domingo, 9 de janeiro de 2011

Homila da Sagrada Família

Transcrição da Homilia da Sagrada Família, Jesus, Maria e José
Amados Irmãos.
Neste ciclo da festa de Natal, nós vamos ainda ter por alguns dias cenas importantes da infância de Jesus, normalmente narrado pelo evangelista Lucas, mas hoje nos aparece um trecho importante de São Mateus colocando em destaque a figura da Sagrada Família e particularmente de São José como alguém encarregado por Deus de tomar conta dos maiores tesouros que Deus possui na terra: Jesus e Maria.
Vejam que Jesus é perseguido desde a sua mais tenra infância, Ele que será julgado sob Pôncio Pilatos e condenado à morte injustamente e já desde a sua aparição neste mundo é perseguido antes mesmo de que possa fazer qualquer coisa, antes mesmo que possa dizer uma palavra. E assim se cumpre aquilo que nos dizia o evangelista João, no Evangelho que nós ouvimos no dia de Natal: Ele veio para o que era seu, mas os seus não o receberam, que não seja para nós essa frase porque de fato temos que examinar o nosso coração, a nossa consciência e ver se o temos recebido.
Em torno de Jesus uma família, uma família pequena é verdade, a mãe, o pai adotivo, mas em tudo amado e honrado como verdadeiro pai, José. Em torno de Jesus se constrói a Sagrada Família e pensando nas famílias em geral que bom seria se toda a família se construísse em torno de Jesus, se toda a família estivesse em função dele que Ele fosse como em Nazaré o eixo de cada família.
Há famílias que começam por acidente, por assim dizer, quanto pior se vive tanto mais se está sujeito a surpresas desagradáveis ou inoportunas e a família muitas vezes começa não por escolha, mas por irresponsabilidade. Quando um jovem e uma jovem fazem de Jesus o centro da sua vida e esse deveria ser o caso de todo o jovem cristão, quando um jovem e uma jovem fazem de Jesus o centro da sua vida, naturalmente eles vão construir uma família que tenha Jesus como centro, mas quando este jovem e esta jovem se colocam eles próprios como centro da sua vida, aí já começamos mal, que vamos ter uma família com dois centros: primeiro dois centros muito fracos, cheios de altos baixos e depois que roda poderia girar bem tendo dois centros? Vira uma elipse e uma coisa oval não gira bem como o círculo que tem um eixo só.
Jesus tem que ser o eixo e fora disso nós temos a tragédia da família, a que assistimos de diversas maneiras; procure a causa e aí você a encontrará.
A família foi pensada por Deus como um serviço à nova vida. Aliás, São Tomas de Aquino o grande teólogo medieval dizia que a função, a missão da família, do matrimônio cristão é, vejam que interessante, povoar o reino dos Céus ou em outras palavras, dar filhos a Deus não apenas gerando esses filhos, mas educando-os na fé, encaminhando-os para Cristo.
Então a família é um serviço à nova vida, assim Deus a pensou, um ninho de amor e de verdade para educar o ser humano, para encaminhá-lo e fazê-lo crescer à imagem e semelhança de Deus.
A família está em função da nova vida, está em função do futuro, do futuro dela própria e da sociedade. É normal, é comum melhor dizendo que os pais quando tem os seus conflitos, chegando às vezes a própria separação e a formação de novos núcleos familiares, aleguem os seus direitos. Ela diz: eu tenho o direito de ser feliz, ele diz eu tenho o direito de ser feliz e a criança, Bom! Quem pergunta a ela quais são os seus direitos? Ou quem os reconhece? Afinal ninguém pediu para vir ao mundo! Afinal se nós formos olhar até biologicamente falando em cada célula daquele corpo, da criança, do filho, da filha, em cada célula, nós temos metade do pai e metade da mãe e isto significa que quando pai e mãe infelizmente se separam, as vezes nem é culpa dos dois pode ser culpa de um lado , e o outro pode ser pura vítima da situação, mas quando pai e mãe se separam a criança sente essa rachadura dentro de si e daí a necessidade de recurso a psicólogos etc. porque as feridas tem que ser tratadas e cria-se uma ferida.
A família está em função dos direitos dos filhos, isto precisa ser dito, direito, direito à concepção, ou seja, direito a existência, direito ao nascimento depois de concebido, direito a um crescimento saudável não só fisicamente, mas também espiritual e moralmente, direito a maturação humana e religiosa porque são os pais que trazem as crianças para serem batizadas, e se comprometem em passar-lhe educação católica, até porque se não se comprometessem, o Batismo nem seria concedido a quem não pode o pedido. Trazer uma criança para batizar é como comprar fiado, fica devendo e tem gente que não paga, não paga o que deve e que é a educação religiosa, católica teórica e prática da criança.
