurreição.
São os títulos, veja quanta riqueza destes títulos, que São Paulo aplica a Jesus, quanta profundidade, que oceano de sabedoria e de maravilhas isso tudo encerra.
Mas também temos aqui na Liturgia de hoje um paralelo entre Jesus Cristo e o rei David, interessante.
Jesus, se vocês pegarem a genealogia de Cristo, no Evangelho de Lucas, no Evangelho de Mateus, vão ver que Jesus é descendente do rei David, só que na época de Jesus a dinastia, ou seja, a família real de David , já não governava mais em Israel. Eles estavam misturados ao povo, tinham perdido o trono e a pose há muito tempo. Já reinavam outros no lugar e os romanos dominando também os novos senhores.
Mas havia uma profecia antiga, da época de David, que dizia que: um descendente de David reinaria para sempre em Israel e que o trono nunca lhe seria tirado. As pessoas se perguntavam na época de Jesus e antes um pouco, mas onde está à profecia, será que Deus se esqueceu de nós?
Quando o anjo Gabriel anuncia a Maria que ela vai ser mãe, ele diz as seguintes palavras: Ele herdará (falando do filho que vai nascer), ele herdará o trono de David seu pai e o seu reino não terá fim, aí se cumpre a profecia.
A Primeira Leitura fala da entrada triunfal de David na cidade de Hebron, recebido pelos seus compatriotas depois de uma vitoria numa batalha de tantas que ele travou e logo em seguida ele é ungido rei e coroado em Hebron.
O Evangelho é um paralelo com isso, um contraste: Jesus é o descendente prometido de David aquele que todos esperavam, todos desejavam, mas não souberam reconhecer.
David entra em Hebron com festa, Jesus também quando entrou em Jerusalém, pouco antes da sua morte na cruz, pela ultima vez que foi a Jerusalém entrou com uma festa enorme. Todo o povo o aclamou festivamente, é o domingo de ramos, nós temos na memória esses fatos; estendiam os mantos pelo chão, faziam festa com galhos de árvore, aclamavam Jesus como: aquele que veio em nome do senhor, o filho de David.
Vejam bem!
Mas logo em seguida, pouco tempo depois, vendo que Jesus não correspondia bem à imagem de rei que eles tinham em mente, não era bem assim que a gente queria, e instigados pelos sumo sacerdotes e pelos opositores de Jesus, vão clamar diante de Pilatos: crucifica, crucifica.
Não obstante, o paralelo com o rei David não acabou. David entrou festivamente, Jesus entrou festivamente, mas agora David foi ungido rei e coroado e Jesus também... na cruz, ungido no próprio sangue e coroado de espinhos.
Mas o paralelo também não acabou porque Jesus vai ressuscitar e agora tendo ressuscitado Ele recebe, como diz o apóstolo Paulo, o nome que está acima de todo o nome, diante de qual se dobram os joelhos, no céu, na terra e até no inferno. Um nome ao qual ninguém pode resistir, os anjos se curvam diante dele, os homens também, até o demônio. Ninguém pode resistir, Ele é aquele que o Apocalipse chama de Reis dos reis e Senhor dos senhores.
Temos que concluir e o que dizer?
Quem quer fazer parte desse reino, que a Liturgia de hoje vai chamar daqui a pouco de reino de justiça e de paz, reino de santidade e de graça, reino da verdade e da vida?
Ou quem não quereria fazer parte deste reino?
Eu quero, creio que você também. E como é que a gente faz para ganhar a cidadania deste reino? Não precisa se preocupar, essa cidadania lhe foi dada no Batismo. A partir de então, você é o que Paulo chamaria de cidadão do Céu. Se eu sou cidadão do Céu então nesta terra eu sou um peregrino. Tem gente que vive aqui como se isso aqui fosse definitivo, fosse a sua pátria, o seu lugar e depois, inevitavelmente, verificará que não é bem assim e não sabe o que fazer diante das perdas desse mundo, até da própria morte porque estava com uma idéia errada: a sua casa não é aqui e a minha casa não é aqui, nós somos cidadãos do Céu.
Mas o reino de Deus não começa quando a gente morre não... começa agora.
Quem é o cidadão do reino de Deus, quem é o súdito de Cristo Rei: é aquele que deixa Jesus reinar na sua vida.
Essa vida é como a situação daquele ladrão crucificado ao lado de Cristo; vocês viram um blasfemava e o outro defendia e pediu: Senhor lembra-te de mim quando estiveres em teu reinado. A nossa vida é como a situação desses dois ladrões crucificados ao lado de Cristo.
