Transcrição da Homilia do domingo do Batismo do Senhor
Amados irmãos, prezadas irmãs,
Conclui-se com a festa do Batismo do Senhor o ciclo ou Tempo Litúrgico do Santo Natal. Nós poderíamos, num primeiro momento, achar um pouco curioso, talvez estranho, por não vermos imediatamente a relação de uma coisa com outra: por que é, afinal de contas, que a festa do Batismo do Senhor conclui o tempo do Natal? O que é que tem uma coisa a ver com a outra?
Diríamos o seguinte: o Natal celebra a vinda do Filho de Deus na carne, na natureza humana. Mas o Filho de Deus se faz filho do homem, nascendo da Virgem, para quê? Para que os filhos dos homens se tornem filhos de Deus.
O Filho de Deus se torna filho do homem, nascendo da Virgem; os filhos dos homens se tornam filhos de Deus. Como? Através do Batismo. Portanto é o Batismo que fecha o ciclo, ou seja, que sela a troca de dons entre o céu e a terra. O Filho de Deus toma o que é nosso, nascendo de Maria, e nos dá o que é seu através do Batismo que recebemos.
Alguém poderia dizer: “muito bem... mas porque é que Jesus teve de ser batizado no Jordão por João Batista? Afinal de contas nós ouvimos o próprio João protestando e dizendo: Eu é que devia ser batizado por Ti e Tu vens a mim?
É de se estranhar por dois motivos: primeiro porque o batismo que João pregava era simplesmente um sinal de penitência, de conversão e Jesus não tinha do que se converter ou de que fazer penitência. Em segundo lugar, porque sequer se tratava de um sacramento ainda. Ora, se fosse um sacramento, ainda assim Jesus não precisaria; não sendo, pior ainda. Ou seja, a inutilidade da atitude de Jesus nos parece gritante: vai receber uma coisa que nem sacramento é, ainda que fosse, Ele não precisaria. E aí vem a tentativa de explicação mais comum, mais espontânea: Jesus teria feito isso por humildade ou para dar exemplo.
Não que esteja errado, a resposta passa por aí, mas é muito pouco.
Jesus tinha umas razões mais profundas e consistentes: certamente a razão mais importante pela qual Ele se faz batizar no rio Jordão é transformar o batismo de João Batista, que não era sacramento, no Batismo sacramento, que nós haveríamos de um dia receber.
De fato, o que, que há de essencial no Batismo cristão, no sacramento Batismo? Essencial é: a água e nome da Trindade. É assim que se Batiza.
Se alguém aqui estiver presente nalguma situação que uma pessoa está morrendo sem ter sido batizada, saiba que pode Batizar nessas circunstâncias – e deve fazê-lo se puder obter ou presumir a aceitação do batismo (em caso de pessoa adulta; sendo criança sem o uso suficiente da razão) se batiza em qualquer caso) – tomando água (não precisa ser á água benta) e, derramando-a sobre a cabeça da pessoa, se deve dizer: ‘fulano’, eu te batizo em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. E estará batizada esta criança ou adulto que seja. Este é o procedimento essencial para o Batismo: a água e o nome da Trindade.
Ora, o que é que nós temos no rio Jordão? Jesus vai e mergulha nas águas do Jordão. Depois Ele vê o céu aberto e vindo sobre si o Espírito Santo, como nós ouvimos aqui, e a voz do Pai ressoando a dizer: Este é o meu Filho amado no qual pus a minha afeição.
Temos aí o novo Batismo, inaugurado no rio Jordão. A partir desse momento, o batismo de João Batista já não existe mais; cedeu lugar ao Batismo novo, ao sacramento: a água e, na água, o Filho, o Pai e o Espírito Santo. Estava, criado, inaugurado o novo Batismo.
Outro motivo importante pelo qual Jesus vai ao rio Jordão ser Batizado é que Ele é o ‘Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo’; Ele próprio não tem pecado, mas haveria de carregar sobre si os pecados de toda humanidade na cruz. E já começa a fazê-lo ao receber o batismo de penitência de João, em nome de todos os pecadores ou no lugar de todos os pecadores. Ele é a cabeça de todos os que hão de ser salvos.
Eis aí, portanto, as razões do Batismo de Jesus.
E, depois do Batismo, Jesus começa a sua vida pública. Na verdade, depois do Batismo Ele vai para o deserto e fica quarenta dias em jejum. É o Evangelho que dá início à Quaresma. O jejum de Cristo no deserto vem logo depois do seu Batismo. Ele vai se preparar para sua missão e, em seguida começa a viajar, pregando a boa nova, o Evangelho, fazendo milagres e falando do Reino dos Céus.
Também nós recebemos o Batismo para uma missa. Todos temos uma missão que é extensão e participação da missão de Cristo, pois o Batismo nos insere em Cristo e, a partir daí, inseridos em Cristo, como membros da Igreja, como filhos de Deus, nós desempenhamos no mundo a nossa missão. O Espírito Santo nos investe de força e graça para a missão que recebemos.
A palavra batismo significa ‘mergulho’. Nós fomos batizados, ou seja, mergulhados, no Pai, no Filho, no Espírito Santo.
Eu gostaria de propor então duas imagens que têm a ver com o mergulho: a imagem da esponja, que por várias vezes usei. Seca, ao ser mergulhada na água, fica totalmente perpassada de água, penetrada de água por todos os poros. A esponja, não se mistura, não se dilui, ou seja, não perde a sua identidade; mesmo embebida de água, ela continua esponja e a água que embebe a esponja também não perde sua identidade, não se confunde com a esponja, mantém-se água. A esponja embebida de água é muito interessante porque, sem que haja confusão entre esponja e água, há, no entanto, uma interpenetração total; uma coisa abraça e envolve a outra.
E assim também ao sermos mergulhados na Trindade, no Pai, no Filho e no Espírito Santo, no dia do nosso Batismo. Como a esponja, ficamos totalmente compenetrados, perpassados por todos os poros, do corpo e da alma, perpassados da presença de Deus. A pessoa que vive na graça de Deus é como a esponja embebida na água do Batismo, na água da divindade. A natureza divina – o Pai, o Filho, o Espírito Santo – em nós. O ser humano é divinizado pelo Batismo.
Quando, pelo pecado voluntário, plenamente voluntário e plenamente consciente, nos afastamos de Deus e nos obstinamos, então perdemos essa presença de Deus. Tornamo-nos uma esponja seca de novo. Por isso, é muito importante permanecermos em contato com água do Batismo, ou seja, com o próprio Deus. Esse contato se dá através da oração diária, bem feita, e não por desencargo de consciência (aquele Pai Nosso estropiado no meio de um sono que já nos devora), mas uma oração diária, bem feita. Se você tem tempo até para novela... por que não tem tempo para Deus?
Vamos tomar vergonha! É desligar a televisão e dar a Deus quinze minutos no mínimo; meia hora. Como? ‘Ah, tenho muita coisa para fazer’: leia o Evangelho, recite um salmo, reze o terço, peça sugestões, se precisar.
Deus merece, Deus merece esse tempo e você precisa. Sem isso não terá forças para fazer o mínimo do que Deus espera.
Toda a gente diz que os mandamentos são difíceis, mas pudera... quem não come durante uma semana não consegue subir uma escada, e nem precisa ser uma escada muito grande. A gente fica sem se alimentar de oração e por isso não pode fazer as coisas mínimas. Não que elas sejam tão difíceis, mas se nós não comemos... se a alma está desnutrida..., Então para alimentar a presença de Deus em nós, deve haver oração diária bem feita. Não tem conversa, sem isso não dá. Sem isso, temos que parar por aqui; será inútil todo o resto. Inútil.
Depois, o sacramento da Eucaristia recebido na Santa Missa, recebido de modo digno, ou seja, sabendo o que estou fazendo, procurando estar preparado e, então, de vez em quando, fazer também uma boa confissão. A esse respeito, muitos fazem ouvido de mercador, fingem que não estão ouvindo...
No Advento, agora antes do Natal, era de se esperar mais confissões, não é? Há um problema sério de decadência no recurso, na frequência à confissão. Eu sei que estou procurando sarna para me coçar – é mais trabalho. Mas é bom. É para isto que nós estamos aqui.
A oração diária, a confissão freqüente e a Eucaristia são para nos manter sempre umedecidos da presença de Deus, sempre mergulhados em Deus. São as coisas básicas para essa esponja não secar. A esponja longe da água, ela vai secar.
E a segunda imagem com que eu queria concluir, também relativa à água e ao mergulho, é a imagem do peixe. O peixe, por várias razões, é um dos antigos símbolos do cristianismo, já desde a época dos Apóstolos. Uma das razões pelas quais o peixe é símbolo do cristianismo é porque ele só pode viver na água, numa alusão ao Batismo e à divindade da Trindade Santa em que nós fomos mergulhados naquele dia.
Fora de Deus não somos ninguém. O peixe é sempre o mesmo dentro e fora da água, mas com uma diferença: vivo num caso e morto no outro...
Que esta Eucaristia que estamos celebrando, que a força desta Eucaristia nos ajude pela misericórdia de Deus a viver segundo aquilo que nós somos, a agir de acordo com que nós recebemos de Deus.
Qual é o pai que não fica orgulhoso e feliz quando alguém diz, olhando para a sua criança: ‘mas olha... é a cara do pai, não é?!’ Então já o sorriso se estampa e o orgulho se faz sentir.
E que pai não ficaria atônito, imaginem, se alguém, ou se várias pessoas, chegassem para dizer: ‘escuta... é seu filho mesmo? Não tem nada a ver contigo... olha lá, hein...’
Deus deve ficar muito satisfeito quando alguém olha para a gente e diz: ’ é a cara do Pai’. Mas a pergunta é: isto está acontecendo? Em que medida? Ou será que está acontecendo exatamente o contrário: ‘será que é filho de Deus mesmo? Que coisa, hein... Nem dá para acreditar!’
O que Deus sentirá diante disto? Que pai ficaria contente com uma observação dessas? Deveria existir uma diferença clara, inequívoca entre uma pessoa Batizada e uma pessoa não Batizada. Entre um que é discípulo de Cristo e outro que ainda não é ou entre alguém que é membro da Igreja, membro do Corpo de Cristo, herdeiro do reino dos Céus, Filho de Deus, e alguém que não é nada disso. Deveria existir uma diferença clara, deveria estar escrito na sua cara e na minha: ‘sou de Cristo’.
As pessoas deviam notar isso, pela minha maneira de agir, pelo meu jeito de falar, de olhar, de reagir, etc. As pessoas deviam perceber isto. Se não estão percebendo, algo de errado está acontecendo comigo.
Vamos aos lugares onde o pecado impera, onde a corrupção impera, onde a prostituição impera, onde o vício impera, onde a mentira, a falcatrua impera; vamos a esses lugares perguntando: escuta, você é o que? Você é batizado? Todo mundo é Batizado. E, pior ainda, batizado na Igreja católica. De que serviu? Onde está o Batismo desta gente? Onde está o catolicismo desse povo? Que diferença há? Se não fosse Batizado seria... não sei? Quase, quase, sou tentado a dizer, seria melhor. Não sei...
Suja-se o nome de Deus, suja-se o nome da Igreja!
Os católicos, às vezes, são vergonhosamente passivos. Não é todo mundo, claro. Só vai vestir a carapuça quem... É um fato. Certa vez um paroquiano, muito praticante, benemérito, comentava comigo dizendo. Ah, Padre, admiro nos evangélicos que eles, no seu ardor, no seu zelo por Cristo, acabam por levar outros consigo, procuram influenciar e trazer outros para Deus. Entre os católicos isto não é muito frequente e, dizia ele, eu mesmo sou um que tenho amigos assim, assim, mas não consigo.
Eu perguntei: Não consegue ou não tenta? Porque, na verdade, na verdade, as pessoas de quem ele falava com admiração, não descansam enquanto não conseguem. E por quê? Porque transbordam de alegria e satisfação por conhecerem a Jesus Cristo. Estão convencidos que a coisa mais importante de suas vidas é isso, e quando tem um amigo, uma pessoa querida, eles desejam, como é natural, o melhor para a pessoa que amam. E, se o melhor é Cristo, não se pode descansar enquanto a pessoa amada não receber a Jesus Cristo. Ele dizia: por que nós não somos assim?’ Devolvo a pergunta para você? Por que você também não é assim? Ah, mas os católicos... ’ ‘Cuidado, eu disse a ele: conheço um rapaz convertido ao Catolicismo há mais ou menos um ano, e que já está trazendo gente para a Igreja. Já está sendo missionário, está colocando em prática seu Batismo e você está aí há anos. Cadê?’
Nós somos passivos. O católico chega a um lugar e, se alguém fala alguma coisa de religião, ele se encolhe, não é? Não emite opinião. Fica com vergonha de aparecer. Outros não: com orgulho, satisfação, dizem o que pensam e assinam em baixo. Por que isso?
Então que nosso Batismo passe a fazer diferença.
Eu vou terminar com uma frase de Jesus Cristo: quem der testemunho de Mim diante dos homens, Eu darei testemunho dele diante do Pai; quem se envergonhar de Mim diante dos homens, Eu me envergonharei dele diante do Pai.
Proferida e revisada pelo padre Sérgio Muniz em 09/01/2011
Liturgia da Palavra
Primeira Leitura: Livro do Profeta Isaias (Is 42,1-4.6-7)
Salmo: [Sl 28(29)]
Segunda Leitura: Atos dos Apóstolos ( At 10,34-38)
Evangelho: Mateus (Mt 3,13-17)
Nota: Esta e outras Homilias anteriores no blog: www.verbumvitae.com
quarta-feira, 19 de janeiro de 2011
quarta-feira, 12 de janeiro de 2011
Homilia
Transcrição da Homilia do 33º domingo do Tempo Comum
Não ficará pedra sobre pedra!
O que Jesus disse do templo de Jerusalém (que, aliás, foi destruído pelos romanos aproximadamente quarenta anos depois de sua morte e ressurreição, ou seja, no ano setenta), podemos aplicar a todo este universo que vemos diante de nós.
Não ficará pedra sobre pedra, tudo será transformado, tudo será modificado. A Bíblia não dá detalhes do que virá, mas fala de novos céus e nova terra: não ficará pedra sobre pedra e algumas das pedras que ocupam o topo ficarão por baixo e algumas das pedras que ocupam os alicerces estarão no topo, porque Deus vai julgar a terra inteira – com justiça julgará.
O Templo, imagem do universo, casa de Deus e dos homens, seria derrubado pelos romanos durante uma revolta dos israelitas, fartos do domínio romano. O Templo era uma espécie de síntese simbólica do céu e da terra. O mundo, com suas galáxias, com seus espaços infinitos, é o grande templo que será transformado, modificado.
A Primeira Leitura mencionava o dia dessa transformação, que os profetas chamavam “o dia do Senhor”. Dizia Malaquias: eis que virá o dia do Senhor, abrasador como fornalha em que todos os soberbos e ímpios serão como palha.
O Apóstolo Paulo, falando do mesmo assunto numa de suas cartas, disse que: o dia do Senhor será como um fogo e esse fogo provará as nossas obras. Há quem construa com palha, há quem construa com madeira, há quem construa com pedras, há que construa com ouro e prata. E o fogo provará a obra e a pessoa de cada um.
Quem deve temer? Aquele que constrói com palha, ou com madeira. Quem são esses (Malaquias diz nessa leitura que nós ouvimos)? Os soberbos e os ímpios. A soberba, o orgulho, eis a raiz de todo pecado e fonte da impiedade, que é a oposição a Deus e aos seus caminhos. Esse dia há de queimá-los.
Mas... e os amigos de Deus? Qual deve ser a nossa expectativa (supondo que sejamos nós amigos de Deus)? Para vós que temeis meu nome nascerá o sol da justiça trazendo salvação em suas asas.
O dia do Senhor, o dia da grande reviravolta, o dia em que o triunfo do bem será manifestado definitivamente, inquestionavelmente. O dia em que o triunfo de Cristo será claro.
Por enquanto esse triunfo, mesmo sendo um fato – Jesus é o vencedor da morte, do pecado, é o vencedor do demônio e das trevas – ainda não brilha com total evidência, para que nós possamos ter o mérito da fé.
Que mérito haveria em acreditar naquilo que é evidente? Nós acreditamos, e temos boas razões para acreditar, mas acreditamos em algo que não se manifestou na sua totalidade porque a vida nesse mundo ou é uma escuridão ou é uma penumbra. Luz plena só diante da face de Deus. Quem anda longe de Deus, anda na escuridão, quem anda na fé tem uma luz, mas é uma luz ainda limitada, suficiente para o próximo passo e para o passo depois dele. Quem anda na fé anda na penumbra, mas tem luz para evitar os buracos e os obstáculos. Essa luz da fé, como dissemos, ainda não é a luz da evidência total, para assim obtermos o mérito da visão de Deus, mérito que vem da fé.
O Evangelho diz que, no dia do Senhor, no dia da renovação universal, coisas pavorosas e grandes sinais no céu vão acontecer. Mas ninguém fique com medo, se é amigo de Deus não tema, porque o sol da justiça brilhará para você.
Qual a razão desses textos, nos profetas, no Evangelho e no livro do Apocalipse, que é um livro difícil (cuidado para não ler de qualquer maneira porque há muita simbologia ali), qual a razão de uma tal linguagem quando se fala da conclusão da história do mundo e do homem? Qual o sentido dessa convulsão universal, cósmica? Coisas e pavorosas e grandes sinais no céu...
A razão já o disse aqui, certa vez, mas vou repetir, é que toda arrumação depende de uma desarrumação prévia. Quem quer reformar uma sala, tem que quebrar e tirar muita coisa. Se quer reformar uma casa inteira, a bagunça vai ser maior, o barulho vai ser maior, a poeirada vai ser maior, o entulho vai ser muito mais volumoso. Quanto maior é a reforma que se quer fazer, tanto maior a bagunça que a precede. O barulho, a chateação, a despesa, não é assim?
Eis que existe um universo a restaurar... Então imaginem o tamanho da bagunça que terá de preceder a restauração universal. É uma lei natural.
Se você vai fazer um almoço comum durante a semana, sujam-se algumas panelas e alguns pratos. Se você vai fazer um almoço de festa para a família num domingo ou numa data especial, haja prato, haja panela... Daqui a pouco, chegando o Natal, quem for fazer uma ceia já se prepare para o trabalho e o cansaço.