Dei tudo para meu filho e o que foi que aconteceu? Eu não me poupei, dei tudo, me sacrifiquei. Deu tudo? Vamos pensar: no dia do Batismo você prometeu alguma coisa que talvez você não tenha dado, quem sabe?
Então o direito a concepção, o direito ao nascimento, o direito ao crescimento saudável do corpo e da alma, direito a maturação humana e cristã e direito a uma morte digna. Tem que se pensar nos idosos também fazem parte da família e nos doentes em geral nem sempre idosos porque nós vivemos uma cultura que João Paulo II corajosamente denominou de Cultura de morte e que Bento XVI continua denominando cultura de morte onde o ser humano é desrespeitado desde a sua concepção até a sua morte vide aborto e eutanásia e agora João Paulo ii dizia: quando o ser humano é desrespeitado no princípio e no fim o que dirá o que está no meio.
Herodes que busca matar Jesus, há pouco nascido, porque teme a chegada do tal do Messias, do tal rei, Herodes que atenta contra a vida do menino, encarna todas as forças e poderes que nos nossos dias atentam contra a família, a família concebida como Deus a pensou, união estável e sagrada de um homem e uma mulher para geração e educação da nova vida. Atentam contra a família e atentam, por conseguinte, contra a nova vida, a criança, o jovem, o nascituro. Atentam também contra a vida do doente, do fraco, do idoso daquele que não produz mais, daquele que não tem mais utilidade econômica, daquele que só onera os cofres da previdência.
É preciso que nós estejamos atentos porque até nas escolas doravante, cada vez mais insinuam-se contra valores, insinuam-se coisas que vão formar ou deformar a mentalidade dos nossos jovens para que tudo aquilo que Deus quer em relação a família seja enfim desprezado e colocado de lado. Daqui a pouco quem quiser se casar com uma cadeira vai dizer isso a uma família e tem os direitos de família.
Mas temos que nos perguntar o que foi que Deus quis o que Ele pensou o que Ele planejou porque Ele é nosso critério, não são as estatísticas nem as pesquisas de opinião pública viciadas por interesses, sabe Deus quais.
Estejam atentos, pais, estejam atentos jovens, É insidioso, é sub-reptício, é venenoso e vem por baixo minando sem que se perceba. Tudo apresentado de maneira muito bem humorada, de maneira muito interessante, desde os meios de comunicação comuns como a televisão até a própria educação formal que vai sendo contaminada, mas quando alguém lhes falar coisas estranhas, que sua luzinha vermelha de alerta lá dentro do coração começar a piscar, desconfie e antes de mais nada pergunte se aquela raposa que chegou depois de muito tempo de sumida para o grupo das raposas dizendo que a moda agora é cortar o rabo, se ela não perdeu o rabo numa armadilha e por isso não está querendo divulgar a nova moda.
Pergunte-se como é a família daquela pessoa o que ela conseguiu construir, quais são suas frustrações, suas realizações para ver se não é um movimento de querer arrastar o mundo na sua queda para que não fique sozinho no meu desespero, no meu fracasso. Isso soluciona muitos enigmas e nos dá razão de muita militância contra a família, contra a fé e contra a Igreja. Interrogue sobre a vida daquela pessoa que ali está. Atrás de toda isca existe um anzol e quanto mais gorda a isca mais afiado o anzol e maior o peixe que se procura apanhar. Ninguém gasta isca gorda com sardinha. Não seja você o peixe a mordê-la.
No Evangelho de hoje aparece à sintonia, a admirável sintonia de São José com o próprio Deus. José é aquele que recebe um mandato de guardar a Sagrada Família, de fugir para o Egito e de voltar quando tudo estiver resolvido. Ele é capaz de ouvir a Deus, é capaz de entender que é Deus que lhe fala e de colocar em prática imediatamente, sem delongas, a vontade de Deus. Quiséramos que todos os pais e mães tivessem essa sintonia com Deus para perceber o que Deus está dizendo, o que Deus está mandando fazer e o que fizessem sem demora.
A salvação da família está aí. Temos que ter sintonia com Deus e essa sintonia, pai e mãe, se constrói pela oração diária, pela confissão habitual dos seus pecados, pela Eucaristia dignamente recebida. Sem esse tripé, sem esses fulcros você terá muito mais dificuldade, eu não digo que não possa, extrema dificuldade. É preciso estar em contato constante com Deus, vibrando na mesma frequência, sobretudo a oração é o segredo disto. Aí você vai enxergar o que Deus está dizendo, foge para o Egito, leva o menino e sua mãe, volta porque já morreu aquele que estava perseguindo, assim por diante.