Estamos todos crucificados. Essa vida é um momento de crucificação para todos os homens, até os que parecem mais felizes (às vezes são os mais infelizes). A diferença está na maneira como vivemos essa cruz ou blasfemando ou entregando-nos ao Senhor dizendo: Senhor lembra-te de mim quando estiveres em teu reinado.
A minha cruz pode me puxar para baixo e bem baixo ou pode me levar para o Céu, dependendo de como eu viva esse instante. Posso ser crucificado longe de Cristo, sem querer saber dele ou posso viver a minha cruz por Cristo, com Cristo e em Cristo.
Eu crucificado com Cristo, eu crucificado por Cristo, eu crucificado em Cristo, é o apostolo Paulo que de novo vem em nossa ajuda e diz e conclui: se com Ele sofrermos com Ele reinaremos ou se com Ele sustentarmos, melhor, sustentarmos a luta, com Ele reinaremos.
Começa agora, meus irmãos, você vai se alimentar daqui a pouco ou muitos de nós vamos fazê-lo do próprio Cristo na Eucaristia é o Rei que não apenas põe a mesa para os servos, mas se faz Ele próprio o alimento nosso.
Servir a Cristo é reinar.
Proferida pelo padre Sérgio Muniz – Botafogo em 21/10/2010
Liturgia da Palavra:
Primeira Leitura: Segundo Livro de Samuel (2Sm 5,1-3)
Salmo [Sl 121(122)]
Segunda Leitura: Carta de São Paulo aos Colossenses (Cl 1,12-26)
Evangelho: (Lc 23,35-43)
Esta festa, solenidade “Cristo Rei”, conclui aquele trecho do nosso Calendário Litúrgico chamado Tempo Comum em que a igreja vinha se revestindo da cor verde (hoje muda para branco, dourado enfim), mas verde que é a cor dos campos, é a cor das colheitas, dos campos cultivados. Significa que durante o Tempo Comum nós observávamos, seguíamos os passos de Jesus que qual semeador, ia semeando a palavra, pelas coisas que dizia, pelas coisas que fazia, semeando a palavra que vai frutificar no reino de Deus.
O Tempo Comum acompanhou os passos da vida pública de Jesus, seus milagres, seus ditos, seus gestos e assim por diante e a festa de Cristo Rei é um apanhado de tudo isto dizendo: tudo o que Jesus fez e que ainda está fazendo por meio da sua igreja no mundo, que somos nós, tudo o que Ele fez e faz e fará vai concluir-se no seu reino universal.
Esse reino já está se implantando, ele começa nos nossos corações, nos corações daqueles que crêem e se expande a partir daí.
Nós temos na segunda Leitura de hoje alguns títulos dados a Jesus, são muito importantes, São Paulo nesta carta chama Jesus de várias coisas: em primeiro lugar ele diz que Jesus é a imagem do Deus invisível, depois primogênito de toda a criação depois primogênito dentre todos os mortos e cabeça da Igreja.
Vejamos brevemente estes títulos reais de Cristo.
Primeiro é a imagem do Deus invisível... primeiramente. Nós sabemos que Deus é eterno. Tem gente que pensa que eternidade é um negócio que não acaba. Não é só isso. Não! Eternidade é mais do que isso. Eternidade não é só ausência de um fim, mas também ausência de princípio. Sim! Por exemplo, a alma humana não tem fim, mas tem começo, Deus cria; o anjo não tem fim, mas tem começo; o tempo, de certa maneira não tem fim, mas teve um começo. E antes do tempo, o que havia? Eternidade sem princípio e Deus. Deus é o sem princípio e o sem fim. É o único existente sem ter começado. Quem precisa começar é a criatura. O Perfeito não começa, Ele simplesmente existe. É difícil para nós porque nós estamos mergulhados no tempo desde que nascemos e a nossa cabeça só funciona dentro desses parâmetros, mas o Perfeito existe sem precisara começar.
Deus no Antigo Testamento revela seu nome quando Moises pergunta e esse nome, é um nome estranho, mas que nos ajuda a entender isto; Deus diz: Meu nome é: Eu sou... simplesmente. Eu não era, eu não serei, simplesmente sou e vejam desde sempre portanto Deus tem diante de si um reflexo, um reflexo vivo da sua face gloriosa. Nosso reflexo no espelho não é vivo, não tem vida própria, não interage conosco, mas Deus desde sempre na sua eternidade está diante como quem está diante de um espelho, o espelho da sua própria sabedoria e esse espelho reflete a sua face. O reflexo de Deus é vivo ele se chama Filho, Filho a segunda pessoa da Trindade. O Pai e seu reflexo vivo é o Filho e o amor que há entre os dois é um amor vivo, é o Espírito Santo.
