domingo, 9 de janeiro de 2011

Homila do IV domingo Advento

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Transcrição da Homilia do 4º domingo do Advento
Amados irmãos.
É chegada a semana em cujos dias constituem uma espécie de contagem regressiva para o bendito parto da virgem Maria. E a Liturgia da Palavra nos conduz para esse foco.
O profeta Isaias dizia ao rei Acaz que pedisse a Deus um sinal, qualquer sinal que fosse, quer nas profundezas da terra , quer nas alturas do céu - pois o rei não queria seguir as instruções do profeta. Então o profeta o desafia propondo-lhe que peça qualquer sinal. E o rei, como não estava interessado em seguir a vontade de Deus, cria um pretexto para não pedir o sinal: não pedirei nem tentarei o Senhor!
Nós também queremos sinais de Deus quando esses sinais interessam, mas quando nós suspeitamos que Deus pode mostrar o contrário do que nos interessa, então o sinal já não é bem vindo. O rei não queria o sinal, mas mesmo assim o profeta vaticina um sinal. Este sinal, contudo, está bem no futuro, um sinal que realmente vem das profundeza da terra e das alturas do céu: a Virgem conceberá e dará a luz a um filho e seu nome será Emanuel, Deus conosco. É um sinal que vem do mais alto do céu porque Ele é Deus com o Pai, Ele é o Filho Eterno de Deus; é um sinal eu vem das profundezas da terra porque Ele assume, aqui em baixo, a natureza humana, nascendo da virgem Maria.
Céu e terra se unem nesse mistério chamado Jesus Cristo, Céu e terra se encontram, o Divino e o Humano, naquele que é verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Deus conosco, nós com Deus em Cristo.
E vejam que enquanto a Primeira Leitura fala do título ‘Emanuel’, também citado no Evangelho, o anjo diz a José que o nome do menino será ‘Jesus’, porque Ele vem salvar o povo dos seus pecados. Então os nomes Emanuel e Jesus se equivalem. Deus conosco: Emanuel. Deus salva: Jesus. Deus salva porque está conosco e Deus está conosco para salvar. Ele vem salvar o povo dos seus pecados.
Certa vez, na Índia, um missionário inglês estava deteve-se a ler um trecho do Evangelho de Mateus, que era este trecho de hoje (cap. 1), para umas mulheres que lavavam roupa na beira do rio; elas não eram cristãs, eram induistas ou coisa assim. Nunca tinham ouvido falar de Jesus e, com muita curiosidade, acompanhavam aquela leitura. Quando o missionário chegou ao ponto em que se diz: Ele vem salvar o povo de seus pecados, elas, surpresas, arregalaram os olhos, sorriram, se entreolharam como se tivessem descoberto um grande tesouro, como se uma notícia importantíssima tivesse atingido em cheio os seus corações. O missionário ficou admirado com a reação daquelas mulheres que pela primeira vez ouviam falar de Jesus, e perguntou-lhes o que tinha acontecido. Uma delas, antecipando-se às demais, disse: era Esse que nós estávamos esperando!
De fato, o coração humano deseja o infinito, o coração humano deseja Deus, deseja a salvação, deseja o bem total e para sempre e Deus responde a esse desejo enviando-nos Jesus Cristo, seu Filho.
Aquelas mulheres, pertencendo a religião induísta, certamente acreditavam na doutrina da reencarnaçã,o que nós católicos, e cristãos em geral, não aceitamos, aliás. Mas elas certamente acreditavam. Uma doutrina que faz pesar sobre o ser humano o pagamento das suas próprias dívidas, centavo por centavo, até saldá-las totalmente. É uma doutrina que deixa o homem pagando as prestações a perder de vista, quase como no caso de alguém que deve a um agiota e não sabe quando vai parar de pagar. Este anúncio: ele vem salvar o povo de seus pecados, libertou aquelas mulheres de tal ameaça; não precisamos pagar por nossos pecados, pois Alguém veio nos salvar, Alguém veio nos libertar de nossas faltas, para sermos eternamente felizes. E para já começarmos a ser felizes nesse mundo, não precisamos pagar porque Ele o fez, Ele veio saldar a nossa dívida. De resto, é impossível que nós paguemos esta dívida porque ela é infinita.
Quem ofende um amor infinito, adquire uma dívida infinita; quem ofende uma magestade infinita, adquire uma dívida infinita. Nem um número absurdo de existências sobre a terra seria capaz de saldar uma dívida infinita. Só estamos livres da nossa dívida por meio de Jesus. Ele veio salvar o povo dos seus pecados; isso explica a alegria daquelas mulheres e isso deveria explicar a alegria de todos os cristãos.