Assim também a festa da reinauguração do universo, que decaiu, que se carcomeu por causa do pecado. A festa da reinauguração da criação será precedida por uma grande confusão, como qualquer festa causa uma grande confusão na sua cozinha e na sua agenda. Coisas inesperadas e incomuns acontecem quando se está preparando um grande evento, nós sabemos disso. É a mesma coisa.
Para nós, os amigos de Deus, isso tudo é motivo de esperança e alegria. Não temos que temer (a não ser que estejamos entre os soberbos e os ímpios) e é por isso que desde já temos que trabalhar dentro de nós a grande revolução. Jesus diz que antes que estas coisas aconteçam, vão acontecer revoltas, levantes, guerras e revoluções. A história da humanidade está cheia dessas coisas e elas ainda não acabaram. Por quê? Essas revoluções, esses levantes, essas revoltas, até da própria natureza.
Acontece que o mundo, desde o pecado original em diante, começou a descer a ladeira como uma avalanche, uma espécie de avalanche de pedras ou de neve, descendo de uma montanha altíssima. Assim a humanidade começou a se precipitar nos abismos para longe de Deus.
Jesus Cristo veio ao mundo e, com a força da sua vinda, da sua morte e ressurreição, imprimiu um movimento contrário a essa avalanche, de baixo para cima, um poderosíssimo movimento, não só para detê-la, mas para levar tudo ao lugar de onde não devia ter saído. Imaginem quando essas duas forças – a que desce da montanha e a que vem de baixo – se chocam... qual o resultado? E é por isso que a história está em convulsão.
E é por isso que no dizer de Paulo: a criação inteira sofre e geme dores de parto até que se manifeste a glória dos filhos de Deus. É por isso que a criação inteira anseia, diz o Apóstolo, por esse dia: vai ser libertada de todos os males. Mas enquanto isso está em processo, enquanto as avalanches, as duas forças, a de baixo e a de cima estão se encontrando, acontecem as revoluções.
Tais coisas não são globalmente nem necessariamente ruins. É a lei da história redimida por Cristo. Ou a lei da remissão da história por Cristo. No meio dessas revoluções, muitos cristãos fiéis a Jesus são levados a julgamento diante dos reis e governadores; são os mártires, os que são perseguidos por causa da fé, ainda hoje. Basta folhear as páginas da história que nós o vamos encontrar até os nossos dias. Por exemplo, em Cuba, perseguição religiosa ainda está longe de terminar; foram dados recentemente uns tímidos passos. Na China comunista, idem. Nós temos a possibilidade de vir à Missa perto de casa; na China muitos católicos têm que ir à Missa escondidos, caminham quilômetros para não serem descobertos e seguidos. Ninguém fala disso por causa do grande mercado consumidor que é a China, e do seu grande poderio militar. As potências econômicas calam essas coisas.
Fala-se em direitos humanos para defender aborto e outras coisas, pervertendo o sentido das palavras, mas não se fala em direitos humanos nessas questões porque envolvem a Igreja Católica perseguida.
Eles vos odiarão por causa de meu nome, matarão alguns de vós, mas não perdereis um fio de cabelo de vossa cabeça.
Com assim? Alguém perde a cabeça inteira por Ele, e Jesus vem dizer que não perderemos sequer um fio de cabelo? Vejam São João Batista, por exemplo, vejam tantos mártires, como São Paulo Apóstolo que literalmente perderam a cabeça... Muito mais que um fio, todos os fios da barba e da cabeça. Não é uma contradição?
Certamente não!
Qual o sentido? Não perdeis significa: não terá sido em vão. Não será sem recompensa condigna. A vitória chegará para esses que o mundo desprezou, para os que foram odiados ou incompreendidos por causa de Cristo.
Se na sua família ou no seu trabalho a avalanche está descendo e você representa a força de Cristo que reconduz as coisas para o alto, vai haver choque e você vai ser incompreendido necessariamente, talvez perseguido, talvez julgado. Quem sabe alguém terá que dar a vida por Cristo.
Se nesse mundo nós representamos a força da restauração que é a força da salvação, da ressurreição, a força do mal que vem de cima para baixo vai se chocar conosco e vai haver guerra e vai haver revolução. E essa é a mais importante das revoluções: permanecei firmes, porque permanecendo firmes é que ireis conquistar a vossa vida.
E o que dizer da revolução dentro de nós, que se chama conversão? Dentro de nós também há uma avalanche que desce impiedosa para arrasar tudo. Nós sentimos o peso dos sentimentos desregrados, do desnorteamento de nossos sentimentos, das nossas idéias, pensamentos, ações, inclinações. Uma avalanche que quer esmagar tudo. Mas unidos a Jesus Cristo e alimentados pela Eucaristia e por sua Palavra de vida, obtemos força para empurrar tudo de volta. É preciso estar dispostos para a luta, para a grande revolução, mas a força vem de Cristo, é por isto que estamos aqui, é para isto que estamos aqui: para haurir desta força e poder e empregá-la na grande revolução que nos espera, assim que pusermos o pé fora desta porta.
Proferida pelo padre Sérgio Muniz – Botafogo em 14/11/2010
Não ficará pedra sobre pedra!
O que Jesus disse do templo de Jerusalém (que, aliás, foi destruído pelos romanos aproximadamente quarenta anos depois de sua morte e ressurreição, ou seja, no ano setenta), podemos aplicar a todo este universo que vemos diante de nós.
Não ficará pedra sobre pedra, tudo será transformado, tudo será modificado. A Bíblia não dá detalhes do que virá, mas fala de novos céus e nova terra: não ficará pedra sobre pedra e algumas das pedras que ocupam o topo ficarão por baixo e algumas das pedras que ocupam os alicerces estarão no topo, porque Deus vai julgar a terra inteira – com justiça julgará.
O Templo, imagem do universo, casa de Deus e dos homens, seria derrubado pelos romanos durante uma revolta dos israelitas, fartos do domínio romano. O Templo era uma espécie de síntese simbólica do céu e da terra. O mundo, com suas galáxias, com seus espaços infinitos, é o grande templo que será transformado, modificado.
A Primeira Leitura mencionava o dia dessa transformação, que os profetas chamavam “o dia do Senhor”. Dizia Malaquias: eis que virá o dia do Senhor, abrasador como fornalha em que todos os soberbos e ímpios serão como palha.
O Apóstolo Paulo, falando do mesmo assunto numa de suas cartas, disse que: o dia do Senhor será como um fogo e esse fogo provará as nossas obras. Há quem construa com palha, há quem construa com madeira, há quem construa com pedras, há que construa com ouro e prata. E o fogo provará a obra e a pessoa de cada um.
Quem deve temer? Aquele que constrói com palha, ou com madeira. Quem são esses (Malaquias diz nessa leitura que nós ouvimos)? Os soberbos e os ímpios. A soberba, o orgulho, eis a raiz de todo pecado e fonte da impiedade, que é a oposição a Deus e aos seus caminhos. Esse dia há de queimá-los.
Mas... e os amigos de Deus? Qual deve ser a nossa expectativa (supondo que sejamos nós amigos de Deus)? Para vós que temeis meu nome nascerá o sol da justiça trazendo salvação em suas asas.
O dia do Senhor, o dia da grande reviravolta, o dia em que o triunfo do bem será manifestado definitivamente, inquestionavelmente. O dia em que o triunfo de Cristo será claro.
Por enquanto esse triunfo, mesmo sendo um fato – Jesus é o vencedor da morte, do pecado, é o vencedor do demônio e das trevas – ainda não brilha com total evidência, para que nós possamos ter o mérito da fé.
Que mérito haveria em acreditar naquilo que é evidente? Nós acreditamos, e temos boas razões para acreditar, mas acreditamos em algo que não se manifestou na sua totalidade porque a vida nesse mundo ou é uma escuridão ou é uma penumbra. Luz plena só diante da face de Deus. Quem anda longe de Deus, anda na escuridão, quem anda na fé tem uma luz, mas é uma luz ainda limitada, suficiente para o próximo passo e para o passo depois dele. Quem anda na fé anda na penumbra, mas tem luz para evitar os buracos e os obstáculos. Essa luz da fé, como dissemos, ainda não é a luz da evidência total, para assim obtermos o mérito da visão de Deus, mérito que vem da fé.
O Evangelho diz que, no dia do Senhor, no dia da renovação universal, coisas pavorosas e grandes sinais no céu vão acontecer. Mas ninguém fique com medo, se é amigo de Deus não tema, porque o sol da justiça brilhará para você.
Qual a razão desses textos, nos profetas, no Evangelho e no livro do Apocalipse, que é um livro difícil (cuidado para não ler de qualquer maneira porque há muita simbologia ali), qual a razão de uma tal linguagem quando se fala da conclusão da história do mundo e do homem? Qual o sentido dessa convulsão universal, cósmica? Coisas e pavorosas e grandes sinais no céu...
A razão já o disse aqui, certa vez, mas vou repetir, é que toda arrumação depende de uma desarrumação prévia. Quem quer reformar uma sala, tem que quebrar e tirar muita coisa. Se quer reformar uma casa inteira, a bagunça vai ser maior, o barulho vai ser maior, a poeirada vai ser maior, o entulho vai ser muito mais volumoso. Quanto maior é a reforma que se quer fazer, tanto maior a bagunça que a precede. O barulho, a chateação, a despesa, não é assim?
Eis que existe um universo a restaurar... Então imaginem o tamanho da bagunça que terá de preceder a restauração universal. É uma lei natural.
Se você vai fazer um almoço comum durante a semana, sujam-se algumas panelas e alguns pratos. Se você vai fazer um almoço de festa para a família num domingo ou numa data especial, haja prato, haja panela... Daqui a pouco, chegando o Natal, quem for fazer uma ceia já se prepare para o trabalho e o cansaço.
Assim também a festa da reinauguração do universo, que decaiu, que se carcomeu por causa do pecado. A festa da reinauguração da criação será precedida por uma grande confusão, como qualquer festa causa uma grande confusão na sua cozinha e na sua agenda. Coisas inesperadas e incomuns acontecem quando se está preparando um grande evento, nós sabemos disso. É a mesma coisa.
Para nós, os amigos de Deus, isso tudo é motivo de esperança e alegria. Não temos que temer (a não ser que estejamos entre os soberbos e os ímpios) e é por isso que desde já temos que trabalhar dentro de nós a grande revolução. Jesus diz que antes que estas coisas aconteçam, vão acontecer revoltas, levantes, guerras e revoluções. A história da humanidade está cheia dessas coisas e elas ainda não acabaram. Por quê? Essas revoluções, esses levantes, essas revoltas, até da própria natureza.
Acontece que o mundo, desde o pecado original em diante, começou a descer a ladeira como uma avalanche, uma espécie de avalanche de pedras ou de neve, descendo de uma montanha altíssima. Assim a humanidade começou a se precipitar nos abismos para longe de Deus.
Jesus Cristo veio ao mundo e, com a força da sua vinda, da sua morte e ressurreição, imprimiu um movimento contrário a essa avalanche, de baixo para cima, um poderosíssimo movimento, não só para detê-la, mas para levar tudo ao lugar de onde não devia ter saído. Imaginem quando essas duas forças – a que desce da montanha e a que vem de baixo – se chocam... qual o resultado? E é por isso que a história está em convulsão.
E é por isso que no dizer de Paulo: a criação inteira sofre e geme dores de parto até que se manifeste a glória dos filhos de Deus. É por isso que a criação inteira anseia, diz o Apóstolo, por esse dia: vai ser libertada de todos os males. Mas enquanto isso está em processo, enquanto as avalanches, as duas forças, a de baixo e a de cima estão se encontrando, acontecem as revoluções.
Tais coisas não são globalmente nem necessariamente ruins. É a lei da história redimida por Cristo. Ou a lei da remissão da história por Cristo. No meio dessas revoluções, muitos cristãos fiéis a Jesus são levados a julgamento diante dos reis e governadores; são os mártires, os que são perseguidos por causa da fé, ainda hoje. Basta folhear as páginas da história que nós o vamos encontrar até os nossos dias. Por exemplo, em Cuba, perseguição religiosa ainda está longe de terminar; foram dados recentemente uns tímidos passos. Na China comunista, idem. Nós temos a possibilidade de vir à Missa perto de casa; na China muitos católicos têm que ir à Missa escondidos, caminham quilômetros para não serem descobertos e seguidos. Ninguém fala disso por causa do grande mercado consumidor que é a China, e do seu grande poderio militar. As potências econômicas calam essas coisas.
Fala-se em direitos humanos para defender aborto e outras coisas, pervertendo o sentido das palavras, mas não se fala em direitos humanos nessas questões porque envolvem a Igreja Católica perseguida.
Eles vos odiarão por causa de meu nome, matarão alguns de vós, mas não perdereis um fio de cabelo de vossa cabeça.
Com assim? Alguém perde a cabeça inteira por Ele, e Jesus vem dizer que não perderemos sequer um fio de cabelo? Vejam São João Batista, por exemplo, vejam tantos mártires, como São Paulo Apóstolo que literalmente perderam a cabeça... Muito mais que um fio, todos os fios da barba e da cabeça. Não é uma contradição?
Certamente não!
Qual o sentido? Não perdeis significa: não terá sido em vão. Não será sem recompensa condigna. A vitória chegará para esses que o mundo desprezou, para os que foram odiados ou incompreendidos por causa de Cristo.
Se na sua família ou no seu trabalho a avalanche está descendo e você representa a força de Cristo que reconduz as coisas para o alto, vai haver choque e você vai ser incompreendido necessariamente, talvez perseguido, talvez julgado. Quem sabe alguém terá que dar a vida por Cristo.
Se nesse mundo nós representamos a força da restauração que é a força da salvação, da ressurreição, a força do mal que vem de cima para baixo vai se chocar conosco e vai haver guerra e vai haver revolução. E essa é a mais importante das revoluções: permanecei firmes, porque permanecendo firmes é que ireis conquistar a vossa vida.
E o que dizer da revolução dentro de nós, que se chama conversão? Dentro de nós também há uma avalanche que desce impiedosa para arrasar tudo. Nós sentimos o peso dos sentimentos desregrados, do desnorteamento de nossos sentimentos, das nossas idéias, pensamentos, ações, inclinações. Uma avalanche que quer esmagar tudo. Mas unidos a Jesus Cristo e alimentados pela Eucaristia e por sua Palavra de vida, obtemos força para empurrar tudo de volta. É preciso estar dispostos para a luta, para a grande revolução, mas a força vem de Cristo, é por isto que estamos aqui, é para isto que estamos aqui: para haurir desta força e poder e empregá-la na grande revolução que nos espera, assim que pusermos o pé fora desta porta.
Proferida pelo padre Sérgio Muniz – Botafogo em 14/11/2010
domingo, 9 de janeiro de 2011
Homilia da Epifania do Senhor
Transcrição da Homilia do domingo da Epifania do Senhor
Se nós quiséssemos resumir numa frase o sentido da solenidade da Epifania poderíamos dizer o seguinte: Das trevas para a luz. Vamos entender por que.
Epifania significa manifestação. Manifestação do Cristo aos povos que não sabiam da sua vinda, não a esperavam conscientemente por que. Sabemos que Jesus nasce do povo de Israel, que esperava o Messias, pois tinha as profecias do Antigo Testamento e as conhecia. Ansiava pela vinda do Salvador prometido por Deus; mas outros povos que viviam na escuridão, nas trevas do desconhecimento do Deus único e verdadeiro, da idolatria, da magia e superstição, não conheciam a promessa acerca da vinda do Salvador.
Deus, no entanto, manifesta o seu Cristo a todas as nações representadas nos magos que vêm de longe para adorar o Menino. Aliás, a profecia de Isaías parece-nos um quadro da visita dos magos. Admirável, porque é um quadro pintado com antecipação de muitos séculos. Isaias, com efeito, foi apelidado de o ‘evangelista do Antigo Testamento’ porque, mesmo não tendo visto o Cristo, deu-nos, em suas profecias, muitos detalhes interessantes, como quem tivesse visto antecipadamente o Senhor que haveria de chegar. Por exemplo, aqui ele diz: levanta-te, acende a luzes Jerusalém porque chegou a tua Luz, apareceu sobre ti a glória do Senhor e, mais ao fim, será inundação de camelos e dromedários de Madiã e Efa a te cobrir. Virão todos de Sabá trazendo ouro e incenso e proclamando a glória do Senhor. Eis aí a profecia que se cumpre na visita dos magos.
Falemos um pouco deles então. Quem seriam essas figuras tão misteriosas cujos nomes não aparecem na Bíblia embora nos sejam legados por uma tradição antiga.
Estes magos eram sábios, aqui se fala de Madiã, Efa e Sabá que são regiões da Arábia, mas também provavelmente algum deles ou quem sabe todos, viessem da Pérsia que é a região da Mesopotâmia.
Nessas regiões da Arábia e da Pérsia, homens sábios perscrutavam os céus. Eles não conheciam a Deus, adoravam seus deuses e acreditavam que os astros determinavam a sorte dos homens na terra (existe gente hoje ainda hoje pensa assim). E a Bíblia condena veementemente a astrologia dizendo no capítulo dezoito de Deuteronômio: não farás como os povos em torno de ti, que consultam os adivinhos, os magos, os astrólogos porque isso é abominação para o Senhor teu Deus. É por isso que ele expulsa diante de ti essas nações para que ocupes o lugar delas. Então Israel não praticava a astrologia, porque Deus tinha proibido qualquer arte divinatória, de previsão do futuro, porque, como diz sabiamente o povo, ‘o futuro a Deus pertence’... e deve ficar assim.
Mas esses homens não conheciam as escrituras do Antigo Testamento com a Lei de Moisés. Eram pagãos. Vejam, então, que Deus resolve descer ao nível deles para elevá-los ao seu nível (este movimento de descida ao outro para o elevar é característico do mistério da Encarnação do Filho de Deus). Deus fala aos pagãos à linguagem que eles eram capazes de entender, para trazê-los da lógica deles para a lógica de Deus, para trazê-los das trevas à luz. Então Deus resolve brincar, vamos dizer assim, de acordo com o jogo que eles conheciam, para trazê-los, a Si e fazê-los, depois, jogar um outro jogo, o seu jogo.
