domingo, 9 de janeiro de 2011

Homilia da Epifania do Senhor

Transcrição da Homilia do domingo da Epifania do Senhor

Se nós quiséssemos resumir numa frase o sentido da solenidade da Epifania poderíamos dizer o seguinte: Das trevas para a luz. Vamos entender por que.
Epifania significa manifestação. Manifestação do Cristo aos povos que não sabiam da sua vinda, não a esperavam conscientemente por que. Sabemos que Jesus nasce do povo de Israel, que esperava o Messias, pois tinha as profecias do Antigo Testamento e as conhecia. Ansiava pela vinda do Salvador prometido por Deus; mas outros povos que viviam na escuridão, nas trevas do desconhecimento do Deus único e verdadeiro, da idolatria, da magia e superstição, não conheciam a promessa acerca da vinda do Salvador.
Deus, no entanto, manifesta o seu Cristo a todas as nações representadas nos magos que vêm de longe para adorar o Menino. Aliás, a profecia de Isaías parece-nos um quadro da visita dos magos. Admirável, porque é um quadro pintado com antecipação de muitos séculos. Isaias, com efeito, foi apelidado de o ‘evangelista do Antigo Testamento’ porque, mesmo não tendo visto o Cristo, deu-nos, em suas profecias, muitos detalhes interessantes, como quem tivesse visto antecipadamente o Senhor que haveria de chegar. Por exemplo, aqui ele diz: levanta-te, acende a luzes Jerusalém porque chegou a tua Luz, apareceu sobre ti a glória do Senhor e, mais ao fim, será inundação de camelos e dromedários de Madiã e Efa a te cobrir. Virão todos de Sabá trazendo ouro e incenso e proclamando a glória do Senhor. Eis aí a profecia que se cumpre na visita dos magos.
Falemos um pouco deles então. Quem seriam essas figuras tão misteriosas cujos nomes não aparecem na Bíblia embora nos sejam legados por uma tradição antiga.
Estes magos eram sábios, aqui se fala de Madiã, Efa e Sabá que são regiões da Arábia, mas também provavelmente algum deles ou quem sabe todos, viessem da Pérsia que é a região da Mesopotâmia.
Nessas regiões da Arábia e da Pérsia, homens sábios perscrutavam os céus. Eles não conheciam a Deus, adoravam seus deuses e acreditavam que os astros determinavam a sorte dos homens na terra (existe gente hoje ainda hoje pensa assim). E a Bíblia condena veementemente a astrologia dizendo no capítulo dezoito de Deuteronômio: não farás como os povos em torno de ti, que consultam os adivinhos, os magos, os astrólogos porque isso é abominação para o Senhor teu Deus. É por isso que ele expulsa diante de ti essas nações para que ocupes o lugar delas. Então Israel não praticava a astrologia, porque Deus tinha proibido qualquer arte divinatória, de previsão do futuro, porque, como diz sabiamente o povo, ‘o futuro a Deus pertence’... e deve ficar assim.
Mas esses homens não conheciam as escrituras do Antigo Testamento com a Lei de Moisés. Eram pagãos. Vejam, então, que Deus resolve descer ao nível deles para elevá-los ao seu nível (este movimento de descida ao outro para o elevar é característico do mistério da Encarnação do Filho de Deus). Deus fala aos pagãos à linguagem que eles eram capazes de entender, para trazê-los da lógica deles para a lógica de Deus, para trazê-los das trevas à luz. Então Deus resolve brincar, vamos dizer assim, de acordo com o jogo que eles conheciam, para trazê-los, a Si e fazê-los, depois, jogar um outro jogo, o seu jogo.
Seria interessante considerarmos um pouco, agora, o fenômeno da Estrela de Belém. Vocês sabem que nosso calendário depois de Cristo, a contagem dos anos depois de Cristo, é um pouco defasado porque houve um erro de cálculo na antiguidade, um erro de cálculo de mais ou menos de cinco anos; na verdade de cinco a sete anos. Então nós poderíamos dizer que Jesus nasceu antes do ano um, aliás, nem computaram o ano zero, o que foi uma das falhas no cálculo. Então Jesus nasceu um pouco antes do que somos levados a imaginar, e nós estaríamos provavelmente no ano de 2016 mais ou menos (2018?), se não tivesse havido esse erro de cálculo.
Dizem os astrônomos que houve por essa época, sete antes de Cristo, ou seja, um fenômeno grandioso no céu: o alinhamento de alguns astros: Júpiter e Saturno sobre o pano de fundo da constelação de Peixes. Então a luz refletida pelos dois planetas, que parecem estrelas no céu, aumentou consideravelmente, ficou uma super-estrela. Júpiter e Saturno se uniram, portanto, na casa de Peixes.
