segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Homilia do 33º domingo do Tempo Comum

Transcrição da Homilia do 33º domingo do Tempo Comum


Não ficará pedra sobre pedra!
O que Jesus disse do templo de Jerusalém (que, aliás, foi destruído pelos romanos aproximadamente quarenta anos depois de sua morte e ressurreição, ou seja, no ano setenta), o que Jesus disse do templo nós podemos aplicar a este universo que nós vemos diante de nós.

Não ficará pedra sobre pedra, tudo será transformado, tudo será modificado. A Bíblia não dá detalhes do que virá, mas fala de novos céus e nova terra: não ficará pedra sobre pedra e algumas das pedras que ocupam o topo estarão por baixo e algumas das pedras que ocupam os alicerces estarão no topo, porque Deus vai julgar a terra inteira – com justiça julgará.

O templo que foi derrubado pelos romanos durante uma revolta dos israelitas que já não aguentavam mais o domínio dos romanos, o templo é a imagem do universo, a casa de Deus e dos homens. O templo era uma espécie de resumo simbólico do céu e da terra. Este mundo com suas galáxias, com seus espaços infinitos, é o grande templo que será transformado, modificado.

A Primeira Leitura fala desse dia que os profetas chamavam “o dia do Senhor”. Dizia Malaquias: eis que virá o dia do Senhor, abrasador como fornalha em que todos os soberbos e ímpios serão como palha.
O apóstolo Paulo falando do mesmo assunto, numa de suas cartas disse que: o dia do Senhor será como um fogo e esse fogo provará as nossas obras.

Há quem construa com palha, há quem construa com madeira, há quem construa com pedras, há que construa com ouro e prata. E o fogo provará a obra e a pessoa de cada um.

Quem deve temer? Aquele que constrói com palha. Quem são esses (Malaquias diz nessa leitura que nós ouvimos): os soberbos e os ímpios. A soberba, o orgulho é a raiz de todo pecado e fonte da impiedade que é a oposição a Deus e aos seus caminhos. Esse dia há de queimá-los.
Mas e os amigos de Deus, qual deve ser a nossa expectativa (supondo que sejamos nós amigos de Deus)? Para vós que temeis meu nome nascerá o sol da justiça trazendo salvação em suas asas.

O dia do Senhor, o dia da grande reviravolta, o dia em que o triunfo do bem será manifestado definitivamente, inquestionavelmente. O dia em que o triunfo de Cristo será claro.

Por enquanto esse triunfo, mesmo sendo um fato: Jesus é o vencedor da morte, do pecado, é o vencedor do demônio, é o vencedor das trevas. Então mesmo sendo um fato, esse triunfo ele ainda não brilha com total evidência para que nós possamos ter o mérito da fé.

Que mérito haveria em acreditar naquilo que é evidente; nós acreditamos e temos boas razões para acreditar, mas acreditamos em algo que não se manifestou na sua totalidade porque a vida desse mundo ou é uma escuridão ou é uma penumbra. Há luz só diante da face de Deus. Quem anda longe de Deus, anda na escuridão, quem anda na fé tem uma luz, mas é uma luz limitada suficiente para o próximo passo e para o passo depois dele. Quem anda na fé anda na penumbra, mas tem luz para evitar os buracos e os obstáculos. Essa luz da fé, como digo, ainda não é a luz da evidência total para termos o mérito da visão a Deus, o mérito da fé.

O Evangelho diz que no dia do Senhor, no dia da renovação universal, coisas pavorosas e grandes sinais no céu vão acontecer. Mas ninguém fique com medo, se é amigo de Deus não tema porque o sol da justiça brilhará para você.

Qual a razão de todos os textos nos profetas e no Evangelho e no livro do Apocalipse que é um livro difícil (cuidado não vai ler de qualquer maneira porque há muita simbologia ali)? Qual a razão desta linguagem comum quando se fala da conclusão da história do mundo e do homem? Qual o sentido dessa convulsão universal? Coisas e pavorosas e grandes sinais no céu etc.

A razão já disse aqui, mas vou repetir, a razão é que toda arrumação depende de uma desarrumação prévia. Você quer reformar uma sala, você tem que quebrar e tirar muita coisa. Você quer reformar uma casa inteira, a bagunça vai ser maior, o barulho vai ser maior, a poirada vai ser maior, o entulho vai ser muito mais volumoso. Quanto maior é a reforma que se quer fazer tanto maior a bagunça que a precede. O barulho, a chateação, a despesa, não é assim?

Eis que existe um universo a restaurar então imaginem o tamanho desta bagunça que terá que preceder a restauração universal; é uma lei natural.
Se você vai fazer um almoço comum durante a semana, você suja algumas panelas e alguns pratos. Se você vai fazer um almoço de festa para a família num domingo ou numa data especial, haja prato, haja panela e daqui a pouco, mais a diante no Natal quem vai fazer uma ceia então já prepare a dor de cabeça e o trabalho e o cansaço.