Seria interessante considerarmos um pouco, agora, o fenômeno da Estrela de Belém. Vocês sabem que nosso calendário depois de Cristo, a contagem dos anos depois de Cristo, é um pouco defasado porque houve um erro de cálculo na antiguidade, um erro de cálculo de mais ou menos de cinco anos; na verdade de cinco a sete anos. Então nós poderíamos dizer que Jesus nasceu antes do ano um, aliás, nem computaram o ano zero, o que foi uma das falhas no cálculo. Então Jesus nasceu um pouco antes do que somos levados a imaginar, e nós estaríamos provavelmente no ano de 2016 mais ou menos (2018?), se não tivesse havido esse erro de cálculo.
Dizem os astrônomos que houve por essa época, sete antes de Cristo, ou seja, um fenômeno grandioso no céu: o alinhamento de alguns astros: Júpiter e Saturno sobre o pano de fundo da constelação de Peixes. Então a luz refletida pelos dois planetas, que parecem estrelas no céu, aumentou consideravelmente, ficou uma super-estrela. Júpiter e Saturno se uniram, portanto, na casa de Peixes.
Os astrólogos, os orientais, os magos achavam que Júpiter fosse o planeta que regia a realeza, é o planeta dos reis, não é; achavam que Saturno fosse o planeta que regia a sorte do povo de Israel e pensavam também que a constelação de Peixes que estava por trás, marcava um novo começo para a humanidade, abria um novo momento para a humanidade então interpretaram que a junção de Saturno com Júpiter significava um rei em Israel inaugurando um novo tempo para a humanidade e assim resolveram seguir aquele sinal.
Deus, na sua sabedoria e sua misericórdia, mesmo sendo contrário à astrologia (coisa que os magos não sabiam por não serem israelitas) fez coincidir o nascimento de Cristo com esse fenômeno celeste, de modo que as nações, representadas pelos magos, pudessem vir adorar o Senhor indicado pela estrela.
Saíram das trevas da idolatria – porque acreditavam em deuses, divinizavam as estrelas, os planetas – e encontraram a luz verdadeira, Jesus Cristo. De fato lá chegando se ajoelham diante do Menino. O novo rei, eles o vão procurar em Jerusalém, porque Jerusalém é a capital. Procuram no palácio de Herodes, porque, se nasceu um reizinho, tinha que ser lá. Mas Herodes não sabe de nada, fica perturbado com a concorrência: o que é isso? Pergunta aos sábios conhecedores das Escrituras e recebe a informação: é em Belém que Ele deve nascer. Para lá se dirigem, não mais a um palácio, mas a uma simples casa (já não era a noite de Natal, havia passado algum tempo). Maria estava na casa com o menino e lá encontraram Jesus, o novo Rei, assentado no seu trono, o colo da Virgem Maria!
Ajoelharam-se diante dele e o adoraram, ofereceram-lhe presentes que velam e revelam a identidade e a missão do Menino: ouro para o Rei dos reis; incenso para o Sumo Sacerdote; mirra para aquele que deveria padecer a amargura da morte de cruz e descer ao pó do sepulcro.
Diz uma antiga tradição, veneranda tradição, que aqueles homens voltaram para as suas terras com o coração preenchido pela nova Luz: não mais a luz dos astros que tinham considerado como deuses, não mais a luz das constelações criadas pela mão de Deus, mas Cristo: Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado, consubstancial ao Pai; Ele, por quem todas as coisas foram feitas, e que, por nós, homens, e para nossa salvação, desceu dos céus, se encarnou no ventre da Virgem Maria e se fez homem.
Diz o Evangelho belamente: retornaram para a sua terra seguindo outro caminho. Não apenas seguindo outro caminho ou trajeto para despistar Herodes, mas seguindo outro caminho de vida, outro caminho espiritual. Já conheciam a Luz verdadeira, não precisavam mais da luz dos planetas e das estrelas porque sabiam que a Luz que guia seus destinos agora é Jesus Cristo.
Como dizíamos, uma antiga e venerável tradição diz que os magos voltaram acreditando no Deus de Israel e no seu Cristo. Saíram das trevas para a luz e isso, meus irmãos, é para todos os povos, todas as nações neles representados. Assim, o Evangelho chegou a nós e se destina a toda criatura.
Que essa luz brilhe nos nossos corações, que essa luz brilhe nos nossos atos, nos nossos olhares, nas nossas palavras durante este ano que se inicia. Que essa luz resplandeça em nós e fale de Cristo àqueles que não O conhecem, para aqueles que vivem nas trevas. Reflitamos nós a luz de Cristo, como os magos, que voltaram a refleti-la aos seus lugares de origem, iluminando aqueles que lá encontrariam.
Assim também ao sair desta igreja, levemos conosco a luz do Senhor e reflitamo-la diante dos que nos cercam lá fora, os que não conhecem a luz verdadeira que ilumina todo homem.
Peçamos essa graça ao Senhor, colaboremos com a Sua misericórdia.
Abramos os nossos corações, sejamos nós luz, com Cristo, por Cristo e em Cristo.
Assim Seja.
Proferida pelo padre Sergio Muniz em 02/01/2011
Liturgia da Palavra
Primeira Leitura: Livro do profeta Isaias (Is 60,1-6)
Salmo: [Sl 71(72)]
Segunda Leitura: Carta de São Paulo aos Efésios (Ef 3,2-3a.5-6)
Evangelho: Mateus (Mt 2,1-12)
Se nós quiséssemos resumir numa frase o sentido da solenidade da Epifania poderíamos dizer o seguinte: Das trevas para a luz. Vamos entender por que.
Epifania significa manifestação. Manifestação do Cristo aos povos que não sabiam da sua vinda, não a esperavam conscientemente por que. Sabemos que Jesus nasce do povo de Israel, que esperava o Messias, pois tinha as profecias do Antigo Testamento e as conhecia. Ansiava pela vinda do Salvador prometido por Deus; mas outros povos que viviam na escuridão, nas trevas do desconhecimento do Deus único e verdadeiro, da idolatria, da magia e superstição, não conheciam a promessa acerca da vinda do Salvador.
Deus, no entanto, manifesta o seu Cristo a todas as nações representadas nos magos que vêm de longe para adorar o Menino. Aliás, a profecia de Isaías parece-nos um quadro da visita dos magos. Admirável, porque é um quadro pintado com antecipação de muitos séculos. Isaias, com efeito, foi apelidado de o ‘evangelista do Antigo Testamento’ porque, mesmo não tendo visto o Cristo, deu-nos, em suas profecias, muitos detalhes interessantes, como quem tivesse visto antecipadamente o Senhor que haveria de chegar. Por exemplo, aqui ele diz: levanta-te, acende a luzes Jerusalém porque chegou a tua Luz, apareceu sobre ti a glória do Senhor e, mais ao fim, será inundação de camelos e dromedários de Madiã e Efa a te cobrir. Virão todos de Sabá trazendo ouro e incenso e proclamando a glória do Senhor. Eis aí a profecia que se cumpre na visita dos magos.
Falemos um pouco deles então. Quem seriam essas figuras tão misteriosas cujos nomes não aparecem na Bíblia embora nos sejam legados por uma tradição antiga.
Estes magos eram sábios, aqui se fala de Madiã, Efa e Sabá que são regiões da Arábia, mas também provavelmente algum deles ou quem sabe todos, viessem da Pérsia que é a região da Mesopotâmia.
Nessas regiões da Arábia e da Pérsia, homens sábios perscrutavam os céus. Eles não conheciam a Deus, adoravam seus deuses e acreditavam que os astros determinavam a sorte dos homens na terra (existe gente hoje ainda hoje pensa assim). E a Bíblia condena veementemente a astrologia dizendo no capítulo dezoito de Deuteronômio: não farás como os povos em torno de ti, que consultam os adivinhos, os magos, os astrólogos porque isso é abominação para o Senhor teu Deus. É por isso que ele expulsa diante de ti essas nações para que ocupes o lugar delas. Então Israel não praticava a astrologia, porque Deus tinha proibido qualquer arte divinatória, de previsão do futuro, porque, como diz sabiamente o povo, ‘o futuro a Deus pertence’... e deve ficar assim.
Mas esses homens não conheciam as escrituras do Antigo Testamento com a Lei de Moisés. Eram pagãos. Vejam, então, que Deus resolve descer ao nível deles para elevá-los ao seu nível (este movimento de descida ao outro para o elevar é característico do mistério da Encarnação do Filho de Deus). Deus fala aos pagãos à linguagem que eles eram capazes de entender, para trazê-los da lógica deles para a lógica de Deus, para trazê-los das trevas à luz. Então Deus resolve brincar, vamos dizer assim, de acordo com o jogo que eles conheciam, para trazê-los, a Si e fazê-los, depois, jogar um outro jogo, o seu jogo.
Seria interessante considerarmos um pouco, agora, o fenômeno da Estrela de Belém. Vocês sabem que nosso calendário depois de Cristo, a contagem dos anos depois de Cristo, é um pouco defasado porque houve um erro de cálculo na antiguidade, um erro de cálculo de mais ou menos de cinco anos; na verdade de cinco a sete anos. Então nós poderíamos dizer que Jesus nasceu antes do ano um, aliás, nem computaram o ano zero, o que foi uma das falhas no cálculo. Então Jesus nasceu um pouco antes do que somos levados a imaginar, e nós estaríamos provavelmente no ano de 2016 mais ou menos (2018?), se não tivesse havido esse erro de cálculo.
Dizem os astrônomos que houve por essa época, sete antes de Cristo, ou seja, um fenômeno grandioso no céu: o alinhamento de alguns astros: Júpiter e Saturno sobre o pano de fundo da constelação de Peixes. Então a luz refletida pelos dois planetas, que parecem estrelas no céu, aumentou consideravelmente, ficou uma super-estrela. Júpiter e Saturno se uniram, portanto, na casa de Peixes.
Os astrólogos, os orientais, os magos achavam que Júpiter fosse o planeta que regia a realeza, é o planeta dos reis, não é; achavam que Saturno fosse o planeta que regia a sorte do povo de Israel e pensavam também que a constelação de Peixes que estava por trás, marcava um novo começo para a humanidade, abria um novo momento para a humanidade então interpretaram que a junção de Saturno com Júpiter significava um rei em Israel inaugurando um novo tempo para a humanidade e assim resolveram seguir aquele sinal.
Deus, na sua sabedoria e sua misericórdia, mesmo sendo contrário à astrologia (coisa que os magos não sabiam por não serem israelitas) fez coincidir o nascimento de Cristo com esse fenômeno celeste, de modo que as nações, representadas pelos magos, pudessem vir adorar o Senhor indicado pela estrela.
Saíram das trevas da idolatria – porque acreditavam em deuses, divinizavam as estrelas, os planetas – e encontraram a luz verdadeira, Jesus Cristo. De fato lá chegando se ajoelham diante do Menino. O novo rei, eles o vão procurar em Jerusalém, porque Jerusalém é a capital. Procuram no palácio de Herodes, porque, se nasceu um reizinho, tinha que ser lá. Mas Herodes não sabe de nada, fica perturbado com a concorrência: o que é isso? Pergunta aos sábios conhecedores das Escrituras e recebe a informação: é em Belém que Ele deve nascer. Para lá se dirigem, não mais a um palácio, mas a uma simples casa (já não era a noite de Natal, havia passado algum tempo). Maria estava na casa com o menino e lá encontraram Jesus, o novo Rei, assentado no seu trono, o colo da Virgem Maria!
Ajoelharam-se diante dele e o adoraram, ofereceram-lhe presentes que velam e revelam a identidade e a missão do Menino: ouro para o Rei dos reis; incenso para o Sumo Sacerdote; mirra para aquele que deveria padecer a amargura da morte de cruz e descer ao pó do sepulcro.
Diz uma antiga tradição, veneranda tradição, que aqueles homens voltaram para as suas terras com o coração preenchido pela nova Luz: não mais a luz dos astros que tinham considerado como deuses, não mais a luz das constelações criadas pela mão de Deus, mas Cristo: Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado, consubstancial ao Pai; Ele, por quem todas as coisas foram feitas, e que, por nós, homens, e para nossa salvação, desceu dos céus, se encarnou no ventre da Virgem Maria e se fez homem.
Diz o Evangelho belamente: retornaram para a sua terra seguindo outro caminho. Não apenas seguindo outro caminho ou trajeto para despistar Herodes, mas seguindo outro caminho de vida, outro caminho espiritual. Já conheciam a Luz verdadeira, não precisavam mais da luz dos planetas e das estrelas porque sabiam que a Luz que guia seus destinos agora é Jesus Cristo.
Como dizíamos, uma antiga e venerável tradição diz que os magos voltaram acreditando no Deus de Israel e no seu Cristo. Saíram das trevas para a luz e isso, meus irmãos, é para todos os povos, todas as nações neles representados. Assim, o Evangelho chegou a nós e se destina a toda criatura.
Que essa luz brilhe nos nossos corações, que essa luz brilhe nos nossos atos, nos nossos olhares, nas nossas palavras durante este ano que se inicia. Que essa luz resplandeça em nós e fale de Cristo àqueles que não O conhecem, para aqueles que vivem nas trevas. Reflitamos nós a luz de Cristo, como os magos, que voltaram a refleti-la aos seus lugares de origem, iluminando aqueles que lá encontrariam.
Assim também ao sair desta igreja, levemos conosco a luz do Senhor e reflitamo-la diante dos que nos cercam lá fora, os que não conhecem a luz verdadeira que ilumina todo homem.
Peçamos essa graça ao Senhor, colaboremos com a Sua misericórdia.
Abramos os nossos corações, sejamos nós luz, com Cristo, por Cristo e em Cristo.
Assim Seja.
Proferida pelo padre Sergio Muniz em 02/01/2011
Liturgia da Palavra
Primeira Leitura: Livro do profeta Isaias (Is 60,1-6)
Salmo: [Sl 71(72)]
Segunda Leitura: Carta de São Paulo aos Efésios (Ef 3,2-3a.5-6)
Evangelho: Mateus (Mt 2,1-12)
Homila da Santa Mãe de Deus
Transcrição da Homilia da solenidade da Santa Mãe de Deus, Maria (1 de janeiro)
Completa-se hoje, meus irmãos, minhas irmãs, a oitava de Natal, ou seja, os oito dias que são prolongamento, por assim dizer, da festa do dia vinte e cinco. O Evangelho terminava dizendo que quando se completaram oito dias, circuncidaram o Menino como mandava a lei de Moisés; era um sinal na carne de que o Menino pertencia ao povo de Israel, aos descendentes de Abraão (ainda hoje os judeus praticam a circuncisão). Circuncidaram o Menino aos oito dias, como manda a lei de Moisés, e deram-Lhe o nome de Jesus.
No ato da circuncisão era imposto o nome. Hoje, portanto, liturgicamente, é o dia em que Jesus recebe seu nome. No calendário litúrgico antigo, era hoje a festa do nome de Jesus,; atualmente festa de Maria, mãe de Deus.
Na verdade, a figura de Maria e a figura de Jesus se interpenetram de uma maneira muito orgânica, muito viva. Jesus, o Rei Messias, aparece na terra reinando do seu primeiro trono: o colo da Virgem Maria, eis porque a figura de Maria é tão importante neste dia.
Diz o Evangelista que Ela guardava todos esses fatos e meditava sobre eles no seu coração. Essa atitude de guardar no coração e meditar como quem monta um quebra cabeça, com paciência, até que a figura vá fazendo sentido, deve ser também a nossa atitude. A cada dia Deus nós dá uma peçinha do quebra cabeça e a cada dia temos a tarefa descobrir o seu lugar no conjunto e começar a enxergar, a interpretar, a ler a figura e o sentido dela diante de nós. Se quem monta o quebra cabeça for impaciente, não vai resolver nada. Quanto mais paciência, mais capacidade de concentração tiver, mais vai ter resultados. Assim é o quebra cabeça da vida.
Podemos decifrá-lo, interpretá-lo, montá-lo à luz de Deus como Maria fazia, guardando e meditando no coração. Quem não faz isso fica no meio de peças desconexas e não acha o sentido das coisas. Isso é muito perigoso porque pode gerar angústia, a angústia gera o desespero e assim por diante. É preciso parar e, à luz de Deus, somente à luz de Deus – porque no escuro também não se pode para montar quebra cabeça algum – à luz de Deus empreender a decifração do enigma da vida .
Nessa oitava de Natal, a leitura de São Paulo aos Gálatas fecha em grande estilo o sentido da grande festa natalina dizendo que Deus enviou Seu Filho nascido de uma mulher. Aí novamente aparece a figura de Maria: muito importante que seja nascido de uma mulher. Por quê?
Na época do Apóstolo, e também um pouco depois, alguns afirmavam que a humanidade, a natureza humana de Jesus era uma ilusão, era uma aparência; Ele seria um ser celeste com a aparência humana, mas os apóstolos, e com eles a Igreja, afirmaram e afirmam que Jesus é verdadeiramente homem, mesmo sendo verdadeiramente Deus (a Segunda Pessoa da Trindade). Verdadeiro Deus e verdadeiro homem.
Dizer “nascido de uma mulher” não deixa dúvidas a respeito da verdade, da realidade da natureza humana que Ele assumiu. Ele é carne da nossa carne. Isso é fundamental. Deus enviou seu Filho nascido de uma mulher: então Jesus é Filho Dele, é verdadeiro Deus; nascido de uma mulher: é verdadeiro homem.
Para que recebêssemos a filiação adotiva – eis aí o sentido do nascimento de Cristo – o Filho de Deus se faz filho do Homem para que os filhos dos homens se façam filhos de Deus. Nascido de uma mulher para que os que nasceram de mulher se tornem também eles filhos de Deus.
Uma sublime troca de dons entre o Céu e a terra, eis a medula do Natal. Ele assume sobre si o que é nosso para nos dar do que é seu. De fato só Jesus pode usar o título, o nome, Filho, de maneira plena, total porque Ele é filho por natureza. É o que eu chamo de filiação propriamente dita, filiação por natureza.
