quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Homilia do 5º Domingo do Tempo Comum

Transcrição da Homilia do 5º Domingo do Tempo Comum

Daqui a pouco, as donas de casa estarão no afã de colocar a mesa para as suas famílias. Algumas já vieram até mais cedo porque vão receber visita ou porque vão visitar alguém, que também terá trabalho de colocar a mesa, fazer a comida e às vezes acontecem coisas, imprevistos enfim... Como uma vez que me meti a fazer algo na cozinha (de vez em quando eu faço isso, e às vezes funciona). Estava tudo em ordem, os temperos muito bem dosados e tudo preparado com cuidado, o cheiro estava bom, o aspecto maravilhoso. Só que na hora de colocar na boca... Hem... Faltou sal. Uma tragédia. Cria-se toda uma expectativa: o cheiro convida, as pessoas esperam e chega na hora... Sem sal! E não resolve colocar por cima porque, não vai ser absorvido por igual.
Sabemos a falta que faz, portanto, aquele pouco de sal, que é tão pouco em relação à quantidade da comida, mas tão necessário.
Jesus diz que nós somos o sal da terra e a luz do mundo. O mundo, por si mesmo, não tem sabor ou até tem, mas falta-lhe alguma coisa. Nós sentimos isso.
Há quem procure saciar a sua fome, o seu paladar comendo de tudo que o mundo oferece sem nem distinguir se convém ou não convém, se aproxima de Deus ou se afasta d’Ele, vai comendo numa avidez como se aquilo fosse resolver a fome do seu coração. Mas aos poucos fica uma frustração. Frustração devida a quê, se eu como de tudo o que o mundo oferece? Se eu tenho acesso a tudo? Falo das pessoas que tem acesso a tudo o que o dinheiro pode comprar inclusive, mas também ao comum dos mortais dentro de suas possibilidades.
Come-se de tudo e sempre falta algo! A fome aumenta! Quem dará esse sabor ao mundo, esse ‘não-sei-quê’ que tanta falta faz?
Os melhores temperos, os molhos mais refinados, as preparações mais complexas, e artesanais da cozinha de todos os tempos, não superaram a falta do sal. Quem dará sabor ao mundo se não nós, os discípulos de Cristo? Quem tirará o mundo dessa situação insossa, espiritualmente insossa, que o caracteriza se não nós, os discípulos de Cristo?
Se nós perdermos o nosso sabor próprio, que é o de Cristo, de que serviremos? Somos cristãos em vão.
Quem pode ainda preservar o mundo do apodrecimento? Aliás, vemos coisas podres a cada passo. Na época de Jesus, não havia refrigeração, e os judeus não podiam aplicar sequer o método de conservar na banha de porco como nossas avós (simplesmente porque eles não comiam porco, proibido pela lei de Moisés). Única maneira era salgar a carne e o peixe. Nós conhecemos isso também. O sal evita a corrupção, o apodrecimento.
O mundo apodrece, o mundo gangrena, o mundo fede ao nosso redor, porque talvez não estejamos sendo sal no nosso ambiente. Se não detivermos o apodrecimento, pelo menos podemos diminuí-lo bastante, lá onde fomos colocados por Deus.
O cristão deve exercer sua influência positiva, mas se o sal perdesse o seu sabor, também não seria capaz de preservar do apodrecimento. E quanto ao sal, do tempero pelo menos, sabemos que basta pouco.
A força não está na sua quantidade, mas na sua identidade, ou seja, naquilo que ele é. Se o sal abrisse mão de ser o que é, então, por mais que se colocasse, nada adiantaria. Nós não estamos salgando o mundo, não estamos preservando nem temperando o mundo não é porque somos poucos ou, como dizem alguns alarmistas, cada vez menos. Não é por isso que não conseguimos. É porque estamos perdendo o sabor. Em outras palavras, estamos perdendo a nossa identidade, aquilo que nos deveria diferenciar; estamos cada vez mais iguais. Todo mundo pensando como todo mundo, falando como todo mundo, vivendo como todo mundo, achando o que todo mundo acha, repetindo as mesmas coisas sem pensar, engolindo sem primeiro sentir que gosto tem para ver se deve ser cuspido ou se deve ser engolido. Por isso perdemos a identidade e, com ela, o poder de salgar e o poder de preservar do apodrecimento.
Quanto à luz, pensemos não na luz elétrica que na época de Jesus também não havia, mas na vela, na tocha, no lampião. Eles prestam um serviço e por isso devem aparecer.
