domingo, 9 de janeiro de 2011

Homila do Natal

Transcrição da Homilia do Natal de N.S. Jesus Cristo

Amados irmãos, queridas irmãs.

Deus nos fala!
Existem muitas maneiras de falar, nós o sabemos. Nós também falamos de muitos modos: falamos dizendo coisas e falamos sem dizer; falamos olhando, falamos silenciando, falamos com o gesto do corpo, uma expressão da face, falamos, mais do que com as palavras, com o tom de voz: dependendo do tom de voz, a mesma palavra, a mesma frase, podem significar coisas muito diferentes. E, assim, nós falamos de muitas maneiras; falamos até com a roupa que vestimos, falamos com as nossas escolhas mínimas e assim por diante.
Deus também tem muitas maneiras de falar e a leitura tirada da Carta aos Hebreus começava dizendo que: de muitas vezes e de muitos modos Deus falou, outrora, aos nossos pais, pelos profetas, mas nesses dias que correm, que ele chama de últimos (porque será?), nos falou por meio do seu Filho, herdeiro de todas as coisas por quem Ele criou o universo. Então, nos primeiros tempos Deus falou como que indiretamente, pelos profetas; nos últimos tempos, que são os nossos, entre a primeira e a segunda vinda do Cristo, (os últimos tempos são os tempos compreendidos justamente aí, entre a primeira vinda de Cristo e a última, gloriosa, e definitiva), Deus nos fala diretamente, ou seja, por meio do seu Filho que é Deus com o Pai e o Espírito Santo.
O Natal celebra justamente isso: Deus que nos fala diretamente através de seu Filho. Deus que, na pessoa do Filho, na Segunda Pessoa da Trindade, se faz um de nós. Deus que não manda mais recados, mas é Ele próprio a falar. É por isso, inclusive, que o Evangelho hoje proclamado chama o Filho Eterno, que se fez homem e recebeu o nome de Jesus, de Palavra. Vocês vão encontrar em outras traduções da Bíblia também a expressão Verbo, que é a mesma coisa. O Verbo ou a Palavra se fez carne e habitou entre nós. Essa Palavra não é uma coisa, é uma Pessoa, é a segunda Pessoa da Trindade, é o Filho Eterno, aquele por meio de quem Deus criou todas as coisas. E é por isso que Ele manda esta mesma Palavra viva para recriar todas as coisas. Na Bíblia, por exemplo, no Gênesis, Deus é apresentado criando o mundo através da Palavra, ou seja, Deus disse e tal coisa se fez.
Deus disse e a luz se fez: “faça-se a luz”, e a luz aconteceu. Deus disse “que as águas se separem do elemento árido” e então a água que cobria a terra se junta formando o mar e, do outro lado, emerge a terra, e assim por diante. Deus vai dizendo e as coisas vão acontecendo. Então é pela Palavra que Ele cria.
Ora, se é pela Palavra que Ele criou e se o mundo decaiu porque o homem se afastou da Palavra (que decaiu, isso é obvio...), então para recriar esse mundo, para restaurar esse mundo decaído, Ele envia a sua Palavra. Primeiro através dos profetas e depois em pessoa: Jesus Cristo. Deus vai restaurando o mundo usando o mesmo método, o mesmo caminho que Ele usou para criar. Não obstante essa restauração do mundo através de Jesus Cristo é mais admirável que a própria criação. Por quê?
Na criação, o que havia antes da criação? NADA além de Deus mesmo. Não havia nada e Deus dá existência às coisas com seu poder. Depois da criação decaída já existe alguma coisa, mas uma coisa tão estragada, tão apodrecida, que a restauração é mais admirável do que tirar do nada o que não existia.
São as palavras da oração inicial de hoje: Ó Deus que admiravelmente criastes o ser humano e mais admiravelmente restabelecestes a sua dignidade... Então é mais admirável a restauração do que a própria criação. Para a restauração Deus não só enviou a sua Palavra em pessoa, Jesus, como esta Palavra, que se fez carne, submeteu-se a toda humilhação: nasceu como nós nascemos, teve as necessidades que nós temos: fome, sede, cansaço, dor... também desceu até a condição de servo. Ele não reinou, humanamente falando; Ele serviu, depois desceu até a morte, não uma morte qualquer, mas a morte vergonhosa terrível na cruz. Desceu ao mais profundo. Ora, isso é mais admirável do que simplesmente dizer: “faça-se a luz”, porque quem diz faça-se a luz continua no seu lugar e a coisa acontece, mas quem vem e ‘coloca a mão na massa’, bom, isso é muito mais admirável. Porque não é qualquer um, é Deus que desce a este nível, o Filho Eterno que reina na glória desce às trevas para restaurar a luz, desce por tua causa, por minha causa; É mais admirável do que a criação!