Ele não é adotado pelo Pai Celeste, Ele não é criado pelo Pai, Ele é gerado eternamente, ou seja, desde sempre, para sempre. Gerado eternamente, tem a mesma natureza do Pai, não é nem menos, nem mais, tem a mesma divindade do Pai, junto com o Espírito Santo. Então por isso Ele é chamado Filho Unigênito como diremos no Credo, o Filho Único.
E então alguém vai perguntar: mas e nós? se Ele é Filho único, nós não somos filhos?
Somos por participação na filiação dele. O que é a participação na filiação divina? No dia do nosso Batismo Deus nos concede a graça, que é a Sua presença em nós. Deus nos faz participar da sua divindade. A Trindade Santa, o Pai, o Filho e o Espírito, vem morar em nós. Então nós, que nascendo de mulher tínhamos vida humana, agora através do Batismo, nascemos de Deus e passamos a ter vida divina. Somos divinizados. E isso por pura graça de Deus em nós: isso nos faz filhos.
Participamos assim da filiação de Jesus Cristo. Por direito não somos filhos, pois não o somos por natureza, mas por graça, ou seja, por gratuita participação.
E aí São Paulo conclui: se és filho, não és escravo, mas herdeiro.
Existem pessoas que vivem como escravos, escravos das forças deste mundo, escravos também de algumas forças misteriosas que rondam e invadem este mundo. Agora no ano novo, não é novidade para ninguém, tem gente aí recorrendo à superstição, à magia de todo tipo, à `simpatia`. O que, que é isso? Espiritualmente falando, isso é escravidão. Pessoas livres em Cristo não se submetem a essas indignidades, porque não é digno do homem curvar-se senão diante de Deus. Quem faz essas coisas é escravo, escravo das trevas, escravo das forças desse mundo. E há quem seja escravo também dos próprios desejos desregrados, escravo dos próprios vícios e assim por diante, mas Jesus quer-nos livres porque se somos filhos, somos livres. O filho do patrão, o filho do senhor, o filho do rei não é escravo, é livre e assim Deus nos quer.
Por isso, queremos pedir a Deus, para este novo ano, a graça de uma verdadeira liberdade, que não é fazer o que ‘dá na telha’, porque quando eu faço o que ‘dá na telha’ eu sou livre para entrar, mas muitas vezes perco a liberdade para sair do buraco em que me meti.
Isso não é liberdade. Liberdade é a capacidade de caminhar para a própria realização, liberdade é a capacidade de realizar o bem, isso é liberdade do ponto de vista cristão.
Quando alguém está totalmente enredado no mal e até sabe que deveria fazer diferente, sabe que deveria sair daquilo, mas não consegue, onde está a liberdade? Imagine um adúltero, um alcoólatra, umas pessoas viciadas em qualquer coisa, em jogo suponham... Ele sabe que deve sair, precisa sair, seria bom que saísse, ele vê que está se arruinando, mas não consegue... Onde está sua liberdade? Perdeu-a há muito tempo. E por que perdeu? Porque a usou mal entrando no buraco de onde não consegue sair. Jogou fora a liberdade no momento em que entrou onde não devia.
Nós temos que conservar a liberdade. E para conservá-la não podemos entrar nesses buracos dos quais é impossível sair a não ser que Deus estenda a mão. Mas quando será?
Peçamos a Deus a graça de conservar a liberdade verdadeira (ou de retornar a ela, se for o caso), a liberdade para o bem, a liberdade de filhos de Deus.
Queria concluir fazendo uma pequena, breve referência à primeira leitura, que sempre ocorre nesse dia. É o trecho do Livro dos Números onde Deus manda Moises ensinar ao Sumo Sacerdote, Aarão, e aos seus filhos, uma fórmula de benção para proferir sobre o povo. Esta benção diz: O Senhor te abençoe e te guarde, faça brilhar sobre ti sua face e se compadeça de ti, o Senhor volte para ti seu rosto e te dê a paz. Que essa benção esteja hoje sobre nós. Lembremos que ela está anexa ao nome de Jesus, que, segundo o apóstolo Paulo, é o nome que está acima de todo nome; único nome que foi dado aos homens para que sejam salvos, com efeito, não há nenhum outro nome dado aos homens no qual possam encontrar salvação. Nome diante do qual, sempre segundo o mesmo Apóstolo, se dobra todo joelho no céu, na terra e até mesmo no inferno. Nome que abre todas as portas, nome que vence todas as batalhas. Estamos sob o nome de Jesus!
No dia litúrgico em que Jesus recebe seu nome, nós também o recebemos sobre nós.
Que Maria Santíssima nos ajude a conservar esta identidade que de Deus recebemos, por Jesus Cristo Nosso Senhor.
Amém.
Proferida pelo padre Sérgio Muniz em 01/01/2011.
Liturgia da Palavra:
Primeira Leitura: (Nm 6,22-27)
Salmo: [Sl (66/67)]
Segunda Leitura: Carta de São Paulo aos Gálatas (Gl 4,4-7)
Evangelho: Lucas ( Lc 2,16-21)
Completa-se hoje, meus irmãos, minhas irmãs, a oitava de Natal, ou seja, os oito dias que são prolongamento, por assim dizer, da festa do dia vinte e cinco. O Evangelho terminava dizendo que quando se completaram oito dias, circuncidaram o Menino como mandava a lei de Moisés; era um sinal na carne de que o Menino pertencia ao povo de Israel, aos descendentes de Abraão (ainda hoje os judeus praticam a circuncisão). Circuncidaram o Menino aos oito dias, como manda a lei de Moisés, e deram-Lhe o nome de Jesus.
No ato da circuncisão era imposto o nome. Hoje, portanto, liturgicamente, é o dia em que Jesus recebe seu nome. No calendário litúrgico antigo, era hoje a festa do nome de Jesus,; atualmente festa de Maria, mãe de Deus.
Na verdade, a figura de Maria e a figura de Jesus se interpenetram de uma maneira muito orgânica, muito viva. Jesus, o Rei Messias, aparece na terra reinando do seu primeiro trono: o colo da Virgem Maria, eis porque a figura de Maria é tão importante neste dia.
Diz o Evangelista que Ela guardava todos esses fatos e meditava sobre eles no seu coração. Essa atitude de guardar no coração e meditar como quem monta um quebra cabeça, com paciência, até que a figura vá fazendo sentido, deve ser também a nossa atitude. A cada dia Deus nós dá uma peçinha do quebra cabeça e a cada dia temos a tarefa descobrir o seu lugar no conjunto e começar a enxergar, a interpretar, a ler a figura e o sentido dela diante de nós. Se quem monta o quebra cabeça for impaciente, não vai resolver nada. Quanto mais paciência, mais capacidade de concentração tiver, mais vai ter resultados. Assim é o quebra cabeça da vida.
Podemos decifrá-lo, interpretá-lo, montá-lo à luz de Deus como Maria fazia, guardando e meditando no coração. Quem não faz isso fica no meio de peças desconexas e não acha o sentido das coisas. Isso é muito perigoso porque pode gerar angústia, a angústia gera o desespero e assim por diante. É preciso parar e, à luz de Deus, somente à luz de Deus – porque no escuro também não se pode para montar quebra cabeça algum – à luz de Deus empreender a decifração do enigma da vida .
Nessa oitava de Natal, a leitura de São Paulo aos Gálatas fecha em grande estilo o sentido da grande festa natalina dizendo que Deus enviou Seu Filho nascido de uma mulher. Aí novamente aparece a figura de Maria: muito importante que seja nascido de uma mulher. Por quê?
Na época do Apóstolo, e também um pouco depois, alguns afirmavam que a humanidade, a natureza humana de Jesus era uma ilusão, era uma aparência; Ele seria um ser celeste com a aparência humana, mas os apóstolos, e com eles a Igreja, afirmaram e afirmam que Jesus é verdadeiramente homem, mesmo sendo verdadeiramente Deus (a Segunda Pessoa da Trindade). Verdadeiro Deus e verdadeiro homem.
Dizer “nascido de uma mulher” não deixa dúvidas a respeito da verdade, da realidade da natureza humana que Ele assumiu. Ele é carne da nossa carne. Isso é fundamental. Deus enviou seu Filho nascido de uma mulher: então Jesus é Filho Dele, é verdadeiro Deus; nascido de uma mulher: é verdadeiro homem.
Para que recebêssemos a filiação adotiva – eis aí o sentido do nascimento de Cristo – o Filho de Deus se faz filho do Homem para que os filhos dos homens se façam filhos de Deus. Nascido de uma mulher para que os que nasceram de mulher se tornem também eles filhos de Deus.
Uma sublime troca de dons entre o Céu e a terra, eis a medula do Natal. Ele assume sobre si o que é nosso para nos dar do que é seu. De fato só Jesus pode usar o título, o nome, Filho, de maneira plena, total porque Ele é filho por natureza. É o que eu chamo de filiação propriamente dita, filiação por natureza.
Ele não é adotado pelo Pai Celeste, Ele não é criado pelo Pai, Ele é gerado eternamente, ou seja, desde sempre, para sempre. Gerado eternamente, tem a mesma natureza do Pai, não é nem menos, nem mais, tem a mesma divindade do Pai, junto com o Espírito Santo. Então por isso Ele é chamado Filho Unigênito como diremos no Credo, o Filho Único.
E então alguém vai perguntar: mas e nós? se Ele é Filho único, nós não somos filhos?
Somos por participação na filiação dele. O que é a participação na filiação divina? No dia do nosso Batismo Deus nos concede a graça, que é a Sua presença em nós. Deus nos faz participar da sua divindade. A Trindade Santa, o Pai, o Filho e o Espírito, vem morar em nós. Então nós, que nascendo de mulher tínhamos vida humana, agora através do Batismo, nascemos de Deus e passamos a ter vida divina. Somos divinizados. E isso por pura graça de Deus em nós: isso nos faz filhos.
Participamos assim da filiação de Jesus Cristo. Por direito não somos filhos, pois não o somos por natureza, mas por graça, ou seja, por gratuita participação.
E aí São Paulo conclui: se és filho, não és escravo, mas herdeiro.
Existem pessoas que vivem como escravos, escravos das forças deste mundo, escravos também de algumas forças misteriosas que rondam e invadem este mundo. Agora no ano novo, não é novidade para ninguém, tem gente aí recorrendo à superstição, à magia de todo tipo, à `simpatia`. O que, que é isso? Espiritualmente falando, isso é escravidão. Pessoas livres em Cristo não se submetem a essas indignidades, porque não é digno do homem curvar-se senão diante de Deus. Quem faz essas coisas é escravo, escravo das trevas, escravo das forças desse mundo. E há quem seja escravo também dos próprios desejos desregrados, escravo dos próprios vícios e assim por diante, mas Jesus quer-nos livres porque se somos filhos, somos livres. O filho do patrão, o filho do senhor, o filho do rei não é escravo, é livre e assim Deus nos quer.
Por isso, queremos pedir a Deus, para este novo ano, a graça de uma verdadeira liberdade, que não é fazer o que ‘dá na telha’, porque quando eu faço o que ‘dá na telha’ eu sou livre para entrar, mas muitas vezes perco a liberdade para sair do buraco em que me meti.
Isso não é liberdade. Liberdade é a capacidade de caminhar para a própria realização, liberdade é a capacidade de realizar o bem, isso é liberdade do ponto de vista cristão.
Quando alguém está totalmente enredado no mal e até sabe que deveria fazer diferente, sabe que deveria sair daquilo, mas não consegue, onde está a liberdade? Imagine um adúltero, um alcoólatra, umas pessoas viciadas em qualquer coisa, em jogo suponham... Ele sabe que deve sair, precisa sair, seria bom que saísse, ele vê que está se arruinando, mas não consegue... Onde está sua liberdade? Perdeu-a há muito tempo. E por que perdeu? Porque a usou mal entrando no buraco de onde não consegue sair. Jogou fora a liberdade no momento em que entrou onde não devia.
Nós temos que conservar a liberdade. E para conservá-la não podemos entrar nesses buracos dos quais é impossível sair a não ser que Deus estenda a mão. Mas quando será?
Peçamos a Deus a graça de conservar a liberdade verdadeira (ou de retornar a ela, se for o caso), a liberdade para o bem, a liberdade de filhos de Deus.
Queria concluir fazendo uma pequena, breve referência à primeira leitura, que sempre ocorre nesse dia. É o trecho do Livro dos Números onde Deus manda Moises ensinar ao Sumo Sacerdote, Aarão, e aos seus filhos, uma fórmula de benção para proferir sobre o povo. Esta benção diz: O Senhor te abençoe e te guarde, faça brilhar sobre ti sua face e se compadeça de ti, o Senhor volte para ti seu rosto e te dê a paz. Que essa benção esteja hoje sobre nós. Lembremos que ela está anexa ao nome de Jesus, que, segundo o apóstolo Paulo, é o nome que está acima de todo nome; único nome que foi dado aos homens para que sejam salvos, com efeito, não há nenhum outro nome dado aos homens no qual possam encontrar salvação. Nome diante do qual, sempre segundo o mesmo Apóstolo, se dobra todo joelho no céu, na terra e até mesmo no inferno. Nome que abre todas as portas, nome que vence todas as batalhas. Estamos sob o nome de Jesus!
No dia litúrgico em que Jesus recebe seu nome, nós também o recebemos sobre nós.
Que Maria Santíssima nos ajude a conservar esta identidade que de Deus recebemos, por Jesus Cristo Nosso Senhor.
Amém.
Proferida pelo padre Sérgio Muniz em 01/01/2011.
Liturgia da Palavra:
Primeira Leitura: (Nm 6,22-27)
Salmo: [Sl (66/67)]
Segunda Leitura: Carta de São Paulo aos Gálatas (Gl 4,4-7)
Evangelho: Lucas ( Lc 2,16-21)
Homila da Sagrada Família
Transcrição da Homilia da Sagrada Família, Jesus, Maria e José
Amados Irmãos.
Neste ciclo da festa de Natal, nós vamos ainda ter por alguns dias cenas importantes da infância de Jesus, normalmente narrado pelo evangelista Lucas, mas hoje nos aparece um trecho importante de São Mateus colocando em destaque a figura da Sagrada Família e particularmente de São José como alguém encarregado por Deus de tomar conta dos maiores tesouros que Deus possui na terra: Jesus e Maria.
Vejam que Jesus é perseguido desde a sua mais tenra infância, Ele que será julgado sob Pôncio Pilatos e condenado à morte injustamente e já desde a sua aparição neste mundo é perseguido antes mesmo de que possa fazer qualquer coisa, antes mesmo que possa dizer uma palavra. E assim se cumpre aquilo que nos dizia o evangelista João, no Evangelho que nós ouvimos no dia de Natal: Ele veio para o que era seu, mas os seus não o receberam, que não seja para nós essa frase porque de fato temos que examinar o nosso coração, a nossa consciência e ver se o temos recebido.
Em torno de Jesus uma família, uma família pequena é verdade, a mãe, o pai adotivo, mas em tudo amado e honrado como verdadeiro pai, José. Em torno de Jesus se constrói a Sagrada Família e pensando nas famílias em geral que bom seria se toda a família se construísse em torno de Jesus, se toda a família estivesse em função dele que Ele fosse como em Nazaré o eixo de cada família.
Há famílias que começam por acidente, por assim dizer, quanto pior se vive tanto mais se está sujeito a surpresas desagradáveis ou inoportunas e a família muitas vezes começa não por escolha, mas por irresponsabilidade. Quando um jovem e uma jovem fazem de Jesus o centro da sua vida e esse deveria ser o caso de todo o jovem cristão, quando um jovem e uma jovem fazem de Jesus o centro da sua vida, naturalmente eles vão construir uma família que tenha Jesus como centro, mas quando este jovem e esta jovem se colocam eles próprios como centro da sua vida, aí já começamos mal, que vamos ter uma família com dois centros: primeiro dois centros muito fracos, cheios de altos baixos e depois que roda poderia girar bem tendo dois centros? Vira uma elipse e uma coisa oval não gira bem como o círculo que tem um eixo só.
Jesus tem que ser o eixo e fora disso nós temos a tragédia da família, a que assistimos de diversas maneiras; procure a causa e aí você a encontrará.
A família foi pensada por Deus como um serviço à nova vida. Aliás, São Tomas de Aquino o grande teólogo medieval dizia que a função, a missão da família, do matrimônio cristão é, vejam que interessante, povoar o reino dos Céus ou em outras palavras, dar filhos a Deus não apenas gerando esses filhos, mas educando-os na fé, encaminhando-os para Cristo.
Então a família é um serviço à nova vida, assim Deus a pensou, um ninho de amor e de verdade para educar o ser humano, para encaminhá-lo e fazê-lo crescer à imagem e semelhança de Deus.
A família está em função da nova vida, está em função do futuro, do futuro dela própria e da sociedade. É normal, é comum melhor dizendo que os pais quando tem os seus conflitos, chegando às vezes a própria separação e a formação de novos núcleos familiares, aleguem os seus direitos. Ela diz: eu tenho o direito de ser feliz, ele diz eu tenho o direito de ser feliz e a criança, Bom! Quem pergunta a ela quais são os seus direitos? Ou quem os reconhece? Afinal ninguém pediu para vir ao mundo! Afinal se nós formos olhar até biologicamente falando em cada célula daquele corpo, da criança, do filho, da filha, em cada célula, nós temos metade do pai e metade da mãe e isto significa que quando pai e mãe infelizmente se separam, as vezes nem é culpa dos dois pode ser culpa de um lado , e o outro pode ser pura vítima da situação, mas quando pai e mãe se separam a criança sente essa rachadura dentro de si e daí a necessidade de recurso a psicólogos etc. porque as feridas tem que ser tratadas e cria-se uma ferida.
A família está em função dos direitos dos filhos, isto precisa ser dito, direito, direito à concepção, ou seja, direito a existência, direito ao nascimento depois de concebido, direito a um crescimento saudável não só fisicamente, mas também espiritual e moralmente, direito a maturação humana e religiosa porque são os pais que trazem as crianças para serem batizadas, e se comprometem em passar-lhe educação católica, até porque se não se comprometessem, o Batismo nem seria concedido a quem não pode o pedido. Trazer uma criança para batizar é como comprar fiado, fica devendo e tem gente que não paga, não paga o que deve e que é a educação religiosa, católica teórica e prática da criança.