Não sei como explicar a tristeza dos cristãos. Parece que somos assim, meio... esquizofrênicos,... Às vezes, acreditamos nisso, mas é como se não acreditássemos. Se alguém sabe que ganhou um tesouro, não fica impassível. Se alguém sabe que é dono de uma riqueza infinita, ou que foi libertado da morte ou do inferno, não pode ficar impassível.
É compreensível que nós tenhamos problemas, mas nenhum problema deveria eclipsar a alegria que nos vem dessa graça: Jesus Cristo. Ele veio por você, para você. Esse é o tamanho do amor de Deus por nós e quando Ele chega, chega subvertendo, alterando planos, alterando os planos daqueles que O esperam, que O aguardam, mas dos que não O esperam também.
Veja-se o caso de José, no Evangelho. Ele, certamente, tinha os seus planos, queria constituir a sua família, com a sua esposa, os seus filhos e, de repente, acontece uma coisa inusitada, um milagre nunca visto antes e que jamais se repetiria depois. E justamente com ele... que sorte! A esposa que ele queria para si, Deus a tomou como propriedade exclusiva. Desta esposa, gerou Deus o seu Filho na carne. E Jesus, agora, junto com Maria, são responsabilidade de José. Ele não acreditava na explicação que Maria certamente teria dado a respeito de sua gravidez, como creio ninguém acreditaria tão facilmente. Ele pensava que estava sendo enganado e, como ouvimos, queria abandoná-la, fugir, deixá-la em segredo. Mas eis que ele tem uma experiência mística durante o sono – e não terá sido um sonho como outro qualquer, mas uma experiência tão forte que foi capaz de convecê-lo daquele aparente absurdo: uma mulher grávida sem intervençõa humana, mas por obra do Espírito Santo.
Tão forte foi aquela experiência de José durante o sono, que ele acorda convencido, como se ele tivesse visitado céu e voltado à terra, ou como se o céu o tivesse visitado. Agora ele assume uma outra agenda, joga fora os seus planos. Aliás, Deus passa uma caneta vermelha dizendo: “Nada disso”, e entrega-lhe um outro script, com outro papel para interpretar.
Nós faríamos bem se não preenchêssemos totalmente a agenda da nossa vida; deveríamos deixar um espaço para Deus fazer as suas observações, os seus acréscimos e correções porque senão corremos o risco de ter umas páginas arrancadas ou canceladas.
São José poderia ter-se rebelado, não aceitando os planos de Deus; ele era ‘livre’ para isso. Mas se isso tivesse acontecido, ele teria sido privado de uma felicidade insupeitada.
De fato, quem pode imaginar o que seja ter dentro de casa uma esposa como Maria e um filho como Jesus? O céu na terra: esta era a casa de José. Se ele tivesse dito ‘não’ aos planos de Deus, se ele tivesse preferido os seus planos, ele não conheceria o céu na terra.
Tomemos cuidado, nós também, para não rejeitarmos os planos de Deus quando ele cancela a nossa agenda ou muda o nosso roteiro. Isso nos privaria de alegrias e realizações muito grandes: aquelas que Deus sonhou para nós desde de toda a eternidade. Estaríamos sabotando, frustando a nossa própria realização.
Jesus está às portas. Nessa semana de contagem regressiva para o Natal, hoje a Liturgia nos faz orar com o Salmista que diz: O Rei da glória é o Senhor onipotente; abri as portas para que Ele possa entrar!
Já dissemos que no Advento temos ocasião propícia para identificar os obstáculos que impedem ou dificultam a chegada de Jesus até nós e de retirar estes obstáculos através de um exame de consciência sincero, de um arrependimento igualmente sincero e, especialmente, por uma boa confissão dos nossos pecados ao sacerdote.
Será que nós já paramos para identificar dentro de nós quais são esses obstáculos? E para nos arrependermos sinceramente diante de Deus? E aquela confissão que está esperando há tanto tempo? Quando é que nós a faremos enfim?
Já fizemos alguns preparativos para o Natal, mas a pergunta é se dentro de nós temos um lugar para recebê-Lo, um lugar condignamente preparado.
Tiremos, pois, os obstáculos, meus irmãos. O Rei da Glória está às portas. Abramos estas mesmas portas, as portas do nosso coração e da nossa vida, para que Ele possa entrar.

Proferida pelo padre Sergio Muniz em 19/12/2010
Leituras da Semana:
Primeira Leitura: (Is 7,10-14)
Salmo: [Sl 23(24)]
Segunda Leitura: Carta de São Paulo aos Romanos (Rm 1,1-7)
Evangelho: Mateus (Mt 1,18-24)

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