Então Ele é a imagem do Deus invisível porque ele é o reflexo do Pai, reflexo vivo do Pai que veio ao mundo, nasceu da Virgem Maria e se fez homem e agora Ele que era invisível também se tornou visível, portanto Ele é para nós a imagem do Deus invisível, porque Ele é o reflexo do Pai que assumiu a nossa carne, traduziu na carne aquilo que antes os olhos não podiam ver: imagem do Deus invisível.
Depois Ele é também chamado de Primogênito da Criação, por quê? Porque tudo que foi criado, todo esse universo maravilhoso que nós vemos e a parte mais maravilhosa ainda, que nós não vemos que é o mundo espiritual, dos anjos, da alma humana e as coisas ocultas desse universo material, toda essa maravilha é uma obra prima de Deus.
Mas para criar uma obra prima o artista se inspira em algo ou em alguém, se inspira para fazer a sua música ou a sua pintura ou a sua obra arquitetônica, seu monumento, o artista se inspira num grande amor, o artista se inspira numa paisagem deslumbrante, num por de sol quem sabe, o artista se inspira nas coisas que estão diante dele e que lhe tocam o coração e nos perguntemos o que foi que inspirou Deus a fazer tudo quanto fez? A criar essas maravilhas todas e você é uma delas, o que foi que inspirou o coração de Deus: aquele que Ele tinha diante desde sempre, o seu Filho.
Todo artista tem uma inspiração, tem um modelo, o modelo e inspiração do Pai Eterno para criar todas as coisas foi seu Filho, unigênito, eterno, a sua imagem viva.
Toda a criação é um poema do Pai dedicado ao Filho. É uma música, é uma escultura, um monumento do Pai dedicado ao Filho no abraço do Espírito Santo. Por isso é que São Paulo diz que todas as coisas foram feitas por meio Dele e para Ele.
Eu sou um presente do Pai ao seu Filho.
E, é Jesus quem diz, todo aquele que o Pai me dá, vem a mim e Eu não o lançarei fora.
Ele é também chamado Cabeça da Igreja, por quê? É o apóstolo Paulo quem diz também que a Igreja é como um corpo.
Nós não somos uma ONG, nós não somos um clube de simpatizantes de Jesus, nós não somos um grupo que se reúne porque pensa parecido e gosta da música do coral (até gostamos, está bonita hoje, muito boa). Mas não é isto, isto é pouco demais.
Nós somos um corpo vivo dos quais, um é membro do outro e todos somos membros de Cristo. Existe uma conexão verdadeira espiritual profunda entre nós; é um corpo vivo. O que eu faço de bem e de mal afeta aos demais. Eu posso oferecer a minha oração, meu sacrifício e tantas coisas por pessoas que eu não conheço, talvez só vá conhecer no céu. É um corpo onde um membro trabalha em favor de todos os outros e todos trabalham em favor daquele e quando um sofre todos sofrem o mesmo que não saiba. E Jesus é a cabeça desse corpo vivo. Ele é Rei desse corpo.
Ele também é primogênito dos mortos, porque foi o primeiro a ressuscitar gloriosamente e é dele que virá também a nossa ressurreição.
São os títulos, veja quanta riqueza destes títulos, que São Paulo aplica a Jesus, quanta profundidade, que oceano de sabedoria e de maravilhas isso tudo encerra.
Mas também temos aqui na Liturgia de hoje um paralelo entre Jesus Cristo e o rei David, interessante.
Jesus, se vocês pegarem a genealogia de Cristo, no Evangelho de Lucas, no Evangelho de Mateus, vão ver que Jesus é descendente do rei David, só que na época de Jesus a dinastia, ou seja, a família real de David , já não governava mais em Israel. Eles estavam misturados ao povo, tinham perdido o trono e a pose há muito tempo. Já reinavam outros no lugar e os romanos dominando também os novos senhores.
Mas havia uma profecia antiga, da época de David, que dizia que: um descendente de David reinaria para sempre em Israel e que o trono nunca lhe seria tirado. As pessoas se perguntavam na época de Jesus e antes um pouco, mas onde está à profecia, será que Deus se esqueceu de nós?
Quando o anjo Gabriel anuncia a Maria que ela vai ser mãe, ele diz as seguintes palavras: Ele herdará (falando do filho que vai nascer), ele herdará o trono de David seu pai e o seu reino não terá fim, aí se cumpre a profecia.
A Primeira Leitura fala da entrada triunfal de David na cidade de Hebron, recebido pelos seus compatriotas depois de uma vitoria numa batalha de tantas que ele travou e logo em seguida ele é ungido rei e coroado em Hebron.