Considerando isso, a oração inicial continuava dizendo ao Pai celeste: Dai-nos participar da divindade do Vosso Filho que se dignou a assumir a nossa humanidade.
Temos aqui uma troca de dons entre o céu e a terra. Pedimos a Deus – que ousadia! – a graça de participar da divindade do Filho, já que Ele assumiu a nossa humanidade. De fato, Ele toma sobre si o que é nosso e nos dá do que é seu; toma sobre si a nossa pobreza para nos enriquecer com a sua glória; toma sobre si a condição de filho de Adão para dar os filhos de Adão a participação na condição de Filho de Deus. Ele se humaniza para que o homem seja divinizado. Será que estamos inventando alguma coisa?
Vejamos: O Evangelho diz (versículo 12): a todos que a receberam (a todos que receberam essa palavra feita Carne, Jesus), deu-lhes a capacidade, o poder, de se tornarem filhos de Deus, isto é aos que acreditam em seu nome.
Então acreditar em Jesus – e podemos ir adiante e dizer: ter recebido o Santo Batismo – nos faz participantes da natureza divina. O céu se uniu a terra, o Filho de Deus se fez Filho do Homem para que os filhos dos Homens fossem feitos Filhos de Deus. Isto significa participar da divindade de Cristo. Nós, batizados, nós, os que cremos no Senhor, participamos da sua divindade.
O cristão é um Deus em miniatura. E ninguém se apresse em considerar heresia nem blasfêmia isso que digo. Poderia prová-lo com muitos textos dos mais ilustres dentre os primeiros teólogos da Igreja, os ‘Santos Padres’, gregos principalmente. Eles trabalharam muito essa questão, falando da divinização do ser humano, pela graça; esse era o termo que eles usavam: divinização; é muito radical...
Nós temos em nós vida divina, nós temos em nós o próprio Deus, graças ao Batismo e à fé em Cristo. É por isso que a conseqüência se impõe: já que somos tudo isso, que o mundo o veja; já que somos tudo isso, que as nossas ações espelhem o que nós somos de fato; já que participamos da divindade da Palavra eterna, que a nossa vida seja a palavra de Deus para os que nos cercam.
Essa é a consequência: nós temos esse dom, nós temos essa graça. É preciso crer nisto e viver de acordo com isto. Que vendo os meus gestos, o meu silêncio, a minha palavra, a minha postura, as minhas escolhas, as pessoas enxerguem a Deus: que eu seja Evangelho aberto para aqueles que não abrem o Evangelho.
Eu posso, eu devo, porque tenho em mim a Palavra.
Eis aí meus irmãos a Festa do Natal:
O Senhor desnudou o seu santo braço aos olhos de todas as nações; é bela a imagem. Imaginem alguém que vai fazer um trabalho pesado que arregace as mangas. Deus, que tem o braço mais forte do universo, arregaça as mangas para mostrar o seu poder. Deus desnudou o seu santo braço aos olhos de todas as nações.
Todos os confins da terra hão de ver a salvação do nosso Deus. Como hão de ver essa salvação? Onde está Jesus para que o vejam agora?
Deve vê-lo em você. O Natal não parou. Ele continua. O mistério da presença de Cristo entre nós, da encarnação do Filho Eterno de Deus continua, continua através da Igreja, continua através de você que é membro do corpo de Cristo. Nós somos o prolongamento de Cristo na História, nós, membros do seu Corpo, da sua Igreja. Essa é nossa vocação: que as nações, que a humanidade em torno de nós, que a nossa família, que nossos amigos vejam em nós a salvação que vem de Deus.
Peçamos ao Senhor que nos dê a graça de nos alegrarmos profundamente por sermos o que somos.
Todos vocês e eu temos os nossos problemas, dificuldades, anseios; essas coisas, às vezes, nos enchem o coração, pesam sobre nós, obscurecem ou ameaçam obscurecer a nossa fé; não permitamos que isto aconteça. Que a nossa alegria seja maior e que ela seja penhor de vitória sobre todos esses inimigos que ameaçam a nossa existência.
Que a nossa alegria seja maior, que ela nos sustente no meio das provas; alegria de sermos o que somos.
Concluo com uma frase do grande Papa São Leão Magno. Numa homilia de Natal, precisamente, ele dizia a seu povo, em Roma: Cristão torna-te aquilo que és!
Proferida e conferida pelo padre Sérgio Muniz em 25/12/2010
Leituras da Semana:
Primeira Leitura: Livro do profeta Isaias (Is 52,7-10)
Salmo: [Sl 97(98)]
Segunda Leitura: Carta aos Hebreus: (Hb 1,0-6)
Evangelho: segundo João (Jo 1,1-18)
Essa e Homilias anteriores podem ser vista no blog www.verbumvitae.com

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