Dei tudo para meu filho e o que foi que aconteceu? Eu não me poupei, dei tudo, me sacrifiquei. Deu tudo? Vamos pensar: no dia do Batismo você prometeu alguma coisa que talvez você não tenha dado, quem sabe?
Então o direito a concepção, o direito ao nascimento, o direito ao crescimento saudável do corpo e da alma, direito a maturação humana e cristã e direito a uma morte digna. Tem que se pensar nos idosos também fazem parte da família e nos doentes em geral nem sempre idosos porque nós vivemos uma cultura que João Paulo II corajosamente denominou de Cultura de morte e que Bento XVI continua denominando cultura de morte onde o ser humano é desrespeitado desde a sua concepção até a sua morte vide aborto e eutanásia e agora João Paulo ii dizia: quando o ser humano é desrespeitado no princípio e no fim o que dirá o que está no meio.
Herodes que busca matar Jesus, há pouco nascido, porque teme a chegada do tal do Messias, do tal rei, Herodes que atenta contra a vida do menino, encarna todas as forças e poderes que nos nossos dias atentam contra a família, a família concebida como Deus a pensou, união estável e sagrada de um homem e uma mulher para geração e educação da nova vida. Atentam contra a família e atentam, por conseguinte, contra a nova vida, a criança, o jovem, o nascituro. Atentam também contra a vida do doente, do fraco, do idoso daquele que não produz mais, daquele que não tem mais utilidade econômica, daquele que só onera os cofres da previdência.
É preciso que nós estejamos atentos porque até nas escolas doravante, cada vez mais insinuam-se contra valores, insinuam-se coisas que vão formar ou deformar a mentalidade dos nossos jovens para que tudo aquilo que Deus quer em relação a família seja enfim desprezado e colocado de lado. Daqui a pouco quem quiser se casar com uma cadeira vai dizer isso a uma família e tem os direitos de família.
Mas temos que nos perguntar o que foi que Deus quis o que Ele pensou o que Ele planejou porque Ele é nosso critério, não são as estatísticas nem as pesquisas de opinião pública viciadas por interesses, sabe Deus quais.
Estejam atentos, pais, estejam atentos jovens, É insidioso, é sub-reptício, é venenoso e vem por baixo minando sem que se perceba. Tudo apresentado de maneira muito bem humorada, de maneira muito interessante, desde os meios de comunicação comuns como a televisão até a própria educação formal que vai sendo contaminada, mas quando alguém lhes falar coisas estranhas, que sua luzinha vermelha de alerta lá dentro do coração começar a piscar, desconfie e antes de mais nada pergunte se aquela raposa que chegou depois de muito tempo de sumida para o grupo das raposas dizendo que a moda agora é cortar o rabo, se ela não perdeu o rabo numa armadilha e por isso não está querendo divulgar a nova moda.
Pergunte-se como é a família daquela pessoa o que ela conseguiu construir, quais são suas frustrações, suas realizações para ver se não é um movimento de querer arrastar o mundo na sua queda para que não fique sozinho no meu desespero, no meu fracasso. Isso soluciona muitos enigmas e nos dá razão de muita militância contra a família, contra a fé e contra a Igreja. Interrogue sobre a vida daquela pessoa que ali está. Atrás de toda isca existe um anzol e quanto mais gorda a isca mais afiado o anzol e maior o peixe que se procura apanhar. Ninguém gasta isca gorda com sardinha. Não seja você o peixe a mordê-la.
No Evangelho de hoje aparece à sintonia, a admirável sintonia de São José com o próprio Deus. José é aquele que recebe um mandato de guardar a Sagrada Família, de fugir para o Egito e de voltar quando tudo estiver resolvido. Ele é capaz de ouvir a Deus, é capaz de entender que é Deus que lhe fala e de colocar em prática imediatamente, sem delongas, a vontade de Deus. Quiséramos que todos os pais e mães tivessem essa sintonia com Deus para perceber o que Deus está dizendo, o que Deus está mandando fazer e o que fizessem sem demora.
A salvação da família está aí. Temos que ter sintonia com Deus e essa sintonia, pai e mãe, se constrói pela oração diária, pela confissão habitual dos seus pecados, pela Eucaristia dignamente recebida. Sem esse tripé, sem esses fulcros você terá muito mais dificuldade, eu não digo que não possa, extrema dificuldade. É preciso estar em contato constante com Deus, vibrando na mesma frequência, sobretudo a oração é o segredo disto. Aí você vai enxergar o que Deus está dizendo, foge para o Egito, leva o menino e sua mãe, volta porque já morreu aquele que estava perseguindo, assim por diante.
Às vezes Deus fala e nós não percebemos porque não temos sintonia com Ele.
Brilha na Liturgia de hoje também, ou brilham, as virtudes domésticas, as virtudes da vida, do lar. Diziam as Leituras: quem honra seu pai alcança perdão de seus pecados e será ouvido na oração. Quem obedece a sua mãe ajunta tesouros para si. Quem honra seu pai terá alegria com seus filhos. E São Paulo nos aconselhava a todos, pais e filhos revestidos de misericórdia, bondade, humildade, mansidão, paciência, suportando-vos e perdoando-vos como Deus vos perdoe em Cristo. Então na oração “Pai Nosso” que é uma oração do nosso cotidiano quando chegarmos ali naquela parte “Perdoai-nos assim como nós perdoamos” paremos um pouco, se necessário repitamos a frase, vejamos o que estamos dizendo: pedindo a Deus que nos perdoe da mesma forma que nós perdoamos.
Essas virtudes, a misericórdia, a bondade, humildade, mansidão e paciência se cultivadas seriamente por cada um; não pense no outro porque ele não é humilde, ele não é paciente, ele não é manso, não. Porque o outro cuidará de si ou não cuidará de si mas não tenho o poder sobre o outro, tenho poder sobre mim. Então começo de mim. Se eu cultivar seriamente essas virtudes e pedir a Deus esta graça certamente à vida de família melhora, na medida de meu crescimento nessas virtudes. Se eu quero que sejam misericordiosos, bondosos, humildes, comece por mim porque certamente eu também falho nessas coisas.
São Paulo dá conselho às esposas que sejam solícitas, que os maridos as amem como a si próprios, que os filhos obedeçam aos pais, que os pais não intimidem os filhos.
Eis aí, todos temos obrigações diante de Deus uns para com os outros, mas sobretudo o quadro que o apóstolo traça da família é o quadro de uma Igreja doméstica e aqui uso novamente uma palavra, uma expressão de João Paulo II segundo “Igreja Doméstica”. Vejam esse quadro de família, vejam só: que a palavra de Cristo habite em vós, ensinai-vos uns aos outros com sabedoria, do fundo dos vossos corações cantai a Deus Salmos, hinos e cânticos espirituais em ação de graças.
A propósito, um parêntese: que sons ressoam na nossa casa? O apóstolo dizia: ressoe Salmos, hinos e cânticos espirituais. A criatura acorda já bota o “funk” lá, não é?
O que não cabe na Igreja, não deve ter lugar na família, esse é o critério. A família seja uma extensão da Igreja, em tudo. Essa é a família que Deus quer: uma Igreja doméstica. Se não cabe na Igreja, não cabe na família cristã.
Nós somos religiosamente, nós digo católico médio; espero que você não, que eu também não, mas o católico médio aquele que se diz católico, enche a boca é religiosamente esquizofrênico porque ele dentro da Igreja é católico e fora é outra coisa, neutra, ele não se preocupa com nada disso.
Não tem nada a ver. Religião é uma coisa dentro da Igreja e fora eu sou uma pessoa, aí usa uma palavra normal. Temos que discutir essa palavra um dia. Normal vem de norma, qual é a tua norma? É estatística? É um número? É a maioria? Essa é a tua norma?
Ou é a verdade que se chama Jesus Cristo.
Uma Igreja doméstica, ele resume tudo isso e esse critério nós podemos tomar, vamos levar isso conosco, este critério.
Tudo o que fizerdes em palavras ou obras seja feito em nome do Senhor Jesus Cristo. Quem aplica esse critério elimina muitas dúvidas, esclarece muitas dificuldades, supera muitas questões difíceis. Se eu estou em dúvida, faço ou não faço, falo ou não falo, ajo de uma maneira ou de outra, eu lembro dessa regra: tudo que fizerdes em palavras e obras seja feito em nome do Senhor Jesus Cristo.
Posso fazer isto em nome de Jesus? Combina? Não, não combina. Então não faço. Posso dizer isto em nome de Jesus? Combina? Não combina, então não digo. Isto só daria muitos problemas. Portemos este critério conosco e peçamos ao Senhor que nos ajude pela interseção de Maria e José. Amem.
Proferida pelo padre Sérgio Muniz em 26/12/2010
Leituras da Semana
Primeira Leitura: Livro do Eclesiástico: [Eclo 3,3-7.14-17ª (gr.2-6.12-14)]
Salmo: [Sl 127(128)]
Segunda Leitura: Carta de São Paulo ao Colossenses (Cl 3,12-21)
Evangelho: (Mt 2,13-15.19-23)
Nota: Esta e outras Homilias anteriores no blog: www.verbumvitae.com
Amados Irmãos.
Neste ciclo da festa de Natal, nós vamos ainda ter por alguns dias cenas importantes da infância de Jesus, normalmente narrado pelo evangelista Lucas, mas hoje nos aparece um trecho importante de São Mateus colocando em destaque a figura da Sagrada Família e particularmente de São José como alguém encarregado por Deus de tomar conta dos maiores tesouros que Deus possui na terra: Jesus e Maria.
Vejam que Jesus é perseguido desde a sua mais tenra infância, Ele que será julgado sob Pôncio Pilatos e condenado à morte injustamente e já desde a sua aparição neste mundo é perseguido antes mesmo de que possa fazer qualquer coisa, antes mesmo que possa dizer uma palavra. E assim se cumpre aquilo que nos dizia o evangelista João, no Evangelho que nós ouvimos no dia de Natal: Ele veio para o que era seu, mas os seus não o receberam, que não seja para nós essa frase porque de fato temos que examinar o nosso coração, a nossa consciência e ver se o temos recebido.
Em torno de Jesus uma família, uma família pequena é verdade, a mãe, o pai adotivo, mas em tudo amado e honrado como verdadeiro pai, José. Em torno de Jesus se constrói a Sagrada Família e pensando nas famílias em geral que bom seria se toda a família se construísse em torno de Jesus, se toda a família estivesse em função dele que Ele fosse como em Nazaré o eixo de cada família.
Há famílias que começam por acidente, por assim dizer, quanto pior se vive tanto mais se está sujeito a surpresas desagradáveis ou inoportunas e a família muitas vezes começa não por escolha, mas por irresponsabilidade. Quando um jovem e uma jovem fazem de Jesus o centro da sua vida e esse deveria ser o caso de todo o jovem cristão, quando um jovem e uma jovem fazem de Jesus o centro da sua vida, naturalmente eles vão construir uma família que tenha Jesus como centro, mas quando este jovem e esta jovem se colocam eles próprios como centro da sua vida, aí já começamos mal, que vamos ter uma família com dois centros: primeiro dois centros muito fracos, cheios de altos baixos e depois que roda poderia girar bem tendo dois centros? Vira uma elipse e uma coisa oval não gira bem como o círculo que tem um eixo só.
Jesus tem que ser o eixo e fora disso nós temos a tragédia da família, a que assistimos de diversas maneiras; procure a causa e aí você a encontrará.
A família foi pensada por Deus como um serviço à nova vida. Aliás, São Tomas de Aquino o grande teólogo medieval dizia que a função, a missão da família, do matrimônio cristão é, vejam que interessante, povoar o reino dos Céus ou em outras palavras, dar filhos a Deus não apenas gerando esses filhos, mas educando-os na fé, encaminhando-os para Cristo.
Então a família é um serviço à nova vida, assim Deus a pensou, um ninho de amor e de verdade para educar o ser humano, para encaminhá-lo e fazê-lo crescer à imagem e semelhança de Deus.
A família está em função da nova vida, está em função do futuro, do futuro dela própria e da sociedade. É normal, é comum melhor dizendo que os pais quando tem os seus conflitos, chegando às vezes a própria separação e a formação de novos núcleos familiares, aleguem os seus direitos. Ela diz: eu tenho o direito de ser feliz, ele diz eu tenho o direito de ser feliz e a criança, Bom! Quem pergunta a ela quais são os seus direitos? Ou quem os reconhece? Afinal ninguém pediu para vir ao mundo! Afinal se nós formos olhar até biologicamente falando em cada célula daquele corpo, da criança, do filho, da filha, em cada célula, nós temos metade do pai e metade da mãe e isto significa que quando pai e mãe infelizmente se separam, as vezes nem é culpa dos dois pode ser culpa de um lado , e o outro pode ser pura vítima da situação, mas quando pai e mãe se separam a criança sente essa rachadura dentro de si e daí a necessidade de recurso a psicólogos etc. porque as feridas tem que ser tratadas e cria-se uma ferida.
A família está em função dos direitos dos filhos, isto precisa ser dito, direito, direito à concepção, ou seja, direito a existência, direito ao nascimento depois de concebido, direito a um crescimento saudável não só fisicamente, mas também espiritual e moralmente, direito a maturação humana e religiosa porque são os pais que trazem as crianças para serem batizadas, e se comprometem em passar-lhe educação católica, até porque se não se comprometessem, o Batismo nem seria concedido a quem não pode o pedido. Trazer uma criança para batizar é como comprar fiado, fica devendo e tem gente que não paga, não paga o que deve e que é a educação religiosa, católica teórica e prática da criança.
Dei tudo para meu filho e o que foi que aconteceu? Eu não me poupei, dei tudo, me sacrifiquei. Deu tudo? Vamos pensar: no dia do Batismo você prometeu alguma coisa que talvez você não tenha dado, quem sabe?
Então o direito a concepção, o direito ao nascimento, o direito ao crescimento saudável do corpo e da alma, direito a maturação humana e cristã e direito a uma morte digna. Tem que se pensar nos idosos também fazem parte da família e nos doentes em geral nem sempre idosos porque nós vivemos uma cultura que João Paulo II corajosamente denominou de Cultura de morte e que Bento XVI continua denominando cultura de morte onde o ser humano é desrespeitado desde a sua concepção até a sua morte vide aborto e eutanásia e agora João Paulo ii dizia: quando o ser humano é desrespeitado no princípio e no fim o que dirá o que está no meio.
Herodes que busca matar Jesus, há pouco nascido, porque teme a chegada do tal do Messias, do tal rei, Herodes que atenta contra a vida do menino, encarna todas as forças e poderes que nos nossos dias atentam contra a família, a família concebida como Deus a pensou, união estável e sagrada de um homem e uma mulher para geração e educação da nova vida. Atentam contra a família e atentam, por conseguinte, contra a nova vida, a criança, o jovem, o nascituro. Atentam também contra a vida do doente, do fraco, do idoso daquele que não produz mais, daquele que não tem mais utilidade econômica, daquele que só onera os cofres da previdência.
É preciso que nós estejamos atentos porque até nas escolas doravante, cada vez mais insinuam-se contra valores, insinuam-se coisas que vão formar ou deformar a mentalidade dos nossos jovens para que tudo aquilo que Deus quer em relação a família seja enfim desprezado e colocado de lado. Daqui a pouco quem quiser se casar com uma cadeira vai dizer isso a uma família e tem os direitos de família.
Mas temos que nos perguntar o que foi que Deus quis o que Ele pensou o que Ele planejou porque Ele é nosso critério, não são as estatísticas nem as pesquisas de opinião pública viciadas por interesses, sabe Deus quais.
Estejam atentos, pais, estejam atentos jovens, É insidioso, é sub-reptício, é venenoso e vem por baixo minando sem que se perceba. Tudo apresentado de maneira muito bem humorada, de maneira muito interessante, desde os meios de comunicação comuns como a televisão até a própria educação formal que vai sendo contaminada, mas quando alguém lhes falar coisas estranhas, que sua luzinha vermelha de alerta lá dentro do coração começar a piscar, desconfie e antes de mais nada pergunte se aquela raposa que chegou depois de muito tempo de sumida para o grupo das raposas dizendo que a moda agora é cortar o rabo, se ela não perdeu o rabo numa armadilha e por isso não está querendo divulgar a nova moda.
Pergunte-se como é a família daquela pessoa o que ela conseguiu construir, quais são suas frustrações, suas realizações para ver se não é um movimento de querer arrastar o mundo na sua queda para que não fique sozinho no meu desespero, no meu fracasso. Isso soluciona muitos enigmas e nos dá razão de muita militância contra a família, contra a fé e contra a Igreja. Interrogue sobre a vida daquela pessoa que ali está. Atrás de toda isca existe um anzol e quanto mais gorda a isca mais afiado o anzol e maior o peixe que se procura apanhar. Ninguém gasta isca gorda com sardinha. Não seja você o peixe a mordê-la.
No Evangelho de hoje aparece à sintonia, a admirável sintonia de São José com o próprio Deus. José é aquele que recebe um mandato de guardar a Sagrada Família, de fugir para o Egito e de voltar quando tudo estiver resolvido. Ele é capaz de ouvir a Deus, é capaz de entender que é Deus que lhe fala e de colocar em prática imediatamente, sem delongas, a vontade de Deus. Quiséramos que todos os pais e mães tivessem essa sintonia com Deus para perceber o que Deus está dizendo, o que Deus está mandando fazer e o que fizessem sem demora.
A salvação da família está aí. Temos que ter sintonia com Deus e essa sintonia, pai e mãe, se constrói pela oração diária, pela confissão habitual dos seus pecados, pela Eucaristia dignamente recebida. Sem esse tripé, sem esses fulcros você terá muito mais dificuldade, eu não digo que não possa, extrema dificuldade. É preciso estar em contato constante com Deus, vibrando na mesma frequência, sobretudo a oração é o segredo disto. Aí você vai enxergar o que Deus está dizendo, foge para o Egito, leva o menino e sua mãe, volta porque já morreu aquele que estava perseguindo, assim por diante.
Às vezes Deus fala e nós não percebemos porque não temos sintonia com Ele.