Assim também a festa da reinauguração do universo que decaiu, que se carcomeu por causa do pecado; a festa da reinauguração da criação será precedida por uma grande confusão como qualquer festa, causa uma grande confusão, por exemplo, na sua cozinha e na sua agenda. Coisas inesperadas acontecem quando se está preparando um grande evento, nós sabemos disso.
Portanto é a mesma coisa.

Para nós, os amigos de Deus isso tudo é motivo de esperança e alegria. Não temos que temer (a não ser que estejamos dentre os soberbos e os ímpios) e é por isso que desde já temos que trabalhar dentro de nós a grande revolução.
Jesus diz que antes que estas coisas aconteçam, vão acontecer revoltas e levantes e guerras e revoluções e a história da humanidade está cheia dessas coisas e elas ainda não acabaram. Por quê? Essas revoluções, esses levantes, essas revoltas até, revoltas da própria natureza.

Acontece que o mundo, desde o pecado original em diante começou a descer a ladeira como uma avalanche, uma espécie de avalanche de pedras ou de neve, descendo de uma montanha altíssima. Assim a humanidade começou a se precipitar nos abismos para longe de Deus.
Jesus Cristo veio ao mundo e com a força da sua vinda e da sua morte e da sua ressurreição, Jesus imprimiu um movimento contrário a essa avalanche, de baixo para cima, poderosíssimo movimento, não só para detê-la, mas para levar tudo ao lugar de onde não devia ter saído. Imaginem quando essas duas forças, a que desce da montanha e a que vem de baixo se chocam, qual o resultado? E é por isso que a história está em convulsão.

E é por isso que no dizer de Paulo: a criação inteira sofre e geme dores de parto até que se manifeste a glória dos filhos de Deus. É por isso que a criação inteira anseia, diz o apóstolo, por esse dia: vai ser libertada de todos os males. Mas enquanto isso está em processo, enquanto as avalanches, as duas forças de baixo e de cima estão se encontrando, acontecem às revoluções.

Não são necessariamente ruins. É a lei da história redimida por Cristo. No meio dessas revoluções muitos cristãos fiéis a Jesus são levados a julgamento diante dos reis e governadores; são os mártires, os que são os que são perseguidos por causa da fé, ainda hoje. Basta folhear as páginas da história que nós vamos encontrar isto, até hoje. Por exemplo, ainda em culpa, perseguição religiosa está sonhando em começar a terminar; na China comunista idem. Nós temos a possibilidade de vir à missa perto de casa; na China muitos católicos têm que ir a missa escondidos caminham quilômetros para não serem descobertos e seguidos; ninguém fala isso por causa do grande mercado consumidor que é a China e grande poderio militar. As potências econômicas calam essas coisas.

Falam-se em direitos humanos para defender aborto e outras coisas, pervertendo o sentido das palavras, mas não se fala em direitos humanos nessas questões porque envolve a religião católica, perseguida.

Eles vos odiarão por causa de meu nome, matarão alguns de vós, mas não perdereis um fio de cabelo de vossa cabeça.

Ué! Alguém perde a cabeça inteira e Jesus vem dizer que não perdereis um fio de cabelo da vossa cabeça? Veja João Batista, por exemplo, vejam tantos mártires como são Paulo Apóstolo que perderam a cabeça, longe de um fio, todos os fios da barba e da cabeça. Não é uma contradição isto?

Não!

Qual o sentido? Não perdeis significa: não terá sido em vão. Não será sem recompensa condigna, a vitória chegará para esses que o mundo desprezou, para esses que foram odiados ou incompreendidos por causa de Cristo.

Se na sua família, ou no seu trabalho a avalanche está descendo e você representa a força de Cristo que tenta colocar as coisas para cima, vai haver choque e você vai ser incompreendido, necessariamente, talvez perseguido, talvez julgado.
Quem sabe alguém tem que dar a vida por Cristo.

Se nesse mundo nós representamos a força da restauração que é à força da salvação, da ressurreição, a força do mal que vem de cima para baixo vai se chocar conosco e vai haver guerra e vai haver revolução. E essa é a mais importante das revoluções: permanecei firmes, porque permanecendo firmes é que ireis conquistar a vossa vida.

E o que falar da revolução dentro de nós, que se chama conversão? Dentro de nós também há uma avalanche que desce impiedosa para arrasar tudo. Nós sentimos o peso dos sentimentos desregrados, do desnorteamento de nossos sentimentos, das nossas idéias, pensamentos, ações, inclinações. Uma avalanche que quer esmagar tudo, mas unidos a Jesus Cristo e alimentados pela Eucaristia e por essa palavra de vida, nós temos força para empurrar tudo de volta. É preciso estar disposto para a luta, para a grande revolução, mas a força vem de Cristo, é por isto que estamos aqui, é para isto que estamos aqui, para aurir desta força e poder aproveitá-la na grande revolução que nos espera, mal coloquemos o pé fora desta porta.

Proferida pelo padre Sérgio Muniz – Botafogo em 14/11/2010

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