Transcrição da Homilia do 3º Domingo da Páscoa (2011)
Meus amados,
Jesus caminha com os discípulos de Emaús, que não O reconhecem de imediato, e consola-os fazendo referência às profecias, interpretando à luz das mesmas, os fatos – os fatos de seu sofrimento e da sua morte dolorosa, que soaram para os discípulos como um grande fracasso.
Será que era isso mesmo? E eles remoíam no seu coração essa tristeza. Agora então, fazendo o caminho, Jesus vai-Se dando a conhecer aos poucos.
Nós também estamos a caminho. Eles caminhavam entre Jerusalém e Emaús. Jerusalém, onde Jesus tinha padecido o horror da paixão e da morte de cruz e Emaús, onde reconheceriam a sua face gloriosa. Nós também caminhamos entre Jerusalém, lugar da cruz e da paixão, e Emaús, lugar da revelação gloriosa da face de Cristo. Nós também caminhamos do Calvário para a glória da ressurreição e, no meio desse caminho, enquanto estamos nos dirigindo para Emaús, onde veremos a face de Cristo glorificado, Ele mesmo, embora ainda não imediatamente reconhecível, embora não visível aos nossos olhos, Ele mesmo se junta a nós. Faz caminho conosco e vai-nos consolando, vai interpretando para nós, à sua luz, os fatos que nos parecem enigmáticos e até sem sentido. E tudo vai ganhando sentido na medida em que Ele nos explica as Escrituras; comenta Moisés e os profetas.
A segunda leitura comparava nossa vida a um caminho, a uma peregrinação, a uma migração. Dizia o apóstolo Pedro ali: vivei respeitando a Deus durante o tempo de vossa peregrinação neste mundo: nós somos os caminhantes que vão de Jerusalém a Emaús, das trevas, da escuridão, das interrogações à luz da grande resposta que é o Cristo ressuscitado.
Essa história que acabamos de ouvir no Evangelho tem uma grande semelhança com a estrutura da celebração da Missa, da Eucaristia, estrutura que tendo mudado um pouquinho aqui e ali ao longo da história, sempre se manteve essencialmente igual. O que é que Jesus faz no caminho? Explica a Palavra, explica as profecias. É uma liturgia da palavra, como a que estamos fazendo aqui agora. Ouvimos as Escrituras e compartilhamos as mesmas. É o que Jesus fazia no caminho e, ao chegar, convidado para entrar, Ele toma o pão em suas mãos e dá graças (a expressão “dar graças” em grego se diz “eucharistéin”, donde vai derivar “Eucaristia”). Jesus ‘abençoa’ o pão; provavelmente aqui se trata da consagração eucarística. Ou seja, é a estrutura da santa Missa, basicamente. Primeiro Ele conversa conosco e depois Se senta à mesa conosco, toma o pão e consagra: isto é meu corpo, tomai e comei. Neste momento, os nossos olhos, os olhos do nosso coração são capazes de reconhecê-Lo. O momento em que nós reconhecemos o Ressuscitado que caminha conosco é o momento da Eucaristia.
Nós estamos aqui a cada domingo celebrando a Páscoa semanal. Nós estamos aqui a cada domingo nos encontrando com o Ressuscitado que mostra a sua face gloriosa, revelando-nos sua presença junto de nós; nós, que no meio da correria da semana não percebemos que Ele está conosco, fala conosco, caminha conosco... Aqui os nossos olhos se abrem pela Palavra de Deus e pela Eucaristia e somos capazes de reconhecê-lo ao nosso lado.
Quem não tem esse hábito, esse bom hábito espiritual, tão necessário ao cristão, de participar da Santa Missa, de coração, no dia do Senhor perde a oportunidade de reconhecer Jesus que Se lhe revela, que Se lhe mostra. Perde a oportunidade de ser iluminado pela face do Ressuscitado. Quando eles O reconhecem, imediatamente Jesus some diante de seus olhos. Porém permanece na Eucaristia. Nós não O vemos, mas O temos conosco da mesma forma: o Cristo ressuscitado.