O Evangelho é um paralelo com isso, um contraste: Jesus é o descendente prometido de David aquele que todos esperavam, todos desejavam, mas não souberam reconhecer.
David entra em Hebron com festa, Jesus também quando entrou em Jerusalém, pouco antes da sua morte na cruz, pela ultima vez que foi a Jerusalém entrou com uma festa enorme. Todo o povo o aclamou festivamente, é o domingo de ramos, nós temos na memória esses fatos; estendiam os mantos pelo chão, faziam festa com galhos de árvore, aclamavam Jesus como: aquele que veio em nome do senhor, o filho de David.
Vejam bem!
Mas logo em seguida, pouco tempo depois, vendo que Jesus não correspondia bem à imagem de rei que eles tinham em mente, não era bem assim que a gente queria, e instigados pelos sumo sacerdotes e pelos opositores de Jesus, vão clamar diante de Pilatos: crucifica, crucifica.
Não obstante, o paralelo com o rei David não acabou. David entrou festivamente, Jesus entrou festivamente, mas agora David foi ungido rei e coroado e Jesus também... na cruz, ungido no próprio sangue e coroado de espinhos.
Mas o paralelo também não acabou porque Jesus vai ressuscitar e agora tendo ressuscitado Ele recebe, como diz o apóstolo Paulo, o nome que está acima de todo o nome, diante de qual se dobram os joelhos, no céu, na terra e até no inferno. Um nome ao qual ninguém pode resistir, os anjos se curvam diante dele, os homens também, até o demônio. Ninguém pode resistir, Ele é aquele que o Apocalipse chama de Reis dos reis e Senhor dos senhores.
Temos que concluir e o que dizer?
Quem quer fazer parte desse reino, que a Liturgia de hoje vai chamar daqui a pouco de reino de justiça e de paz, reino de santidade e de graça, reino da verdade e da vida?
Ou quem não quereria fazer parte deste reino?
Eu quero, creio que você também. E como é que a gente faz para ganhar a cidadania deste reino? Não precisa se preocupar, essa cidadania lhe foi dada no Batismo. A partir de então, você é o que Paulo chamaria de cidadão do Céu. Se eu sou cidadão do Céu então nesta terra eu sou um peregrino. Tem gente que vive aqui como se isso aqui fosse definitivo, fosse a sua pátria, o seu lugar e depois, inevitavelmente, verificará que não é bem assim e não sabe o que fazer diante das perdas desse mundo, até da própria morte porque estava com uma idéia errada: a sua casa não é aqui e a minha casa não é aqui, nós somos cidadãos do Céu.
Mas o reino de Deus não começa quando a gente morre não... começa agora.
Quem é o cidadão do reino de Deus, quem é o súdito de Cristo Rei: é aquele que deixa Jesus reinar na sua vida.
Essa vida é como a situação daquele ladrão crucificado ao lado de Cristo; vocês viram um blasfemava e o outro defendia e pediu: Senhor lembra-te de mim quando estiveres em teu reinado. A nossa vida é como a situação desses dois ladrões crucificados ao lado de Cristo.
Estamos todos crucificados. Essa vida é um momento de crucificação para todos os homens, até os que parecem mais felizes (às vezes são os mais infelizes). A diferença está na maneira como vivemos essa cruz ou blasfemando ou entregando-nos ao Senhor dizendo: Senhor lembra-te de mim quando estiveres em teu reinado.
A minha cruz pode me puxar para baixo e bem baixo ou pode me levar para o Céu, dependendo de como eu viva esse instante. Posso ser crucificado longe de Cristo, sem querer saber dele ou posso viver a minha cruz por Cristo, com Cristo e em Cristo.
Eu crucificado com Cristo, eu crucificado por Cristo, eu crucificado em Cristo, é o apostolo Paulo que de novo vem em nossa ajuda e diz e conclui: se com Ele sofrermos com Ele reinaremos ou se com Ele sustentarmos, melhor, sustentarmos a luta, com Ele reinaremos.
Começa agora, meus irmãos, você vai se alimentar daqui a pouco ou muitos de nós vamos fazê-lo do próprio Cristo na Eucaristia é o Rei que não apenas põe a mesa para os servos, mas se faz Ele próprio o alimento nosso.
Servir a Cristo é reinar.
Proferida pelo padre Sérgio Muniz – Botafogo em 21/10/2010
Liturgia da Palavra:
Primeira Leitura: Segundo Livro de Samuel (2Sm 5,1-3)
Salmo [Sl 121(122)]
Segunda Leitura: Carta de São Paulo aos Colossenses (Cl 1,12-26)
Evangelho: (Lc 23,35-43)
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