Atenção: há duas maneiras de aparecer: alguém pode aparecer chamando atenção sobre si mesmo, fazendo-se o centro das atenções, ou pode aparecer prestando um serviço como o candeeiro, como a vela, como a tocha, que aparecem pela luz que carregam em favor dos demais. E não é para aparecer que o fazem, mas para que as pessoas possam enxergar. Inevitavelmente aparecem, mas não é esse o objetivo. Nosso objetivo não é aparecer, embora inevitavelmente apareçamos caso façamos o que devemos fazer. Não devo buscar aparecer, mas fazer o que deve ser feito. Se, como conseqüência, eu apareço, glória a Deus por isso e não a mim, porque a vela não se pode orgulhar da chama que carrega; ela não produziu aquela chama, mas a recebeu. Ela é mera portadora; a chama é um dom, e como dom deve-se proteger e alimentar, pois, se não for protegido, não for alimentado, vai perder-se.
Eis que, no Batismo, nós recebemos a luz de Cristo. Quem já participou em idade adulta ou pelo menos se lembra de uma celebração de Batismo lembra que existe um rito no qual a vela é acesa no Círio Pascal (o qual representa o Cristo Ressuscitado). A chama da ressurreição de Cristo é dada ao recém-batizado: um símbolo litúrgico de uma realidade invisível que se opera no interior da criatura; quando sou Batizado, dentro de mim se acende a luz do Cristo Ressuscitado.
Essa luz deve ser protegida e alimentada como qualquer chama. Por exemplo, se nós tivéssemos velas nas mãos agora teremos que protegê-la contra o vento desses ventiladores ou desligá-los momentaneamente para que não se apagassem.
Quantos e quais são os ventos que sopram buscando apagar a chama que Cristo acendeu em nós? Vendavais de todas as partes. Liga-se a televisão, ventos para apagar a chama que Cristo acendeu em nós. Mamãe está descascando batatas na cozinha para o jantar e os filhinhos estão inocentemente brincando na sala, sendo alvo daquelas novelas que com muito bom humor e com muito jeito, muita simpatia, passam idéias venenosas contrárias a tudo o que Jesus ensinou. Está ligada a televisão... A criança vai absorvendo tudo, e o pior é que não tem como se defender. E depois, o trabalho que dá para desfazer isso quando chegam na adolescência e você não sabe de onde veio tudo aquilo. Criou-se um terreno fértil para que sementes de erva daninhas brotassem. Você acolheu um inimigo em casa. Isso para não falar de outros programas, cujos nomes nem merecem ser declinados, e vocês sabem quais são – não vou subestimar a inteligência de ninguém. E você também, embora não seja criança nem totalmente indefeso, é atingido por tais coisas.
São ventos que buscam apagar a chama de Cristo em nós. Ventos da opinião pública sobre os mais variados assuntos, tocando família, religião, Igreja, etc. Ventos para apagar a luz de Cristo em nós, ventos em casa, ventos no trabalho e assim por diante.
É preciso proteger a sua chama contra estes ventos; é preciso alimentá-la também. E como a alimentar? Uma chama que não se alimenta ela acaba morrendo, claro. O alimento, o combustível para essa chama é a oração diária bem feita; é o sacramento da Eucaristia, o Corpo de Cristo, e o sacramento da Penitência de quando em quando para manter-nos em condições de receber o Senhor na Eucaristia.
Nós estamos aqui, hoje como a cada domingo para reavivar esta chama e alimentá-la.
Ao sair daqui temos uma missão: vamos abraçá-la também. Cristo quer precisar de você embora pudesse fazer tudo sozinho. Ele quer precisar de você. Ao sair daqui, portanto brilhe a vossa luz que é a luz d’Ele em vós. Brilhe diante dos homens para que, vendo, glorifiquem o Pai que está nos Céus.

Proferida pelo padre Sérgio Muniz em 06/ de fevereiro de 2011.
LITURGIA DA PALAVRA
Primeira Leitura: Livro do profeta Isaias (Is 58,7-10)
Salmo: [Sl 111(112)]
Segunda Leitura: Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios (1Cor 2,1-5)
Evangelho: Mateus (Mt 5,13-16)
Nota: Esta e outras Homilias anteriores no blog: www.verbumvitae.com

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