Às vezes Deus fala e nós não percebemos porque não temos sintonia com Ele.
Brilha na Liturgia de hoje também, ou brilham, as virtudes domésticas, as virtudes da vida, do lar. Diziam as Leituras: quem honra seu pai alcança perdão de seus pecados e será ouvido na oração. Quem obedece a sua mãe ajunta tesouros para si. Quem honra seu pai terá alegria com seus filhos. E São Paulo nos aconselhava a todos, pais e filhos revestidos de misericórdia, bondade, humildade, mansidão, paciência, suportando-vos e perdoando-vos como Deus vos perdoe em Cristo. Então na oração “Pai Nosso” que é uma oração do nosso cotidiano quando chegarmos ali naquela parte “Perdoai-nos assim como nós perdoamos” paremos um pouco, se necessário repitamos a frase, vejamos o que estamos dizendo: pedindo a Deus que nos perdoe da mesma forma que nós perdoamos.
Essas virtudes, a misericórdia, a bondade, humildade, mansidão e paciência se cultivadas seriamente por cada um; não pense no outro porque ele não é humilde, ele não é paciente, ele não é manso, não. Porque o outro cuidará de si ou não cuidará de si mas não tenho o poder sobre o outro, tenho poder sobre mim. Então começo de mim. Se eu cultivar seriamente essas virtudes e pedir a Deus esta graça certamente à vida de família melhora, na medida de meu crescimento nessas virtudes. Se eu quero que sejam misericordiosos, bondosos, humildes, comece por mim porque certamente eu também falho nessas coisas.
São Paulo dá conselho às esposas que sejam solícitas, que os maridos as amem como a si próprios, que os filhos obedeçam aos pais, que os pais não intimidem os filhos.
Eis aí, todos temos obrigações diante de Deus uns para com os outros, mas sobretudo o quadro que o apóstolo traça da família é o quadro de uma Igreja doméstica e aqui uso novamente uma palavra, uma expressão de João Paulo II segundo “Igreja Doméstica”. Vejam esse quadro de família, vejam só: que a palavra de Cristo habite em vós, ensinai-vos uns aos outros com sabedoria, do fundo dos vossos corações cantai a Deus Salmos, hinos e cânticos espirituais em ação de graças.
A propósito, um parêntese: que sons ressoam na nossa casa? O apóstolo dizia: ressoe Salmos, hinos e cânticos espirituais. A criatura acorda já bota o “funk” lá, não é?
O que não cabe na Igreja, não deve ter lugar na família, esse é o critério. A família seja uma extensão da Igreja, em tudo. Essa é a família que Deus quer: uma Igreja doméstica. Se não cabe na Igreja, não cabe na família cristã.
Nós somos religiosamente, nós digo católico médio; espero que você não, que eu também não, mas o católico médio aquele que se diz católico, enche a boca é religiosamente esquizofrênico porque ele dentro da Igreja é católico e fora é outra coisa, neutra, ele não se preocupa com nada disso.
Não tem nada a ver. Religião é uma coisa dentro da Igreja e fora eu sou uma pessoa, aí usa uma palavra normal. Temos que discutir essa palavra um dia. Normal vem de norma, qual é a tua norma? É estatística? É um número? É a maioria? Essa é a tua norma?
Ou é a verdade que se chama Jesus Cristo.
Uma Igreja doméstica, ele resume tudo isso e esse critério nós podemos tomar, vamos levar isso conosco, este critério.
Tudo o que fizerdes em palavras ou obras seja feito em nome do Senhor Jesus Cristo. Quem aplica esse critério elimina muitas dúvidas, esclarece muitas dificuldades, supera muitas questões difíceis. Se eu estou em dúvida, faço ou não faço, falo ou não falo, ajo de uma maneira ou de outra, eu lembro dessa regra: tudo que fizerdes em palavras e obras seja feito em nome do Senhor Jesus Cristo.
Posso fazer isto em nome de Jesus? Combina? Não, não combina. Então não faço. Posso dizer isto em nome de Jesus? Combina? Não combina, então não digo. Isto só daria muitos problemas. Portemos este critério conosco e peçamos ao Senhor que nos ajude pela interseção de Maria e José. Amem.
Proferida pelo padre Sérgio Muniz em 26/12/2010
Leituras da Semana

Primeira Leitura: Livro do Eclesiástico: [Eclo 3,3-7.14-17ª (gr.2-6.12-14)]
Salmo: [Sl 127(128)]
Segunda Leitura: Carta de São Paulo ao Colossenses (Cl 3,12-21)
Evangelho: (Mt 2,13-15.19-23)
Nota: Esta e outras Homilias anteriores no blog: www.verbumvitae.com

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