Brilha na Liturgia de hoje também, ou brilham, as virtudes domésticas, as virtudes da vida, do lar. Diziam as Leituras: quem honra seu pai alcança perdão de seus pecados e será ouvido na oração. Quem obedece a sua mãe ajunta tesouros para si. Quem honra seu pai terá alegria com seus filhos. E São Paulo nos aconselhava a todos, pais e filhos revestidos de misericórdia, bondade, humildade, mansidão, paciência, suportando-vos e perdoando-vos como Deus vos perdoe em Cristo. Então na oração “Pai Nosso” que é uma oração do nosso cotidiano quando chegarmos ali naquela parte “Perdoai-nos assim como nós perdoamos” paremos um pouco, se necessário repitamos a frase, vejamos o que estamos dizendo: pedindo a Deus que nos perdoe da mesma forma que nós perdoamos.
Essas virtudes, a misericórdia, a bondade, humildade, mansidão e paciência se cultivadas seriamente por cada um; não pense no outro porque ele não é humilde, ele não é paciente, ele não é manso, não. Porque o outro cuidará de si ou não cuidará de si mas não tenho o poder sobre o outro, tenho poder sobre mim. Então começo de mim. Se eu cultivar seriamente essas virtudes e pedir a Deus esta graça certamente à vida de família melhora, na medida de meu crescimento nessas virtudes. Se eu quero que sejam misericordiosos, bondosos, humildes, comece por mim porque certamente eu também falho nessas coisas.
São Paulo dá conselho às esposas que sejam solícitas, que os maridos as amem como a si próprios, que os filhos obedeçam aos pais, que os pais não intimidem os filhos.
Eis aí, todos temos obrigações diante de Deus uns para com os outros, mas sobretudo o quadro que o apóstolo traça da família é o quadro de uma Igreja doméstica e aqui uso novamente uma palavra, uma expressão de João Paulo II segundo “Igreja Doméstica”. Vejam esse quadro de família, vejam só: que a palavra de Cristo habite em vós, ensinai-vos uns aos outros com sabedoria, do fundo dos vossos corações cantai a Deus Salmos, hinos e cânticos espirituais em ação de graças.
A propósito, um parêntese: que sons ressoam na nossa casa? O apóstolo dizia: ressoe Salmos, hinos e cânticos espirituais. A criatura acorda já bota o “funk” lá, não é?
O que não cabe na Igreja, não deve ter lugar na família, esse é o critério. A família seja uma extensão da Igreja, em tudo. Essa é a família que Deus quer: uma Igreja doméstica. Se não cabe na Igreja, não cabe na família cristã.
Nós somos religiosamente, nós digo católico médio; espero que você não, que eu também não, mas o católico médio aquele que se diz católico, enche a boca é religiosamente esquizofrênico porque ele dentro da Igreja é católico e fora é outra coisa, neutra, ele não se preocupa com nada disso.
Não tem nada a ver. Religião é uma coisa dentro da Igreja e fora eu sou uma pessoa, aí usa uma palavra normal. Temos que discutir essa palavra um dia. Normal vem de norma, qual é a tua norma? É estatística? É um número? É a maioria? Essa é a tua norma?
Ou é a verdade que se chama Jesus Cristo.
Uma Igreja doméstica, ele resume tudo isso e esse critério nós podemos tomar, vamos levar isso conosco, este critério.
Tudo o que fizerdes em palavras ou obras seja feito em nome do Senhor Jesus Cristo. Quem aplica esse critério elimina muitas dúvidas, esclarece muitas dificuldades, supera muitas questões difíceis. Se eu estou em dúvida, faço ou não faço, falo ou não falo, ajo de uma maneira ou de outra, eu lembro dessa regra: tudo que fizerdes em palavras e obras seja feito em nome do Senhor Jesus Cristo.
Posso fazer isto em nome de Jesus? Combina? Não, não combina. Então não faço. Posso dizer isto em nome de Jesus? Combina? Não combina, então não digo. Isto só daria muitos problemas. Portemos este critério conosco e peçamos ao Senhor que nos ajude pela interseção de Maria e José. Amem.
Proferida pelo padre Sérgio Muniz em 26/12/2010
Leituras da Semana
Primeira Leitura: Livro do Eclesiástico: [Eclo 3,3-7.14-17ª (gr.2-6.12-14)]
Salmo: [Sl 127(128)]
Segunda Leitura: Carta de São Paulo ao Colossenses (Cl 3,12-21)
Evangelho: (Mt 2,13-15.19-23)
Nota: Esta e outras Homilias anteriores no blog: www.verbumvitae.com
Homila do Natal
Transcrição da Homilia do Natal de N.S. Jesus Cristo
Amados irmãos, queridas irmãs.
Deus nos fala!
Existem muitas maneiras de falar, nós o sabemos. Nós também falamos de muitos modos: falamos dizendo coisas e falamos sem dizer; falamos olhando, falamos silenciando, falamos com o gesto do corpo, uma expressão da face, falamos, mais do que com as palavras, com o tom de voz: dependendo do tom de voz, a mesma palavra, a mesma frase, podem significar coisas muito diferentes. E, assim, nós falamos de muitas maneiras; falamos até com a roupa que vestimos, falamos com as nossas escolhas mínimas e assim por diante.
Deus também tem muitas maneiras de falar e a leitura tirada da Carta aos Hebreus começava dizendo que: de muitas vezes e de muitos modos Deus falou, outrora, aos nossos pais, pelos profetas, mas nesses dias que correm, que ele chama de últimos (porque será?), nos falou por meio do seu Filho, herdeiro de todas as coisas por quem Ele criou o universo. Então, nos primeiros tempos Deus falou como que indiretamente, pelos profetas; nos últimos tempos, que são os nossos, entre a primeira e a segunda vinda do Cristo, (os últimos tempos são os tempos compreendidos justamente aí, entre a primeira vinda de Cristo e a última, gloriosa, e definitiva), Deus nos fala diretamente, ou seja, por meio do seu Filho que é Deus com o Pai e o Espírito Santo.
O Natal celebra justamente isso: Deus que nos fala diretamente através de seu Filho. Deus que, na pessoa do Filho, na Segunda Pessoa da Trindade, se faz um de nós. Deus que não manda mais recados, mas é Ele próprio a falar. É por isso, inclusive, que o Evangelho hoje proclamado chama o Filho Eterno, que se fez homem e recebeu o nome de Jesus, de Palavra. Vocês vão encontrar em outras traduções da Bíblia também a expressão Verbo, que é a mesma coisa. O Verbo ou a Palavra se fez carne e habitou entre nós. Essa Palavra não é uma coisa, é uma Pessoa, é a segunda Pessoa da Trindade, é o Filho Eterno, aquele por meio de quem Deus criou todas as coisas. E é por isso que Ele manda esta mesma Palavra viva para recriar todas as coisas. Na Bíblia, por exemplo, no Gênesis, Deus é apresentado criando o mundo através da Palavra, ou seja, Deus disse e tal coisa se fez.
Deus disse e a luz se fez: “faça-se a luz”, e a luz aconteceu. Deus disse “que as águas se separem do elemento árido” e então a água que cobria a terra se junta formando o mar e, do outro lado, emerge a terra, e assim por diante. Deus vai dizendo e as coisas vão acontecendo. Então é pela Palavra que Ele cria.
Ora, se é pela Palavra que Ele criou e se o mundo decaiu porque o homem se afastou da Palavra (que decaiu, isso é obvio...), então para recriar esse mundo, para restaurar esse mundo decaído, Ele envia a sua Palavra. Primeiro através dos profetas e depois em pessoa: Jesus Cristo. Deus vai restaurando o mundo usando o mesmo método, o mesmo caminho que Ele usou para criar. Não obstante essa restauração do mundo através de Jesus Cristo é mais admirável que a própria criação. Por quê?
Na criação, o que havia antes da criação? NADA além de Deus mesmo. Não havia nada e Deus dá existência às coisas com seu poder. Depois da criação decaída já existe alguma coisa, mas uma coisa tão estragada, tão apodrecida, que a restauração é mais admirável do que tirar do nada o que não existia.
São as palavras da oração inicial de hoje: Ó Deus que admiravelmente criastes o ser humano e mais admiravelmente restabelecestes a sua dignidade... Então é mais admirável a restauração do que a própria criação. Para a restauração Deus não só enviou a sua Palavra em pessoa, Jesus, como esta Palavra, que se fez carne, submeteu-se a toda humilhação: nasceu como nós nascemos, teve as necessidades que nós temos: fome, sede, cansaço, dor... também desceu até a condição de servo. Ele não reinou, humanamente falando; Ele serviu, depois desceu até a morte, não uma morte qualquer, mas a morte vergonhosa terrível na cruz. Desceu ao mais profundo. Ora, isso é mais admirável do que simplesmente dizer: “faça-se a luz”, porque quem diz faça-se a luz continua no seu lugar e a coisa acontece, mas quem vem e ‘coloca a mão na massa’, bom, isso é muito mais admirável. Porque não é qualquer um, é Deus que desce a este nível, o Filho Eterno que reina na glória desce às trevas para restaurar a luz, desce por tua causa, por minha causa; É mais admirável do que a criação!
Considerando isso, a oração inicial continuava dizendo ao Pai celeste: Dai-nos participar da divindade do Vosso Filho que se dignou a assumir a nossa humanidade.
Temos aqui uma troca de dons entre o céu e a terra. Pedimos a Deus – que ousadia! – a graça de participar da divindade do Filho, já que Ele assumiu a nossa humanidade. De fato, Ele toma sobre si o que é nosso e nos dá do que é seu; toma sobre si a nossa pobreza para nos enriquecer com a sua glória; toma sobre si a condição de filho de Adão para dar os filhos de Adão a participação na condição de Filho de Deus. Ele se humaniza para que o homem seja divinizado. Será que estamos inventando alguma coisa?
Vejamos: O Evangelho diz (versículo 12): a todos que a receberam (a todos que receberam essa palavra feita Carne, Jesus), deu-lhes a capacidade, o poder, de se tornarem filhos de Deus, isto é aos que acreditam em seu nome.
Então acreditar em Jesus – e podemos ir adiante e dizer: ter recebido o Santo Batismo – nos faz participantes da natureza divina. O céu se uniu a terra, o Filho de Deus se fez Filho do Homem para que os filhos dos Homens fossem feitos Filhos de Deus. Isto significa participar da divindade de Cristo. Nós, batizados, nós, os que cremos no Senhor, participamos da sua divindade.
O cristão é um Deus em miniatura. E ninguém se apresse em considerar heresia nem blasfêmia isso que digo. Poderia prová-lo com muitos textos dos mais ilustres dentre os primeiros teólogos da Igreja, os ‘Santos Padres’, gregos principalmente. Eles trabalharam muito essa questão, falando da divinização do ser humano, pela graça; esse era o termo que eles usavam: divinização; é muito radical...
Nós temos em nós vida divina, nós temos em nós o próprio Deus, graças ao Batismo e à fé em Cristo. É por isso que a conseqüência se impõe: já que somos tudo isso, que o mundo o veja; já que somos tudo isso, que as nossas ações espelhem o que nós somos de fato; já que participamos da divindade da Palavra eterna, que a nossa vida seja a palavra de Deus para os que nos cercam.
Essa é a consequência: nós temos esse dom, nós temos essa graça. É preciso crer nisto e viver de acordo com isto. Que vendo os meus gestos, o meu silêncio, a minha palavra, a minha postura, as minhas escolhas, as pessoas enxerguem a Deus: que eu seja Evangelho aberto para aqueles que não abrem o Evangelho.
Eu posso, eu devo, porque tenho em mim a Palavra.
Eis aí meus irmãos a Festa do Natal:
O Senhor desnudou o seu santo braço aos olhos de todas as nações; é bela a imagem. Imaginem alguém que vai fazer um trabalho pesado que arregace as mangas. Deus, que tem o braço mais forte do universo, arregaça as mangas para mostrar o seu poder. Deus desnudou o seu santo braço aos olhos de todas as nações.
Todos os confins da terra hão de ver a salvação do nosso Deus. Como hão de ver essa salvação? Onde está Jesus para que o vejam agora?
Deve vê-lo em você. O Natal não parou. Ele continua. O mistério da presença de Cristo entre nós, da encarnação do Filho Eterno de Deus continua, continua através da Igreja, continua através de você que é membro do corpo de Cristo. Nós somos o prolongamento de Cristo na História, nós, membros do seu Corpo, da sua Igreja. Essa é nossa vocação: que as nações, que a humanidade em torno de nós, que a nossa família, que nossos amigos vejam em nós a salvação que vem de Deus.
Peçamos ao Senhor que nos dê a graça de nos alegrarmos profundamente por sermos o que somos.
Todos vocês e eu temos os nossos problemas, dificuldades, anseios; essas coisas, às vezes, nos enchem o coração, pesam sobre nós, obscurecem ou ameaçam obscurecer a nossa fé; não permitamos que isto aconteça. Que a nossa alegria seja maior e que ela seja penhor de vitória sobre todos esses inimigos que ameaçam a nossa existência.
Que a nossa alegria seja maior, que ela nos sustente no meio das provas; alegria de sermos o que somos.
Concluo com uma frase do grande Papa São Leão Magno. Numa homilia de Natal, precisamente, ele dizia a seu povo, em Roma: Cristão torna-te aquilo que és!
Proferida e conferida pelo padre Sérgio Muniz em 25/12/2010
Leituras da Semana:
Primeira Leitura: Livro do profeta Isaias (Is 52,7-10)
Salmo: [Sl 97(98)]
Segunda Leitura: Carta aos Hebreus: (Hb 1,0-6)
Evangelho: segundo João (Jo 1,1-18)
Essa e Homilias anteriores podem ser vista no blog www.verbumvitae.com
Amados irmãos, queridas irmãs.
Deus nos fala!
Existem muitas maneiras de falar, nós o sabemos. Nós também falamos de muitos modos: falamos dizendo coisas e falamos sem dizer; falamos olhando, falamos silenciando, falamos com o gesto do corpo, uma expressão da face, falamos, mais do que com as palavras, com o tom de voz: dependendo do tom de voz, a mesma palavra, a mesma frase, podem significar coisas muito diferentes. E, assim, nós falamos de muitas maneiras; falamos até com a roupa que vestimos, falamos com as nossas escolhas mínimas e assim por diante.
Deus também tem muitas maneiras de falar e a leitura tirada da Carta aos Hebreus começava dizendo que: de muitas vezes e de muitos modos Deus falou, outrora, aos nossos pais, pelos profetas, mas nesses dias que correm, que ele chama de últimos (porque será?), nos falou por meio do seu Filho, herdeiro de todas as coisas por quem Ele criou o universo. Então, nos primeiros tempos Deus falou como que indiretamente, pelos profetas; nos últimos tempos, que são os nossos, entre a primeira e a segunda vinda do Cristo, (os últimos tempos são os tempos compreendidos justamente aí, entre a primeira vinda de Cristo e a última, gloriosa, e definitiva), Deus nos fala diretamente, ou seja, por meio do seu Filho que é Deus com o Pai e o Espírito Santo.
O Natal celebra justamente isso: Deus que nos fala diretamente através de seu Filho. Deus que, na pessoa do Filho, na Segunda Pessoa da Trindade, se faz um de nós. Deus que não manda mais recados, mas é Ele próprio a falar. É por isso, inclusive, que o Evangelho hoje proclamado chama o Filho Eterno, que se fez homem e recebeu o nome de Jesus, de Palavra. Vocês vão encontrar em outras traduções da Bíblia também a expressão Verbo, que é a mesma coisa. O Verbo ou a Palavra se fez carne e habitou entre nós. Essa Palavra não é uma coisa, é uma Pessoa, é a segunda Pessoa da Trindade, é o Filho Eterno, aquele por meio de quem Deus criou todas as coisas. E é por isso que Ele manda esta mesma Palavra viva para recriar todas as coisas. Na Bíblia, por exemplo, no Gênesis, Deus é apresentado criando o mundo através da Palavra, ou seja, Deus disse e tal coisa se fez.
Deus disse e a luz se fez: “faça-se a luz”, e a luz aconteceu. Deus disse “que as águas se separem do elemento árido” e então a água que cobria a terra se junta formando o mar e, do outro lado, emerge a terra, e assim por diante. Deus vai dizendo e as coisas vão acontecendo. Então é pela Palavra que Ele cria.
Ora, se é pela Palavra que Ele criou e se o mundo decaiu porque o homem se afastou da Palavra (que decaiu, isso é obvio...), então para recriar esse mundo, para restaurar esse mundo decaído, Ele envia a sua Palavra. Primeiro através dos profetas e depois em pessoa: Jesus Cristo. Deus vai restaurando o mundo usando o mesmo método, o mesmo caminho que Ele usou para criar. Não obstante essa restauração do mundo através de Jesus Cristo é mais admirável que a própria criação. Por quê?
Na criação, o que havia antes da criação? NADA além de Deus mesmo. Não havia nada e Deus dá existência às coisas com seu poder. Depois da criação decaída já existe alguma coisa, mas uma coisa tão estragada, tão apodrecida, que a restauração é mais admirável do que tirar do nada o que não existia.
São as palavras da oração inicial de hoje: Ó Deus que admiravelmente criastes o ser humano e mais admiravelmente restabelecestes a sua dignidade... Então é mais admirável a restauração do que a própria criação. Para a restauração Deus não só enviou a sua Palavra em pessoa, Jesus, como esta Palavra, que se fez carne, submeteu-se a toda humilhação: nasceu como nós nascemos, teve as necessidades que nós temos: fome, sede, cansaço, dor... também desceu até a condição de servo. Ele não reinou, humanamente falando; Ele serviu, depois desceu até a morte, não uma morte qualquer, mas a morte vergonhosa terrível na cruz. Desceu ao mais profundo. Ora, isso é mais admirável do que simplesmente dizer: “faça-se a luz”, porque quem diz faça-se a luz continua no seu lugar e a coisa acontece, mas quem vem e ‘coloca a mão na massa’, bom, isso é muito mais admirável. Porque não é qualquer um, é Deus que desce a este nível, o Filho Eterno que reina na glória desce às trevas para restaurar a luz, desce por tua causa, por minha causa; É mais admirável do que a criação!
Considerando isso, a oração inicial continuava dizendo ao Pai celeste: Dai-nos participar da divindade do Vosso Filho que se dignou a assumir a nossa humanidade.