Que essa Presença nos ajude a prosseguir o caminho. Que essa Presença nos ajude a fazer como fizeram eles: levantar na mesma hora e ir anunciar aos irmãos a grande alegria: encontramo-Lo, Ele de fato ressuscitou! Porque quem encontra o Cristo ressuscitado não consegue conter a alegria.
Todos nós, quando temos uma grande tristeza, precisamos dividi-la com alguém, porque isso parece fazer a tristeza diminuir, ela se torna mais leve. Quando temos uma grande alegria, precisamos dividi-la com alguém porque isso torna a alegria maior, nós a sentimos maior, e as pessoas com quem procuramos dividir, em primeiro lugar, as nossas grandes tristezas e as nossas grandes alegrias, são as pessoas que mais amamos. Logo nos vem em mente: tenho que dizer isso a tal pessoa.
Aqui abro um parêntese relativo ao dia das mães, visto que todas as mães estão esperando: “o que é que ele vai dizer pra gente?” É isso que eu quero dizer a vocês: a mãe tem um ministério, um serviço especial, uma vocação especial: a de ser aquela que condivide em primeira linha as grandes tristezas e as grandes alegrias dos filhos. Assim como Maria aos pés da cruz viveu o martírio do seu filho e como ninguém. E como ninguém se alegrou com a sua ressurreição.
Assim as mães estão sempre presentes aos pés da cruz dos seus filhos e em primeira linha também celebrando a ressurreição, o soerguimento dos mesmos. Esse é o ministério, é o serviço da mãe, que Jesus abençoa e confirma através de Maria Santíssima.
Voltando ao nosso fio: nós temos necessidade de condividir as nossas grandes alegrias e tristezas. Pois bem, se alguém encontrou o Cristo ressuscitado, necessariamente ele sente a necessidade de compartilhar com os demais, a começar por aqueles que são mais amados. Senão, das duas uma: ou você não ama de fato, porque, se você não quer compartilhar, você não ama pessoa ou aquelas pessoas; ou então você não encontrou o Cristo ressuscitado, fugiu d’Ele, não se deixou encontrar por Ele.
Os discípulos de Emaús chegaram a casa e já estava escurecendo. O caminho era perigoso; convidaram aquele Viajante misterioso para entrar e aí puderam ter a revelação do Ressuscitado. Não O tivessem convidado, não O teriam reconhecido. Assim, precisamos convidar Jesus para entrar, precisamos convidar o irmão para entrar na nossa casa, abrigá-lo na casa do coração, para termos a alegria de reconhecer o Ressuscitado.
Às mães, sobretudo, às que têm uma missão difícil e às vezes muito pesada, mas sempre acompanhada pela graça de Deus e a todos nós, eu queria deixar uma sugestão. Observem a frase dos discípulos de Emaús a Jesus que ia indo embora: fica conosco, pois já é tarde e a noite vem chegando.
Nos momentos difíceis, que não faltam na vida, façamos essa oração, digamos a Jesus que está ao nosso lado, embora talvez não o reconheçamos. Digamos a Jesus: fica conosco porque a noite vem chegando e contigo ao clarão da tua face, mesmo a noite mais escura será o dia mais luminoso. Sem ti até o dia mais belo será escuridão. Portanto, fica conosco, Senhor, porque o dia já declina. Aí, então, pode escurecer do lado de fora, mas dentro estaremos na luz, ao clarão da tua Face gloriosa.
Proferida e revisada pelo padre Sérgio Muniz em 8 de maio de 2011
Liturgia da Palavra:
Liturgia da Palavra:
Primeira Leitura: Atos dos Apóstolos (At 2,14.22-33)
Salmo: [Sl 15(16)]
Segunda Leitura: Primeira Carta de São Pedro (1PD 1,17-21)
Evangelho: Lucas (Lc 24,13-35)
Nota: Esta e outras Homilias anteriores no blog: www.verbumvitae.com
Salmo: [Sl 15(16)]
Segunda Leitura: Primeira Carta de São Pedro (1PD 1,17-21)
Evangelho: Lucas (Lc 24,13-35)
Nota: Esta e outras Homilias anteriores no blog: www.verbumvitae.com
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