Os astrólogos, os orientais, os magos achavam que Júpiter fosse o planeta que regia a realeza, é o planeta dos reis, não é; achavam que Saturno fosse o planeta que regia a sorte do povo de Israel e pensavam também que a constelação de Peixes que estava por trás, marcava um novo começo para a humanidade, abria um novo momento para a humanidade então interpretaram que a junção de Saturno com Júpiter significava um rei em Israel inaugurando um novo tempo para a humanidade e assim resolveram seguir aquele sinal.
Deus, na sua sabedoria e sua misericórdia, mesmo sendo contrário à astrologia (coisa que os magos não sabiam por não serem israelitas) fez coincidir o nascimento de Cristo com esse fenômeno celeste, de modo que as nações, representadas pelos magos, pudessem vir adorar o Senhor indicado pela estrela.
Saíram das trevas da idolatria – porque acreditavam em deuses, divinizavam as estrelas, os planetas – e encontraram a luz verdadeira, Jesus Cristo. De fato lá chegando se ajoelham diante do Menino. O novo rei, eles o vão procurar em Jerusalém, porque Jerusalém é a capital. Procuram no palácio de Herodes, porque, se nasceu um reizinho, tinha que ser lá. Mas Herodes não sabe de nada, fica perturbado com a concorrência: o que é isso? Pergunta aos sábios conhecedores das Escrituras e recebe a informação: é em Belém que Ele deve nascer. Para lá se dirigem, não mais a um palácio, mas a uma simples casa (já não era a noite de Natal, havia passado algum tempo). Maria estava na casa com o menino e lá encontraram Jesus, o novo Rei, assentado no seu trono, o colo da Virgem Maria!
Ajoelharam-se diante dele e o adoraram, ofereceram-lhe presentes que velam e revelam a identidade e a missão do Menino: ouro para o Rei dos reis; incenso para o Sumo Sacerdote; mirra para aquele que deveria padecer a amargura da morte de cruz e descer ao pó do sepulcro.
Diz uma antiga tradição, veneranda tradição, que aqueles homens voltaram para as suas terras com o coração preenchido pela nova Luz: não mais a luz dos astros que tinham considerado como deuses, não mais a luz das constelações criadas pela mão de Deus, mas Cristo: Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado, consubstancial ao Pai; Ele, por quem todas as coisas foram feitas, e que, por nós, homens, e para nossa salvação, desceu dos céus, se encarnou no ventre da Virgem Maria e se fez homem.
Diz o Evangelho belamente: retornaram para a sua terra seguindo outro caminho. Não apenas seguindo outro caminho ou trajeto para despistar Herodes, mas seguindo outro caminho de vida, outro caminho espiritual. Já conheciam a Luz verdadeira, não precisavam mais da luz dos planetas e das estrelas porque sabiam que a Luz que guia seus destinos agora é Jesus Cristo.
Como dizíamos, uma antiga e venerável tradição diz que os magos voltaram acreditando no Deus de Israel e no seu Cristo. Saíram das trevas para a luz e isso, meus irmãos, é para todos os povos, todas as nações neles representados. Assim, o Evangelho chegou a nós e se destina a toda criatura.
Que essa luz brilhe nos nossos corações, que essa luz brilhe nos nossos atos, nos nossos olhares, nas nossas palavras durante este ano que se inicia. Que essa luz resplandeça em nós e fale de Cristo àqueles que não O conhecem, para aqueles que vivem nas trevas. Reflitamos nós a luz de Cristo, como os magos, que voltaram a refleti-la aos seus lugares de origem, iluminando aqueles que lá encontrariam.
Assim também ao sair desta igreja, levemos conosco a luz do Senhor e reflitamo-la diante dos que nos cercam lá fora, os que não conhecem a luz verdadeira que ilumina todo homem.
Peçamos essa graça ao Senhor, colaboremos com a Sua misericórdia.
Abramos os nossos corações, sejamos nós luz, com Cristo, por Cristo e em Cristo.
Assim Seja.

Proferida pelo padre Sergio Muniz em 02/01/2011

Liturgia da Palavra
Primeira Leitura: Livro do profeta Isaias (Is 60,1-6)
Salmo: [Sl 71(72)]
Segunda Leitura: Carta de São Paulo aos Efésios (Ef 3,2-3a.5-6)
Evangelho: Mateus (Mt 2,1-12)

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