Temos aqui uma troca de dons entre o céu e a terra. Pedimos a Deus – que ousadia! – a graça de participar da divindade do Filho, já que Ele assumiu a nossa humanidade. De fato, Ele toma sobre si o que é nosso e nos dá do que é seu; toma sobre si a nossa pobreza para nos enriquecer com a sua glória; toma sobre si a condição de filho de Adão para dar os filhos de Adão a participação na condição de Filho de Deus. Ele se humaniza para que o homem seja divinizado. Será que estamos inventando alguma coisa?
Vejamos: O Evangelho diz (versículo 12): a todos que a receberam (a todos que receberam essa palavra feita Carne, Jesus), deu-lhes a capacidade, o poder, de se tornarem filhos de Deus, isto é aos que acreditam em seu nome.
Então acreditar em Jesus – e podemos ir adiante e dizer: ter recebido o Santo Batismo – nos faz participantes da natureza divina. O céu se uniu a terra, o Filho de Deus se fez Filho do Homem para que os filhos dos Homens fossem feitos Filhos de Deus. Isto significa participar da divindade de Cristo. Nós, batizados, nós, os que cremos no Senhor, participamos da sua divindade.
O cristão é um Deus em miniatura. E ninguém se apresse em considerar heresia nem blasfêmia isso que digo. Poderia prová-lo com muitos textos dos mais ilustres dentre os primeiros teólogos da Igreja, os ‘Santos Padres’, gregos principalmente. Eles trabalharam muito essa questão, falando da divinização do ser humano, pela graça; esse era o termo que eles usavam: divinização; é muito radical...
Nós temos em nós vida divina, nós temos em nós o próprio Deus, graças ao Batismo e à fé em Cristo. É por isso que a conseqüência se impõe: já que somos tudo isso, que o mundo o veja; já que somos tudo isso, que as nossas ações espelhem o que nós somos de fato; já que participamos da divindade da Palavra eterna, que a nossa vida seja a palavra de Deus para os que nos cercam.
Essa é a consequência: nós temos esse dom, nós temos essa graça. É preciso crer nisto e viver de acordo com isto. Que vendo os meus gestos, o meu silêncio, a minha palavra, a minha postura, as minhas escolhas, as pessoas enxerguem a Deus: que eu seja Evangelho aberto para aqueles que não abrem o Evangelho.
Eu posso, eu devo, porque tenho em mim a Palavra.
Eis aí meus irmãos a Festa do Natal:
O Senhor desnudou o seu santo braço aos olhos de todas as nações; é bela a imagem. Imaginem alguém que vai fazer um trabalho pesado que arregace as mangas. Deus, que tem o braço mais forte do universo, arregaça as mangas para mostrar o seu poder. Deus desnudou o seu santo braço aos olhos de todas as nações.
Todos os confins da terra hão de ver a salvação do nosso Deus. Como hão de ver essa salvação? Onde está Jesus para que o vejam agora?
Deve vê-lo em você. O Natal não parou. Ele continua. O mistério da presença de Cristo entre nós, da encarnação do Filho Eterno de Deus continua, continua através da Igreja, continua através de você que é membro do corpo de Cristo. Nós somos o prolongamento de Cristo na História, nós, membros do seu Corpo, da sua Igreja. Essa é nossa vocação: que as nações, que a humanidade em torno de nós, que a nossa família, que nossos amigos vejam em nós a salvação que vem de Deus.
Peçamos ao Senhor que nos dê a graça de nos alegrarmos profundamente por sermos o que somos.
Todos vocês e eu temos os nossos problemas, dificuldades, anseios; essas coisas, às vezes, nos enchem o coração, pesam sobre nós, obscurecem ou ameaçam obscurecer a nossa fé; não permitamos que isto aconteça. Que a nossa alegria seja maior e que ela seja penhor de vitória sobre todos esses inimigos que ameaçam a nossa existência.
Que a nossa alegria seja maior, que ela nos sustente no meio das provas; alegria de sermos o que somos.
Concluo com uma frase do grande Papa São Leão Magno. Numa homilia de Natal, precisamente, ele dizia a seu povo, em Roma: Cristão torna-te aquilo que és!
Proferida e conferida pelo padre Sérgio Muniz em 25/12/2010
Leituras da Semana:
Primeira Leitura: Livro do profeta Isaias (Is 52,7-10)
Salmo: [Sl 97(98)]
Segunda Leitura: Carta aos Hebreus: (Hb 1,0-6)
Evangelho: segundo João (Jo 1,1-18)
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Homila do IV domingo Advento
o
Transcrição da Homilia do 4º domingo do Advento
Amados irmãos.
É chegada a semana em cujos dias constituem uma espécie de contagem regressiva para o bendito parto da virgem Maria. E a Liturgia da Palavra nos conduz para esse foco.
O profeta Isaias dizia ao rei Acaz que pedisse a Deus um sinal, qualquer sinal que fosse, quer nas profundezas da terra , quer nas alturas do céu - pois o rei não queria seguir as instruções do profeta. Então o profeta o desafia propondo-lhe que peça qualquer sinal. E o rei, como não estava interessado em seguir a vontade de Deus, cria um pretexto para não pedir o sinal: não pedirei nem tentarei o Senhor!
Nós também queremos sinais de Deus quando esses sinais interessam, mas quando nós suspeitamos que Deus pode mostrar o contrário do que nos interessa, então o sinal já não é bem vindo. O rei não queria o sinal, mas mesmo assim o profeta vaticina um sinal. Este sinal, contudo, está bem no futuro, um sinal que realmente vem das profundeza da terra e das alturas do céu: a Virgem conceberá e dará a luz a um filho e seu nome será Emanuel, Deus conosco. É um sinal que vem do mais alto do céu porque Ele é Deus com o Pai, Ele é o Filho Eterno de Deus; é um sinal eu vem das profundezas da terra porque Ele assume, aqui em baixo, a natureza humana, nascendo da virgem Maria.
Céu e terra se unem nesse mistério chamado Jesus Cristo, Céu e terra se encontram, o Divino e o Humano, naquele que é verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Deus conosco, nós com Deus em Cristo.
E vejam que enquanto a Primeira Leitura fala do título ‘Emanuel’, também citado no Evangelho, o anjo diz a José que o nome do menino será ‘Jesus’, porque Ele vem salvar o povo dos seus pecados. Então os nomes Emanuel e Jesus se equivalem. Deus conosco: Emanuel. Deus salva: Jesus. Deus salva porque está conosco e Deus está conosco para salvar. Ele vem salvar o povo dos seus pecados.
Certa vez, na Índia, um missionário inglês estava deteve-se a ler um trecho do Evangelho de Mateus, que era este trecho de hoje (cap. 1), para umas mulheres que lavavam roupa na beira do rio; elas não eram cristãs, eram induistas ou coisa assim. Nunca tinham ouvido falar de Jesus e, com muita curiosidade, acompanhavam aquela leitura. Quando o missionário chegou ao ponto em que se diz: Ele vem salvar o povo de seus pecados, elas, surpresas, arregalaram os olhos, sorriram, se entreolharam como se tivessem descoberto um grande tesouro, como se uma notícia importantíssima tivesse atingido em cheio os seus corações. O missionário ficou admirado com a reação daquelas mulheres que pela primeira vez ouviam falar de Jesus, e perguntou-lhes o que tinha acontecido. Uma delas, antecipando-se às demais, disse: era Esse que nós estávamos esperando!
De fato, o coração humano deseja o infinito, o coração humano deseja Deus, deseja a salvação, deseja o bem total e para sempre e Deus responde a esse desejo enviando-nos Jesus Cristo, seu Filho.
Aquelas mulheres, pertencendo a religião induísta, certamente acreditavam na doutrina da reencarnaçã,o que nós católicos, e cristãos em geral, não aceitamos, aliás. Mas elas certamente acreditavam. Uma doutrina que faz pesar sobre o ser humano o pagamento das suas próprias dívidas, centavo por centavo, até saldá-las totalmente. É uma doutrina que deixa o homem pagando as prestações a perder de vista, quase como no caso de alguém que deve a um agiota e não sabe quando vai parar de pagar. Este anúncio: ele vem salvar o povo de seus pecados, libertou aquelas mulheres de tal ameaça; não precisamos pagar por nossos pecados, pois Alguém veio nos salvar, Alguém veio nos libertar de nossas faltas, para sermos eternamente felizes. E para já começarmos a ser felizes nesse mundo, não precisamos pagar porque Ele o fez, Ele veio saldar a nossa dívida. De resto, é impossível que nós paguemos esta dívida porque ela é infinita.
Quem ofende um amor infinito, adquire uma dívida infinita; quem ofende uma magestade infinita, adquire uma dívida infinita. Nem um número absurdo de existências sobre a terra seria capaz de saldar uma dívida infinita. Só estamos livres da nossa dívida por meio de Jesus. Ele veio salvar o povo dos seus pecados; isso explica a alegria daquelas mulheres e isso deveria explicar a alegria de todos os cristãos.
Não sei como explicar a tristeza dos cristãos. Parece que somos assim, meio... esquizofrênicos,... Às vezes, acreditamos nisso, mas é como se não acreditássemos. Se alguém sabe que ganhou um tesouro, não fica impassível. Se alguém sabe que é dono de uma riqueza infinita, ou que foi libertado da morte ou do inferno, não pode ficar impassível.
É compreensível que nós tenhamos problemas, mas nenhum problema deveria eclipsar a alegria que nos vem dessa graça: Jesus Cristo. Ele veio por você, para você. Esse é o tamanho do amor de Deus por nós e quando Ele chega, chega subvertendo, alterando planos, alterando os planos daqueles que O esperam, que O aguardam, mas dos que não O esperam também.
Veja-se o caso de José, no Evangelho. Ele, certamente, tinha os seus planos, queria constituir a sua família, com a sua esposa, os seus filhos e, de repente, acontece uma coisa inusitada, um milagre nunca visto antes e que jamais se repetiria depois. E justamente com ele... que sorte! A esposa que ele queria para si, Deus a tomou como propriedade exclusiva. Desta esposa, gerou Deus o seu Filho na carne. E Jesus, agora, junto com Maria, são responsabilidade de José. Ele não acreditava na explicação que Maria certamente teria dado a respeito de sua gravidez, como creio ninguém acreditaria tão facilmente. Ele pensava que estava sendo enganado e, como ouvimos, queria abandoná-la, fugir, deixá-la em segredo. Mas eis que ele tem uma experiência mística durante o sono – e não terá sido um sonho como outro qualquer, mas uma experiência tão forte que foi capaz de convecê-lo daquele aparente absurdo: uma mulher grávida sem intervençõa humana, mas por obra do Espírito Santo.
Tão forte foi aquela experiência de José durante o sono, que ele acorda convencido, como se ele tivesse visitado céu e voltado à terra, ou como se o céu o tivesse visitado. Agora ele assume uma outra agenda, joga fora os seus planos. Aliás, Deus passa uma caneta vermelha dizendo: “Nada disso”, e entrega-lhe um outro script, com outro papel para interpretar.
Nós faríamos bem se não preenchêssemos totalmente a agenda da nossa vida; deveríamos deixar um espaço para Deus fazer as suas observações, os seus acréscimos e correções porque senão corremos o risco de ter umas páginas arrancadas ou canceladas.
São José poderia ter-se rebelado, não aceitando os planos de Deus; ele era ‘livre’ para isso. Mas se isso tivesse acontecido, ele teria sido privado de uma felicidade insupeitada.
De fato, quem pode imaginar o que seja ter dentro de casa uma esposa como Maria e um filho como Jesus? O céu na terra: esta era a casa de José. Se ele tivesse dito ‘não’ aos planos de Deus, se ele tivesse preferido os seus planos, ele não conheceria o céu na terra.
Tomemos cuidado, nós também, para não rejeitarmos os planos de Deus quando ele cancela a nossa agenda ou muda o nosso roteiro. Isso nos privaria de alegrias e realizações muito grandes: aquelas que Deus sonhou para nós desde de toda a eternidade. Estaríamos sabotando, frustando a nossa própria realização.
Jesus está às portas. Nessa semana de contagem regressiva para o Natal, hoje a Liturgia nos faz orar com o Salmista que diz: O Rei da glória é o Senhor onipotente; abri as portas para que Ele possa entrar!
Já dissemos que no Advento temos ocasião propícia para identificar os obstáculos que impedem ou dificultam a chegada de Jesus até nós e de retirar estes obstáculos através de um exame de consciência sincero, de um arrependimento igualmente sincero e, especialmente, por uma boa confissão dos nossos pecados ao sacerdote.
Será que nós já paramos para identificar dentro de nós quais são esses obstáculos? E para nos arrependermos sinceramente diante de Deus? E aquela confissão que está esperando há tanto tempo? Quando é que nós a faremos enfim?
Já fizemos alguns preparativos para o Natal, mas a pergunta é se dentro de nós temos um lugar para recebê-Lo, um lugar condignamente preparado.
Tiremos, pois, os obstáculos, meus irmãos. O Rei da Glória está às portas. Abramos estas mesmas portas, as portas do nosso coração e da nossa vida, para que Ele possa entrar.
Proferida pelo padre Sergio Muniz em 19/12/2010
Leituras da Semana:
Primeira Leitura: (Is 7,10-14)
Salmo: [Sl 23(24)]
Segunda Leitura: Carta de São Paulo aos Romanos (Rm 1,1-7)
Evangelho: Mateus (Mt 1,18-24)
Transcrição da Homilia do 4º domingo do Advento
Amados irmãos.
É chegada a semana em cujos dias constituem uma espécie de contagem regressiva para o bendito parto da virgem Maria. E a Liturgia da Palavra nos conduz para esse foco.
O profeta Isaias dizia ao rei Acaz que pedisse a Deus um sinal, qualquer sinal que fosse, quer nas profundezas da terra , quer nas alturas do céu - pois o rei não queria seguir as instruções do profeta. Então o profeta o desafia propondo-lhe que peça qualquer sinal. E o rei, como não estava interessado em seguir a vontade de Deus, cria um pretexto para não pedir o sinal: não pedirei nem tentarei o Senhor!
Nós também queremos sinais de Deus quando esses sinais interessam, mas quando nós suspeitamos que Deus pode mostrar o contrário do que nos interessa, então o sinal já não é bem vindo. O rei não queria o sinal, mas mesmo assim o profeta vaticina um sinal. Este sinal, contudo, está bem no futuro, um sinal que realmente vem das profundeza da terra e das alturas do céu: a Virgem conceberá e dará a luz a um filho e seu nome será Emanuel, Deus conosco. É um sinal que vem do mais alto do céu porque Ele é Deus com o Pai, Ele é o Filho Eterno de Deus; é um sinal eu vem das profundezas da terra porque Ele assume, aqui em baixo, a natureza humana, nascendo da virgem Maria.
Céu e terra se unem nesse mistério chamado Jesus Cristo, Céu e terra se encontram, o Divino e o Humano, naquele que é verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Deus conosco, nós com Deus em Cristo.
E vejam que enquanto a Primeira Leitura fala do título ‘Emanuel’, também citado no Evangelho, o anjo diz a José que o nome do menino será ‘Jesus’, porque Ele vem salvar o povo dos seus pecados. Então os nomes Emanuel e Jesus se equivalem. Deus conosco: Emanuel. Deus salva: Jesus. Deus salva porque está conosco e Deus está conosco para salvar. Ele vem salvar o povo dos seus pecados.
Certa vez, na Índia, um missionário inglês estava deteve-se a ler um trecho do Evangelho de Mateus, que era este trecho de hoje (cap. 1), para umas mulheres que lavavam roupa na beira do rio; elas não eram cristãs, eram induistas ou coisa assim. Nunca tinham ouvido falar de Jesus e, com muita curiosidade, acompanhavam aquela leitura. Quando o missionário chegou ao ponto em que se diz: Ele vem salvar o povo de seus pecados, elas, surpresas, arregalaram os olhos, sorriram, se entreolharam como se tivessem descoberto um grande tesouro, como se uma notícia importantíssima tivesse atingido em cheio os seus corações. O missionário ficou admirado com a reação daquelas mulheres que pela primeira vez ouviam falar de Jesus, e perguntou-lhes o que tinha acontecido. Uma delas, antecipando-se às demais, disse: era Esse que nós estávamos esperando!
De fato, o coração humano deseja o infinito, o coração humano deseja Deus, deseja a salvação, deseja o bem total e para sempre e Deus responde a esse desejo enviando-nos Jesus Cristo, seu Filho.
Aquelas mulheres, pertencendo a religião induísta, certamente acreditavam na doutrina da reencarnaçã,o que nós católicos, e cristãos em geral, não aceitamos, aliás. Mas elas certamente acreditavam. Uma doutrina que faz pesar sobre o ser humano o pagamento das suas próprias dívidas, centavo por centavo, até saldá-las totalmente. É uma doutrina que deixa o homem pagando as prestações a perder de vista, quase como no caso de alguém que deve a um agiota e não sabe quando vai parar de pagar. Este anúncio: ele vem salvar o povo de seus pecados, libertou aquelas mulheres de tal ameaça; não precisamos pagar por nossos pecados, pois Alguém veio nos salvar, Alguém veio nos libertar de nossas faltas, para sermos eternamente felizes. E para já começarmos a ser felizes nesse mundo, não precisamos pagar porque Ele o fez, Ele veio saldar a nossa dívida. De resto, é impossível que nós paguemos esta dívida porque ela é infinita.
Quem ofende um amor infinito, adquire uma dívida infinita; quem ofende uma magestade infinita, adquire uma dívida infinita. Nem um número absurdo de existências sobre a terra seria capaz de saldar uma dívida infinita. Só estamos livres da nossa dívida por meio de Jesus. Ele veio salvar o povo dos seus pecados; isso explica a alegria daquelas mulheres e isso deveria explicar a alegria de todos os cristãos.
Não sei como explicar a tristeza dos cristãos. Parece que somos assim, meio... esquizofrênicos,... Às vezes, acreditamos nisso, mas é como se não acreditássemos. Se alguém sabe que ganhou um tesouro, não fica impassível. Se alguém sabe que é dono de uma riqueza infinita, ou que foi libertado da morte ou do inferno, não pode ficar impassível.
É compreensível que nós tenhamos problemas, mas nenhum problema deveria eclipsar a alegria que nos vem dessa graça: Jesus Cristo. Ele veio por você, para você. Esse é o tamanho do amor de Deus por nós e quando Ele chega, chega subvertendo, alterando planos, alterando os planos daqueles que O esperam, que O aguardam, mas dos que não O esperam também.
Veja-se o caso de José, no Evangelho. Ele, certamente, tinha os seus planos, queria constituir a sua família, com a sua esposa, os seus filhos e, de repente, acontece uma coisa inusitada, um milagre nunca visto antes e que jamais se repetiria depois. E justamente com ele... que sorte! A esposa que ele queria para si, Deus a tomou como propriedade exclusiva. Desta esposa, gerou Deus o seu Filho na carne. E Jesus, agora, junto com Maria, são responsabilidade de José. Ele não acreditava na explicação que Maria certamente teria dado a respeito de sua gravidez, como creio ninguém acreditaria tão facilmente. Ele pensava que estava sendo enganado e, como ouvimos, queria abandoná-la, fugir, deixá-la em segredo. Mas eis que ele tem uma experiência mística durante o sono – e não terá sido um sonho como outro qualquer, mas uma experiência tão forte que foi capaz de convecê-lo daquele aparente absurdo: uma mulher grávida sem intervençõa humana, mas por obra do Espírito Santo.
Tão forte foi aquela experiência de José durante o sono, que ele acorda convencido, como se ele tivesse visitado céu e voltado à terra, ou como se o céu o tivesse visitado. Agora ele assume uma outra agenda, joga fora os seus planos. Aliás, Deus passa uma caneta vermelha dizendo: “Nada disso”, e entrega-lhe um outro script, com outro papel para interpretar.
Nós faríamos bem se não preenchêssemos totalmente a agenda da nossa vida; deveríamos deixar um espaço para Deus fazer as suas observações, os seus acréscimos e correções porque senão corremos o risco de ter umas páginas arrancadas ou canceladas.
São José poderia ter-se rebelado, não aceitando os planos de Deus; ele era ‘livre’ para isso. Mas se isso tivesse acontecido, ele teria sido privado de uma felicidade insupeitada.
De fato, quem pode imaginar o que seja ter dentro de casa uma esposa como Maria e um filho como Jesus? O céu na terra: esta era a casa de José. Se ele tivesse dito ‘não’ aos planos de Deus, se ele tivesse preferido os seus planos, ele não conheceria o céu na terra.
Tomemos cuidado, nós também, para não rejeitarmos os planos de Deus quando ele cancela a nossa agenda ou muda o nosso roteiro. Isso nos privaria de alegrias e realizações muito grandes: aquelas que Deus sonhou para nós desde de toda a eternidade. Estaríamos sabotando, frustando a nossa própria realização.
Jesus está às portas. Nessa semana de contagem regressiva para o Natal, hoje a Liturgia nos faz orar com o Salmista que diz: O Rei da glória é o Senhor onipotente; abri as portas para que Ele possa entrar!
Já dissemos que no Advento temos ocasião propícia para identificar os obstáculos que impedem ou dificultam a chegada de Jesus até nós e de retirar estes obstáculos através de um exame de consciência sincero, de um arrependimento igualmente sincero e, especialmente, por uma boa confissão dos nossos pecados ao sacerdote.
Será que nós já paramos para identificar dentro de nós quais são esses obstáculos? E para nos arrependermos sinceramente diante de Deus? E aquela confissão que está esperando há tanto tempo? Quando é que nós a faremos enfim?
Já fizemos alguns preparativos para o Natal, mas a pergunta é se dentro de nós temos um lugar para recebê-Lo, um lugar condignamente preparado.
Tiremos, pois, os obstáculos, meus irmãos. O Rei da Glória está às portas. Abramos estas mesmas portas, as portas do nosso coração e da nossa vida, para que Ele possa entrar.
Proferida pelo padre Sergio Muniz em 19/12/2010
Leituras da Semana:
Primeira Leitura: (Is 7,10-14)
Salmo: [Sl 23(24)]
Segunda Leitura: Carta de São Paulo aos Romanos (Rm 1,1-7)
Evangelho: Mateus (Mt 1,18-24)
Homila do III domingo Advento
Transcrição da Homilia do 3º domingo do Advento
Um belíssimo elogio a São João Batista nos lábios de Jesus: Não há maior do que João Batista – a não ser o menor do Reino dos Céus.
Um enigma: quem será este “menor no Reino dos Céus” que é maior do que o maior dos homens já nascidos? Certamente Jesus referia-se, de modo enigmático, a Si próprio; e o faz de uma maneira tão delicada que só quem, muito depois, acreditasse n’Ele poderia decifrar este enigma.
De fato, Jesus é o maior que se fez menor. É o maior de todos que se fez menor de todos e, por isso, é maior ainda do que o maior dos homens.
Mas, apesar do elogio a São João Batista, nós assistimos na narrativa do Evangelho de hoje uma espécie de crise de fé deste grande Profeta. Ele está em situação difícil. Começa o Evangelho dizendo que João estava na prisão, e nós sabemos por quê. Ele, como profeta que era, dizia o que Deus mandava dizer, a quem quer que fosse, doesse a quem doesse, e chegou a vez do rei Herodes ouvir a censura do Profeta. Ele censurara o rei porque vivia com a mulher do irmão, sua cunhada.
O Profeta com sua palavra dura, austera, repreende este público exemplo de falta de vergonha, dizendo: Tu não tens o direito de fazê-lo, por dois motivos: primeiro porque é adultério e, segundo, porque estás à frente do povo como modelo, como chefe. Se o rei pode fazer isso, então o povo vai se julgar também no direito de fazer (se ele que é rei pode, eu que não sou nada...). A moralidade pública em suma, está em questão aqui e Herodes manda prender João Batista, mas não o executa logo, mas apenas o tira de circulação. Vai mandar decapitar João na prisão depois, por instigação da mulher de seu irmão, que usará a filha, Salomé, para conseguir o seu intento; nós conhecemos a história...
Mas João está na prisão porque serviu a Deus com fidelidade, está na prisão porque disse o que Deus mandou dizer, está na prisão porque optou pela justiça e pela verdade, está na prisão sentindo o cheiro da morte que ronda.
Ora, João como seus contemporâneos, certamente lembrava as profecias que falavam da vinda do Salvador. Por exemplo, uma nos é colocada hoje na Primeira Leitura – Isaias diz: criai ânimo, não tenhais medo, vede é vosso Deus é a vingança que vem, é a recompensa de Deus, é Ele que vem para salvar. Bem entendido: a vingança, ou seja, a retribuição contra os maus e também a recompensa, a retribuição para os amigos de Deus.
No tempo do Messias então, a justiça deveria se implantar, o reino de justiça, o reino de paz um reino onde Deus estivesse realmente no centro de tudo.
João tinha anunciado ao povo que Jesus era o Messias, disse ele à multidão: Eis aí o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.
Ele tinha recebido essa revelação, ele estava certo disso, mas agora começa a duvidar:
– Se Jesus é o Messias, como é que tudo continua do mesmo jeito, como é que eu estou aqui na prisão sofrendo essa injustiça? Se Jesus é o Salvador, Ele veio salvar de que? Porque, afinal de contas, está tudo pior do que antes, pelo menos para o meu lado. Quando vai começar esse reino que os profetas anunciaram, será que é Ele mesmo?
Vemos aí a crise do Profeta.
Jesus recebe os enviados de João, que vêm justamente perguntar isto, em nome de João que está preso: és Tu ou devemos esperar outro? Jesus responde indiretamente, para que João tire a sua própria conclusão. Responde lembrando a outra parte da profecia, que João esquecera. João só lembra o trecho que fala da vingança que vem (contra os maus, é claro), e a recompensa de Deus, que vem para nos salvar.
Mas Jesus lembra o resto da profecia: ide contar a João o que estais ouvindo e vendo: os cegos recuperam a vista, os paralíticos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e pobres são evangelizados.
O que dizia Isaias, logo depois do trecho da vingança e da recompensa? Ele dizia: então se abrirão os olhos dos cegos, se descerrarão os ouvido dos surdos, o coxo saltará como um cervo e se desatará a língua dos mudos.
A profecia está se cumprindo. João esqueceu esse trecho; Jesus manda lembrar. Certo que João terá tido uma imensa alegria em ter sido lembrado desse pedaço que ele tinha esquecido: ele não se havia enganado: começou, de fato, o Reino do Messias!
Nós queremos as coisas para ontem, soluções imediatas... É compreensível que fiquemos chateados e, às vezes, tentados a revolta. Digo ‘tentados’, pois não nos podemos revoltar por causa das injustiças no mundo, com os outros e conosco. Às vezes parece que Deus não está “nem aí”.
Mas o tempo de Deus não é nosso tempo e o Senhor conhece coisas das quais nós não temos nem idéia. O importante é que o reino do Messias já começou e você pode ver na sua própria vida os sinais disso, conforme a resposta de Jesus. O julgamento virá, a retribuição virá, mas não ainda, não agora. Observe, no entanto, os sinais que Deus já está fazendo e você verá que chegou o reino de Deus.
A segunda leitura o ilustra com a figura do agricultor. O agricultor, com a sabedoria da experiência e com sua sensibilidade, planta e espera. Primeiro nasce o broto depois ele cresce, põe muitas folhas, depois um botãozinho, uma flor e mais adiante a espiga ou o fruto. Não se planta hoje para colher amanhã.
A imagem da agricultura é muito importante aqui, porque nos ajuda entender que o Reino de Deus já foi semeado e já brotou quando o Verbo eterno, o Filho eterno de Deus, “caiu” como semente no ventre de Maria, germinou e nasceu Jesus. Ele está florescendo na Igreja, espalhando seus ramos por toda a terra e os frutos estão vindos. Alguns desses frutos já maturaram e foram recolhidos no Céu e outros estão ainda por nascer. A história ainda não está completa, o tempo da colheita ainda não chegou, é preciso ter a paciência do agricultor que espera o precioso fruto da terra e fica firme até cair a chuva do outono e da primavera.
Também vós, diz o Apóstolo, ficai firmes e fortalecei vossos corações. Apesar de não terdes já a resposta, já a solução, já tendes, contudo, a semente, já tendes a planta, já tendes a floração e o fruto vai chegando porque a vinda do Senhor está próxima.
Ele termina dizendo: tomai como modelo de sofrimento e firmeza os profetas que falaram em nome do Senhor.
Nós estamos em situação análoga à de João Batista e à dos antigos profetas, mas temos uma vantagem em relação a eles, que nos ajuda a sermos mais fortes, se quisermos, do que eles foram: João Batista, embora tivesse reconhecido Cristo, não pôde recebê-lo na Eucaristia como você pode hoje. Cumpre-se, assim, o que Jesus disse certa vez: Muitos justos, ou seja, muitos santos, quiseram ver o que vedes e não viram, quiseram ouvir o que ouvis e não ouviram; felizes sois vós porque vedes e ouvis.
Proferida e revisada pelo padre Sérgio Muniz em 12/12/2010
Primeira Leitura: Livro do profeta Isaias (Is 35,1-6 a.10)
Salmo: [145(146)]
Segunda Leitura: Carta de São Tiago (Tg 5,7-10)
Evangelho: Mateus (11,2-11)
Nota: Essa e Homilias anteriores estão disponíveis no blog www.verbumvitae.com
Um belíssimo elogio a São João Batista nos lábios de Jesus: Não há maior do que João Batista – a não ser o menor do Reino dos Céus.
Um enigma: quem será este “menor no Reino dos Céus” que é maior do que o maior dos homens já nascidos? Certamente Jesus referia-se, de modo enigmático, a Si próprio; e o faz de uma maneira tão delicada que só quem, muito depois, acreditasse n’Ele poderia decifrar este enigma.
De fato, Jesus é o maior que se fez menor. É o maior de todos que se fez menor de todos e, por isso, é maior ainda do que o maior dos homens.
Mas, apesar do elogio a São João Batista, nós assistimos na narrativa do Evangelho de hoje uma espécie de crise de fé deste grande Profeta. Ele está em situação difícil. Começa o Evangelho dizendo que João estava na prisão, e nós sabemos por quê. Ele, como profeta que era, dizia o que Deus mandava dizer, a quem quer que fosse, doesse a quem doesse, e chegou a vez do rei Herodes ouvir a censura do Profeta. Ele censurara o rei porque vivia com a mulher do irmão, sua cunhada.
O Profeta com sua palavra dura, austera, repreende este público exemplo de falta de vergonha, dizendo: Tu não tens o direito de fazê-lo, por dois motivos: primeiro porque é adultério e, segundo, porque estás à frente do povo como modelo, como chefe. Se o rei pode fazer isso, então o povo vai se julgar também no direito de fazer (se ele que é rei pode, eu que não sou nada...). A moralidade pública em suma, está em questão aqui e Herodes manda prender João Batista, mas não o executa logo, mas apenas o tira de circulação. Vai mandar decapitar João na prisão depois, por instigação da mulher de seu irmão, que usará a filha, Salomé, para conseguir o seu intento; nós conhecemos a história...
Mas João está na prisão porque serviu a Deus com fidelidade, está na prisão porque disse o que Deus mandou dizer, está na prisão porque optou pela justiça e pela verdade, está na prisão sentindo o cheiro da morte que ronda.
Ora, João como seus contemporâneos, certamente lembrava as profecias que falavam da vinda do Salvador. Por exemplo, uma nos é colocada hoje na Primeira Leitura – Isaias diz: criai ânimo, não tenhais medo, vede é vosso Deus é a vingança que vem, é a recompensa de Deus, é Ele que vem para salvar. Bem entendido: a vingança, ou seja, a retribuição contra os maus e também a recompensa, a retribuição para os amigos de Deus.
No tempo do Messias então, a justiça deveria se implantar, o reino de justiça, o reino de paz um reino onde Deus estivesse realmente no centro de tudo.
João tinha anunciado ao povo que Jesus era o Messias, disse ele à multidão: Eis aí o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.
Ele tinha recebido essa revelação, ele estava certo disso, mas agora começa a duvidar:
– Se Jesus é o Messias, como é que tudo continua do mesmo jeito, como é que eu estou aqui na prisão sofrendo essa injustiça? Se Jesus é o Salvador, Ele veio salvar de que? Porque, afinal de contas, está tudo pior do que antes, pelo menos para o meu lado. Quando vai começar esse reino que os profetas anunciaram, será que é Ele mesmo?
Vemos aí a crise do Profeta.
Jesus recebe os enviados de João, que vêm justamente perguntar isto, em nome de João que está preso: és Tu ou devemos esperar outro? Jesus responde indiretamente, para que João tire a sua própria conclusão. Responde lembrando a outra parte da profecia, que João esquecera. João só lembra o trecho que fala da vingança que vem (contra os maus, é claro), e a recompensa de Deus, que vem para nos salvar.
Mas Jesus lembra o resto da profecia: ide contar a João o que estais ouvindo e vendo: os cegos recuperam a vista, os paralíticos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e pobres são evangelizados.
O que dizia Isaias, logo depois do trecho da vingança e da recompensa? Ele dizia: então se abrirão os olhos dos cegos, se descerrarão os ouvido dos surdos, o coxo saltará como um cervo e se desatará a língua dos mudos.
A profecia está se cumprindo. João esqueceu esse trecho; Jesus manda lembrar. Certo que João terá tido uma imensa alegria em ter sido lembrado desse pedaço que ele tinha esquecido: ele não se havia enganado: começou, de fato, o Reino do Messias!
Nós queremos as coisas para ontem, soluções imediatas... É compreensível que fiquemos chateados e, às vezes, tentados a revolta. Digo ‘tentados’, pois não nos podemos revoltar por causa das injustiças no mundo, com os outros e conosco. Às vezes parece que Deus não está “nem aí”.
Mas o tempo de Deus não é nosso tempo e o Senhor conhece coisas das quais nós não temos nem idéia. O importante é que o reino do Messias já começou e você pode ver na sua própria vida os sinais disso, conforme a resposta de Jesus. O julgamento virá, a retribuição virá, mas não ainda, não agora. Observe, no entanto, os sinais que Deus já está fazendo e você verá que chegou o reino de Deus.
A segunda leitura o ilustra com a figura do agricultor. O agricultor, com a sabedoria da experiência e com sua sensibilidade, planta e espera. Primeiro nasce o broto depois ele cresce, põe muitas folhas, depois um botãozinho, uma flor e mais adiante a espiga ou o fruto. Não se planta hoje para colher amanhã.
A imagem da agricultura é muito importante aqui, porque nos ajuda entender que o Reino de Deus já foi semeado e já brotou quando o Verbo eterno, o Filho eterno de Deus, “caiu” como semente no ventre de Maria, germinou e nasceu Jesus. Ele está florescendo na Igreja, espalhando seus ramos por toda a terra e os frutos estão vindos. Alguns desses frutos já maturaram e foram recolhidos no Céu e outros estão ainda por nascer. A história ainda não está completa, o tempo da colheita ainda não chegou, é preciso ter a paciência do agricultor que espera o precioso fruto da terra e fica firme até cair a chuva do outono e da primavera.
Também vós, diz o Apóstolo, ficai firmes e fortalecei vossos corações. Apesar de não terdes já a resposta, já a solução, já tendes, contudo, a semente, já tendes a planta, já tendes a floração e o fruto vai chegando porque a vinda do Senhor está próxima.
Ele termina dizendo: tomai como modelo de sofrimento e firmeza os profetas que falaram em nome do Senhor.
Nós estamos em situação análoga à de João Batista e à dos antigos profetas, mas temos uma vantagem em relação a eles, que nos ajuda a sermos mais fortes, se quisermos, do que eles foram: João Batista, embora tivesse reconhecido Cristo, não pôde recebê-lo na Eucaristia como você pode hoje. Cumpre-se, assim, o que Jesus disse certa vez: Muitos justos, ou seja, muitos santos, quiseram ver o que vedes e não viram, quiseram ouvir o que ouvis e não ouviram; felizes sois vós porque vedes e ouvis.
Proferida e revisada pelo padre Sérgio Muniz em 12/12/2010
Primeira Leitura: Livro do profeta Isaias (Is 35,1-6 a.10)
Salmo: [145(146)]
Segunda Leitura: Carta de São Tiago (Tg 5,7-10)
Evangelho: Mateus (11,2-11)
Nota: Essa e Homilias anteriores estão disponíveis no blog www.verbumvitae.com
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